Trauma

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Era quase quatro da manhã quando o celular de Yuri vibrou, anunciando a entrega de uma mensagem. Fred dirigia o seu carro vagarosamente pelas ruas escuras do Rio de Janeiro, sempre com os olhos fixos na movimentação da rua. Yuri, que estava no banco de carona, pegou o celular e conferiu a mensagem. Era Jenifer comunicando que tinha encontrado Rafa em um viaduto e que já estava levando ele para casa.

O melhor amigo de Fred tinha desaparecido durante a tarde e a mãe dele, uma mulher elegante e triste de nome Clara, chamou todos os amigos que pudessem ajudar a procurar. Fred se prontificou a encontrá-lo e os colegas da faculdade decidiram ajudá-lo. Yuri inclusive.

— Jenifer encontrou o Rafa em um viaduto — O calouro anunciou. Fred lançou um olhar desesperado para ele e antes que falasse qualquer coisa, Yuri continuou: — Ele está bem, estava apenas tirando umas fotos. Ela tá levando ele para casa agora.

Fred encostou o carro de uma maneira brusca, depois recostou no banco de couro e deixou escapar o ar pela boca, como se botasse para fora toda a angústia das últimas horas.

— Calma, playboy. Teu amigo vai ficar bem — disse Yuri, tentando tranquilizá-lo.

O bolsista notou que as mãos de Fred estavam trêmulas. Ele não tá legal, concluiu, começando a se preocupar.

— Foi mal, mano. Tô dando um tempo aqui pra não chegar na casa do Rafa nesse estado patético — Fred confessou. Sua voz soava fraca, Yuri nunca o viu desse jeito.  

— Relaxa, não tem problema. Leve o tempo que precisar — o calouro falou, mostrando-se compreensivo.

Yuri fitou as mãos tensas do motorista por alguns segundos, E agora? O que eu faço?, perguntou-se, temendo estar diante de um ataque de pânico ou algo do tipo. Então, tomado por um súbito sentimento de compaixão, estendeu o braço ao encontro de uma das mãos do amigo, puxando-a para perto. Fred observou o gesto pelo canto do olho, mas não recuou, fechando a mão junto a de Yuri.

— Eu sou uma merda de amigo, não sou? — Fred perguntou, claramente emocionado, a respiração pesada e a voz fraquejando. — Não importa o que eu faça, não consigo ajudar o Rafael... Meu parceiro de uma vida inteira. Eu tenho medo... medo de que ele faça alguma bobagem. Prometi a ele que iria ensiná-lo a amar esse mundo de novo, mas não sei como, não sei como, Yuri... Eu só to falhando mais e mais.

Yuri apertou a mão de Fred. Estava tenso e com o coração acelerado, mas não iria soltá-lo agora. Nem se afastar.

— Cara, a única coisa que você pode fazer pelo Rafa é ficar perto — aconselhou Yuri, de um jeito reconfortante. — Eu sei que tem a faculdade, a curtição e tudo mais, mas você não tem que se culpar por nada que está acontecendo com ele. Se eu fosse o Rafa, não iria querer que você parasse de viver a tua vida por minha causa.

Fred olhava bem para Yuri enquanto ele falava, estava com os olhos vidrados e balançava a cabeça positivamente ao ouvir algumas palavras, como se precisasse de cada uma delas, por mais genéricas que fossem.

— Você sabe que eu não sou de te elogiar, mas se tem uma coisa que tu não é, é um mau amigo. Pelo contrário, você sempre larga tudo para ajudar os outros e sem reclamar ou cobrar nada depois. Faz isso com Rafa, com Guiga... comigo também. Até aulas de direção tu me deu — Yuri falou, tentando tornar o clima mais leve no final.

Fred largou a mão de Yuri e se inclinou para dar um abraço apertado nele. Eles nunca tinham se abraçado assim; no início, Yuri ficou sem reação, mas logo o abraçou de volta.

— Cara, eu sou muito grato por você estar aqui. Valeu mesmo — disse Fred, dando um beijo suave no rosto do calouro.

O mais novo fechou os olhos, quase ficando emocionado. Será que ele podia sentir as batidas desesperadas do seu coração? O veterano não tinha o cheiro adocicado como o de Jenifer ou Isabela, era um cheiro diferente, masculino, bom. 

— Eu não vou a lugar nenhum — prometeu Yuri, por fim, separando-se do abraço.  

Do I make you cringe? (Fred & Yuri)Onde histórias criam vida. Descubra agora