Depoimento

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— Até quando vão nos manter aqui? Tô me sentindo uma criminosa! — Guiga se queixou, mexendo no celular de forma desinteressada.

— A menina tá em coma, Guiga. Eles precisam de uma resposta — censurou Alice enquanto retocava a maquiagem.

Todos que participaram da festa foram orientados a se dirigir até o ginásio, onde a polícia civil improvisou uma espécie de acampamento para ouvir cada um individualmente, uma forma mais rápida e prática que encontraram ao invés de cada um dos convidados ser convocado para ir até a delegacia depor. O reitor ajudou na elaboração daquele esquema, pois, segundo o mesmo, era de interesse do ICAES descobrir se havia alguém vendendo drogas nos eventos da instituição. Apesar de que, como alguém apontara quando estavam aglomerados no pátio, a festa de Bernardo foi um evento privado e não da faculdade. Quanto a este, fora o primeiro a ser ouvido e o primeiro a deixar o ginásio.

— Eu concordo com você, Guiga — Yago falou, relaxado em seu assento. Era colega de turma deles. Um playboy como tantos outros. — Ah, numa festa de jovens tava circulando drogas... Não diga! E a água é molhada, sabiam?

Os declarantes eram convocados de um em um, precisando ficar amontoados na arquibancada aguardando a vez. Alguns depoimentos eram breves, outros mais demorados.

— A menina se jogou, pronto, superem. Não é justo gastar nosso tempo com a maluquice dos outros — queixou-se Tobias, do sexto ano de direito, que estava sentado ao lado de Vicente.

Para fugir daquela conversa, varreu a arquibancada com os olhos à procura de distração. Viu quando Mateus se aproximou de Fred, Bia e Otávio, chamando a garota para acender um cigarro. Tatá permaneceu sentado onde estava, cabisbaixo, e Fred parecia tentar animá-lo... pelo menos foi assim que Yuri interpretou vendo de longe.

— Ninguém aqui tá sendo obrigado. Se quiser, é só passar na delegacia depois — Bella cortou.

— É melhor a gente se livrar disso logo — Alice completou, fechando a caixinha de cosméticos. — Afinal ninguém aqui deve nada. Ou será que deve?

De repente, Fred ergueu o olhar, flagrando os olhos de Yuri sobre ele. O mais novo virou a cabeça depressa, vendo Vicente inquieto, balançando as pernas com um olhar distante.

— Vocês sabem de alguma coisa? — Bella investigou, analisando os rostos sem expressão dos colegas.

Talvez algum ou alguns deles conhecesse o ofício de Guzman, pensou, chegando a conclusão de que, se o conhecerem, não devem revelar nada.

— Guilhermina Alcântara de Azevedo — uma policial convocou, olhando para a arquibancada.

— Finalmente! — a patricinha exclamou, levantando-se do assento e recolhendo seus pertences que ocupavam a cadeira do lado. — Até daqui a pouco.

Acompanhou o trajeto da amiga com o olhar, ansioso e ao mesmo tempo apavorado com a chegada da sua vez.


***


Sentou-se de frente para o delegado, um homem de uns 40 ou 50 anos, porte intimidador e olhar sisudo. Apresentou-se como Barreto e era um homem preto, o que deixou Yuri mais tranquilo, ainda que não muito por conta de seu histórico com a polícia.

Calmo, tenho que me manter calmo.

— Você tá bem, rapaz? — Barreto perguntou, depositando uns papéis sobre a mesa birô.

— Tô sim... É o calor — desconversou.

— Quer uma água? — o delegado ofereceu.

— Não, tô de boa — respondeu, ajeitando a postura sobre a mesa.

Do I make you cringe? (Fred & Yuri)Onde histórias criam vida. Descubra agora