LENDO AS CARTAS

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Thomas:

— E é por isso que você não pode bater nos ouvidos dos seus irmãos — falo para Lívia, nova irmãzinha de Isabelle, enquanto aguardo-a trazer alguma coisa que havia me prometido.

— Mas, ele me bate também — ela diz um pouco revoltada.

Certo, talvez fosse o caso de entender o que estava havendo entre os três. Eu nunca tive que conviver com meu irmão da mesma maneira, nós éramos adultos quando nos descobrimos, mas sabia que coisas como esta aconteciam.

Théo estava para se tornar pai. Desde que nos conhecemos, era como se ele fosse um outro eu, e era estranho vê-lo como se eu tivesse outra vida. Pelo menos foi assim no começo. O fato de que Anastácia se parecia um pouco com Isabelle não ajudava em nada, pois eu sentia um pouco de inveja em vê-los tão bem.

Contudo, com o tempo entendi que nada foi fácil para eles também. Sua história de amor era um pouco trágica, senão atormentada. Vê-lo bem, feliz e casado com a mulher que amava me trazia um pouco de paz e me fazia sentir que as coisas também se encaixariam entre mim e Isabelle.

— Liv, eu prometo que vou conversar com eles, está bem? Mesmo que tenha certeza de que seus pais já disseram para vocês que não podem se atacar. Porém, se eles continuarem assim, podemos fazer umas pegadinhas fingindo que eles estão surdos. O que acha?

Lívia dá uma risada quase maligna para uma criança e eu percebo que Isabelle está ao nosso lado segurando uma caixa de presentes adornada em estrelas amarelas. Tenho certeza de que foi eu a dar essa caixa para ela em algum momento das nossas vidas.

— Que história é essa? — questiona um pouco apavorada. — Thomas, que tipo de influência você espera ter com meus irmãos?

— Do tipo cem por cento tio da piada do pavê — brinco com a situação. Ela faz uma careta.

— Não duvido de que irá estragá-los da mesma forma que fez comigo — diz e se senta ao meu lado.

— Isso é calúnia! — protesto mesmo sob forte riso. — Eu nunca a induzi a nada em toda a nossa convivência.

Isabelle me olha interrogativa.

— Nem se você perder a memória acreditará nisso um dia.

Continuo rindo das suas expressões exacerbadas.

— Tudo bem, você tem razão. Porém, eu realmente acho que a minha maneira de lidar com crianças é a correta.

— Fazendo-as se tornarem vingativas? Que tipo de pediatra você será?

Isabelle cai na risada junto a mim.

— O favorito da criançada. Não é, Liv? — A menininha assente mesmo mal entendendo do que estávamos falando. — Está vendo?

— Se você tivesse dito a ela que comer cocô é bom, teria concordado — Isabelle aponta e cruza os braços.

— Não tenho culpa se elas gostam de mim — lembro. — E eu nunca faria isso.

— Não, apenas a ensinará a se vingar dos seus irmãos da forma correta — Bel acusa, porém, sua voz ainda está perto da comicidade.

— Exatamente!

Ela suspira perdendo um pouco a paciência em continuar com aquele assunto. Era óbvio que eu não iria tão longe, mas, confesso que a ideia era tentadora.

— Certo, Liv, será que você pode ir lá no quarto? Eu deixei uma surpresa para você em cima da sua cama — Isabelle diz. Imediatamente a menina corre para dentro.

𝑪𝒂𝒓𝒕𝒂𝒔 𝑷𝒂𝒓𝒂 𝑻𝒉𝒐𝒎𝒂𝒔Onde histórias criam vida. Descubra agora