Bomba-relógio (Final)

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— Dá esse negócio aqui, deixa eu falar com ela — ouviu Fred pedir.

— Nem vem! Sai pra lá, menino...... — Bela negou. Pela agitação da poltrona, Yuri imaginou que o playboy estava tentando pegar o celular da mão dela — É..... esse maluco tá aqui ajudando no trabalho também..... Não é do mesmo ano, mas ele é tipo um monitor... Ô se é...... Cê conseguiu. Ela quer falar com você.

— Ô Dona Dulce, como vai?... As cocadas? Não, ela não me deu não, deve ter comido tudo na viagem. A senhora sabe como é sua filha  — de repente um estalo abafado de um tapa seguido de uma risada espontânea de Fred. — Tô brincando, ela me deu sim. Eu queria até agradecer a senhora, tava uma delícia...... Pode deixar....... Também... olha que eu vou mesmo, hein?

— Me dá isso!...... Tá mãe, bença. Diga que tô mandando um beijo pra todo mundo, que tô morrendo de saudades...... Certo, vou desligar agora... Tá bom. Tchau. Beijo.

Fred começou a rir.

— Dona Dulce fala muito, nossa senhora do céu! — Queixou-se Bela, que provavelmente havia desligado o celular.

— Por que não mandou a real pra véia?

Desde que os colegas iniciaram aquela conversa, Yuri agarrou-se à mochila e ficou paralisado, nem sabia mais se ainda estava apto a respirar.

— Conhecendo minha mãe como conheço, ela não iria dormir até que eu ligasse falando que cheguei na pousada. E eu não quero deixar ela preocupada. É muito ruim quando se tá longe de casa.

— Você veio com o Yuri? — perguntou ele.

— Yuri? Não, ele não veio. Vini e Penelope que me trouxeram. Falando nisso, não posso me perder deles. É minha carona.

— Como não veio? Eu vi ele por aqui.

Me viu? Quando?, não tinha encontrado com Fred até então. Quantas pessoas a mais lhe viram sem que percebesse? Se seu plano era passar despercebido, pelo visto, não estava funcionando.

— Uai! — Bela exclamou. — Pois então ele me deu um perdido. Esse safado!

— Deixa ele pra lá que ele é grandinho e sabe se cuidar.

Yuri sentiu uma vibração no assento e no encosto, e logo deduziu que Fred havia se sentado. E como o lado oposto era idêntico ao que estava sentado, a distância entre o ex-casal não tinha como ser longa.

— Sabe o que sua mãe acabou de me dizer? Que estava tranquila porque eu to com você — o tom de voz dele transparecia orgulho e também algo a mais.

— Não tem jeito, a sociedade sempre vai dizer que nós, mulheres, vivemos em busca da proteção de um homem.

Eles só tão conversando. Bela não quer ele de volta, já falou um milhão de vezes!

— Seja como for, agora é meu dever te levar em segurança pra casa.

Ouviu um ruído vindo da mineira que pareceu ser uma risada.

— Dando carona ao inimigo, sei não, o que seus companheiros de DCE vão pensar a respeito?

— Que eu sou um cavalheiro, o que mais?

Um belo de um idiota, isso sim!, pensou Yuri, fechando os olhos. A esperança que tinha de que aquela conversa não seguisse para o caminho que parecia estar seguindo diminuía cada vez mais.

— E os meus companheiros, o que vão pensar de mim? — ela indagou sem seriedade.

— Que você é muito democrática.

Os dois riram juntos.

— O lado ruim, Fred, é que você me diverte. Tinha me esquecido disso.

— Eu tava com saudades de você. Da gente — disse ele, após uma breve pausa.

E aquilo caiu como uma facada no peito de Yuri.

— Foi muito bom, muito gostoso... Mas nosso tempo passou. Nós dois sabemos — Bela atalhou depois de alguns segundos.

Mas nem mesmo isso fora suficiente para acalmar seu coração. Será que eles estavam se tocando nesse momento? Não conseguiu evitar de imaginar a cena. As vozes, as pausas na respiração... não precisava estar vendo para saber que estava acontecendo algo entre os dois.

— Teve aquela vez, lembra? Na festa do Vicente.

— Eu lembro que Jenifer ligou preocupada com o Yuri... E que aí você foi embora — Bela respondeu.

A noite em que fui expulso de casa, Yuri percebeu, chocado. Nunca sequer passara pela sua cabeça que aqueles dois pudessem estar juntos naquele momento.

— Então, andei pensando no que seria de nós se eu não tivesse recebido aquele telefonema... Naquilo que quase rolou na varanda...

Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos.

— Imagina... Ainda bem que não rolou nada — disse a mineira. — Bem depois disso você voltou pra Guiga...

— E você se tornou minha futura adversária... — ele completou.

— O estrago foi evitado — ela respondeu.

— Foi, né?

Não passou muito tempo depois disso para que Yuri ouvisse um barulho que só podiam ser de beijo. Este continuou por alguns segundos, sendo quebrado por algumas risadas que logo deram lugar ao mesmo som de antes.

Arrasado, o bolsista desejou sair correndo daquela poltrona, deixar aquela festa e voltar para casa nem que fosse a pé, contudo a ideia de ser visto por qualquer um dos dois naquela situação lhe matava ainda mais por dentro, uma humilhação muito grande para ter que lidar ainda hoje. Sem saída, teve que esperar, abaixando a cabeça e pressionando a mochila contra o peito.

— Frederico... Frederico... Quando é que cê vai criar juízo, menino? — ouviu Bela dizer.

— Relaxa mineirinha. Bora pra um lugar melhor, vem — ele convidou.

Sentiu que os dois levantaram do estofado e, depois de alguns passos, não ouviu mais nenhum vestígio de som do casal.

Maldita hora que eu vim pra essa merda de festa!, lamentou calado, mas a razão de sua dor era outra, era a sensação inesperada de que não passava de um intruso que estava atrapalhando a história de Fred e Bela. Sua vontade era deitar na cama e chorar feito uma garotinha, mas não podia fazer isso. Não agora. Precisava ser inteligente, havia uma pilha de dinheiro em suas costas.

Conferiu o celular, descobrindo que a corrida havia sido cancelada. Procurou por um novo motorista, encontrando um que lhe aceitou. Mais alguns minutos de espera. Esse tormento não vai acabar nunca?. Esperou e esperou mais um pouco num estado de existência vazia, ignorando a dor, a música e os gritos da galera. Alguns minutos se passaram e uma mensagem informou que o motorista havia chegado.

Esticou-se sobre a poltrona para se certificar de que ninguém estava por perto e que poderia ir em segurança até o portão. Foi quando uma cena lhe chamara a atenção. As pessoas estavam olhando para cima, algumas comemorando, outras gritando palavras confusas, como se estivessem assustadas.

Levantou-se e deu passos hesitantes rumo a festa, olhando na mesma direção dos outros convidados. Bem na ponta do telhado da mansão, havia uma silhueta de mulher com um vestido branco esvoaçante. Estava com os braços abertos, como se sentisse o vento da noite ou estivesse apenas se divertindo com a plateia. Mas o que é que ela estava tentando fazer? Perguntava-se Yuri enquanto se aproximava, hipnotizado pela cena. Estava tentando chamar atenção? Ou será que pretendia pular na piscina? Não, não podia ser. Havia uma distância considerável entre a extremidade do telhado e a água. No fim, concluiu que ela não iria pular, que era brincadeira de alguém recém-saído da adolescência.

Não demorou para descobrir que estava enganado. Assim que virou as costas para ir até a saída, ouviu a música do interior da mansão ser abafada por gritos aterrorizantes. Virou-se depressa em direção da festa. E seu coração parou ao ver que não havia mais ninguém no topo do telhado.

Do I make you cringe? (Fred & Yuri)Onde histórias criam vida. Descubra agora