Não consegui responder, até porque, acho que ainda não tenho uma resposta certa. Não sei se quero ir embora, a única coisa que eu sei é que eu quero aproveitar o fato de estar em outro país.
— Vai dormir comigo?
— Não sei, vou deitar aqui um pouco. — banquei a difícil e deitei ao lado dele, que imediatamente ajeitou-se para que eu chegasse mais perto.
— Tá bom. Vou achar maneiro se quiser ficar... — ele disse e eu fingi não escutar, enquanto tentava entender o que passava na televisão.
Ficamos algum tempo vendo o filme que estava passando, mas que logo terminou. E então, iniciamos uma conversa, afim de quebrar o gelo e tentarmos nos entender. Ele me contou como tem sido viver aqui, com outra identidade, e pelo que me disse, não anda muito satisfeito, associou a própria casa a uma prisão, só que com todas as regalias possíveis.
— E você, ficou com alguém? — perguntou do nada.
— Fiquei. — respirei fundo. — Uma pessoa só.
— Ainda bem que o Victor conseguiu te convencer a vir. Já pensou se você não vem pra ficar com o cara? Eu não ia te a chance de tentar... — falou de forma tranquila, brincando com a situação. — Mas foi tranquilo o desenrolo?
— Pois é... — não sabia o que dizer. — Ele até me incentivou...
— Ele sabia da história? — concordei com a cabeça. — Ele me conhecia? — concordei de novo. — Caô que foi algum amigo meu?
— Caô mesmo... — eu ri.
— Então foi amigo seu... — fez uma pausa. — Se não foi o Djalma, foi o Marcelo.
— Como assim?
— Foi o Marcelo. — riu. — Eu sempre soube. — continuei olhando sem entender. — Você pode não ter percebido, mas ele sempre te olhou diferente, mas não era eu quem ia dar o papo. O cara irmão do teu ex marido, teu amigo a vida toda... Eu não ia dar mole pra te fazer olhar pra ele com outros olhos também.
— Eu não ia olhar...
— Tanto ia, que olhou... — falou simples. — E o Zinho deve ter ficado bolado a beça, sem poder fazer nada, mas é bem-feito pr'aquele fim de comédia mermo. — deu de ombros.
— E você não tá bolado?
— Não. Você achava que eu tava morto, Mari... Tu acha que eu sou o quê? — riu e me deu um selinho. — Até depois que tu voltar, tá ligado? Você tem o direito de escolher quem teve contigo no momento mais foda da vida, tem direito de não me escolher pra fazer parte da sua vida novamente. Vou ficar mal? Vou mermo, sou sujeito homem pra falar isso te olhando no olhos, porque eu te amo pra caralho, mas nunca vou te prender e nem te obrigar a estar onde você não quer estar.
Se eu tinha esquecido dos motivos pelos quais eu me apaixonei por esse homem, eu estava começando a lembrar. Eu sentia verdade em suas palavras e ele me olhava nos olhos, tranquilo, sincero e assertivo, como sempre.
— Obrigada por me entender. — sorri.
— Mas peraí, isso quer dizer que tu vai escolher ele mermo?
— Fica quieto. — rimos. — Ainda não estou em posição de escolher nada, até porque minha situação com o Marcelo é uma amizade colorida, nós estávamos vendo até onde poderíamos ir...
— Mas ai, tu veio pra cá. — interrompeu.
— Sim. E tem um morto conversando comigo...