Fomos até onde o tal do Pet estava, Marcola entrou primeiro, cumprimentou os caras e eu fiquei do lado de fora, esperando ser anunciada.
— Vem, Mari!
Não falei nada, acenei com a cabeça pros meninos que fazem a segurança e entrei. Eu nunca tinha entrado nessas salinhas, só escutava as histórias, enfim... Olhei o Pet e ele era um cara muito do mal encarado, pouco sorriso e poucas palavras. Totalmente diferente do Frank.
— Fala ai, Mari. Qual é a ideia? — disse o Pet, cheio de intimidade. — Marcola já me adiantou, mas quero saber de tu. Sabe que quem tem contexto tem, né? Tu vai ter que ter um desenrolo muito bom pra eu tirar a ordem do Zinho. Ainda mais pegando o irmão do cara.
— Então, Pet... — dei uma pausa. — Não sei se você sabe de toda a minha história com o César, Zinho, como preferirem, mas eu e ele não estamos mais juntos há muito tempo. Quando o Frank ainda era vivo...
— Eu não sou ele. Não gosto de ser comparado. — me interrompeu.
— Não estou te comparando, só estou explicando a situação. Será que posso? — ele fechou ainda mais a cara.
— Tu é muito marrentinha, cheia de pose. Tá de óculos nessa porra? — foi grosso, mas eu mantive a minha pose. Tenho medo de pouca coisa nessa vida, não tenho nada a perder.
— Zinho não podia chegar perto de mim, porque ele me espancou, quebrou minhas costelas, minha mandíbula e matou o filho que eu esperava dele. Só depois que ele tomou o tiro, que ele podia chegar perto de mim, já que eu ajudava a família dele no restaurante. — continuei a falar, sem dar ouvidos à grosseria. — É isso! Eu sei que a lei do comando é uma só, em relação a matar inocente, ainda mais o próprio filho, dentro da barriga.
— Qual foi, Marcola? Procede isso aí? — falou assustado.
— Infelizmente procede, patrão.
— E por que tu não me passou a visão? — perguntou, visivelmente puto.
— Ué... — também ficou bolado. — Tentei falar várias vezes, po. Mas tu só quer saber de falar que Zinho tem conceito, que quase morreu pela bandeira. Tu que é o patrão... — deu de ombros.
— Pô, morena... — levantou de onde estava e veio na minha direção. — Pode viver tranquila aí com teu namorado.
— Não é namorado. — revirei os olhos. — O César não vai mandar fazer nada com ninguém? Nem comigo? Nem com ele? Nem com qualquer outra pessoa que eu quiser ficar?
— Desde que não seja alemão, nem cu azul. Tu tem minha palavra... — estendeu a mão.
— Obrigada, então. — fizemos um aperto de mão e eu saí de lá, voltando pra onde a moto estava.
Marcola não demorou muito pra voltar, veio rindo, como se debochasse de alguma coisa, negando com a cabeça.
— Tu mexe com a mente de vagabundo. Mó Maria Fuzil. — subiu na moto.
— Não fiz nada. — falei sem entender.
— "Tá explicado porque esses cara briga por essa boceta. Toda posturadinhq, marrenta, fala difícil. Isso deve ser um bicho entre quatro paredes." Palavras do patrão. — disse simples.
— Credo! E você não me defendeu?
— Isso era pra defender? Não era um elogio não?
— Mó papo de machista, coisa feia, devo ser algum pedaço de carne. — bufei e me ajeitei na garupa da moto.
— Pra nós, é elogio, po. Mexeu com a mente do vilão...
— Mas isso não é elogio, Marcos. Falar de mulher assim é horrível, espero que você melhore se os seus elogios também forem assim. E eu não quero mexer com a mente de ninguém. Daqui a pouco, ele esquece a minha cara.