Hoje é sábado e eu vou subir pra ajudar no restaurante, já deixei as coisas arrumadas, porque também é dia de encontrar o meu denguinho. Dia de matar a saudade.
Subi e ajudei o Marcelo a abrir as portas, ele estava estranho, meio cabisbaixo, não sei.
— O que foi, Linho? — chamei pelo apelido de família. Que todos eles tem, mas só chamam dentro de casa. — Tá brigado com a dona?
— Que dona, Mari? Já tomei pé faz tempo... — sorriu sem força. — Tô preocupado com a velha mesmo, parece que não quer reagir ao tratamento, depois desse negócio do Zinho.
— Desculpa, não sabia. — dei uma tapinha em seu ombro, como se o consolasse. — Posso imaginar a situação, mas já marquei o psicólogo dela, e andei conversando também. Ela me disse que se sente muito culpada...
— Falou isso pra mim também. — estalou a boca e coçou a cabeça. — Mas po, a respeito da Alice, não era pra mim não, muito patrícia, né? — riu descontraído. — Vibe muito diferente, até que durou muito essa aventura.
Rimos e fomos pras nossas funções. Eu pro caixa e ele arrumando as mesas. Marcelo é tão gente boa que eu nem sei porque não consegue colar com uma mulher firmeza, sempre foi tranquilo e até onde sei, até ficando ele respeita, é muito na dele e quando éramos mais novos, o César até implicava com isso, fazia piada e tal. Sempre machista, mas enfim...
Depois de um dia de muito movimento, limpamos tudo e eu me despedi do pessoal. Passei na tia Angela, dei um beijo, troquei uma pouca ideia e o César me chamou do quarto dele.
— Mari?
— Fala. — apareci na porta.
— Nada não, po. Escutei a tua voz e queria te ver... — sorriu.
— Chato a beça. Mesma cara de sempre. Fui... — dei joia e saí.
Mais tarde, fui pro motel e como sempre, cheguei depois do Danilo. Dessa vez, levei comida pra gente, porque eu estou cansada de comer esses negócios que parecem que foram requentados. Deus que me perdoe.
— E seus pais? — joguei do nada. Estávamos deitado, pós-sexo, enquanto ele tomava uma cerveja. De lei.
— Que? — me olhou sem entender nada, com a sobrancelha arqueada.
— Você não me fala deles.
— Eles morreram.
— Mentira! — retruquei.
— É, mentira mesmo. Eu morri pra eles, falei errado. — bebeu mais um gole da longneck.
— Mentira de novo. — neguei com a cabeça. — Tá gostando de mentir pra mim hoje, né?
— E eu não to é entendendo esse papo seu. Tu nunca me perguntou deles, sabe que eu não gosto de falar.
— Salesiano. Tereza Schimidt. Terceiro lugar na olimpíada de matemática da rede nacional GPI. Faixa preta em jiu-jitsu. Diploma de francês. Inglês avançado. Primeiro aluno do Salesiano-RJ na olimpíada de física e no concurso de redação. 940 na redação do enem, e só estava no 1º ano médio. — eu falava e ia contando nos dedos. — Quer que eu fale mais alguma coisa sobre esse currículo maravilhoso?
— De onde tu tirou isso? — perguntou com os olhos arregalados.
— Sarah e Antônio. — ele deixou a garrafa de cerveja na mesa e fechou a cara.
— Eles foram atrás de você? Como eles descobriram? Você falou onde eu to? Eles falaram direito contigo? — respirou fundo, como se tentasse se controlar.
— Eu encontrei com eles, num dia em que fui almoçar com a Raquel e com Victor.
— Sabia que tinha dedo da Raquel nisso... — me interrompeu.
— Se tem, não sei. E se ela fez isso com boas intenções, se deu muito bem, se não o fez, o tiro saiu pela culatra. Mas eles me trataram super bem e eu conversei muito com a sua mãe. — ele me ouvia atento enquanto eu contava sobre a nossa conversa.
— Tudo mentira. — deu de ombros. — Ela mermo me mandou embora. Meu pai disse que não tinha mais filho e que a partir daquele dia, era pra eu esquecer onde eles moravam, quem eles eram e... — fez silêncio, virando-se pra janela, fazendo com que eu não pudesse mais ver o seu rosto.
— Dan? — levantei da cama, ajeitando o roupão e indo até a poltrona onde ele estava. — Olha pra mim.
— Mari, por favor. Não quero falar sobre isso não... — afastou minha mão.
— Seus pais querem te ver, Danilo. Querem te ajudar... — sentei nos pés da cama.
— Não tem como, Mari. Agora não tem como. — começou a chorar. — Se eu for atrás deles, vai ser mais gente metida nas minhas paradas, mais gente pra eu ter medo de perder, mais gente correndo perigo, mais gente pra eu decepcionar. Não dá. NÃO DÁ! — enquanto ele falava e chorava, peguei no freezer uma garrafa de água e o ofereci. — Eu to no crime até o pescoço. Aliás, eu sou o crime já. Não tem como sair, não tem como voltar atrás. Eu sei demais, eu fiz demais, minha cara... — bateu no rosto. — Está em todos os jornais, em todas as delegacias. Oferecem recompensa pra quem me achar, vivo ou morto. Você tem noção disso? Como eu vou enfiar meus pais nessa porra? Eu já não queria que você e o Victor estivessem nessa... — bebeu um gole da água. — Deixa do jeito que tá, é melhor do que eles sofrerem mais.
Eu não sabia o que dizer, e só me sentia mal por ter mexido nisso, por ter tocado nesse assunto. Foi tudo na melhor das intenções, eu só queria ajudar e não imaginava que ele ia reagir dessa forma. Que situação!
— Eu sou uma decepção pra todas as pessoas que eu amo e é por isso que eu não gosto de mexer no passado. — respirou fundo. — Eu quero tudo na urgência com você, porque eu não sei o que vai ser de mim amanhã.
— Amor... — tentei começar a falar, mas ele não permitiu.
— Eu te conheci e vi tudo mudar, vi a chance de fazer tudo diferente com uma mulher que tem uma história de vida linda, que sempre faz o bem pra todo mundo, que bota a cara nos problemas e não desiste de nada, mas já era tarde demais. Pensei em sair fora de tu? Pensei, pra te deixar em paz, pra você viver com alguém que esteja no seu nível. Mas eu não consigo e te peço desculpas por te fazer sofrer mais uma vez. — me puxou pelo braço, fazendo com que eu sentasse em seu colo.
— Te amo! — falei baixinho olhando nos olhos dele e secando as lágrimas que escorriam ali. — Desculpa, não queria que a nossa noite acabasse dessa forma, eu só queria te ajudar, só queria ajudar a sua mãe.
— Sei que a sua intenção foi a melhor. A culpa é minha! — me deu um selinho e voltou a olhar pela janela do quarto.
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CAPÍTULO PESADO!
Quero muitos votos e comentários. Opinem!!!! O desenvolvimento da história depende de vocês, gente.
O que estão achando? Esperavam descobrir isso do Danilo?
E sobre o César?