Términos, Dúvidas e Começos

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Jenifer e Tatá terminaram o relacionamento. Yuri e Isabela sentaram com ela num canto tranquilo do pátio para ouvirem o que a amiga tinha a dizer. A bolsista admitiu que o sentimento que havia entre eles já não era mais o mesmo, e que agora ela estava se aproximando de outra pessoa. Tomado pela curiosidade, Yuri insistira em saber quem era, mas Jenifer desconversou, pois não sabia como lidar com esse novo sentimento e talvez fosse alguém que ela jamais poderia estar junto. Passou rapidamente pela cabeça de Yuri que era a sua oportunidade para ter aquilo que tanto desejou na época em que ingressaram na faculdade, mas quando se imaginou beijando Jenifer outra vez, percebeu que se sentia enjoado, como se estivesse acariciando uma irmã.

E os dias foram passando desde então. Por causa do término, Jenifer passou a andar mais com Yuri e apenas Bela se reunia com frequência com Fred e Otávio. Pouco tempo após se conhecerem, em uma de suas primeiras conversas, Fernando tinha aconselhado Yuri a aproveitar as relações dos dois primeiros períodos, pois mais pra frente tudo iria mudar. E agora estava acontecendo com Yuri o mesmo que acontecera com os ex-amigos do mais velho: um término de namoro fazendo com que um grupo, que antes era unido, se partisse ao meio.

Yuri lamentava profundamente pelas coisas serem assim e torcia, de verdade, para voltarem a ser o que eram. Aprendera a gostar muito de Tatá e embora tivesse tido aquela conversa dura com Fred, o maldito playboy ainda ocupava um lugar especial em seus pensamentos. Como não conseguia deixar de se importar com ele, às vezes, quando Jenifer não estava, Yuri acompanhava Bela na mesa dos alunos do sexto período, mas era tudo muito diferente, momentos recheados de olhares que escondiam palavras não ditas.

***

— Yuri, você conheceu os pais do Fred? — Bela perguntou ao amigo durante um almoço deles com Jenifer.

— Nunca. Das raras vezes em que eu fui na casa dele, foi quando nenhum dos pais estava. E ele raramente falava sobre eles a não ser o básico.

— Eles te trataram mal? — Jenifer quis saber, preocupada.

— O pai dele vive para o trabalho e só se preocupa em julgar e julgar. Já a mãe, essa sim é uma megera por completo. Uma mulherzinha terrível, narcisista, cruel. Não me admira que Fred prefira estar em qualquer outro lugar que não aquela casa — confessou Bela. — Eles nunca me trataram mal diretamente, mas eu percebo os olhares. Não sei se vou conseguir lidar com isso por muito mais tempo — ela desabafou, aflita.

Yuri não sabia de nada sobre a família de Fred, e agora entendia o porquê; Fred sempre fez questão de mostrar apenas o seu lado positivo para os amigos no geral, incluindo ele. Exceto na noite do Rafa...

— Eu já te disse uma vez e continuo com o mesmo pensamento: se eu fosse você, pularia fora — aconselhou Jenifer. — Nenhum homem deveria estar acima de nossa saúde mental.

— Mas você... ama ele? — Yuri perguntou. Não conseguia entender o motivo, mas foi uma pergunta difícil de fazer e a espera pela resposta o deixou aflito.

Bela respirou fundo antes de responder:

— Sim, amo. E esse é o maior dos problemas.

***

Era o segundo de quatro dias de um congresso nacional de direito que as turmas do ICAES vieram para participar. Yuri, Jenifer e Isabela iam apresentar um trabalho num simpósio na tarde do terceiro dia e o rapaz estava muito ansioso e animado com isso, o primeiro trabalho que ele iria apresentar na academia.

Após uma tarde inteira de palestras com nomes ilustres do direito penal, Yuri estava exausto. Ele e Fernando ainda tiveram que ficar numa fila para tomar banho por quase vinte minutos antes de se juntarem a Jenifer no RU da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo). Eles três, assim como outros bolsistas do ICAES, tinham sido alojados em uma das salas do campus, algo que o DCE conseguiu após os alunos que não tinham condição de pagar pousadas e hotéis pressionarem. Bela e Otavio preferiram ficar numa pousada próxima à instituição, tudo bancado por Fred, que obviamente não tinha a menor intenção de ficar alojado sem nenhum conforto num acampamento improvisado como os bolsistas estavam agora.

Durante as manhãs e as tardes haviam as obrigações acadêmicas, durante as noites, porém, eram os eventos culturais, organizados pelos CAs e DCE da UFES. O pátio interno estava cheio de alunos, e não apenas do curso de direito; em um palco montado, bandas da própria universidade comandam o show, variando ritmos e divertindo os presentes. Jenifer não quis vir naquela noite, ficando na sala para se preparar para o trabalho de amanhã; Yuri teria ficado com ela se Fernando não tivesse insistido para eles irem na cultural; "são as melhores partes de um congresso", defendera ele.

E Fernando estava, mais uma vez, certo. Eles compraram duas cervejas com o pessoal do DCE que realizava as vendas de um freezer improvisado próximo ao palco e começaram a andar entre os presentes, que curtiam sucessos de Raul Seixas.

— Sabe o que eu estava pensando... — Fernando falou, parando de caminhar.

Yuri ficou de frente para ele. Deu um gole na cerveja e perguntou:

— O quê?

Fernando estava sorrindo. Um sorriso sugestivo que contagiava Yuri, tornando impossível não rir junto.

— Se eu poderia te chamar de namorado. Já faz mais de dois meses que estamos saindo juntos, então, talvez...

O coração de Yuri disparou dentro do peito.

— Você tá me pedindo em namoro? — Yuri perguntou, ainda sorrindo.

— Devo me ajoelhar? — Fernando fez outra pergunta, em tom de zombaria.

Yuri tocou o rosto do mais velho com a mão que estava livre, tentava disfarçar o quanto estava derretido. Seus olhos ficaram fixos nos dele, e dali em diante ninguém ao redor dos dois passou a importar mais.

— Eu nunca namorei antes e teve dias que achei que nunca namoraria — confessou o mais novo. — Mas você me fez seguro para descobrir como é isso. Então sim, Fernando, pode me chamar de namorado.

E com isso, os dois se beijaram e riram, tudo ao mesmo tempo. Quando se separaram e Yuri olhou para o lado, descobriu que não estavam sozinhos. Bela e Fred olhavam para eles com expressões de surpresa, parados a poucos metros de onde estavam.

Do I make you cringe? (Fred & Yuri)Onde histórias criam vida. Descubra agora