O TIQUE-TAQUE RECOMEÇA

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"Que dia é hoje
E de qual mês?
Este relógio nunca pareceu tão vivo
Eu não consigo prosseguir e não consigo voltar
Tenho perdido tempo demais"

— You and me — Lifehouse


Meu principal objetivo agora era tentar ocupar a mente com outras coisas para não pensar muito naquele que estava de volta

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Meu principal objetivo agora era tentar ocupar a mente com outras coisas para não pensar muito naquele que estava de volta. Mas, concluo a cada passo que dou que isso seria praticamente impossível.

Cheguei em casa e fui direto para o chuveiro. Meus pais estavam conversando na sala de jantar enquanto o colocavam à mesa. O tempo havia mudado de repente, o céu estava completamente coberto por grossas nuvens e os relâmpagos cada vez mais fortes. Cada estrondo do trovão fazia meu corpo estremecer e ficar em alerta.

Nunca tive medo de raios ou trovões, pelo menos não da maneira que a maioria das pessoas tem. Na verdade, aquela lembrança da minha última vez com Thomas tomando banho de chuva, há oito anos, sob o estalar dos céus, era o que mantinha meu corpo em estado de alerta.

Aquela foi uma noite tortuosa depois do nosso último beijo, digna de filme de terror. Eu não gostava nem um pouco de me lembrar da fria sensação de que havia algo de errado acontecendo brotando de dentro de mim por toda a noite e eu simplesmente a ignorei.

E isso ainda sondava minha cabeça como um erro grotesco que por anos achei que tivesse sido fatal.

Felizmente não foi. Ou infelizmente, não sei dizer. Talvez não ver Thomas nunca mais fosse uma glória que eu ainda não tinha percebido que era para o meu bem.

Praticamente arranquei o uniforme da empresa fora do corpo, ficando apenas de calcinha e sutiã. Amarrei meus cabelos para não molhar e me encarei no espelho por alguns segundos.

Meus olhos estavam fundos, cansados e com uma linha profunda abaixo deles. Minhas olheiras pesadas e um pouco mais escuras do que de costume.

Deixei a água quente correr pela pele assim que adentrei no box. Meu pescoço pareceu agradecer pela sensação boa de relaxamento, mas minha cabeça ainda rodava como se minha visão não conseguisse focar em um ponto.

E a verdade era que realmente não conseguia desde que o vi parado na janela.

Eu estava exausta. Eu estou há anos, e gostaria mesmo que essa sensação passasse em algum momento.

Adoraria acordar um dia e saber que não havia nada de errado. Gostaria de sentir nada além de pura e genuína felicidade.

Mas, o que eu precisava fazer para que isso aconteça? A vida adulta parece apenas uma sucessão de erros e alguns acertos, os momentos de paz e alegria vão ficando escassos e os objetivos pessoais se tornam a principal fonte de impulso para não desistir.

Saí do chuveiro antes que começasse a dar uma de filósofa enquanto desperdiçava água. Isso é mais comum do que gostaria, afinal sempre foi um momento bom para pensar.

𝑪𝒂𝒓𝒕𝒂𝒔 𝑷𝒂𝒓𝒂 𝑻𝒉𝒐𝒎𝒂𝒔Onde histórias criam vida. Descubra agora