Do I make you cringe? (Fred & Yuri)

Me Ilumine Novamente

Fernando estava na entrada do ICAES, esperando por Yuri, que estava chegando na companhia de Fred e Jenifer. Quando o viu, o bolsista desacelerou os passos, nervoso, e isso chamou atenção dos dois amigos.

— Algum problema? — Jenifer cochichou, olhando para Yuri.

— O que esse cara quer com você? Se não quiser falar com ele, a gente passa reto — propôs Fred, do outro lado de Yuri.

Yuri não tinha contado a ninguém o que tinha feito com Fernando na noite de sexta, nem mesmo ao Fred que fora buscá-lo do lado de fora do seu apartamento durante a madrugada. Ele tentou fugir dessa responsabilidade o final de semana inteiro, mas agora não havia mais nenhuma rota de fuga.

— Não. Vão indo, eu preciso falar com ele — Yuri respondeu, tentando tranquilizá-los.

— Você que sabe, mas se... — Fred começou a insistir, mas foi cortado por Jenifer.

— Ele já disse que precisam conversar. Você e eu vamos na frente — Jenifer decretou, sem espaço para protestos.

Yuri parou na frente de Fernando e os dois se olharam com estranheza. Da parte do mais novo era apenas constrangimento, o olhar do mais velho, por sua vez, era mais duro, carregado por algo que só podia ser mágoa escondida atrás das lentes de seu óculos.

— Opa, bom dia — cumprimentou o estudante do terceiro período, tentando fingir uma normalidade. — Quer ir para algum lugar melhor pra gente trocar ideia numa boa?

— Tem certeza? Você não vai sumir de novo? — Fernando respondeu, reativo. Yuri não podia culpá-lo por aquilo, então engoliu o orgulho e ignorou.

— Vamos procurar uma sala vazia por aí.

E foi isso que eles fizeram, caminhando lado a lado em um silêncio angustiante. Encontraram uma sala de aula do segundo andar do bloco de direito do ICAES e se sentaram em cadeiras da primeira fileira, ficando de frente para o quadro branco.

— Você terminou com o seu namorado... — Yuri começou, olhando para frente, como se tivesse assistindo a uma aula imaginária.

— Terminei — Fernando respondeu, tomando a vez. — Talvez nunca devesse ter começado, você me mostrou isso.

— Olha Fernando, papo reto agora, eu não queria... — Yuri tentou se justificar, mas o mais velho o interrompeu:

— Eu passei o sábado tentando me enganar que existia alguma explicação pra você ter sumido daquele jeito, mas no domingo me dei conta que tava tentando me fazer de idiota. Então eu vim até aqui para ouvir da tua boca, Yuri. Aconteceu alguma coisa ou você só decidiu me sacanear mesmo?

O mais novo respirou fundo e contou tudo que havia lhe acontecido naquela noite, em todos os detalhes relevantes.

— ... E daí eu quis machucar meu pai e a forma que encontrei foi fazendo o que ele tanto abominava — Yuri baixou a cabeça, envergonhado. Não tinha a intenção de olhar para Fernando, que estava sentado bem ao seu lado, apenas ouvindo. — Eu vacilei feio, só me resta te pedir desculpas.

Fernando ficou em silêncio por alguns segundos, com um ar pensativo, os cotovelos apoiados sobre a mesa e as mãos entrelaçadas. Yuri sentiu como se fosse um réu participando de um julgamento. Tudo que o rapaz conseguia pensar, enquanto esperava por sua sentença, era em como poderia sair dali e correr direto para a sua sala, para se esconder atrás de seus amigos.

— Você também quis me machucar. E conseguiu... mas quer saber? Talvez seja justo, no fim das contas. Eu também já te magoei muito — o bolsista sabia que Fernando estava olhando para ele, mas continuou em silêncio, fitando o quadro vazio, lembrando-se de momentos da noite desagradável no apartamento dele. — Sabe o que é pior disso tudo? É que eu continuo gostando de você.

As últimas palavras do ex chamaram atenção de Yuri, que finalmente virou a cabeça na direção dele, vendo como sua postura e a expressão de seu rosto haviam mudado, estando mais perto da imagem que ele se lembrava.

— Por que? Por que é que você gosta de mim? — perguntou o bolsista, deixando escapar uma certa melancolia na voz.

Fernando suspirou antes de responder:

— Eu já saí com vários caras antes, mas em você eu encontrei algo que achei não ser mais possível, uma aproximação natural. Digo, eu não precisei instalar um aplicativo, marcar uma data, um horário e um lugar pra te encontrar e levá-lo pra cama, que é como as coisas funcionam hoje em dia. Você simplesmente apareceu em minha vida no momento certo e trouxe um sentido que eu não esperava encontrar quando decidi voltar ao ICAES — ele esboçou um sorriso doce, de reconforto, e isso tranquilizou o coração de Yuri de um jeito que ele não sabia que precisava. — Você é bonito pra caralho, e também é inteligente, bom de papo, gentil. Até quando você é chato, quando você tá com raiva ou entra na defensiva, ainda assim, você é perfeito. 

Yuri viu-se arrebatado pela timidez, perdera até mesmo a fala por causa dos elogios. Durante a declaração de Fernando, ele ainda tentara se convencer de que o mais velho estava mentindo ou falando o que qualquer um gostaria de ouvir, mas agora, depois de ouvir tudo, sentia que não havia nenhuma razão para ele tentar agradá-lo que não... amor. E Yuri estaria mentindo se negasse que as palavras não causaram nenhum efeito sobre ele.

— Eu... acho melhor ir para a aula, já to atrasado — Yuri anunciou, levantando-se.

Fernando se levantou ao mesmo tempo e os dois caminharam até a parte da frente da sala, ficando a alguns passos da porta. Antes de ir, Yuri se virou para o ex e os dois ficaram se olhando por alguns segundos, sem saber o que fazer. O mais novo estendeu a mão para um aperto de mão, mas Fernando preferiu um abraço.

Foi um abraço apertado, demorado. Naquele instante, todos os pensamentos sumiram da mente de Yuri como uma névoa levada pelo ar, e ele se sentiu seguro como há muito tempo não sentia. Com os olhos fechados, sentindo a mão de Fernando fazendo um carinho em sua nuca, o bolsista viu-se voltando no tempo, quando ele não sabia da farsa, quando ele e o ex eram bons um para o outro. Desejou que aquela sensação durasse para sempre, mas seria isso possível?

— Se você quiser dar mais uma chance para nós dois... — Fernando sussurrou enquanto acariciava o rosto de Yuri. — Você sabe onde me encontrar.

Yuri se afastou dele com cuidado.

— Depois a gente se fala — disse, com a mão no trinco da porta. E com isso, ele deixou a sala para trás, atravessando o corredor com a cabeça cheia de perguntas.