FIM DO NOIVADO

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"Está começando neste exato instante o terceiro e último show do aniversário da cidade comandado por Ramon Perez. O produtor musical e artístico nascido na Espanha, filho de pai brasileiro e mãe hispânica, mudou-se para Soledade há pouco mais de cinco anos e, desde então, embala o último dia de festa com canções apaixonadas cantadas sobretudo em inglês. Pensando na acessibilidade dos que não falam ou entendem a língua, dispõe em seus telões a letra das músicas escolhidas a dedo por ele, trazendo sempre consigo inspirações de reis e divas do pop interpretadas por homens e mulheres com um potente vocal. O tema proposto da noite é "Amar no Adeus" e promete fortíssimas emoções para os apaixonados de plantão. E eu, como crítico do blog incorporado ao principal jornal da cidade, estou ansioso para ver quais serão as surpresas de hoje, visto as últimas fofocas que rolaram sobre um possível boicote. Atualizarei os leitores em breve sobre essa parte da história e direi se Ramon conseguiu, mais uma vez, trazer conteúdo de qualidade mesmo sob fortes indícios de traição vindo dos seus próprios músicos. Enquanto o show não começa, conheça a trajetória do seu idealizador através dos links disponíveis abaixo..."

— Texto de Alberto Saldanha, crítico de arte em sua página pessoal alertando sobre o show que aconteceria naquela noite do dia sete de agosto de 2021.

— Texto de Alberto Saldanha, crítico de arte em sua página pessoal alertando sobre o show que aconteceria naquela noite do dia sete de agosto de 2021

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A pele do meu braço se arrepia enquanto sinto meus dedos entrelaçados aos de Thomas. Estamos de mãos dadas no palco recebendo as últimas palmas calorosas do público. Não consigo deixar o sorriso estampado em meu rosto se abater mesmo depois de me lembrar das consequências que aquela noite me traria.

Tudo havia se saído incrivelmente bem. Ao menos achava que sim. Não conseguia dizer sobre como meu rosto havia parecido enquanto cantava, se estava de fato bonito ou não, contudo, todas as emoções foram genuínas. Não poderia ser melhor do que isso, poderia?

Eu iria aguardar os vídeos e comentários alheios para saber, mesmo tendo plena consciência de que não deveria procurar por eles. Afinal, as pessoas podem ser indelicadas sobre mim mesmo não tendo nada contra, e isso poderia abalar a minha confiança.

Entretanto, sairia plenamente satisfeita se ao menos tivesse ajudado Ramon a manter a sua escola. Isso bastava. Com o tempo, melhoraria minha presença de palco, o meu vocal e me tornaria cada vez melhor.

Thomas beija o dorso da minha mão e me olha com um sorriso doce nos lábios. Ele está radiante tal como nunca, lindo usando aquele último terno de cor preta, brilhando sob as luzes coloridas dos refletores no palco. Eu sinto meus olhos pesarem sobre a sua imagem e a guardo dentro de mim com ternura da mesma maneira que sempre fiz.

Sorrio para ele e sinto meus olhos lacrimejarem. Algo dentro de mim dói, me desperta e me impulsa a acreditar que aquilo era um sonho e a qualquer momento eu iria acordar e, novamente, veria que Thomas, na verdade, não estava ali.

Aperto um pouco mais a sua mão instintivamente quando sinto isso. Eu ainda carregava um trauma, ele ainda não havia me contado o que aconteceu. Porém, deveria mentir para mim mesma todas as vezes que o visse e continuar tentando afastá-lo? Eu deveria levar comigo todo esse rancor pelo resto da vida? Mudar meus planos e aceitar coisas que nunca quis somente para tentar sair do imenso e profundo sentimento que nutria por ele desde que nos conhecemos?

𝑪𝒂𝒓𝒕𝒂𝒔 𝑷𝒂𝒓𝒂 𝑻𝒉𝒐𝒎𝒂𝒔Onde histórias criam vida. Descubra agora