102

1.7K 128 10
                                    

E isso foi o suficiente pra começar uma discussão completamente desnecessária.

— Na moral, César... Tu consegue chamar a negativa de qualquer um dentro desse quintal, tá ligado? — Marcelo estava tão puto, falava tão alto que as veias de seu pescoço estavam a ponto de sair voando.

— Tu acha que eu não vejo o jeito que você olha pra ela? — eu e o Marcelo nos entreolhamos, enquanto o César gritava. — Tu tá comendo ela que eu sei, Linho. Mas tu nunca vai chegar aos meus pés... Desde criança que tu queria ser igual a mim, mas não dá pra tu, moleque. NÃO DÁ! Tu nunca foi, nunca será... — ele falava como se pudesse enfrentar o Marcelo.

— Vai tomar no seu cu, po. Respeita ela, porra. Tá maluco que eu vou querer ser um merda igual tu, tá maluco. — ele ia avançar no irmão, mas eu parei na frente. — Tua sorte é que eu não chuto cachorro morto. E a partir de hoje, tu se vira pra qualquer coisa aí, porque pra mim, você morreu.

Marcelo saiu pra varanda e a Jessica olhava a situação sem entender nada. Eu estava a ponto de cometer uma atrocidade com o César, mas respeitei fundo, e olhei no fundo dos olhos dele.

— Você consegue piorar a sua situação a cada dia que passa. Era ficar mais sozinho que você queria? Pronto, conseguiu. — bati palmas pra ele. — E de uma vez por todas, eu quero que você entenda que o que eu faço da minha vida, não te diz respeito. Que você nunca mais vai me atrapalhar em nada, NUNCA MAIS. E outra, se eu quiser dar pro morro todo, pro Rio de Janeiro todo, o problema é todo meu.

Virei as costas e subi pra Jessica. Estava arrumando minhas coisas, quando o Marcelo chegou.

— Vai meter o pé, cara?

— Melhor... Eu tento ter uma convivência sadia com ele, até pra melhorar como pessoa, mas não dá. Ele não consegue viver em sociedade... — falei, enquanto guardava as roupas na mochila

— Po Mari, me desculpa fazer tu passar por isso, esse estresse aí... Tu não merece.

— Você não tem culpa, seu irmão que é maluco. — respirei fundo. — É não, né? Ficou.

— Quer nem tentar ficar? Tomar uma, jogar uma sueca, a gente merece, po. Tamo trabalhando igual a uns maluco ai, de sol a sol. Vai deixar esse merda afetar o nosso lazer?

— Eu não vou conseguir ficar de boa, sabendo que ele tá aqui, espionando a gente. — ele deu risada. — O que foi?

— Tu falou engraçado, bagulho de espionar. — negou com a cabeça. — Deixa ele pra lá, po. Prometo que se tu não conseguir ficar aqui, eu mermo te levo lá embaixo.

— Tá bom, então. Só vou deixar tudo arrumado aqui...

— Então, já é... Demora não. — fiz joia e ele saiu.

Fiquei um tempo ainda lá na Jessica, enrolando, enquanto pensava em como poderia ter sido a minha vida, se eu nunca tivesse conhecido o César.

Por um lado, eu fico feliz, pois ele foi meu maior ponto de apoio, mas não compensou, sabe? Porque o que ele fez depois, doeu muito mais. Poderia ter me deixado morrer... Ia evitar tanto sofrimento.

Mas enfim, agora que ele cismou com essa história do Marcelo, eu me pergunto: e se? E se eu tivesse conhecido o Marcelo primeiro? E se eu tivesse me envolvido com ele ao invés de ter me envolvido com esse ser.

Sabe aquela história de que você nunca tinha visto a pessoa com malícia, mas basta alguém falar que você passa a enxergar um quê à mais? Então...

SEM LIMITES 💸Onde histórias criam vida. Descubra agora