Idiota

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Verificou cada uma das cabines do banheiro para ter certeza de que estavam todas vagas. Enquanto isso, Guzman ficou com os braços cruzados próximo a bancada das pias.

— Estamos sozinhos — comunicou, ansioso.

— Pô, não sabia que você era desses.

— Desses? — perguntou, confuso, dando mais uma conferida no lugar.

— Que curtem uma rapidinha no banheiro — o mais velho respondeu em tom de zoação.

Apesar da vontade de mandar o estudante de engenharia ir à merda, Yuri limitou-se a se aproximar com passos longos, ignorando as brincadeiras.

— Eu te chamei aqui pra saber como foi o papo com o delegado — cochichou, direto, parando a poucos centímetros a frente do outro.

Os lábios de Guzman moveram-se de um jeito estranho, formando uma ligeira sugestão de sorriso.

— Fica tranquilo, os homi não tão sabendo de nada. Minha clientela é discreta.

Deixou escapar um suspiro tenso. Era irritante a forma com que o traficante playboy agia como se tivesse certeza da impunidade.

— Ela tava grávida, sabia? — perguntou a ele, cruzando os braços. — O bebê, ele...

— Não sou o pai da criança. Nem você, imagino. Então não temos nada a ver com essa história — respondeu-lhe o rapaz, sem nenhuma emoção na voz.

— Como não? A gente ven... você deu drogas a ela. Não se sente nenhum pouco culpado?

Guzman cerrou os lábios e ficou quieto por alguns segundos antes de responder:

— Mano, na boa, a garota era uma suicida, ela queria fazer isso, fim. Se existe algum culpado, é a família dela, os amigos, sei lá. Não eu... — Ele pôs uma mão em seu ombro, encarando-lhe com olhos azuis e sérios. — Nem você. Ficar se martirizando não vai melhorar a situação.

— Mas é que... — começou a argumentar, sendo interrompido com a entrada repentina de alguém no banheiro.

— Opa, foi mal! — desculpou-se Fred, com as duas mãos erguidas na altura do peito. — Vou procurar outro banheiro.

Guzman recolheu a mão do ombro do menor, acompanhando com o olhar a saída do outro playboy.

— O que deu no Fredão? — Ele perguntou, com um olhar perdido.

Teve que respirar fundo antes de respondê-lo:

— Ele acha que tá rolando algo entre a gente.

O rapaz soltou uma gargalhada.

— Sério isso? — olhou para a porta, incrédulo. — Eu brinquei que se vissem a gente na festa iam pensar isso, mas não achei que iria acontecer de fato.

Yuri deu de ombros e disse:

— Pois aconteceu.

— E você não desmentiu? — o outro quis saber entre o intervalo das risadas.

— O que eu devia dizer? Que a gente tava negociando drogas? — indagou, nervoso.

Guzman curvou a cabeça pro lado.

— É melhor assim, mas ainda é um problema. Capaz de eu ser expurgado do DCE, imagina, um membro de rolo com alguém da oposição. É por isso que ele se importa?

— Tenho medo dos meus desconfiarem também, mas não vejo saída — disse, ignorando a última pergunta.

— Essa foi boa. Tô me sentindo num Romeu e Julieta, só que gay e universitário — o traficante continuou brincando. 

Do I make you cringe? (Fred & Yuri)Onde histórias criam vida. Descubra agora