Compass

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“A Bússola aponta para você em qualquer lugar, para mais perto de mim. Onde você estiver, eu estarei, milhas de alturas ou nas profundezas... vou pegar todos esses cacos e junta-los novamente mesmo que a grama não esteja verde o suficiente, pegar todos os emblemas e construir uma mansão para nós. Te amar da maneira que você precisa de amor.”

-Bom, já está na hora dela sair da escolinha, podemos busca-la juntos o que acha? – perguntou alegre.
-Eu adoraria! – respondi tão rápido que ele mal teve tempo de terminar a frase.
Eu estava tão contente e entusiasmada para vê-la que mal notei como era estranho estar perto dele novamente depois de tanto tempo. Mas ele também parecia feliz, Jared estava feliz. Com um sorriso no rosto e olhos brilhantes, eu não o via assim faz tempo.
-E como vão as coisas na Europa? – ele perguntou enquanto dirigia.
-Ah estão bem é inacreditável como em tão pouco tempo Mark e eu conseguimos fazer a agencia crescer por lá. – respondi.
-E... sua nova vida pessoal? – ele perguntou meio receoso. Eu entendi o que ele queria saber só não queria entrar no assunto.
-Está diferente. – foi o que consegui responder para ele. Eu não ia falar sobre Léo muito menos sobre Nate, e aliás, pensar em Nate com ele ali do meu lado me deixava sentindo-se a mulher mais terrível do mundo por esconder um filho que é dele. Mas como eu iria contar? “Ah, Jared, tive um filho seu e esquecei de te contar.”? Não! Ele iria ficar puto comigo. Eu estava em um beco sem saída, ainda mais com ele sendo tão legal e gentil comigo... Ah meu Deus! E ainda tinha Léo que se achava pai dele.
O que eu faria? Voltava correndo para Londres para aquela vidinha chata? Ou contava e ficava aqui com meus dois filhos e perto ao homem que eu amo?
Ah, eu sempre me colocava em situações complicadas. Levei a mão até a cabeça pensando nisso tudo.
-O que foi? Está bem? – Jared perguntou se preocupando.
-Estou sim. – respondi – empolgada por vê-la depois de alguns meses.
Ele riu.
-Ela vai adorar te ver, Margot! – falou animado – você vai ver.
-Eu vou adorar vê-la também, estou com tanta saudades que chega dói – falei também animada. Fomos conversando sobre alguns assuntos aleatórios e dando risada, como se fossemos dois amigos de longa data. Era incrível como estávamos nos dando bem e nenhum dos dois teve coragem para tocar no assunto do passado, para falar sobre pessoas do passado.
Ele parou o carro em frente a uma escola.
-Você quer ir comigo ou vai esperar aqui? – perguntou antes de descer.
-Acho que vou esperar aqui – falei com as mãos suando frio. Meu Deus! Como eu estava ansiosa para vê-la.
-Ok – ele falou saindo do carro com um sorriso. Assim que ele entrou na escola eu não aguentei de ansiedade e desci do carro preferindo esperar por eles em pé, mas não resolveu muita coisa eu ainda estava ansiosa. Até que finalmente eles saíram, ela andando de mãos dadas com ele até ele apontar para a minha direção. Ela arregalou os olhos e abriu um sorriso que me fez desmanchar em lágrimas, Hannah soltou da mão de seu pai e veio correndo até mim com rapidez se jogando em meus braços.
-Mamãe! – e me abraçou com força, eu fiz o mesmo a erguendo em meu colo.
Eu não conseguia falar, só chorar.
Ela me olhou e sorriu.
-Para de chorar sua boba! – ela falou – você voltou. – completou.
-É, a mamãe é uma boba. – falei secando as lágrimas e sorrindo – voltei, filha. E você está tão linda, tão grande!
-Papai disse que eu me pareço com você. – ela falou com um sorriso sapeca, nós olhamos para ele que deu risada também.
-E não é verdade? – ele falou, e nós rimos.
-Eu senti sua falta. – ela disse me quebrando inteira. Olhei rapidamente para Jared e depois para ela.
-Mamãe teve que resolver alguns problemas... mas eu voltei e não vou te abandonar nunca mais, tá bom?
Ela balançou a cabeça sorrindo.
Depois disso passamos os três a tarde toda juntos. Ela realmente era elétrica demais, me fez andar mais do que meus pés aguentavam mas eu não reclamei, estava feliz demais ao lado dela. Pela noite voltamos para casa e foi estranho estar ali, na minha antiga casa. Ah tempos que eu não colocava o pé ali dentro mas tudo permanecia o mesmo. Os quadros, as cortinas, os moveis, tudo era o mesmo.
-Mãe vem ver meu quarto – ela falou me puxando assim que terminamos de comer pizza.
-Tá bom – falei rindo seguindo-a. – Que quarto lindo! Quem montou ele?
-Foi o papai. – ela disse. O quarto era todo colorido, com desenhos na parede, brinquedos, e típico quarto de crianças. A cama dela já não era mais um berço, como da última vez que estive com ela ali.
-Hannah, já está na hora de dormir. – Jared falou, nós duas olhamos para ele e fizemos a mesma expressão – Meu Deus, vocês são idênticas.
E riu.
-Papai não quero dormir. – ela reclamou.
-Mas você precisa, para ir para escola amanhã.
Ela revirou os olhos. Tentei não dar risada mas foi inevitável.
-Hannah, escovar os dentes e cama, agora! – ele falou mais autoritário e ela me olhou fazendo bico.
-Obedece seu pai. – falei e ela saiu resmungando em direção ao banheiro. – com quem ela aprendeu a revirar os olhos? – perguntei rindo.
-Eu não sei, mas deve ser genético – respondeu sentando-se ao meu lado e rindo.
-Só se tiver puxado você, eu não faço isso. – falei sarcástica ele me olhou.
-Ah não? – perguntou – Quando nos conhecemos quantas vezes suas reviradas de olhos me fez...
Olhei para ele rapidamente dentro de mim pedindo para que ele finalizasse aquela frase.
-Nada. – ele desconversou.
-Fala – pedi.
-Esquece, Margot... – falou tentando não quebrar o clima alegre entre nós e então Hannah voltou fazendo bico.
-Escovei os dentes. – falou.
-Agora deita e vai dormir – ele falou ela passou pela gente bufando e se jogou na cama.
-Ah mas sem um beijo de boa noite? Como que eu vou dormir assim? – ele reclamou brincando, ela tentou segurar a risada mas não conseguiu. Voltou e abraçou ele o beijando no rosto. Depois veio e me abraçou.
-Mamãe, promete que não vai embora? – perguntou, eu engoli e seco.
-Prometo, filha, eu não vou a lugar nenhum. – falei.
-E se você for embora de novo? – falou triste, Jared e eu nos encaramos.
-Olha a mamãe vai segurar sua mão enquanto você dorme assim você vai saber que não vou embora – falei e para ela pareceu um ótima ideia. Deitei-a na cama e fiquei ao lado dela segurando a mãozinha pequena até que a mesma adormeceu. Eu estava tão cansada que adormeci com a cabeça apoiada na cama até Jared me acordar.
-Margot... não prefere deitar em uma das camas? – perguntou segurando-me pelos ombros, levantei a cabeça e esfreguei os olhos.
-Que horas são? – perguntei.
-Ainda são onze e vinte – respondeu. Que droga! Estava tarde, eu precisava voltar para o hotel para pôr Nate para dormir. Ele só dormia se eu o colocasse, ninguém conseguia fazer isso. Hannah estava dormindo tranquilamente, soltei sua mãozinha devagar e levantei. Segui Jared até a sala.
-Preciso ir para o hotel, está tarde. – falei.
-Você não precisa ir... pode ficar em um dos quartos se quiser. – falou sugestivo.
-Não, Jared, eu realmente preciso ir para casa. Eu adorei ficar com vocês e espero poder vê-los amanhã novamente, mas realmente preciso ir.
Ele reprimiu o lábio, estava chateado e decepcionado, era nítido mas eu tinha outro filho para estar junto também.
-Tudo bem, Mag. – falou forçando um sorriso. – eu realmente quero que você fique com a gente.
-Não posso Jared, tem outra pessoa me esperando – falei rápido e ele me olhou como se eu tivesse ferindo-o.
-Ah, eu entendi. Tudo bem, não precisa se preocupar, não quero lhe causar problemas. – falou – eu te levo.
-Obrigado. – falei.
Então ele realmente me levou até o meu hotel. Durante o caminho eu lhe contei sobre Lila e como ela estava doente precisando de ajuda, e de forma solidária e gentil ele ofereceu sua ajuda em qualquer coisa que eu precisasse. Nos despedimos com um beijo no rosto e eu percebi novamente que eu ainda o amava do fundo da minha alma. Antes de dormir liguei para Léo que já havia me ligado o dia todo e contei-lhe sobre o meu dia, obviamente ele ficou irritado pelo fato de eu estar com Jared mas eu não me importei. Na manhã seguinte a primeira coisa que fiz foi ir para a agencia cedo, como Nate estava com resfriado e eu odiava deixa-lo com a babá quando estava doente, o levei para lá junto de Maggie, havia um espaço para crianças ficarem, filhos de muitas meninas que trabalhavam ali. Todos adoraram o fato de eu estar de voltar, não que não gostavam das meninas no comando mas sempre fu ia preferida, e logo que eu saísse dali iria até o clube de certa forma estava com saudades de lá também. Jared me mandou uma mensagem de voz junto com Hannah deixando o meu dia melhor, contei-lhe que estava trabalhando e que os veriam mais tarde.
Porém ele apareceu de surpresa na agencia.
-O que está fazendo aqui? – perguntei.
-Ah, achei que você iria querer ir comigo buscar a Hannah na escola de novo – falou rapidamente – hoje Cara vai lá para casa, ela ficará muito feliz em te ver de novo.
-Uh... Claro! Vou adorar. – falei e realmente iria adorar porém... Nate estava ali e Jared estava ali, mas pensei que daria para esconder ele aliás ele não iria até a creche mas eu não contava que Nate viria até meu escritório.
-Srta. Robbie, o Nate está com fome novamente e eu não estou conseguindo alimenta-lo, ele fica chamando pela senhora. – Maggie entrou no meu escritório o colocando em meu colo. Jared e eu ficamos sem reação alguma.
-Ah... Claro... Não se preocupe eu vou dar comida para ele agora vá você se alimentar – falei tentando me controlar para não mata-la.
-Mama... Mama – Nate disse puxando a mexa do meu cabelo que pendia sobre meu rosto. Jared ficou nos olhando sério, pasmo, branco, aliás, pálido, com as mãos na cintura.
Era o momento certo para abrir o jogo? Eu não sabia o que dizer ou o que fazer. Mas Nate olhou para Jared e algo muito, muito estranho aconteceu.
-Papa... – ele falou olhando-o. Eu não imaginaria que ele faria isso, havia noites em que eu mostrava fotos de Jared para ele contando-lhe quem era seu pai para que ele não chamasse Léo assim mas eu nunca imaginaria ou preveria isso.
Jared deu risada e respirou fundo.
-É seu filho? – perguntou forçando a voz, era nítido, obvio que ele estava tentando não agir como um homem machista, aliás, estávamos separados não era? Só que o filho era dele.
-Sim. O nome dele é Nathaniel. – falei contente esperando que Jared se tocasse, porque uma vez foi esse o nome que ele quis pôr em Hannah caso fosse um menino e não uma menina.
Ele sorriu e Nate o chamou de ‘papa’ novamente, eu suei frio.
-Ele é lindo, Margot, tem os seus olhos – mentira, tinha os olhos dele – posso pega-lo?
Arregalei os olhos.
-Claro – e o estendi, assim que Jared o pegou no colo Nate sorriu e puxou seu nariz eu não aguentei e chorei, mas não percebi que estava chorando até Jared falar.
-Por que você está chorando? – ele perguntou, sequei as lagrimas rapidamente.
-Nada, não é nada! – falei tentando não olha-los mas era muito para mim vê-los juntos – Jared eu preciso te contar uma coisa...
Comecei reunir coragem para falar, bom talvez ele me odiasse, talvez não mas eu tinha que contar. Ele estava encantado por Nate tanto que nem prestava atenção em mim brincando com ele.
-Jared... – tentei falar mas meu celular tocou – Alô?
Era do hospital onde Lila estava internada no telefone, eles me chamaram com urgência me apavorando. Eu disse-lhe que em meia hora eu estaria lá.
Acho que a conversa teria que ficar para mais tarde.
-Jared... Lila está no hospital, preciso ir para lá agora. – falei balançando a cabeça e pegando minhas coisas – e eu queria tanto ir buscar Hannah na escolinha.
Ele se aproximou de mim.
-Mas o que aconteceu? Ela está bem? – perguntou preocupado.
-Ah eu não sei ainda, preciso ir. – falei e olhei para Nate e levei a mão até a cabeça – esqueci que mandei Maggie descansar por hoje... Não posso ficar com ele no hospital.
Jared me olhou.
-Ah eu fico com ele. – falou calmo – eu te acompanho e fico com ele até você resolver o que tem que resolver.
-Não, não posso te pedir isso Jared. – falei rapidamente, Jared havia se dado muito bem com ele mas claro, eram pai e filho.
-Margot, você não está me pedindo nada, eu estou me oferecendo. Agora vamos! – falou com a voz autoritária de sempre, lancei lhe um sorriso de agradecimento. Fomos para o hospital juntos, assim que cheguei encontrei com o Dr. Andrew um tanto atordoado.
-O que aconteceu? – perguntei ficando desesperada também, pela cara dele é como se ela estivesse morta.
-Margot, que bom que chegou! – ele disse me cumprimentando, Jared se sentou na recepção com Nate. – Lila está com falência do fígado, precisa urgentemente de um transplante.
Meu coração apertou.
-E o que eu devo fazer?
-Ela está na lista de transplantes mas não sei se ela conseguirá um tão rápido quanto precisa.
A expressão dele me fez entender sobre o que estávamos falando, vida e morte. Ela precisa de um fígado, precisava ser salva e eu não tinha muito tempo para pensar ou agir.
-Eu faço – falei e ele pareceu perplexo.
-O que? – disse.
-Como funciona? Eu posso doar para ela. – falei e ele sorriu me tranquilizando.
-O fígado é o único órgão que se regenera sozinho, preciso de apenas uma parte. Você terá que ficar de repouso por um tempo mas salvará a vida dela. Vamos fazer os exames necessários e se forem compatíveis, nós faremos a cirurgia hoje mesmo.
Senti um arrepio atravessar pela minha espinha, não era muito animador a ideia de dar parte do meu fígado para ela mas me confortava saber que eu teria mais um motivo para passar mais tempo na Califórnia com Hannah e bom, ele. Quem não ficaria nada animado com isso seria Léo por isso não havia motivos para lhe contar nada. Fui até o quarto dela para vê-la, a pele estava mais amarelada do que antes e quase não tinha voz para falar. Eu respirei fundo e olhei para ela, que tentava manter um sorriso no rosto como se estivesse tudo bem mas não estava. Não estava nada bem. Apertei mais sua mão frágil.
-Hey – sua mão estava gelada. – não se preocupe, vou tirar você dessa.
Ela não se moveu mas manteve o sorriso no rosto.
-Por que? – a pronúncia estava fraca, sua voz estava fraca e eu me sentei na ponta da cama pensando naquela resposta.
-Bem... eu sou sua amiga, não posso deixar você morrer – respondi, a boca dela estava seca e podia-se notar pelos lábios extremamente rachados. – Vou te dar parte do meu fígado.
O sorriso se esvaiu de seu rosto e ela pareceu transtornada com aquilo ao invés de contente.
-Você não pode fazer isso, Margot – disse fraco – eu traí você.
-E eu tomei tudo de você – disse rapidamente me levantando e depois passando a mão no rosto – eu fiz coisas horríveis, Lila, fui uma pessoa horrível então me deixa fazer algo bom uma única vez.
Ela não disse nada apenas ficou me encarando e eu soube que ela não negaria, não podia negar. Eu estava prestes a salvar a vida dela. O exame já havia sido feito porém só sairia dali uma hora então voltei para a sala de espera com Jared que brincava com Nate.
-Eu vou doar meu fígado para ela. – falei rapidamente, ele me olhou com os olhos arregalados de espantado.
-O que? – falou.
-Ela está com falência no fígado, disseram que ela pode morrer. Eu vou doar meu fígado para Lila.
-Você tem certeza disso? – Jared perguntou. Eu suspirei.
-Tenho, Jar. – e me sentei ao seu lado pegando meu filho no colo – eu tenho total certeza.
Assim que os exames saíram foi comprovado que eu era compatível com ela e então logo começaram os preparativos para cirurgia. Eu estava um pouco nervosa mas acreditava que tudo ia ocorrer bem.
-Tchau mamãe, nos vemos mais tarde – Jared disse segurando a mãozinha de Nate e fazendo uma voz engraçada.
-Não faça essa voz – falei rindo – não combina nada com você.
Ele riu.
-Volta daquela sala, entendeu? De preferência viva. – ele falou sério.
-É só um transplante. – falei tentando acalma-lo pois notoriamente ele estava preocupado. – cuida do meu filho para mim.
Eu quis tanto dizer “nosso filho”. Ele sorriu e com o polegar acariciou meu rosto.
-Eu vou cuidar dele como se fosse meu, não se preocupe. – falou – agora só se preocupe em acordar da anestesia geral, e voltar para nós viva.
Eu fiquei olhando para ele meio hipnotizada, com o dedo dele acariciando minha bochecha. Acredito que ele fez aquilo tão naturalmente que mal tinha percebido, mas como eu não perceberia com a pele dele em contato com a minha? Me fazendo estremecer. Segurei sua mão e apertei com força.
-Eu vou. – falei sorrindo e então ele sorriu, abaixando-se e me dando um beijo na testa. Eu fui para a ala cirúrgica pensando que se pessoas sonham enquanto estão anestesiadas, eu queria sonhar com ele. Sonhar que estava em um lugar longe, e bonito só com ele.

A acompanhante (CONCLUÍDA) Onde histórias criam vida. Descubra agora