CÉSAR
Minha vida não muda, tá ligado? Depois de que a Mari foi embora, caí de verdade no crime, o que fez com que o meu conceito aumentasse e eu ganhasse novamente minha antiga posição e meu antigo prestígio.
Até hoje, ainda tem um ou outro que faz piada com o que aconteceu, ainda mais depois que eu levei a Roberta pra morar comigo, tá ligado? Mas foda-se, papo é meu, minha vida, minhas escolhas.
Pessoal lá de casa nunca mais falou comigo, tá ligado? Minha mãe disse que preferia que eu estivesse morto do que ter que carregar o fardo de ter um filho assassino do próprio filho. Não tem uma noite que essa não ecoe na minha mente.
Depois do que rolou, tentei construir família com a Roberta, mas perdemos o filho. Decidimos que íamos tentar, mas parece que o bagulho não flui, tá ligado?
Tem um cara aqui aqui da boca, que não tem papo torto e ele diz que isso é castigo, que eu não vou conseguir ter sossego, enquanto não conseguir o perdão da Mariane. Então, tô fodido, né? Vou ter paz nunca.
— Coé chefe... — fiz o toque de mão com os moleque.
— Fala ai, Da Ronda. Como tá área?
— Tá suave, po. Só tem um bagulho pra te contar... — olhou pro outro que tava com ele.
— Anda logo, po. Desenrola, dá o papo.
— Acho bem que nós viu tua ex mulher... — gelei na hora. — Lá no restaurante da tua mãe.
— É ela mermo, po. — disse o Marcola, um mais antigo. — E mais gata do que nunca. — fez sinal de "se fudeu" pra mim e subiu na moto rindo.
Fiquei com aquele papo na mente mó tempão, não tive nem cabeça pra terminar de fazer as contas das paradas, deixei tudo pra depois e meti o pé pra casa.
Pensar na Mariane aqui traz meu monstro de volta, mas não em relação à ela. E sim, em relação à mim. Faz com que eu odeie a pessoa que eu fui, a merda que eu fiz e é como se eu tivesse com o sangue do meu filho escorrendo nas mãos. Essa mulher deve estar só de passagem, né? Assim eu espero...