FLORES DE CIÚMES

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"Te ver cara a cara
Me faz pensar nos dias que estávamos juntos
Mas eu não posso fazer cena
Mas eu não posso mostrar"

— Like I Want You — Giveon


Era estranho estar no mesmo ambiente que Thomas depois de tantos anos sem vê-lo

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Era estranho estar no mesmo ambiente que Thomas depois de tantos anos sem vê-lo. Mas, o mais estranho mesmo era estarmos ali em completo silêncio depois de horas jogadas fora em minha mente imaginando como nosso reencontro seria. No início, nos primeiros dois anos de sua ausência, fantasiava um longo abraço envolto de muito choro e um beijo da saudade tanto reprimida. Depois disso, sempre pensei que, no máximo, o veria de longe e não iria interagir com ele, mas deveria mascarar todos os meus sentimentos de forma a não os deixar transparecer a ponto de Thomas entender que poderia se aproximar de mim novamente.

Na prática nada disso aconteceu, e cá estamos nós dois tendo que engolir a presença um do outro civilizadamente.

Não que eu tivesse descartado tudo o que fiz na noite anterior. Na verdade, neste instante, sinto uma pontada de remorso incomodando em meu íntimo.

Contudo, era melhor mesmo ficar quieta em relação a isso e fingir que nada aconteceu.

Porém, Thomas também permanecia quieto e isso era quase surreal. Os únicos momentos em que o vi assim em quase oito anos de amizade foram em dias de provas ou dormindo. Ele sempre tinha algo a dizer, não importava o ambiente em que estávamos, a ocasião ou a maneira que ele se expressava — às vezes em voz tão baixa em um cochicho quente ao pé do meu ouvido, às vezes gritando do outro lado de maneira eufórica e nem um pouco envergonhada.

Mas não era nada disso o que estava acontecendo ali. Tudo o que eu ouvia dele era a sua respiração quase inaudível e, vez ou outra, um suspiro lento e agoniado. Eu sabia que era de agonia pois conhecia muito bem todas as suas formas de suspirar, e não me surpreendia de ainda reconhecer isto. Thomas não parecia estar disposto a começar uma conversa, sequer me forçar a ouvir sobre a história que o afastou — e eu não compreendia se isso me frustrava mais ainda ou me deixava aliviada.

Por alguns instantes tentei fingir que ele não estava presente, contudo, o meu corpo reagia com um impulso elétrico aflito, como se houvesse uma carga sendo projetada pelo meu cérebro de tempos em tempos fazendo-me enxergá-lo com mais vivacidade e zombando da minha angústia de tantos anos de espera. Quase podia ouvir meu próprio consciente me dizendo: "não era isso o que você queria? Pois então, aproveite. Aí está ele. Aí está o motivo de todo o seu desespero e noites insones." E, nisso, meus olhos se encontravam com os de Thomas e não se desviavam até eu saber que ele realmente estava ali e novamente não era um sonho.

— Os seus horários. — Entrego a ele uma folha com as informações quebrando o silêncio de quase dez minutos. — Precisa bater ponto todas as vezes que chegar, fazer os seus intervalos e sair. Seu crachá ficará pronto em três dias, mas pode bater o ponto com a sua digital. Poderá consultar seus pontos batidos em um link do site da empresa que o enviarei depois que o cadastrar.

𝑪𝒂𝒓𝒕𝒂𝒔 𝑷𝒂𝒓𝒂 𝑻𝒉𝒐𝒎𝒂𝒔Onde histórias criam vida. Descubra agora