Há oceanos entre você e eu

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Yuri ficou paralisado diante dos olhares de julgamento que sobraram para ele. Pensou em ir até Bela para se explicar, mas Vini estava com ela, ou seja, seria um constrangimento desnecessário se enfiar entre os dois. Também sentiu uma vontade irracional de ir até Fernando, para dizer sabe-se lá o quê, mas isso seria ridículo de sua parte. Por fim, ele tomou a decisão que não sabia se era a mais corajosa ou a mais covarde de todas: deu as costas aos colegas e foi atrás de Fred.

Encontrou o playboy lá fora, mexendo no celular, escorado no muro que cercava o espaço do baile. Respirou fundo e foi ao encontro dele.

— Mano, o que foi aquilo lá dentro? — questionou Yuri, assim que ficou de frente para Fred. Estava sério, mas não queria parecer bravo.

O playboy guardou o celular rapidamente, encarou Yuri com certo constrangimento no olhar e então começou a se justificar:

— Quando eu vi a Belinha com aquele cara, eu não consegui pensar em mais nada, mano. E daí vi teu Fernando também, com o outro. Senti que nós dois precisávamos mostrar pra todos que estamos bem sem eles. Se eu passei dos limites, foi mal. De verdade.

Você mostrou justamente o contrário, idiota!, Yuri pensou em dizer, mas engoliu as palavras. Todos agora devem estar reunidos rindo dos dois palhaços, como não estariam? Ninguém acreditaria que ele e Fred estão tendo alguma coisa. Nenhum deles seria burro o suficiente para ciar nisso. Envergonhado, o rapaz desejou estar no conforto de sua cama, com a cabeça sob o travesseiro, bem longe desse baile. Mas estava ali, diante de Fred, e ainda não tinham inventado o teletransporte.

— Talvez você tenha arranjado uns problemas para mim com a Bela, mas tudo bem, depois resolvo com ela. Eu só queria ter certeza que aquele "beijo" não significou nada — Yuri respondeu, tentando evitar que ficasse qualquer constrangimento entre eles.

Fred se afastou da parede, meio desconcertado.

— Para mim? Nada... — ele fez uma careta como quem sequer tinha pensado nisso. — E para você?

— Nada também — Yuri respondeu, de imediato. Naquele momento, acreditava de verdade no que estava falando.

Por um breve instante, Fred ficou pensativo, mas logo começou a se queixar do novo namoro da Isabela (que ninguém nem sabia se era um namoro). Menos de cinco minutos depois, Otávio finalmente voltou da casa de Jenifer e levou Fred para casa. Sem ter para onde ir, Yuri também deu seu jeito de ir embora.


***


Vini segurou na mão de Yuri, correndo com ele pelos corredores do ICAES. Eles passavam por várias portas, que levavam a outros lugares, alguns familiares e outros estranhos. Os dois riam com muita cumplicidade. E então, do nada, chegaram na entrada do campus, no dia do ato em que impediram o professor Leonardo de entrar no campus. No momento em que ele deu meia volta e saiu com o rabo entre as pernas, os gritos de comemoração de todos do coletivo e dos aliados ecoaram por todo o prédio. Yuri abraçou Vini com força. Quando se soltaram, Vini segurou no rosto de Yuri e o puxou para um beijo. Isso não aconteceu naquele dia, Yuri recordara, mas não se importou, beijou-o com toda a vontade, em meio aos colegas que os aplaudiam, como se tivessem fazendo um um grande ato, uma cena de cinema.

Após o beijo, Vini segurou na mão do rapaz e os dois correram novamente até uma porta, passando pela multidão. Agora Yuri estava na barraca com Fernando, naquele congresso que foram no Espírito Santo. Ele estava apenas de calção de dormir, sentado de frente para o bolsista. Yuri quis levantar, brigar, sair dali, mas sua visão se perdeu no sorriso doce do mais velho, no brilho apaixonante de seus olhos, nos pêlos curtos do seu peito nu. E então, quando ele se inclinou para beijá-lo, o rapaz apenas se entregou, sentindo novamente o sabor de seus lábios, algo que ele tanto tem desejado desde que os dois terminaram.

De repente, não estavam mais numa barraca, mas sim no meio do oceano, durante a noite, em um barco branco. Yuri nunca tinha estado em um antes, o medo tomou conta dele, o som das águas, o balançar do barco, o mar... Agarrou-se a Fernando apavorado. Desejou acordar, mas por alguma razão não conseguia. Quando soltou o abraço, não era mais Fernando que estava lá, e sim Fred. Yuri ficou sem reação, fechou os olhos e balançou a cabeça, tentando fazer com que o rosto do playboy se transformasse no do outro, o do playboy que o enganou se fingindo de pobre. Mas seus esforços foram todos em vão.

— Você não vai conseguir fugir de mim — Fred falou, com um sorriso no canto da boca enquanto segurava o queixo de Yuri.

O playboy se inclinou para beijar o bolsista, que dessa vez não tentou recuar. Quando os lábios dos dois finalmente se tocaram, Yuri acordou.

O lençol de cama do rapaz estava molhado de suor. Maldito seja o calor do Rio de Janeiro! Ele virou para o lado, ajeitando a cabeça sobre o travesseiro. Estava irritado com o sonho. Irritado com Fred. Havia superado a quedinha que nutrira por ele assim que Fernando apareceu em sua vida, por que raios ele tinha que vir com aquele beijo agora? Para um cara como Fred, realmente aquele selinho não foi nada além de uma brincadeira. Mas para caras como Yuri, seria muito difícil não pensar no que houve várias e várias vezes.

Não, Yuri prometeu a si mesmo, Não irei cair nessa armadilha outra vez. Fernando foi a sua cura na primeira vez, talvez pudesse ser novamente. Ou talvez ele só precisasse encontrar uma nova.

Do I make you cringe? (Fred & Yuri)Onde histórias criam vida. Descubra agora