Depois do que aconteceu com Fernando, Yuri voltou para casa tão leve que sentia como se estivesse caminhando sobre nuvens. Mas logo despencou do céu até o inferno quando a primeira coisa que ouviu ao passar pela porta foi seu pai reclamando com a sua mãe sobre o casal gay que estava passando na novela das nove.
— Edileuza, já disse para você não assistir essas porcarias. Essas novelas não são um bom exemplo para gente de bem — ele reclamou.
Yuri cumprimentou os pais com a cabeça baixa e correu para o banheiro com um nó preso à garganta. Viu sua imagem refletida no espelho, lembrou-se do irmão, respirou fundo e engoliu o choro. Enquanto tomava banho, muitos pensamentos passaram por sua cabeça, pensamentos estes que o fizeram sentir culpa. Mas quando deitou a cabeça sobre o travesseiro, na tranquilidade de sua cama, a única coisa que conseguiu pensar foi no ponto de ônibus.
***
Era segunda-feira. Yuri chegou ao ICAES com sentimentos conflitantes: queria ver Fernando e ao mesmo tempo não queria. Como iria agir com ele depois do que rolou entre eles? Não queria parecer emocionado, mas também não poderia ser frio. Sentiu as mãos suando frio a cada corredor que atravessava ao lado de Jennifer e Isabela. Quando viu a sua sala se aproximar, pensou que iria se enfiar lá e resolver o problema, mas Fernando surgiu bem ao seu lado. Yuri o cumprimentou com um sorriso e um aperto de mãos, da mesma forma que as meninas fizeram.
— A gente vai indo na frente pra terminar de ler o texto da primeira aula — Jenifer se despediu, indo com Isabela para sala e deixando Yuri junto do "novo amigo".
Os dois se encararam por alguns segundos e então riram, um riso constrangido, pelo menos da parte de Yuri.
— Não se preocupe, eu não vou te agarrar aqui na frente de todo mundo — o mais velho prometeu, o ombro encostado na parede.
Yuri respirou aliviado.
— Você me entende, né? — Yuri perguntou, se sentindo meio culpado.
— Claro. O começo é assim mesmo, todo mundo passa por isso, não esquente a cabeça — Fernando o tranquilizou.
Nesse instante Yuri sentiu um braço envolvendo-o e uma mão tocando o seu ombro, Fred o puxou para um abraço lateral, ficando ambos de frente para Fernando.
— Bom dia, meus bons. Qual a nova? — perguntou ele, de seu jeito expansivo. — Yuri passei aqui só pra avisar que geral vai se encontrar na casa da Sheyla depois da aula, confirma com as meninas. E você... — Ele olhou para o outro sujeito com uma expressão pensativa. — Fernando, não é? Se quiser colar com a gente, pode vir também.
***
Sheyla era uma menina da mesma turma de Otavio e Fred. Neta de diplomatas, morava sozinha num apartamento luxuoso, que estava lotado de gente agora. Uma festa em plena segunda-feira para "curar a ressaca do final de semana", como se eles não tivessem apostilas para ler e trabalhos acumulados para fazer. Em outros tempos, Yuri jamais estaria ali, mas como todos os amigos vinham e Fernando também, restou ele acompanhá-los.
— O que tá rolando entre você e esse cara? — Jennifer perguntou para Yuri em um canto da casa que estavam só os dois.
— Ele me beijou ontem — ele confessou à amiga, enrubescendo.
— Não acredito! — Jenifer exclamou, batendo uma palma e sorrindo. — E como foi?
Yuri olhou para os lados antes de falar:
— Melhor do que eu poderia imaginar — tinha um riso envergonhado no rosto.
Nesse instante, Isabela veio até eles.
— Fred está chamando para participar de um jogo — disse ela.
Jenifer fez uma cara feia, mas acabou indo com eles. Enquanto alguns rostos semiconhecidos circulavam, dançavam, bebiam e – suspeitava Yuri – até se drogavam em cômodos distintos do apartamento de Sheyla, a anfitriã estava ajoelhada no tapete da sala servindo alguns copos com uma bebida. Sentados em uma roda estavam: Fred, Isabela, Jenifer, Otavio, Guiga, Vicente, Fernando, Yuri e até mesmo Rafa, que de pouquinho em pouquinho começava a integrar o grupo.
— Tequila galera, vai rolar um Eu Nunca — comunicou Sheyla, toda feliz.
Alguns protestaram, outros riram, quem estava do lado se cutucou, e no fim ficaram todos onde estavam, no meio da roda com algumas dezenas de copinhos coloridos cheios de bebida. Quer dizer, não todos. Bela foi a única a se levantar e se afastar, dizendo que não era a praia dela. Fred deu apoio para a namorada, mas voltou rapidinho para o seu lugar, deixando-a sozinha no sofá.
E então começaram. "Eu nunca transei em tal lugar...", "Eu nunca usei aquilo...".
— Eu nunca fiquei com um professor ou professora! — Fred chamou em sua vez.
Três pessoas beberam. Sheyla, Fernando e, para a surpresa de todos (menos de Fred), Tatá.
— Otávio! — Exclamou Jenifer, chocada.
— Fred seu canalha, você me paga.
E as rodadas continuaram. Yuri, Jenifer e Rafa definitivamente eram os mais sóbrios do rolê, Yuri principalmente, pois não bebeu uma única vez. O contrário de Fernando e Fred que bebiam em quase todas as ocasiões, e isso estava começando a incomodar Yuri, deixando-o constrangido por constatar que não tinha nenhuma experiência com nada enquanto Fernando já tinha feito de tudo. Sua vontade agora era correr dali e se juntar a Bela mas foi surpreendido com a chegada de uma pergunta que ele finalmente podia beber:
— Eu nunca fiquei com alguém do mesmo sexo! — Otávio falou.
E então começaram. Sheyla bebeu. Jenifer não bebeu. Otavio não bebeu. Guiga bebeu. Vicente não bebeu. Fernando bebeu. Rafa não bebeu. Yuri não bebeu. Fred bebeu.
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Do I make you cringe? (Fred & Yuri)
FanfictionSeguimos uma realidade paralela à fase atual da novela. Quando Yuri leva um fora de Jenifer, ele se aproxima de Fred, que faz dele o novo "amigo bolsista" que vai ocupar o espaço de Tatá, uma vez que esse passou a sair mais com a namorada que com os...