Bem-vindo ao Clube

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Yuri caminhava por aí sem rumo, esbarrando de ora em ora em algumas pessoas que se aglomeraram nos corredores do ICAES. Sua cabeça fervilhava de pensamentos, conflitos, arrependimentos e dúvidas. Sentia como se existisse uma âncora de navio o arrastando para baixo, teria que se livrar dela se quisesse zarpar de volta à rota planejada, se ao menos fosse bom marinheiro...

Depois da experiência com Fernando, descobrira que infelizmente ainda não haviam inventado uma cura para corações partidos, apenas um remédio de efeito passageiro mais conhecido como álcool. Sabia que a essa altura Fred já devia estar enchendo a cara em algum lugar daquele campus. Isso se um dia ele realmente gostou de mim. Por que é que estava desejando ver o playboy sofrer? Que tipo de pessoa havia se transformado?

Parado ao lado do bebedouro, Yuri começou a esfregar o rosto; a lembrança da discussão com Fred buzinava de forma intrusiva em seus ouvidos, acentuando aquele vazio crescente em seu peito. Eu não vou chorar, decidiu ele, brigando consigo mesmo. Imagina desperdiçar lágrimas por causa de um playboy sem noção? Por causa de um amor verdadeiro, a voz intrometida soou em sua cabeça, tentando corrigi-lo. Por Deus, isso é ridículo!. Respirou fundo, tentando afogar todos esses sentimentos indesejados. Precisava encontrar alguém para conversar sobre o tempo, a violência da cidade, futebol, uma série, qualquer coisa que o resgatasse desse lugar.

— E aí? Tudo certo? — Vini perguntou ao se aproximar de repente. Vestia uma camisa branca com uma estampa da Nina Simone, calça jeans e uma bota. E tentava esconder um semblante preocupado.

Tá de sacanagem, hein aí de cima?. Vini era uma das últimas pessoas que Yuri queria ver no momento. Não que o veterano tivesse feito algo de errado, mas sim porque sabia qual seria o teor da conversa caso resolvesse participar dela.

— Você tava chorando? — o estudante de comunicação enfim perguntou, surpreendendo Yuri.

— Não — respondeu-o prontamente, deixando escapar uma fungada. Depois levou uma mão aos olhos para limpar qualquer umidade enxerida que pudesse estar por lá —, impressão sua. Só vim beber água.

— Ah... — Yuri não conseguiu identificar se aquilo foi uma expressão de que Vini aceitara o que ele disse ou se estava apenas dissimulando —, só queria ter certeza que você tá com a gente mesmo.

— É claro que tô, pô. Eu dei minha palavra, não dei? Fred que entendeu tudo errado.

Vini abriu um sorriso orgulhoso e apertou o seu ombro de um jeito afetuoso.

— Eu sabia que podia confiar em você. Imagino que ele não aceitou bem, mas não importa. Pessoas como Fred sempre esperam que a gente esteja ali para ser o amigo coadjuvante da história deles, não conseguem nos enxergar fazendo nada que ameace esse mundinho que eles não abrem mão de viver.

Yuri apenas balançou a cabeça, meio que concordando com o rapaz. Era doloroso saber que as coisas tinham que ser dessa forma, que a vida real não era como uma novela e no dia a dia não conseguiriam agir por muito tempo como se o mundo ao seu redor não interferisse em nada. Nós éramos muito diferentes, sempre fomos e nunca deixaremos de ser, refletiu em silêncio, tentando, mais uma vez, aceitar o fim de uma história que mal teve tempo de começar.

***

Havia passado das 21 horas e uma parte significativa do grupo ainda estava festejando no Bar de Simas. Yuri esperava pelo retorno de Jenifer para ir embora, esta saiu dizendo que precisava resolver alguns problemas antes de ir para Piedadee e não voltou mais. Estava começando a ficar preocupado com a amiga, achando que, talvez, ela estivesse se arriscando para descobrir algum podre do pai, mas o que podia fazer além de esperar? Se voltasse para casa sem ela, seria bombardeado por uma rajada de perguntas vinda de todos os lados. Devia ter insistido mais pra ir com ela, martirizou-se, mas a verdade era que estava tão alheio a tudo que ela deve ter corrido dele.

Do I make you cringe? (Fred & Yuri)Onde histórias criam vida. Descubra agora