SONHO LÚCIDO

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"Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?"

— Trecho de Fernando Pessoa lido por Thomas na aula de literatura em frente a toda sala de aula. Enquanto algumas garotas suspiravam e davam risinhos de paixão, Isabelle tentava não revirar os olhos para elas e ria em silêncio da vergonha visível nos olhos do seu melhor amigo. Mas ele, de todo o coração, achava que deveria se dirigir a ela em meio à multidão de cabeças voltadas a si.

 Mas ele, de todo o coração, achava que deveria se dirigir a ela em meio à multidão de cabeças voltadas a si

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— Não faça isso. — Ouço a voz de Thomas ao meu lado, porém, mesmo ao percorrer por toda a sala vazia da minha casa, não consigo vê-lo. — Por favor, não faça. — Ainda que não consiga vê-lo, consigo entender que se trata dele. Nunca esqueci do som da sua voz tão única.

— Não fazer o quê? — questiono olhando de um lado para o outro um pouco assustada. — Cadê você?

— Estou aqui. — De repente escuto ao pé do meu ouvido. A figura de Thomas se materializa ao meu lado sentado no sofá antigo.

A sua imagem está um pouco confusa. É como se ele estivesse com a mesma idade e vestindo a mesma roupa do último dia que nos vimos, porém seus olhos estão cansados e vermelhos, sua testa carregando uma linha grossa de preocupação e sua boca demonstrando a expressão de um sorriso triste, o que me assombra um pouco mais.

Toco em seu rosto e sinto-o em minhas mãos como se sua pele derretesse. Ele fecha os olhos e suspira dolorosamente. Noto o calor do nosso toque aumentando de maneira gradual à medida que permaneço com minha mão em sua derme, e Thomas abre a boca num gemido amargurado quando repete:

— Não faça isso — pede novamente com mais veemência na voz. — Por favor.

— Do que está falando? 

Ele abre os olhos e me fita profundamente, arrancando de mim um grunhido de saudade dolorosa. Suas írises brilham em lágrimas prestes a caírem e eu sinto que meus olhos estão prontos a fazer o mesmo.

— Disso. — Thomas aponta para a nossa frente.

Dou um pulo com o choque que tenho ao notar um enorme diamante brilhando tão forte quanto a luz do sol onde deveria estar a mesa de centro. Era o mesmo diamante que estava no anel solitário que Daniel me propôs em casamento, porém cem vezes maior.

— Por favor, não faça isso — Thomas insiste e eu me viro novamente para a sua projeção. — Não se case com ele.

Aquilo, evidentemente, era um sonho lúcido, e eu estava mais do que cansada de tê-los. Sempre parecem tão reais e acabam com a minha energia na manhã seguinte, deixando-me depressiva e estupidamente abatida.

— Você não pode me pedir isso — reclamo com ele quando finalmente entendo. — Não está realmente aqui. Isso é um sonho.

— Eu estou aqui.

𝑪𝒂𝒓𝒕𝒂𝒔 𝑷𝒂𝒓𝒂 𝑻𝒉𝒐𝒎𝒂𝒔Onde histórias criam vida. Descubra agora