A CARTA DE DANIEL

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Dois anos depois

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Dois anos depois

Sábado, 23 de março de 2024

A chaleira escandalosa na cozinha me acorda do sono profundo. Tenho alguma dificuldade em focar no cômodo escuro por causa das grossas cortinas, mas cerca de um minuto e meio depois estou completamente desperta.

A chaleira para com o seu assovio irritante algum tempo depois. Alguma coisa me dizia que Daniel estava fazendo o café da manhã e se preparando para mais uma de suas reuniões de trabalho online, já que sempre preparava café naquele objeto rústico antes de começar.

Decido que ficarei mais um tempo enrolada nas cobertas. O tempo estava ficando cada vez mais quente e agradável, mas viver em Nova Iorque foi um pouco difícil por causa do seu clima frio por boa parte do ano.

Estávamos no Spring Break, a pausa que as escolas e faculdades fazem na primavera para descansar, uma espécie de miniférias que acabaria em algumas semanas.

Daqui a três dias é meu aniversário de vinte e nove anos e, assim como os dois anos anteriores, terei que passar longe da minha família e amigos novamente. Isso me desanima a ponto de não querer comemorar de maneira nenhuma.

Até o presente momento, pelo que sei, as coisas ainda não foram resolvidas entre Thomas, seu pai Bernard e o avô de Giselle, Ferdinando. Contudo, as notícias não chegavam até mim sobre o que estava acontecendo em tempo real. O pior de tudo é que nem Daniel, nem meus pais, amigos ou até mesmo Thomas me contavam sobre isso, tudo a pedido do meu excelentíssimo marido que diz que está me mantendo longe para me proteger.

Thomas concordava que era melhor assim. Passou horas me dizendo que as coisas não estavam indo tão bem quanto parecia e que, se eu estivesse por perto, poderia ser pior, e que não queria me preocupar com absolutamente nada. Porém, através da internet pude acompanhar algumas atualizações, onde a mídia estava sempre atenta depois que descobriram esse caso.

Thomas havia me contado — naquele perfil falso do Facebook que usava para manter contato em segredo — que ele havia sido demitido do hospital depois que descobriram a certidão falsa. Não pode concluir os seus estudos de residência, mas não perdeu a carteirinha de medicina, para seu alívio.

Com a ajuda de Ramon e Lorenzo, não foi processado pelo Santa Mônica. O hospital resolveu abafar o caso e não comentar sobre o seu crime, já que havia um sócio importante no meio defendendo-o e tentando a todo custo não prejudicar mais a sua imagem. Contudo, tivera que prestar contas com a justiça exatamente como imaginávamos.

Seu julgamento foi há alguns meses e, pelo que sei, suas contribuições com a justiça para ajudar a prender Ferdinando e Bernard ajudaram-no a se livrar de uma sentença pior. No fim das contas, pagou uma multa salgada, porém orgulhosamente provida por Théo, que já esperava por isso e estendeu a mão para seu irmão mais novo desde que se conheceram.

𝑪𝒂𝒓𝒕𝒂𝒔 𝑷𝒂𝒓𝒂 𝑻𝒉𝒐𝒎𝒂𝒔Onde histórias criam vida. Descubra agora