Sem Trégua

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As inscrições para as chapas do DCE ainda estavam longe de serem abertas, mesmo assim essa questão vinha tomando conta de quase todo o tempo livre de Yuri. Quando não eram as reuniões presenciais ou virtuais que tinha que fazer parte, era a cabeça que se recusava a pensar em outra coisa. Às vezes, invejava pessoas como Vicente, cuja única preocupação era escolher qual resenha ir no final de semana. Eu vou enlouquecer, pensou ao despertar, afundando o rosto no travesseiro.

Acordara de um sonho perturbador, mas talvez não o suficiente para ser chamado de pesadelo. O início foi como uma lembrança recente, estava encostado nos armários da sala do DCE com Fred em sua frente, carinhoso como da última vez em que ficaram juntos. Até que, em algum momento do sonho e de um jeito que não era capaz de explicar, vira a situação sob outro ângulo, e quando isso aconteceu, descobrira que ele não era ele e sim Domênico, que dava uns amassos em seu ex no sofá velho.

É só vontade de ir ao banheiro, disse a si mesmo diante da incômoda e indesejada ereção matinal. No banheiro, respirou fundo diante do espelho, encarando com atenção o reflexo de seu rosto molhado, como se quisesse garantir que não era outra pessoa. Esperava que a imagem de Fred pegando o novo integrante da chapa saísse depressa de sua cabeça, afinal era idiota demais sentir ciúmes de um sonho. Porque sim, era isso que estava sentindo agora, e de um jeito tão intenso que sequer conseguia dissimular para si mesmo.

***


Para o completo descompasso de Yuri, a primeira coisa que viu ao pisar no pátio interno do ICAES foi Domênico em uma conversa bem animada com Tatá, Simone e Fred. No mesmo instante, sua mente correu de volta ao sonho e, não satisfeita, começou a elaborar vários cenários esdrúxulos para torturá-lo.

— Yuri! — ouviu o chamado de Bela e voltou para a realidade.

— Oi?

— Estamos falando da festa do Bernardo, você vai? — Jenifer perguntou. — Bela já confirmou a presença.

— Vai bombar muito. Ele deve ter convidado o curso inteiro de direito — a mineira falou, animada.

— Vou nada. Sem ânimo e sem grana para isso — disse a elas. 

Seu desejo era passar despercebido pelo pátio e chegar de vez na sala de aula, mas Otávio viu os três e acenou. Yuri respondeu com um singelo aceno com a cabeça enquanto Jenifer e Bela deram com a mão.

— Doni já tá com os novos amigos — apontou a filha de Sol enquanto atravessavam o pátio vagarosamente. 

Bela deu alguma resposta para ela que Yuri não prestou atenção. Tentou ignorar os futuros adversários num primeiro momento, mas seus olhos vagaram à procura de Fred como se estivessem atraídos por um ímã. O líder do outro grupo também lhe encarava, e seu semblante havia se transformado completamente, ficando diferente de quando ainda não havia percebido a presença de Yuri. O sorriso bonito e espontâneo dera lugar a lábios cerrados e sérios, já os olhos haviam sido tomados por uma camada de desconforto.

— Bora logo pra sala — falou para as amigas, apressando os passos.

— Pra quê essa pressa, garoto? — Bela resmungou quando ficou para trás.

— Você não vai conseguir evitar ele pra sempre — Jenifer sussurrou ao seu lado, diminuindo o ritmo dos passos para acompanhar Bela.

***


No horário da terceira aula, Yuri deu um pulo na biblioteca para pegar os livros que estavam na ementa de Direito Penal III. Mesmo sendo rápido, um dos livros não estava mais disponível, ou seja, não conseguiu evitar de ir visitar a copiadora. E assim se foram seus últimos trocados do dia.

Do I make you cringe? (Fred & Yuri)Onde histórias criam vida. Descubra agora