Suposições

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Era um all star azul, mas ainda assim era um all star. Quem usava azul, podia muito bem usar outras cores, disse a si mesmo, enquanto que, sem tirar os olhos da mesa deles, perguntava-se se devia contar o que sabia para Fernando ou não.

Eu não tenho nada a ver com isso, concluiu, vendo os dois conversando como bons amigos. Ele parece tão bem, constatara ao estudar o semblante do ex-namorado. Não tinha o direito de magoá-lo mais do que já tinha feito. Mas ele não merece esses chifres..., recuou de repente. Então fechou os olhos e soltou o ar pela boca, Quem sou eu pra dizer alguma coisa.

Mas tinha que ser logo com Fred? De novo ele?, era uma ironia quase que cruel, tentava imaginar o que faria se estivesse na pele do paulista, e não conseguia chegar a nenhuma resposta e nem prever a reação que ele poderia ter se soubesse.

— Eu sei o que você tá pensando — Milena falou de repente, após se aproximar novamente do colega.

— Eu? O quê?

— Que ele parece muito mais atraente agora do que na época em que vocês tavam juntos — a garçonete concluiu.

Isso acabou lhe arrancando uma risada.

— Pior que é — admitiu. Mas não era por isso que estava preocupado. Ou ao menos achava que não.

— Normal. Mas fique esperto... Lembra do que falei sobre um brinquedo velho que foi dado ao filho de uma prima de segundo grau? Quando isso acontece, a gente passa a sentir falta desse brinquedo, mesmo não tendo lembrado da existência dele por anos. É assim com os nossos ex também, mas a vida ensina que é uma armadilha.

Milena gostava de ensinar e de dar conselhos. E era provável que ela lhe tomava por um rapaz virgem com nenhuma experiência amorosa. E o pior era que isso era mais verdade do que ele gostaria que fosse. Talvez o fato de Fred não sair de sua cabeça tivesse a ver com essa analogia com brinquedo...

— Tô de boa, não vou fazer nada — prometeu a colega.

Ela deu um tapinha em seu ombro.

— Muito bem. O que você precisa é de uma nova história — a paraibana ficou quieta por alguns segundos e então prosseguiu: — o Vini, por exemplo... Já viu como ele é gato?

— A gente já deu umas saídas, mas nosso lance agora é... profissional — confessou, com vergonha. — Ele não tá numa fase de querer algo sério com alguém. E pra falar a verdade, acho que nunca vai estar.

— Se eu fosse você, seguiria o exemplo dele! Não se tem 20 anos pra sempre... — ela ficou novamente em silêncio, pensativa, depois parece ter tido um estalo: — E o Fred, não rola? Eu vejo vocês conversando...

Yuri engoliu em seco.

— Fred? Não, nada a ver — disfarçou, desviando o olhar para o nada.

— Jura? Esses machos assim tipo ele, que parece que tão sempre caçando alguém pra acasalar... Sei não, vá por mim, entre uma bebida e outra, pegam de tudo — ela sugeriu.

Não entendia bem onde a colega queria chegar ou se devia se sentir ofendido por se encaixar nesse "tudo", tampouco queria pensar sobre esse assunto, então agradeceu quando um dos clientes chamou por ela, deixando-lhe sozinho.


~~~


Yuri foi levar uma bebida na mesa dos meninos justamente no momento em que Domenico saiu para ir ao banheiro. E agora, o que faço?, perguntava-se enquanto depositava a cerveja sobre a mesa com um sorriso amarelo nos lábios.

— Espera — Fernando pediu assim que o garçom virou para voltar até o balcão. — Bora conversar um pouco. Me diz, como você tá de verdade.

— Tô bem... — respondeu, segurando a bandeja contra o peito. — E você... esse lance com o Domenico... é pra valer? — perguntou, derrotado mais uma vez pela curiosidade.

— A gente tá se conhecendo. Tá sendo melhor do que eu esperava... — Fernando lhe respondeu, após um breve suspiro. — E você sabe, eu fiz tudo que pude pra estar contigo, chegou a hora de seguir em frente. Sem mágoa.

Por que você ainda fala comigo? Por que tá me tratando bem?, às vezes torcia para que Fernando lhe xingasse, fizesse alguma merda, algo que lhe fizesse sentir menos culpa por ter enfeitado a testa dele naquelas semanas, mas o sujeito não abria mão da cordialidade.

— E você tá... feliz? — limitou-se a perguntar.

O são-paulino ficou em silêncio por alguns segundos, uma expressão pensativa, como se tivesse sido pego de surpresa. Então sorriu e falou:

— Pra falar a verdade, até que sim. Pelo menos de um jeito que eu não achei que ficaria.

Pronto. Hora de vazar.

— Que bom... mas posso te fazer uma pergunta?

— A vontade.

— Tu acha que ele tá na tua também? — perguntou, o que se revelou um grande erro.

— Tô sim — disse uma voz atrás dele.

Yuri desejou destravar a skill do teleporte e simplesmente desaparecer do Rio de Janeiro assim que Domenico passou por ele para dar um selinho nos lábios de Fernando.

— Mas qual o seu interesse nisso? — o dono do all star quis saber, sentando-se em seu lugar na mesa.

— Ele só... — o paulista começou a dizer, mas foi atropelado pelo garçom:

— É que Fernando é um cara que eu gosto muito e fico preocupado com ele. Mas to feliz por vocês, papo reto.

Domenico esboçou uma risada gelada e falou:

— Engraçado. Pelas coisas que ouvi, não parece que foi isso que rolou.

E que moral tu tem pra me julgar seu merda?, a acusação chegou à ponta da língua, ansiando para conhecer o mundo fora de sua boca. Aquele olhar dizia tudo, o quebra-cabeças finalmente se montou: Fernando provavelmente mostrara para ele as fotos com Fred que Mateus tirara no estacionamento, e após Domenico descobrir que o playboy também beijava rapazes, decidiu que queria provar desse mel. Típico.

— É verdade. Ele tava me falando bem de você — Fernando mentiu, como quem tentava esfriar o clima.

Ia falar o que sabia quando, de repente, ouviu uma voz chamando por ele. 

— Vou ali atender o cliente. Qualquer coisa que precisarem, só chamar.

E assim voltou para o seu trabalho, deixando os dois discutindo para trás.

— Diz — disse ao chegar até Vini, aliviado por ter se distanciado daquela situação desconfortável.

— Percebi que o clima tava estranho ali e te chamei — o rapaz respondeu. — Fiz mal?

Yuri sorriu para ele, balançando a cabeça.

— De boa. Na verdade, você me salvou.

Vini ficou sério.

— Climão com o ex e o atual, acertei? Foda, não sei o que o Doni tá fazendo com esse. Será que tá tentando me atingir? Já não basta você e Bella palmitando por aí — ele terminou com um sorriso e um olhar brincalhão.

Yuri deu ao amigo um sorriso envergonhado.

— A gente terminou tem poucos dias, ainda é um pouco estranho. Mas vai passar — respondeu.

— Vocês e esses relacionamentos... Mas eu sei como te ajudar e vou fazer isso. Amanhã ou depois, quando a gente tiver um tempinho a sós, a gente conversa — sugeriu Vini. E Yuri não teve como declinar o convite.

Do I make you cringe? (Fred & Yuri)Onde histórias criam vida. Descubra agora