Sonho de Adolescente

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Era uma moto grande, alta e preta, assim como a veste de motoqueiro que Vini estava trajando.

— Curtiu? Lindona né? — o mais velho perguntou enquanto Yuri passava a mão no tanque do veículo. O bolsista estava segurando uma garrafinha de cerveja que acabara de pegar no balcão do Bar do Simas. — Meu primo me empresta às vezes, enquanto eu ainda não tenho uma igual.

Yuri se afastou da moto e se aproximou do líder do coletivo.

— Não conhecia esse seu lado Che Guevara em Diários de Motocicleta — ele brincou.

— É apenas uma moto, Yuri. A vida é uma só, e eu estou aqui para vivê-la de todas as formas — respondeu o rapaz, rindo com os braços abertos.

O futuro advogado nunca imaginou que Vini poderia ficar ainda mais bonito do que já era, até vê-lo assim, com uma jaqueta de couro negro. Ele direcionou o olhar para a entrada do bar e virou a bebida na boca, tentando não dar bandeira por encarar muito o rapaz mais velho. A alguns passos dali, Guiga, Bia, Vicente e Alice brindavam numa das mesas da calçada.

— Uma pena você ter chegado só agora. To terminando essa aqui pra ir embora — Yuri falou.

— Você tá sozinho?

— Eu tava com as meninas, mas elas acabaram de sair — respondeu o bolsista. — E você, veio encontrar alguém?

— Vim trazer isso aqui pro Simas — ele segurava o que parecia um cartaz enrolado. — Vou levar lá e já volto pra gente trocar mais ideia.

Yuri ficou sozinho esperando. Encostou-se no banco da moto estacionada enquanto terminava a sua cerveja. Quando Vini voltou, ele já tinha descartado a garrafa vazia.

— E então, o que me diz? Quer dar uma volta? — Vini perguntou, piscando um olho.

Enlouqueceu?, pensou Yuri, sem sair do lugar.

— Não, eu não sei pilotar essa coisa — respondeu, com um sorriso sem graça. — Fica para próxima.

— Eu quis dizer para você ir na garupa, mas tudo bem.

Yuri se sentiu um idiota. É óbvio que Vini não emprestaria a moto do primo para qualquer um. Para mudar de assunto, o bolsista perguntou se o rapaz achava que eles teriam chance nas eleições, Vini respondeu-lhe que seria difícil ir contra a branquitude hegemônica do ICAES, mas que era dever deles ao menos tentar.

— Se perdermos, vamos ter a chance de pelo menos pautar alguns debates — explicou ele.

Yuri concordava com o rapaz. Pensar no semestre seguinte sempre era algo que o deixava ansioso, com a sensação de que estava prestes a viver os seus dias mais estressantes da estadia na faculdade.

— Isabela falou algo de mim? — Vini perguntou, de repente.

— Que vocês ficam às vezes, mas que não é nada sério ainda — Yuri respondeu. E assim que falou, ficou com medo de ter contado algo que não devia.

— Ela ainda não superou cem por cento o seu amigo — Vini revelou, fazendo um bico. — Eu vejo que poderia desenrolar algo mais sério com ela, mas o que posso fazer além de esperar?

— É... difícil. Essas coisas aí só o tempo mesmo.

— E você, Yuri, se sente pronto para se relacionar com alguém?

Me sinto?, perguntou-se o rapaz, inseguro. Nunca mais tinha pensado a respeito de estar com alguém. Em algum lugar do caminho após o término com Fernando, ele voltara a se acostumar com a solidão.

— Eu tô de boa assim.

Vini começou a se aproximar mais de Yuri, tinha uma sugestão de desejo no olhar.

— Não tá errado não. Estamos em nosso ápice, pra quê perder tempo sofrendo com dramas que não levam a lugar nenhum?

Yuri ficou encurralado entre Vini e a moto, preso também ao olhar e ao sorriso charmoso do motoqueiro, que se aproximava mais e mais do seu rosto. Se havia alguma forma de fugir dali, ele não queria descobrir qual era.

Quando Yuri achou que ia ser beijado, Vini passou direto por sua boca e parou próximo ao ouvido.

— O que você deseja pra hoje, Yuri? — Vini sussurrou.

Você. Eu quero você, Yuri pensou, com os olhos fechados. Ao invés de usar palavras, ele preferiu responder de outra forma, inclinando o rosto à procura dos lábios de Vini.

***


Vini se ofereceu para dar uma carona para Yuri até a sua casa e este aceitou, obrigando o motoqueiro a pegar um capacete emprestado com Simas. O estudante de direito estava tão envolvido por aquela noite que nem pensou em como seria a viagem. Ele nunca foi muito de andar de moto, então, a princípio, ficou sem saber onde tocar, até que Vini disse que ele podia abraçá-lo se quisesse. No trajeto pararam em alguns lugares, para comer alguma coisa e dar uns amassos.

Havia passado das 22 horas quando Vini finalmente deixou Yuri na porta de casa. A despedida foi tranquila, sem muito contato físico, pois o estudante de comunicação se conteve ao entender que estava em um território arriscado para o rapaz mais novo. Ao devolver o capacete, Yuri lamentou por tê-lo feito vir até tão longe, mas Vini falou que não havia sido nada e que quando tivesse a própria moto, poderia dar mais algumas caronas para ele.

Quando Yuri finalmente entrou em casa, encontrou os pais juntos ao redor da mesa.

— Boa noite família — cumprimentou ele. — Mãe não precisa se preocupar com a janta, já comi algo com o pessoal da faculdade.

Dona Edileuza estava em pé ao lado do marido, com a cabeça baixa e a mão na testa; os dois pareciam sérios com algo que o patriarca olhava no celular. Yuri deduziu ser mais alguma dessas mensagens com intuito de causar pânico moral que eles viviam recebendo no whatsapp, e sem interesse em descobrir o que era, começou a andar rumo ao seu quarto.

— Yuri — o velho chamou, sentado na cadeira. Ele se virou para o filho com o celular na mão. — Você pode nos explicar o que é isso?

— A sobrinha do pastor acabou de enviar para o seu pai — a matriarca explicou enquanto Yuri pegava o celular das mãos do pai.

Era um story da Guiga no bar do Simas. Ela falava alguma groselha aleatória junta aos amigos, algo inocente, se não desse pra ver, atrás dela, Yuri e Vini se beijando.

Do I make you cringe? (Fred & Yuri)Onde histórias criam vida. Descubra agora