Sob a Mesa

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Assim que Yuri pôs os pés no bar, percebeu uma movimentação incomum entre os funcionários. Aproximou-se com desconfiança, apesar de que, pelo que via, não parecia ser algo ruim.

— Consegui, Yuri! — Milena falou no mesmo instante em que lhe vira. Com passos largos, braços abertos e olhos brilhantes, a colega veio até ele.

— O quê? — Quis saber, ao ser abraçado.

— Aquela vaga que te falei. Deu certo!

— Na Paraíba? — Ainda estavam abraçados.

— Sim — ela se afastou, o rosto iluminado de uma felicidade contagiante.

— Pô, parabéns, Mi! Tô muito feliz por você! Apesar de que não sei o que será de mim sem minha mestra por perto — lamentou, em um tom leve.

Os dois se abraçam de novo.

— Tu já pegou tudo que tinha de pegar, meu trabalho não é mais necessário. Sério mesmo, você foi um dos mais esforçados que já passaram por aqui — elogiou a mulher.

— E o patrão, já tá sabendo?

— Sim. E não se preocupe. Ele já tá procurando alguém pra me substituir.

— Duvido que consiga — brincou.

E os dois seguiram nessa rasgação de seda por mais alguns minutos, até que alguns clientes começaram a chegar do ICAES e os garçons tiveram que trabalhar.


***


— Valeu. Tá com uma cara boa — Vini elogiou enquanto ele servia a sua mesa.

— Bar do Simas, aqui você encontra o melhor PF e a cerveja mais gostosa da região — brincou Yuri.

— E também os trabalhadores mais simpáticos e bonitos — o outro completou, seguindo a brincadeira.

Yuri se limitou a rir. O líder dos aquilombados estava sentado numa mesa do lado externo do bar, dividindo o espaço da comida com livros e apostilas. Tinha aproveitado uma brecha para vir almoçar, mas seus prazos estavam chegando ao limite, então, entre uma garfada e outra, mantinha os olhos em algum dos textos.

 — Vou nessa. Qualquer coisa, só gritar — comunicou, deixando o rapaz sozinho com seus estudos.



Após voltar para o interior do bar, o garçom começou a limpar uma mesa, foi quando um cliente conhecido parou ao seu lado.

— Posso me sentar aqui? — perguntou o rapaz, já sentando em uma das cadeiras.

— A vontade — respondeu prontamente, pondo as coisas no lugar. — O que você manda?

Domenico estava vestido com uma camisa preta com estampa de Dragon Ball. Seu rosto não transmitia simpatia nem antipatia, e sim certa indiferença, como se nunca tivessem conversado antes. E, de fato, nem mesmo no tempo em que ele estava envolvido com o aquilombados os dois tiveram alguma proximidade, por tanto, não podia esperar outra recepção vinda dele agora, ainda mais porque este nunca fora dos mais simpáticos e comunicativos do grupo.

— Por enquanto uma água com gás. Tô esperando uma pessoa — disse ele, tirando o seu videogame portátil da mochila.

— Já trago — respondeu ao cliente, antes de sair.


~~~


Estava removendo os restos de uma mesa quando Fernando entrou no bar, sentando-se junto a Domenico. De onde estava, conseguiu notar o sorriso no rosto do paulista ao cumprimentar o outro rapaz. Tinha visto os dois durante a festa de dias atrás, mas não imaginava que tinha virado algo sério. Fernando e sua mania de relacionamentos..., pensou calado, comparando-o com Fred, Como conseguem ser tão diferentes?.

— Olha só quem encontrei — o ex-namorado lhe cumprimentou assim que surgiu para atendê-los. — Então é verdade, você tá trabalhando aqui pra valer.

Nando vestia uma camisa branca do SPFC, os cabelos estavam volumosos, brilhantes e bagunçados de um jeito organizado. A barba aparada cobria a parte inferior do seu rosto e o óculos dava a ele um ar mais sério, como se fosse um advogado já formado em um dia de folga.

— Como você pode ver... — respondeu-o, dando de ombros e sorrindo sem graça.

— Você sumiu, cara. É bom te ver de novo — disse ele.

Embora Fernando quisesse demonstrar normalidade e simpatia, dava para sentir o clima estranho pairando entre eles. Algo que Domenico deve ter percebido, pois não entrou na conversa, preferindo olhar para os dois como se fizesse um estudo.

— Eu tô onde sempre tive, metido nos corres de sempre.

Alguns que é melhor você não saber.

— Massa. Fico feliz de ver que você tá bem — o mais velho falou, olhando para o garçom com um sorriso no canto da boca enquanto segurava o cardápio sobre a mesa. Ele parecia sincero, apesar de tudo.

— Eu vou querer... — Domenico finalmente abriu a boca, cortando a conversa desajeitada entre os ex-namorados.


~~~


Após encaminhar o pedido do novo casal do ICAES e limpar algumas mesas, Yuri ficou próximo ao balcão, esperando ser chamado para alguma tarefa.

— Esse é o seu ex né? — Milena perguntou, aproximando-se. — Eu lembro de ter visto vocês juntos algumas vezes. Posso falar? Sempre achei ele um gato! — Confessou-lhe, com um sorriso brincalhão nos lábios.

— É ele mesmo. Não tinha aparecido aqui desde que comecei a trabalhar. Agora não tive como escapar.

— Então aquela é o cara do banheiro? — perguntou Milena, de repente, causando uma estranheza no amigo.

Lembrou-se, então, que a amiga acreditava que ele estava falando de Fernando quando lhe contara a fofoca no outro dia, e começou a ficar nervoso. Como saio dessa agora?

— Na verdade mesmo, eu não sei. Vai que... — começou a falar, encarando a amiga, quando foi interrompido por ela...

— Claro que é, deixa de ser besta! Você não disse que viu um all star? Olha lá, nos pés dele.

E então, pela primeira vez, deitou o olhar para os pés de Domenico, descobrindo que Milena estava certa, que ele realmente estava calçando um all star. Puxou na memória e lembrou-se que era o tênis que o rapaz sempre usava. Não é possível!, disse a si mesmo, chocado.

Do I make you cringe? (Fred & Yuri)Onde histórias criam vida. Descubra agora