Do I make you cringe? (Fred & Yuri)

Casulo

Ele não deveria ter vindo. Onde estava com a cabeça quando aceitou acompanhar Fred em suas aventuras? Desde que Otavio começou a namorar com Jenifer, o playboy parece ter eleito Yuri como seu novo amigo bolsista. Ou mascote. Era assim que o rapaz se sentia muitas vezes ao ser apresentado para os colegas ricaços de Fred. Aqui nunca vai ser o meu lugar.

Estavam em uma balada perto da praia, e boa parte da universidade estava lá também. Fred dançava com uma caloura de Letras, sem largar o copo de cerveja. Yuri bebia um drink adocicado no canto da boate enquanto o vigiava.

De repente, uma garota se aproximou do calouro. Uma jovem de no máximo 22 anos, cabelos coloridos, olhos puxados, piercing no nariz. Apresentou-se como Nina Tanaka. E Yuri limitou-se a dizer a ela seu nome de forma desinteressada. Nina ficou ao lado dele, os olhos fixos na pista de dança, assistindo a galera dançar e puxando assunto.

— Não esperava te encontrar num ambiente como esse — disse ela, reparando no semblante emburrado do Yuri antes de continuar a falar: — Quer dizer, você é crente não é? Te vi na faculdade pra cima e pra baixo com aquela menina. Mas um crente de brinco, bebendo álcool e num inferninho como esse...

— Eu cresci num lar religioso, é verdade. Acredito em Deus e acompanho meus pais à igreja todos os domingos, mas minha fé é particular.

Nina inclinou-se até encostar a cabeça no ombro de Yuri.

— Eu sei como é. Acredita que estudei em um colégio católico a minha vida inteira? — os dois ficaram em silêncio por um breve momento. Fred piscou para Yuri da pista de dança, um gesto de cumplicidade, como quem achava que ele havia descolado uma gatinha. — Mas de veterana para bicho, eu digo, aproveita para viver o teu momento. Foi só quando eu entrei na universidade que consegui viver minha adolescência.

Yuri refletiu sobre aquelas palavras enquanto bebia seu drink com o canudo. Desde a pré-adolescência ele tem vivido num eterno casulo, e todas as tentativas de sair de dentro desse lugar fracassaram.

— Eu tenho medo — Yuri deixou escapar após um longo trago de bebida.

Na pista de dança, Fred beijava calorosamente a menina de Letras.

— É claro que você tem — Nina respondeu, com um sorriso singelo nos lábios. Depois segurou a mão livre de Yuri. — Você encontrará o seu tempo. Agora vem comigo, vamos dançar. Quem sabe a tua noite não chegou?

E então ela o carregou até a pista. Enquanto Yuri tentava soltar os ombros no ritmo da música, Fred lançou um olhar cheio de orgulho para ele e isso o deixou feliz.

— Acho que estou ficando bêbado — Yuri confessou para Nina em um tom de voz alto, lutando contra a música.

***

— Foi divertido, não falei. Cola comigo que é sucesso — Fred se gabou. — Vou te levar a um lugar foda amanhã.

Fred e Yuri estavam sentados em um quiosque da praia, bebendo água de coco logo após dispensar as garotas.

— Eu não vou a lugar nenhum. Não sou você que nasceu com a vida ganha, preciso estudar. E também não tenho grana para bancar essa vida.

Yuri não conseguia entender como Fred conseguia beber e curtir tanto e ainda ser um excelente aluno. Perguntou-se se havia algo em que o novo amigo não fosse bom.

— Hoje é sexta, meu caro. A noite está apenas começando — Fred falou com os olhos fixos na tela do celular. — Tá tendo uma festinha na casa da Suzane, bora colar lá?

— Eu acho que já bebi demais por hoje.

Mas Fred insistiu. Ele nunca se dava por vencido até ter o que queria. Yuri sabia bem como dizer não e ele sabia bem como lhe passar a perna. Era quase uma da manhã, e Yuri concordou em ir mesmo assim, vencido pelo cansaço. Mas com a condição de que pegariam um uber e não iriam dirigindo.

— Você sabe dirigir? — Fred perguntou enquanto andavam pelo calçadão da orla.

Yuri fez que não com a cabeça.

— Pois então eu vou te ensinar — o veterano prometeu, com um sorriso orgulhoso de um mestre.