Conversa Íntima

289 20 258
                                    

— Mano, isso é viagem! Passa pra cá — pediu, estendendo a mão para o rapaz que estava com seu celular.

— Calma, pô! Não é nenhum bicho de sete cabeças, você vai ver — Vini lhe respondeu. Estava sentado no chão com as costas escoradas na parede, usava uma camiseta preta e uma calça branca, e tinha tirado os chinelos, balançando os pés descalços e entrelaçados sobre o degrau. Os olhos dele estavam atentos à tela do aparelho, e os dedos se moviam com uma velocidade assombrosa.

E se ele tiver fuçando em minhas mensagens?, Yuri se preocupara, tentando disfarçar. Não, Vini não faria isso.

— Então beleza, depois eu desinstalo — rebateu, dando de ombros. O mais novo estava sentado em um dos degraus de um pátio externo do ICAES, a menos de um metro do outro rapaz, cujos pés inquietos tocavam vez ou outra sua coxa.

Vini soltou um risinho de desafio.

— Eu duvido. Depois que você começar a usar... esquece! — então ele apertou uma tecla do aparelho, deitando-o com a tela virada para o colo enquanto lhe fitava como quem esperava por algo.

— O que foi?

— Eu preciso saber mais de você pra criar um perfil mais completo. Me dei conta que não sei de muita coisa, embora desconfie de algumas paradas. A gente sempre saca... — revelou Vini, sem se preocupar em ser direto.

— Ah, nem vem — desviou Yuri, começando a se sentir envergonhado.

— Vou facilitar esse trabalho. A gente pode bater um papo descontraído, suave — ele sugeriu. — Me conta... o que rolou entre você e aquele seu ex?

Quatro garotas se aproximaram e desceram os degraus, passando pelos dois sem nem olhar que estavam ali.

Fazia algum tempo em que Yuri havia decidido que manter o foco em sua relação com Fernando era a melhor estratégia para não fazer ninguém desconfiar de seu romance oculto com Fred, e não estava disposto a abandonar essa prática agora.

— Eu... pisei na bola com ele. Saí com outra pessoa durante as férias, sabe? Enquanto ele tava visitando os pais em São Paulo — revelou, torcendo os lábios para transparecer desânimo.

Teve a impressão de que o olhar de Vini adquiriu certa excitação após a última informação, como alguém que ouvia uma historia chata até chegar um ponto em que algo interessante acontecia. Para piorar, ele lhe lançou a pergunta que queria evitar:

— Que pessoa?

Estava tão acostumado em mentir sobre isso que estava se tornando cada vez mais fácil.

— Um cara que conheci lá em Piedade. Você não conhece.

Mais algumas pessoas passaram por eles.

— E foi importante pra você? — ele seguiu com o interrogatório.

— Não, só um lance... — mentiu mais uma vez, embora considerando o desfecho daquela história, era praticamente uma verdade.

— Sexo, você quis dizer? — indagou-lhe Vini, sem cerimônia.

Yuri deixou escapar um sorriso nervoso e então fez que sim com a cabeça. O outro, por sua vez, soltara um sorriso enigmático antes de prosseguir:

— Pelo que já conversamos, tu não é alguém que sai procurando encontros casuais toda semana, to errado?

— Pior que não... Eu queria ser mais desencanado quanto a isso, você sabe, mas sou um trouxa à moda antiga. O que faz de mim um hipócrita também — desabafou.

— Eu entendo, Preto, relaxa. Apesar de lamentar — Vini piscou em sua direção de forma divertida. — Você sabe o que eu acho... mas isso aqui não é sobre mim. E se você não é como eu, significa que essa traição surgiu de algo mais profundo do que desejo ou atração de momento...

Do I make you cringe? (Fred & Yuri)Onde histórias criam vida. Descubra agora