Minha Confissão

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O semestre havia acabado e eles estavam de férias. Yuri havia prometido a Jenifer que a ajudaria a encontrar o pai biológico dela, e assim estava fazendo. Os dois agora estavam sozinhos na casa dela, sentados na mesa da cozinha e discutindo sobre uma foto de Sol jovem com um rapaz da mesma idade, no que parecia ser um baile funk. Eles não sabiam quem era, mas era uma foto de antes de Jenifer nascer, então havia a possibilidade de ser ele.

— Eu posso jurar que já vi esse cara antes, mas não sei onde — Disse Yuri, com o cenho franzido.

Jenifer encarou a foto pela milésima vez.

— Você sabe que eu também? Não consigo parar de pensar nisso, mas não vem ninguém na mente.

De repente alguém tocou a campainha e Jenifer pediu licença para ir atender. Yuri aproveitou para pegar o celular e conferir as mensagens. Nenhuma de Fred. O veterano havia viajado para curtir as férias e mal falava com Yuri. Ele nem deve lembrar mais que eu existo, pensou o rapaz, frustrado.

Então ele percebeu que o amigo havia postado um story e correu pra ver. Era Fred fazendo graça numa praia.

— Hmm... Com quem é que você tá falando pra tá com esse sorrisinho de bobo apaixonado? — indagou Jenifer em tom de zombaria, após ter voltado para a cozinha sem ser notada.

Yuri se assustou como se tivesse cometendo um crime, deixando o celular escapar de sua mão, esse quicou na mesa até parar de tela para cima, revelando o vídeo de Fred. O semblante de Jenifer mudou assim que ela entendeu o que estava acontecendo.

— Na-Não é ninguém. Viagem sua, tô olhando apenas os stories da galera — ele tentou se justificar, recolhendo o celular depressa.

Jenifer se sentou onde estava, de frente para Yuri.

— Eu não tenho nada a ver com isso, mas... tem alguma coisa que você queira me contar?

— Não... Não...

Yuri se levantou e deu alguns passos pela cozinha, ficando de costas para a amiga.

— Yuri eu não vou te julgar, nem falar nada para ninguém — insistiu Jenifer. — Mas se quiser desabafar...

O rapaz estava nervoso, muita coisa passava por sua cabeça. Medo, culpa, insegurança e também aquela conversa com Nina, de meses atrás. Pensava nos pais, no pastor, nos sermões da igreja. Desejou que existisse um buraco naquele assoalho para que ele pudesse se enfiar e nunca mais sair de dentro.

— Eu... Eu... tô gostando do Fred, sim — confessou ele, virando-se para ela. Era a primeira vez que falava aquilo em voz alta. Sentiu-se como se estivesse rasgado por dentro e, ao mesmo tempo, como se tirasse um peso dos ombros.

Jenifer tinha uma expressão séria, talvez de preocupação.

— Então você é... gay?

Yuri se sentou na cadeira em silêncio.

— Eu não sei! Quando eu era mais novo, eu sentia algo estranho quando via os corpos masculinos, mas me convenci de que era apenas inveja, que queria ser como eles, entende? — desabafou o rapaz, com os olhos enchendo de lágrimas. — Eu me tranquei dentro de uma casca, me agarrei a minha fé, me dediquei a ser o filho que meus pais queriam que eu fosse. Pensei que conseguiria ser feliz seguindo esse caminho, mas quando cheguei na faculdade, tudo mudou. Tudo mesmo.

— Tome, beba um pouco de água — Jenifer ofereceu, empurrando um copo até ele.

Com as mãos trêmulas, Yuri segurou o copo de vidro e o levou à boca. Depois, voltou ao seu desabafo.

— Eu surtei, achei que com você eu podia ter a vida que era certa, a vida que todos queriam pra mim. E quando comecei a andar com Fred, entendi que estava enganado. Você sabe como o povo da igreja é, meus pais nunca entenderão isso. Eu não sei o que fazer.

Jenifer pôs as mãos sobre as de Yuri, em sinal de apoio.

— Yuri, nada nem ninguém deveria te impedir de viver sua verdadeira natureza. Se você sente Deus em seu coração, como eu sinto, saiba que Ele está com você e ninguém poderá dizer o contrário.

O rapaz limpou as lágrimas dos olhos com as costas da mão. Sentiu-se grato por não receber um olhar inquisidor da sua melhor amiga.

— Mas quanto ao Fred...— Jenifer fez uma breve pausa antes de continuar — Eu não acho que ele seja certo para você.

Yuri ficou em silêncio por um tempo, respirou fundo e então admitiu:

— Eu sei.

Do I make you cringe? (Fred & Yuri)Onde histórias criam vida. Descubra agora