1 MÊS DEPOIS
Depois de todas as porradas que eu tomei no último mês, acredito que mais nada pode me abalar. Por alguns dias, me faltaram forças e eu fiquei deitada no meu quarto, vivendo a base de água e lanche. Não tinha forças pra cozinhar, pra limpar a casa, pra ver ninguém...
Passava as noites em claro lembrando do Danilo e de tudo que vivemos aqui, no nosso cantinho. Raquel me ligou algumas vezes e o Victor falou comigo, ele não sabe o que aconteceu e nós continuamos com a mentira de que o Danilo está viajando a trabalho.
Um dia desses, resolvi mudar a casa toda, toda mesmo. Anunciei meus móveis, eletrodomésticos, botei umas roupas pra vender, outras doei (exceto as do Danilo, que estão em um cantinho dentro do guarda-roupas) e foi assim que eu consegui voltar a fazer minhas coisas, voltar a ter disposição.
Ainda não estou cem por cento, mas me sinto mais viva, mais eu.
Minhas férias passaram num piscar de olhos e eu não descansei nada, né? Aliás, descansei sim, só o corpo, porque a mente... Duvido!
Minha rotina agora é baseada em malhar, trabalhar e ajudar o pessoal lá em cima. Nos dias de semana, eu ajudo com a limpeza do restaurante, ou até mesmo com os cuidados do César, e aos finais de semana, fico no caixa, como nos velhos tempos.
— Vamo tomar uma cerveja hoje? — Marcelo falou, enquanto terminávamos de arrumar o restaurante.
— Aqui? — perguntei.
— Não, po. Aqui é ambiente de trabalho... — ele riu.
— Vamos pra onde?
— Sei lá, po. Qualquer lugarzinho, tempão que a gente não senta pra descansar, tomar uma e ver o povo.
— Bora, então. — Jessica respondeu.
— Acho que precisamos desse momento... Estamos numa pegada firme, né? — disse depois de empilhar a última cadeira. — Precisamos de um lazer.
Desde que tudo aconteceu, nós não saímos. Não vamos aos pagodes que gostávamos, não tomamos a nossa gelada, enfim...
Fechamos o restaurante e entramos pra casa deles. Depois do falecimento da tia Angela, Marcelo e César moram na mesma casa. A Jessica continuou na dela, mas só vai lá pra dormir.
— Ih, esquecemos de uma coisa... — Jessica disse, enquanto esperávamos o Marcelo terminar de ajudar o César com o banho.
— O que?
— Quem vai ficar com o César?
— A gente leva ele também, ué.
— Levamos? — ela me perguntou assustada.
— Sim, levamos. — e eu, respondi tranquila.