Do I make you cringe? (Fred & Yuri)

Isso vem e vai em ondas

Três meses se passaram desde a morte do pai de Jenifer e muita coisa mudou desde então; algumas peças voltaram para o seu devido lugar, outras encontraram caminhos diferentes. Das que voltaram a ser o que era, estava a amizade de Yuri com Jenifer e Isabela, o que levava ao diferente, os sentimentos do rapaz para com a amiga. Yuri aprendera a aceitar o relacionamento entre Jenifer e Otavio, e, mais do que isso, compreendera, finalmente, que não precisava dela para ser feliz.

Fred o ajudou no processo. Foi ele quem o resgatou da solidão e que se mostrou empenhado em apresentá-lo ao mundo. A dor de Jenifer aproximou todos eles, agora eram um grupo grande de amigos, o que era bom, mas uma parte de Yuri sentia falta de quando era apenas ele e Fred... ou ele, Bela e Jenifer. Nesse tempo ele conseguia falar e ser ouvido, agora todos sempre tinham muito a dizer e ele precisava lutar por espaço para poder falar.

...

Já havia passado das 2 horas da manhã e Yuri ainda estava no apartamento de Fred, tinha vindo para fazer um trabalho da faculdade, pois o veterano tinha os livros que ele precisava. Seria uma noite tranquila, mas Fred convidou Guiga que convidou a galera dela e todos no fim acabaram marcando presença, o que acabou em uma noitada. A sala fedia a fumaça e copos e garrafas vazias estavam espalhadas por todos os lados. Yuri aproveitou que Fred foi levar os convidados até o térreo para dar um jeito na bagunça.

Quando Fred voltou, tentou impedi-lo, mas Yuri não deu ouvidos. Era o mínimo que ele podia fazer, mesmo que, de qualquer modo, não seria Fred quem limparia a própria bagunça.

O anfitrião catou uma garrafa de whisky que ainda estava por ali e levou até a varanda. Yuri parou de lavar os copos de vidro e foi até ele. Era uma noite sem nuvens e de lua cheia, dali dava para contemplá-la perfeitamente.

— O que cê tá fazendo? — perguntou Yuri, aproximando-se do anfitrião.

Fred deu um suspiro cansado.

— Pensando na vida... — respondeu ele, encostado no parapeito e com os olhos fixos na lua. — O que você pensa em fazer quando terminar a faculdade?

Yuri também se encostou no parapeito, bem ao lado do veterano, observando a vista a sua frente.

— Trabalhar, ué! O que mais eu faria? Aposto que você já tem um escritório encaminhado para te receber.

Se tinha algo que Fred gostava, era advocacia. E era bem relacionado o suficiente para conseguir viver do que amava, ao contrário da maioria dos brasileiros, como Yuri, que encontraria um caminho cheio de desafios pela frente.

— Você não tá errado — ele respondeu. — Mas sabe do que eu queria de verdade? — Yuri lançou um olhar confuso para Fred, que continuou a falar: — Comprar um barco e sair por aí viajando. Seis meses, um ano. Já pensou?

O calouro achou graça da ideia. Era claro que ele sairia com algo tão estapafúrdio assim.

— Não é o marido da professora Lumiar que é louco para fazer isso? Eu lembro de ter ouvido Guiga comentando sobre.

Fred deu um gole na garrafa antes de falar:

— Conheci o Ben melhor quando fui ao retiro, na época que a Guiga estava lá. Sabe qual foi o erro dele? Querer fazer isso agora que está velho. Minha tática é não esperar.

— Um barco deve ser caro... — sugeriu o rapaz mais novo.

— Na verdade meu pai tem um. Costumávamos sair pra pescar quando eu era moleque... até que ele decidiu não me levar mais — ele explicou.

Yuri afastou-se e voltou para a entrada da varanda, pensando sobre o quão privilegiado uma pessoa tinha que ser para cogitar simplesmente pegar suas coisas e sair viajando pelo mundo sem dia de voltar. Nós somos muito diferentes, constatou pela milésima vez desde que viraram amigos.

— É maneiro, mas eu não teria essa coragem, o mar não é pra mim, principalmente depois que... Deixa pra lá. Só me resta desejar a você uma boa viagem. Agora vou lá passar um café pra gente, tenho algumas laudas para escrever.

...

Yuri tomou uma caneca de café sozinho na cozinha. Estava quente e ele assoprava para esfriar. Quando olhou para o relógio percebeu que já eram quase três da manhã e entrou em desespero. Pegou uma caneca vazia e encheu de café para levar para Fred, para ele se curar do porre que havia tomado com a galera.

Mas já era tarde. Encontrou Fred largado no sofá, no décimo sono. Ele não vai acordar, Yuri concluiu após uma breve análise de caso. Ele deixou a caneca de lado e pegou um cobertor, cobrindo o anfitrião com cuidado para ele não acordar.

Ajoelhado ao lado de Fred, de onde podia observar a tranquilidade do seu rosto e ouvir a sua respiração, Yuri ficou pensativo. Nunca o tinha visto assim antes, tão calado, tão vulnerável. De repente, o rapaz sentiu um embrulho no estômago e o coração batendo forte no peito, como se tivesse sido arrebatado por uma onda de sentimentos. Yuri levantou-se assustado e, confuso, atravessou a sala até chegar às suas coisas. Besteira, besteira, ele repetia para si mesmo enquanto se preparava para ocupar a cabeça com o seu trabalho.