Wonderwall

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Porque talvez você vai ser aquele que me salvará, e no final das contas você é o meu protetor.”

-Não tem nada decente mais aqui para comer. – Jared reclamou abrindo e fechando as portas do armário procurando algo para que pudéssemos preparar para o jantar. O sol ainda estava se pondo, observei aquela vista da janela da cozinha e suspirei abraçando-o por trás.
-Você parece muito feliz quando está com seu amigo – comentei, ele acariciou meus braços.
-Mais feliz do que quando estou com você? – perguntou brincando.
-Hum, nenhuma companhia é melhor que a minha – falei, ele riu virando-se para mim, me beijando.
-Como pode ser tão convencida? – me sentou no balcão da cozinha.
-É apenas a verdade. – brinquei fazendo-o rir novamente, suas mãos acariciaram minhas coxas.
-É sim. – confessou – bom, vou até a cidade comprar algumas coisas para preparar o Jantar, quer vir comigo?
Coloquei meus braços ao redor de seu pescoço.
-Acho que não, vou tomar um banho e me preparar para a chegada de seus amigos.
Ele me deu um selinho.
-Tudo bem, então. – Me deu vários outros selinhos antes de me soltar e pegar a chave do carro indo em direção a porta. Assim que a porta se fechou atrás de si, percebi que ele havia esquecido a carteira.
-Jared a cart... – gritei correndo e abrindo a porta mas ele já havia entrado no carro e saído. – tá né quero ver como vai comprar alguma coisa.
Tranquei a porta e subi para o quarto afim de tomar um banho, entrei debaixo do chuveiro e deixei a água relaxar meu corpo, mas minutos depois ouvi alguém bater na porta. Revirei os olhos, e coloquei um roupão.
-Eu gritei para te avisar que você esqueceu... – disse abrindo a porta, mas parei de falar quando vi que não era Jared.
Ryan sorriu me olhando de cima a baixo.
-Que bela recepção. – comentou sorrindo de lado.
-O que está fazendo aqui? – perguntei abraçando meu próprio corpo me sentindo nua na frente dele, o olhar dele me fazia se sentir nua. Ele deu de ombros a minha pergunta e passou por mim, entrando na casa, revirei os olhos e suspirei fechando a porta. – Jared não está.
Disse, ele havia se sentado no sofá como se estivesse na própria casa. Mas ele não pareceu surpreso com o que eu havia dito, apenas me olhou e continuou com aquele sorriso irônico de lado que me deixava irritada, mal conseguia olhar na sua cara. Respirei fundo, sério que ele ia ficar ali?
-Me faça companhia enquanto ele não chega. – disse.
Bufei me sentando no outro sofá a sua frente, cruzei minhas pernas que ele mediu me deixando mais irritada, ele não queria ser discreto.
-Não vai me oferecer nada para beber? – falou, cerrei os olhos olhando para ele.
-Não. – disse ríspida.
Ele riu.
-Você não é nenhum um pouco doce, apesar do rosto angelical.
-Eu não gosto de você e nem dos seus olhares e não tenho razão para fingir que gosto. – disse rapidamente, ele fingiu estar ofendido levantando as mãos, mas em seguida sorriu novamente. Cruzei meus braços e bufei, que idiota.
-Você é selvagem, claro, californiana! Jared deve adorar essa selvageria toda na cama, não é?
Olhei para ele novamente com a boca aberta. Sério que ele disse aquilo?
-Você é nojento.
-Eu? – ele se levantou parecendo um pouco indignado com o que disse, sentou-se ao meu lado no outro sofá me fazendo encolher perto dele. – Mas eu não transava por dinheiro aos quinze anos, não é?
Falou próximo ao meu ouvido, engoli em seco e umedeci meus lábios. Com os olhos arregalados e sentindo o coração palpitar mais rápido virei-me para ele, ele parecia se divertir com meu desespero e confusão notável. Como... O quê...? Era tudo o que se passava na minha mente que rodava tentando entender como ele sabia daquilo.
-Sou ótimo para descobrir coisas, querida. – falou como se estivesse lendo meus pensamentos. Meu deus! Como ele soube? Aliás, o que mais ele sabia sobre mim? Não consegui dizer mais nenhuma palavra ainda tentando aceitar o fato de que aquele homem sabia o que eu fazia quando era adolescente. – Jared sabe que você era uma prostituta mirim? – perguntou se divertindo. O Sorriso dele ainda permanecia em seu rosto me deixando ainda mais intimidada e um pouco apavorada.
-Oh, ele não sabe! – falou como se tivesse descoberto algo muito importante e ao mesmo tempo triste – seria uma pena se eu contasse esse segredo seu, não é?
Apenas consegui balançar levemente a cabeça.
-Mas podemos esconder esse segredo seu... – com uma mão ele acariciou minha bochecha e a outra pousou na minha coxa. Saindo do meu transe ao seu toque me levantei jogando o cabelo para trás.
-O que você quer? – disse, mas sabia exatamente o que ele queria.
Ele se levantou e tentou segurar minha mão.
-Tire suas mãos nojentas de mim! – falei alto, ele se assustou um pouco mas voltou a sorrir como se aquilo tudo fosse divertido, como se me deixar desesperada fosse motivo de diversão.
-Por que? Jared está te pagando quanto?
-Cala a boca! – falei – Jared não tem que me pagar nada para estar comigo e mesmo se ele estivesse você não teria nem metade da metade do dinheiro.
Soei arrogante deixando-o mais irritado comigo, mas eu me senti mais aliviada pois ele não sabia quem eu era, só sobre o meu passado.
-Eu não transaria com você nem que me pagassem! – continuei provavelmente ferindo o seu ego.
-Não seja essa cadela raivosa – disse.
-Prefiro ser uma cadela raivosa do que chegar perto de você e do seu pau nojento. – cuspi aquelas palavras.
Então seus olhos se acenderam em fúria e me arrependi por tê-lo provocado. Segurou-me pelo ante braço apertando-o fortemente.
-Você vai dar para mim sua vagabunda, pensa que pode vim para cá e me provocar desse jeito?
Olhei para ele ficando um pouco mais apavorada.
-Eu mal olhei para você! – tentei me soltar mas ele apertou mais o braço – me solta!
-Não precisou olhar. – sorriu novamente me dando calafrios.
-Me solta seu filho da mãe! – outra tentativa de puxar meu braço mas ele não me soltava então cuspi em seu rosto pegando-o de surpresa. Me soltou e levou a mão até o rosto para limpar, incrédulo no que eu tinha feito, assim que ele me soltou acertei seu rosto com um tapa que fez minha mão arder.
-Você é uma vagabunda mesmo! – esbravejou, ia sair correndo mas segurou-me pelo cabelo fazendo-me gemer sentindo a dor na cabeça, puxou-me de volta junto a seu corpo. Forçou-me um beijo mas chutei seu estomago com o joelho, porém não forte o suficiente. Ele travou a mandíbula e com raiva fechou o punho, acertando-me um pouco abaixo da orelha, fiquei meio zonza e então ele me soltou, acertando-me novamente do outro lado, rodei e caí batendo a cabeça na ponta da mesinha da sala, achei que fosse desmaiar. E então aquela noite voltou na minha cabeça, quando da mesma forma um velho nojento me acertou de novo e de novo, abusando de mim enquanto eu estava desmaiada. O pavor de acontecer o mesmo tomou conta de mim, senti todo o corpo estremecer, eu não podia desmaiar, tinha que sair dali, tinha que me proteger.
Ainda meio zonza tentei me levantar para correr dele, mas ele segurou meu cabelo novamente me arrastando pelo chão.
-Socorro! – gritei me debatendo tentando faze-lo me soltar, mas ele me puxou para cima do sofá e me deu outro soco para que eu ficasse cada vez mais zonza, e inevitavelmente lágrimas vieram pelo meu rosto mostrando o meu medo e desespero. A dor do trauma me dilacerava como se eu estivesse vivendo aquilo novamente. E estava.
Comecei a me engasgar com minhas lágrimas, não conseguia mais falar.
Ryan segurou minhas mão acima da minha cabeça, prendendo meus pulsos. Comecei a me debater mas era inútil, quanto mais me debatia mais ele se divertia com aquela situação. Era um estuprador psicopata. Com a outra mão ele abriu meu roupão puxando a corda, estremeci mais ainda nua a sua frente, olhou para o meu corpo alegre em seguida levou sua mão até o cinto de sua calça abrindo-o.
-Não... por favor... – foi o que consegui dizer.
-Ah você vai adorar, querida. – soou irônico, assim que sua mão ia abrindo o zíper de sua calça.
Ele riu alto, ou melhor, gargalhou.
-O que está acontecendo aqui? – Ao ouvir aquela voz foi como se tivessem tirado cinquenta toneladas de cima do meu peito e eu pude respirar novamente. Ryan parou de rir e olhou para Jared um pouco desesperado. Enquanto os olhos azuis de Jared estavam sobre nós como se ele não soubesse o que pensar, ou acreditar no que via diante de si. Soltou algumas sacolas que estavam em suas mãos e ficou ali parado perplexo, as lágrimas ainda rolavam pelo meu rosto.
-Jared eu... – Lea apareceu animada atrás dele mas logo sua animação se foi, dando lugar a mesma expressão de Jared – O que está acontecendo, Ryan?
Ele ficou perdido.
-Me ajude – murmurei baixo olhando diretamente nos olhos de Jared que olhou para mim como se finalmente seu cérebro tivesse processado o que estava acontecendo. Com passos fortes e notavelmente mais do que irritado ele se aproximou de nós puxando Ryan de cima de mim, olhou-me rapidamente por alguns segundos. Fechei o roupão me sentando no sofá envergonhada, humilhada, não sei direito mas queria não estar ali. Juntei meus joelhos até meus seios e os abracei, ainda chorando.
-Margot... – ele se abaixou a minha frente e acariciou os meus cabelos
-O que você estava fazendo, Ryan? – gritou Lea se aproximando dele. Olhei nos olhos de Jared como se ainda estivesse pedido ajuda.
-Ela deu em cima de mim, me provocou, depois quando ouviu o carro de Jared se fez de coitadinha, armando para cima de mim! – Ryan gritou desesperado, estava realmente desesperado. Lea olhou para ele e depois para mim, sem saber no que acreditar, assim como Jared.
Balancei a cabeça negativamente para Jared implorando com os olhos para que ele não acreditasse naquelas palavras tão mentirosas.
-Você está mentindo! – ele vociferou levantando com os punhos fechados.
Ryan abriu a boca com medo.
-Não... Qual é, vai acreditar numa vagabunda ao invés de mim?! – sua voz ainda era desesperada. Com um passo Jared se aproximou dele acertando seu rosto com o punho, Ryan levou a mão até a boca. Lea arregalou os olhos mas no fundo ela sabia que o irmão merecia mais do que aquilo. Ryan ficou ereto novamente – como pode acreditar nela e não em mim?
Ela te contou que era uma prostituta?
Então o olhar de todos vieram para cima de mim, mas só consegui levantar meus olhos para Ryan, incrédula! Ele realmente tinha falado aquilo em voz alta, ele realmente tinha dito aquilo para Jared que me olhava perplexo, perdido.
-Ela é uma vagabunda, é isso que ela merece! – continuou.
-É isso que você pensa? – interveio Lea – nenhum homem tem o direito de fazer isso com uma mulher, nenhum! Quer usar isso como desculpa? – riu mas não havia nenhum tipo de humor na sua voz – mal posso olhar para você depois disso, veja o que fez com ela. Está sangrando e você diz que ela se jogou para cima de você? Eu não acredito que é meu irmão.
Olhou para ele com nojo o que o fez desmoronar. Não tenho irmãos que conheço ou parentes mas se alguém da minha família olhasse para mim da mesma forma eu me sentiria a pior pessoa desse mundo, um lixo. Então foi quando Jared olhou para mim de novo, eu estava sangrando? Levei os dedos até onde sentia minha cabeça latejar e depois olhei para eles, havia sangue. Apertei os olhos fortemente.
-É diferente, Lea, ela se jogou para cima de mim desde a primeira vez em que a vi.
Então Jared o acertou de novo fazendo um barulho que achei que ele tivesse quebrado a sua mandíbula. E então outro, e outro soco novamente. Nunca o vi tão irritado, nunca o vi fazendo aquilo, Jared batia sem dar a chance dele se defender, foram muitos socos, muitos chutes, eu mal conseguia me mover ainda apavorada.
-Jared você vai mata-lo! – Lea entrou no meio chorando – eu sei que ele merece isso mas pensa em você e nela, ela precisa de você agora.
Ele suspirou passando a mão na boca tentando controlar sua raiva que parecia consumi-lo naquele momento. Olhou para Ryan como se estivesse olhando para um rato de esgoto.
-Se eu te ver novamente eu juro que te mato – esbravejou pegando-o pelo braço e levando até a porta, abriu a porta e o jogou para fora, Lea sussurrou um “me desculpe” e saiu correndo atrás do irmão.
-Eu prometo que ele vai se arrepender disso. – ela disse antes de Jared fechar a porta.
Eu ainda chorava como criança soluçando, agarrada aos meus joelhos. Ele voltou para sala e me olhou, umedecendo os lábios, assustado por me ver naquele estado. Se abaixou na minha frente segurando em minha mão mas a puxei assustada.
-Hey, sou eu Margot... – falou com a voz doce e com pena.
Minhas lágrimas me impediam de falar e estava difícil até mesmo para respirar. Ele juntou as sobrancelhas, pensando no que fazer para me acalmar. Então se levantou passando um braço pelas minhas costas e o outro por debaixo dos meus joelhos pegando-me em seu colo. Afundei meu rosto em seu peito e passei meus braços ao redor de seu pescoço, molhando sua camiseta com lágrimas.
Me carregou até o quarto e me deitou na cama.
-Está tudo bem, Margot, você está bem. – segurei sua mão e apertei respirando fundo tentando controlar minhas lágrimas.
-Não me deixa sozinha novamente – falei com a voz fraca e tremula.
Ele juntou as sobrancelhas e sua expressão tornou-se triste.
-Não vou, eu prometo.
Acariciou meu cabelo. Ele ia soltando minha mão mas a apertei o puxando novamente.
-Está tudo bem – sussurrou – só vou pegar algo para limpar esse machucado.
-Me desculpe... – falei – me desculpe.
-Hey, não tem que se desculpar. Ryan é um filho da puta, tem sorte de eu não mandar mata-lo.
Sorri sem mostrar os dentes, então ele se levantou e foi pegar os curativos no banheiro, voltou rapidamente me puxando, fazendo-me ficar sentada. Levei novamente meus joelhos até meus seios já conseguindo controlar minhas lágrimas. Tremi um pouquinho sentindo o toque do remédio contra meu machucado.
Ficamos quietos alguns minutos enquanto ele limpava.
-Obrigada por me proteger Jar... – falei – eu fiquei tão assustada, achei que iria acontecer novamente.
Ele parou o curativo e me olhou confuso. Mordi o lábio inferior, hora de voltar ao meu passado por alguns minutos.
-É verdade o que ele disse, sobre eu ter sido uma prostituta... Stripper é a palavra correta, eu apenas dançava e transava só se precisasse de muito dinheiro – suspirei, ele parecia um pouco surpreso – mas um dia um homem me bateu até que perdi a consciência e... – e as lagrimas voltaram não me deixando concluir a história, abaixei a cabeça novamente entre meus joelhos me sentindo envergonhada de chorar assim na sua frente. Então ele me abraçou e puta merda, que abraço, acariciou minha cabeça.
-Eu entendo se você não quiser mais me ver... – levantei a cabeça olhando para ele que abriu a boca e juntou as sobrancelhas. Pegou minha cabeça com as palmas das mãos e com cuidado para não tocar em meu machucado, olhou fundo em meus olhos.
-Isso não vai acontecer! Independente do seu passado você continua sendo a mulher mais maravilhosa que eu já conheci. É uma sobrevivente, Ms.
E sorriu, mordi o lábio inferior e ele me beijou. Um beijo molhado pelas minhas lágrimas.
-Jared? – parei nosso beijo e olhei fundo em seus olhos.
-Hum?
-Eu acho que te amo. – falei baixo o suficiente só para ele ouvir, como se houvesse outra pessoa ali. Até sua respiração havia parado naquele momento. Apertei os olhos. – Não, eu tenho certeza disso. Eu te amo.

A acompanhante (CONCLUÍDA) Onde histórias criam vida. Descubra agora