DN
Antes de mais nada, já peguei a visão de como é esse barulho da Mariane com o Zinho, tá ligado? Porque também, eu não posso chegar agora, sentar na janela e bagunçar o esquema da firma.
O bom e o ruim é que a gente sabe de tudo. Umas paradas que são verdade, outras que são pouco verdade e outras que nego viaja inventando, só pra desmerecer o próximo.
Não sou cria daqui, mas já tenho uma moral, um conceito maneiro com os caras, então, não precisei de muito pras ideias chegarem até mim.
— Ela só namorou ele, po. — Marcola tava falando. — Eu conheço desde menor, a história dela é difícil, passou aperto demais aí, quase morreu depois que a mãe dela morreu e acho que ela não tem pai não.
— Caô que a mina só namorou com o Zinho? Coitada! — Dino falou no meio da conversa.
— Aqui no morro só, pô. Lembro que ela foi morar com ele, com papo de 15 anos, a mãe dele fez festa pra ela e tudo.
— Isso né maneiro não, sabe né? É aquele negócio... — falou o Dino. — Esqueci o nome.
— Pedofilia. — eu completei.
— Issaí, issaí. — neguei com a cabeça.
— Ah Dino, cala a boca. Tu não sabe de nada... — Marcola, continuou a falar. Ele é a nossa famosa rádio patroa, sabe de tudo e de todos, mais fofoqueiro que as tia da janela. — DN vai tirar onda se ela der abertura pra ele. Porque como, a mina é gente boa a vera, mas é só simpatia mesmo, nunca rendeu pra ninguém.
— E qual foi o bagulho que deu última forma lá? — o mais importante ele não falou, então, eu perguntei.
— Ih, bagulho doidão. Feião o que o amigo fez. — Dino falou.
— Pô, ele bateu nela até ela perder o filho deles, tá ligado? Porque tava cego na mulher que ele tá agora, a Roberta, que na época era amante e melhor amiga da Mari. Mó caozada que deu, depois disso ele nem podia chegar perto dela, sei nem se tem permissão agora, já passou mó tempão...
— Tá ligado. Bom saber disso... — falei e fui pra porta, olhar um pouco o movimento.
Já tava anoitecendo e como eu estava liberado pelo patrão hoje, mandei mensagem pra ela, que me respondeu na hora.
Desenrolo vai, desenrolo vem, chamei pra comer uma parada. Afinal, é muito difícil uma mulher negar um lanchinho, sem maldade.
(...)
Depois de deixá-la em casa, acionei a molecada, passei na base pra dar um jeito na carcaça, jogar umas peças no pescoço e fui pro baile.
De uma hora pra outra, o bagulho lotou e em dias assim, a atividade tem que triplicar. Eu, que não sou bobo nem nada, fico só de cantinho, mantendo minha postura e de olho sempre aberto pra não deixar passar nada.
Reservado tava cheio, patrão emocionado, cheio de mulher jogando pra ele e eu rindo, afinal, o que essas mulheres não fazem por status e fama dentro dessa vida? Sem postura nenhuma.
— Chega ai, DN! — um dos amigo chamou.
— Dá o papo.
— Tá vendo a loirinha ali? — apontou pra um grupinho e eu logo saquei.
— Hm?
— Tá querendo te conhecer melhor. A mina é maneira, minha amiga de infância.
— To suave hoje. — fiz joia. — Deixa pra próxima.— arrumei o boné na cabeça e voltei pra onde eu estava.
Passou um tempo, eu me envolvi com os caras, bebi um pouco mais que o meu limite e já tava rindo a beça, bagulho que eu nem gosto.
— Tu é viado? — a loirinha chegou enquadrando.
— Tá falando com a pessoa certa? — balançou a cabeça que sim. — Então, tu perdeu o juízo.
— Só perguntei porque tô te dando mole a noite toda e você nem aí.
— Qual teu nome?
— Cássia.
— Pô Cássia, sabe qual é? Deixa eu te dar um papo, não é porque te dei toco que sou viado não, tá ligado? Eu posso só não querer, to no meu direito. — sorri de lado e dei um beijinho na testa dela, saindo pra onde estavam os moleques. — E fica esperta que não é de bom tom cercar bandido com esse tipo de ideia não. Eu vou deixar passar porque tu é bonitinha, já é?