consequences

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Te amar foi juvenil, selvagem e livre, te amar foi quente e doce.
Te amar foi como a luz do sol, como estar sã e salva. Um lugar seguro para baixar minha guarda. Mas te amar teve consequências. Te amar foi idiota, obscuro, e sem valor. Te amar ainda é como dar tiros em mim, pois te amar foi como a luz do sol, mas depois caiu a tempestade. Eu perdi muito mais do que meus sentidos, pois te amar teve consequências.”

-Ai meu Deus! – foi a única coisa que eu consegui dizer ao chegar no meu apartamento que restava irreconhecível. – Lizz? – chamei por ela mas parecia que não tinha ninguém em casa. Ela provavelmente tinha dado umas centenas de festas ali pois o lugar estava super bagunçado além de sujo. Para evitar ficar pensando muito comecei arrumar o apartamento assim evitaria ficar pensando nele. Eu ainda estava me sentindo um pouco mal mas era orgulhosa demais para assumir que precisava de ajuda.
Fui limpar o quarto de Lizzy quando vi sobre a penteadeira dois pinos de coca, pude sentir o nariz coçando, peguei os dois pinos... o que aconteceria se eu usasse só um pouquinho? Apenas para matar a vontade? Aliás, estive me sentindo tão ansiosa, tão cansada, um pouco de coca iria me ajudar a manter o pique.
Meus pensamentos foram interrompidos por duas batidas na porta. Soltei o pino rapidamente. O que estava pensando? Eu poderia prejudicar o bebê. 
Novamente batidas.
-Já vou! – falei abrindo a porta e me deparando com Jared – eu disse para você não me procurar mais!
-Eu sei mas uma pessoa ainda queria te ver. – ele falou e Nelly apareceu atrás dele.
-Oh, Nelly! – falei sentindo o coração apertar, eu nem tinha pensado nela. Ela entrou rapidamente e me abraçou, Nelly não estava na mansão na hora em que tudo aconteceu.
-Minha menina, por que você quis voltar a ficar sozinha? Por que deixou que as coisas que aquela mulher falou te afligir? – ela perguntou segurando em minhas mãos.
Eu abaixeis os olhos e ela encostou a mão no meu rosto.
-Veja, ainda está ardendo em febre e precisa ser cuidada. – falou. E quem não queria uma Nelly para poder cuidar da gente? Em poucas semanas ela tinha feito mais por mim do que minha própria mãe. – ah minha querida, não escute as palavras da Sra. Elena! Não sabe que ela quer justamente te machucar? Ela não sabe nada sobre você, eu teria orgulho de ter você como minha filha. – ela disse e meus olhos encheram-se de lagrimas. Jared jogou sujo levando Nelly para me convencer a voltar para a mansão.
-Além do mais, eu sei que você não quer abandonar o seu jardim. Ele está tão lindo, com muitas flores e muitas rosas vermelhas. Ele irá morrer sem você, Margot.
-Não posso, Nelly. – falei – Não posso simplesmente voltar assim. É que... Não dá.
É que não dava para ficar perto dele vinte e quatro horas.
-Margot, as coisas podem acontecer da maneira mais inusitada. Você precisa pensar no seu filho e em você, você acha mesmo que estar sozinha agora é uma boa opção? – ela parecia ter tanta razão mas meu ego ferido não queria aceitar aquilo e gritava dentro de mim justificativas para não voltar.
-Eu tenho minhas amigas. – respondi.
-Suas amigas são tão jovens e inexperientes quanto você! – ela falou e mais uma vez coberta de razão, perto das minhas amigas eu teria muito mais acesso a drogas e ao álcool o que não era nada bom. Mas perto dele... perto dele eu queria estar bêbada.
-Nelly... – falei pensativa, eu não queria ceder mas ela parecia estar tão certa.
-Margot, se for embora com a gente, prometo que na próxima vez que a Sra. Elena te provocar eu mesma vou tratar de colocar pimenta na comida dela, e estou falando isso na frente do meu chefe só para te mostrar o quanto você é importante e amada.
“Importante e amada" de repente essas palavras foram melhor do que ouvir a “garota mais linda da noite”, de repente eu percebi que nunca ouvi essas palavras na minha vida e pela primeira vez eu estava sendo importante e amada. Como eu poderia negar alguma coisa a Nelly?
-Tudo bem! Eu volto mas Jared nunca poderá te demitir – falei e os olhos dela brilharam de alegria acompanhados de um sorriso incrível. E eu acabei voltando para a mansão e nos dias seguintes evitei o máximo Jared apesar da insistência dele de as vezes querer ficar perto de mim mas com o casamento às portas, ele acabou ficando um tanto ocupado, aliás, a casa toda parecia estar ocupada com isso. Eu estava apenas focada em preparar a minha agência, chamei as meninas para ir até a mansão e apresentei o plano para elas e as três amaram e estavam dispostas a entrar nessa comigo. Elas aceitaram e acharam que seria incrível.
Marina conseguiu convencer uma grande parte das meninas de Angelina a trabalhar conosco, conseguimos recrutar algumas mulheres de algumas casas noturnas que conhecíamos e para o lançamento da M' Black Company nós fizemos uma festa em uma das mansões emprestadas de Mark.
Minha barriga parecia ter crescido o dobro nas duas ultimas semanas, e eu estava exausta com uma barriga enorme e trabalhando tanto. Recrutamos um grande numero de garotas, além de cuidar das papeladas de abrir uma agência e eventualmente divulgar. Eu tive muita ajuda, conhecia muitos homens, Mark também fez um belo de trabalho de divulgação assim como Lizzy, Marina e Lila. Jared também fez divulgações escondido de mim, fui saber por amigos seus que foram na minha festa de inauguração da minha empresa, não posso negar que fiquei contente em saber que ele estava me apoiando mesmo de longe. Mas ainda havia muito trabalho para fazer.
Nosso escritório era pequeno, Mark nos cedeu uma de suas mansões que transformarmos em uma agência mas eu ainda queria mais, eu queria um edifício em cada continente com a minha letra. E eu iria chegar lá com as melhores garotas e garotos!
-Margot, eu nunca vi tanta gente rica em um só lugar! Pessoas de outros países vieram. – Marina disse incrédula, o que eu poderia dizer? Eu também não acreditava no que estava vendo.
-Nossa, são tantas pessoas, mais pessoas do que garotas. – falei – aqui deve ter uns 400 clientes para o que? 50 garotas que conseguimos recrutar? – demos risadas.
-Mas você vai ver como em breve as meninas irão bater na nossa porta atrás de emprego. – ela disse esperançosa
-Sim, e todas as garotas de Angelina virão e todas terão sua oportunidade aqui! – falei.
-Ai ai Margot! – ela falou – esquece essa mulher. 
-Ela enfiou um vidro na minha barriga sabendo que eu estava grávida acho um pouco difícil. Angelina vai lembrar de mim pelo resto da vida dela! – eu afirmei sentindo a raiva subir, eu sempre fui egoísta e arrogante, mas nunca soube que eu poderia ser vingativa. Só de pensar em Angelina eu sentia o sangue ferver.
-Margot, se você quer ser a melhor faça isso por você e não pela Angelina. – Marina disse.
-Ela serve como um combustível. – brinquei. Mary revirou os olhos.
-E depois? Quando destruir ela, o que você vai fazer? – ela perguntou na tentativa vã de me fazer mudar de ideia.
-Eu vou pensar. – falei rindo e balançando os ombros. – O que é isso? – falei ao me virar e me deparar com Jared bebendo champanhe e uma loira com uma bunda enorme se esfregando nele. Eu nem tive tempo de falar com Marina pois no minuto seguinte eu já estava próxima deles.
-O que é isso? – perguntei interrompendo a dancinha dos dois.
-Estamos nos divertindo. – ele respondeu debochado. Eu torci o nariz. – Ela é uma garota ótima!
Ao ouvir o elogio ela colocou a mão em seu peito e sorriu, sexy e atirada. Quem ela acha que é?
-Vai embora! – falei para ela que franziu o cenho sem entender nada.
-Mas... – disse
-Vai logo! Arruma outro cara. – falei ficando irritada. Ela fez um bico mas logo saiu a procura de outro homem para diverti-lo. Jared estava rindo.
-Você é uma graça quando está brava e com ciúmes. – falou dando outro gole no champanhe.
-Eu não estou com ciúmes é que você não foi meu convidado, não pode vir aqui e ficar dançando com as minhas garotas! – falei firme mas ele sorriu.
-"minhas garotas" está se tornando uma ótima chefe – brincou mas senti o elogio em sua voz.
Mesmo assim, cruzei os braços e bufei. – e eu não posso me divertir? Hoje é minha despedida de solteiro sabia? – ele disse e meu coração apertou. Despedida de solteiro? As duas ultimas semanas passaram tão rápido que eu nem tinha percebido.
-Então por que você não junta seus amigos e vão para algum lugar? – falei tentando disfarçar.
-Eu preferi vir aqui ver você – respondeu, eu corei, eu sempre corava perto dele.
-Mas não pode ficar com as minhas garotas. – eu respondi tentando novamente disfarçar.
-Ah por que não? – ele segurou minha mão e me puxou para mais perto – aquela loira até que é gostosa.
-Muita areia para você. – acho que era ao contrário. 
Ele pensou por um segundo.
-E aquela? Dizem que ruivas são selvagens. – ele apontou para uma garota ruiva que estava dançando.
-Não combinam. – falei ríspida fingindo não me importar
-E a morena? Tenho preferencia por loiras mas uma morena seria legal. – ele deu risada me vendo ficar cada vez mais brava.
-Não, Jared! – falei dando um tapa em seu braço, por que ele tinha que ser tão idiota? – nenhuma dessas garotas! Todas as minhas garotas terão ordens para ficar longe de você. 
Ele juntou as sobrancelhas fazendo uma expressão confusa.
-Por que não?
-Porque... Porque não! – falei sentindo as bochechas queimarem. Ele ficou me olhando com os olhos azuis profundos quase me fazendo ter um ataque.
-Mas tem que haver um motivo! – ele insistiu ficando mais próximo de mim, logo minha respiração ficou mais pesada.
-Você vai se casar – falei tentando usar aquilo como desculpa.
-Não me convenceu. – ele disse – mas acho que vou atrás daquela loira, ela parecia ser bem divertida. – falou debochado e tentou se afastar indo em direção a ela. Eu fiquei tão irada com ele, com tudo. Ele queria um motivo? Pois bem!
Segurei seu pulso com força e o puxei de volta pra mim e o beijei com força. Não demorou nada até que ele me retribuísse o beijo, segurando-me com cuidado por causa da minha barriga que jesus, estava enorme.
E enquanto nós nos beijávamos tudo que eu sentia era meu coração bater acelerado, e minha cabeça girar em torno de pensamentos confusos e complicados. Eu o amava, e provavelmente o amaria a vida toda mas parecia que não tínhamos nascidos para ficar juntos.
Eu queria saber o que se passava na mente dele.
Eu queria saber o que se passava no coração dele.
Fomos finalizando o beijo com selinhos, eu respirava forte, meu peito subindo e descendo rapidamente como se ele tivesse sugado de mim a minha alma.
Nós nos olhamos durante alguns segundos nos perguntando o que era aquilo, sem ter mais estrutura para ficar ali, dei a volta e corri para o meu escritório onde eu encontrei Lila e Marina conversando, assim que entrei as duas arregalaram os olhos.
-O que foi? – perguntei sentindo um clima estranho.
-Nada! – Lila disse rapidamente – mas o que aconteceu com você? Está pálida.
Eu não queria falar nada para elas.
-Nada. – respondi também ironizando a resposta que elas também me deram.
Eu conhecia minhas amigas muito bem para saber que o “nada" delas significava muitas coisas.
Nós três ficamos caladas, em um silêncio estranho demais até Jared aparecer na porta do escritório
Eu não acredito que ele se atreveu!
Revirei os olhos e bufei. Lila e Marina percebendo o clima deixaram o local imediatamente.
-Você me beija e depois foge! Você diz que quer e depois não quer! Você me ama e depois não ama! – a cada frase ele estava mais perto de mim – agora sou eu que te pergunto, o que está acontecendo aqui?
Molhei os lábios antes de falar. Jesus, como eu queria uma dose de Whisky.
-Me deixa, Jared. – foi o que consegui dizer para desviar de sua pergunta. – você tem que me deixar em paz!
-Eu não consigo! – ele se aproximou mais ainda – não dá, Margot. Eu tento todos os dias, eu vou me casar, você acha que eu quero isso? Te prender? – ele passou a mão no cabelo jogando-o para trás, parecia um tanto desesperado.
-É simples. – falei, ele me olhou como se eu tivesse dado um soco na sua cara.
-Simples? – falou – simples? Eu amo você! Mais do que qualquer coisa, eu amo você! Se você me disser agora para largar tudo, eu largo. Isso é simples para mim, agora deixar você, esquecer você não é nada simples. – ele falou com os olhos avermelhados. Como nós poderíamos nos amar tanto assim? Aliás, esse tipo de amor era seguro? A minha mente me dizia não mas todo o resto do meu corpo dizia um “vamos, lá".
Ele ficou falando disparado, repetindo que me amava. Acho até que estava um pouco bêbado, ele dizia tantas coisas mas eu só conseguia focar no que eu estava sentindo, na incontrolável vontade de beijar ele, de jogar ele naquele sofá vermelho e beijar ele.
Sem conseguir mais resistir ao que o meu corpo queria, o puxei novamente para perto de mim e o beijei, o que ele fez rapidamente também. Voltamos a nos beijar como se dependêssemos daquilo, daquele beijo, daquele desejo, daquele amor proibido.
Logo estávamos no sofá nos beijando. Eu queria mais, queria fazer amor com ele ali, ah quanto tempo não fazíamos isso?
-Para... – falei recobrando um pouco dos sentidos. – eu ainda não sei o que é isso.
-Eu sei. – ele falou.
-Eu espero que eu descubra cedo. – falei. – é muito complicado.
-Por que? – perguntou me apertando contra si – nós nos amamos. – sussurrou em meu ouvido.
-Mas somos uma bagunça juntos. – disse e realmente éramos. Sabe aquela história de pessoas que nasceram para se amar mas não para ficarem juntos? Era o que eu sentia. Éramos tudo, menos o par perfeito.
Ele colocou meu cabelo para trás e passou a ponta da língua nos lábios tentando entender o que aquilo significava. Mesmo não entendendo, ele tinha que concordar comigo. Nós sempre achávamos um jeito de nos ferir. Que coisa mais ridícula! As coisas deveriam ser mais fáceis mas por mais que eu quisesse acreditar que fomos destinados, tudo em meu corpo dizia que isso era apenas uma ilusão.
-Margot o leilão vai come... – Cara, que estava me ajudando entrou no escritório como um foguete mas após nos se ver parou e sorriu de lado. – ah, você já fez o seu lance. – ela ergueu as sobrancelhas.
-Jared acho melhor descermos – falei me levantando e arrumando meu vestido. – fique quieta. – disse para Cara que que matinha o olhar sarcástico no rosto. Ela balançou os ombros.
-Eu não disse nada. – respondeu. – seu safado – eu ouvi ela sussurrar para ele assim que passamos por ela, não pude deixar de sorrir.
Nós descemos e eu como presidente da agência fiquei responsável pelo leilão, naquela noite arrecadamos mais de trinta mil dólares, é uma quantia alta considerando que estávamos começando.
Jared ficou até o final da festa, dizendo que queria checar se eu estava bem ou se eu estava subestimando a minha gravidez. Mas eu sabia que ele queria apenas um motivo para ficar perto.
-Você precisa descansar. – ele falou assim que peguei a vassoura. – amanhã, ou daqui a algumas horas eu mando um grupo de pessoas para limpar esse lugar.
Eu olhei para ele.
-Não é necessário.
-É, sim, Margot, você não pode se esforçar tanto assim.
Eu respirei fundo e acabei concordando com ele.
-Amanhã você estará muito ocupado se casando. – falei afim de cutuca-lo, e consegui já que seu semblante caiu.
-Vamos, Margot. – ele falou. Acabamos seguindo para a mansão e já era quase quatro horas da manhã, acabei dormindo no carro.
Mas em casa eu não consegui dormir, rolava de um lado para o outro na cama. Ele se casaria dali a algumas horas e eu não conseguia fazer nada. Jared não parecia ser o cara que se casava com a garota errada. Ele não parecia ser o cara que cedia a pressão alheia. Mas infelizmente, nem tudo é o que parece.
Eu rodei de um lado para o outro o restante da noite pensando em como as coisas seriam dali para frente, estava super empolgada pela minha agência mas pensar em Jared me desanimava.
Por volta das sete horas todos já estavam acordados ocupados com o casamento, corriam de um lado para o outro, tomei um café da manhã rápido porque queria ficar o mais longe possível de toda aquela farsa. Peguei minhas coisas e fui direto para a agência que ficava a menos de quarenta e cinco minutos da casa dele.
-Esse vai ser o sistema que vocês irão usar – disse Jonathan, o garoto que contratei para montar um sistema virtual para que possamos usar na agência, e um site para que clientes possam ter mais acessibilidade à nossa agência. Ele estava explicando todos os detalhes e eu estava no mundo da lua. Como será que ele estava?
Arrumado? Empolgado? Nervoso?
Será que ele estava realmente certo disso?
Ah Jared! Como eu queria que a gente nunca tivesse jogado, olha a bagunça que nós fizemos.
-Margot? – Lila disse me trazendo de volta – acorda, precisamos designar as funções e como você disse que faria isso estamos esperando.
Bom, eu não passei a noite em claro pensando em Jared, óbvio. Usei meu tempo de insônia e ansiedade para poder designar as funções das minhas amigas de acordo com o que eu conhecia delas.
-Ah claro! Lizzy, você será responsável pela contratação e treinamento, Lila ficará responsável pela contabilidade da empresa e você, Marina Diamonds, irá ser minha vice diretora já que você sempre foi minha vice em tudo na vida. – eu falei sem conter um sorriso no rosto, ela arregalou os olhos e agarrou meu pescoço em um abraço, extremamente feliz. Lizzy comemorou comigo mas percebi quando Lila torceu o nariz.
De qualquer forma, Marina era a pessoa certa. Focada, inteligente, rígida, leal, era a pessoa certa. O que nos faltava eram os estudos mais aprofundados no que iríamos fazer na empresa mas cada uma tratou de se especializar mais em sua área.
-Precisamos agora ver todos os documentos que eu separei... – comecei a mexer na minha mesa cheia de papéis procurando pela minha pasta. – Ué, devo ter deixado em casa. – falei decepcionada comigo mesma. Estava realmente com a cabeça no planeta chamado Jared. – São documentos importantes; eu irei busca-los. Volto dentro de uma hora.
Falei saindo em voltando para casa de Jared, ela estava já vazia, todos tinham ido para igreja ou sei lá o que, como fui tirada da minha posição de madrinha eu não tinha ideia do que estava acontecendo no casamento. Subi direto no meu quarto e achei minha pasta esquecida em cima da cama, depois saí rápido para voltar mas acabei trombando com Jared na sala sentado, pensativo. Ele pareceu surpreso ao me ver, pois arregalou os olhos e paralisou.
Ele estava bonito. Um terno preto com detalhes prata.
E tinha um perfume bom.
-Achei que estava na igreja. – falei.
-Eu... eu esqueci uma coisa. – ele disse ficando de pé e colocando a mão no bolso. Estava nervoso. Preocupado.
-Ah – foi o que meu cérebro permitiu dizer.
Ficamos em silêncio por um longo segundo.
-Então eu já vou... – falei tentando quebrar aquela esquisitice – eu só vim buscar os documentos que você me ajudou a montar.
E saí andando em direção a porta mas antes que eu pudesse cruza-la, ouvi sua voz.
-Você se arrepende? – perguntou, não entendi o quê ele quis dizer e me virei para ele 
-Do que? – perguntei.
Ele lambeu os lábios rapidamente.
-De ter me conhecido. – disse. Eu fiquei quieta enquanto todas as coisas erradas e ruins que eu fiz passaram pela minha cabeça.  Ele não estava no meio delas, com certeza não estaria entre os meus arrependimentos. Depois que eu o conheci, me senti mais humana. Eu me senti alguém que não passava horas sedenta para vestir um Valentino e ser a garota mais bonita da noite, simplesmente porque eu precisava tapar meu buraco, preencher meu vazio. Depois dele, eu me senti mais forte, mais mulher, depois dele eu não me importava mais se meu cabelo era perfeito, ou se eu estava perfeita, eu só queria se sentir da forma que ele me fazia sentir: feliz. Depois dele eu fui feliz.
-Eu me arrependo de muitas coisas, mas por que está perguntando isso? – perguntei sentindo um arrepio. Ele suspirou.
-Você se arrepende de ter se apaixonado por mim? – então ele deu passos mais firmes e se aproximou de mim com os olhos parecendo chamas. Eu paralisei e engoli em seco. Congelei, mas não iria mentir, não podia mais sustentar uma mentira.
-Eu me arrependo de diversas coisas que eu fiz – tornei a dizer – mas não de me apaixonar por você. Pode ter sido um erro, mas eu não me arrependo de ter me apaixonado. – falei e senti o coração acelerar a cada palavra que eu dizia.
-Margot... – sua expressão mudou, ele tentou me interferir mais eu coloquei a ponta dos dedos em seus lábios.
-Eu descobri que eu não queria ser a melhor, queria ser amada. Eu não queria ser desejada por todos, queria apenas alguém. Te amar foi como redescobrir como viver, foi como acordar de uma ilusão de vida que eu criei acreditando que eu era feliz. Eu não era! E mesmo que hoje você não possa ser meu, eu não me arrependo porque você foi a única pessoa que me fez se sentir viva em muito tempo.
Eu não percebi que estava chorando até sentir uma lágrima escorrer pela minha bochecha, eu estava tentando buscar todas as palavras certas para descrever o que eu estava sentindo por ele. O que significou estar do lado dele todo esse tempo. Já fazia quase um ano que estávamos juntos e eu levei tanto tempo para entender que tudo o que eu queria era ser feliz.
Eu não era.
Eu era vazia.
Eu era vazia até ele aparecer com esse sorriso e olhos azuis. Até ele inventar de me chamar de sua e dizer que me amava. Até ele roubar meu coração que eu nunca tinha entregado de fato a ninguém.
Ele ficou quieto por alguns segundos. 
-Eu não sei se fico feliz ou mais triste em ouvir isso. Honestamente, eu queria que você dissesse que me odeia. Que tem nojo de mim. Seria mais fácil. – ele falou.
Também seria mais fácil para mim se eu o odiasse mas eu não conseguia.
-Eu deveria pedir para você ficar comigo – falei – nós temos um bebê. – essa ultima frase saiu entrecortada em meio a um suspiro que impediu que eu desmoronasse em lagrimas.
Ele juntou as sobrancelhas e franziu os lábios. 
-Se você pedir eu fico, por você, pelo nosso bebê. – ele falou me abraçando com força depois. segurou meu rosto com as duas mãos e me beijou com força, nosso beijo foi sendo molhado pelas lágrimas que já escorriam com mais forças pelos meus olhos.
-Não! – falei nos separando – nós precisamos acabar com isso. Nosso destino não é ficarmos juntos.
-Que se dane isso, Margot. Quem decide o que vamos fazer somos nós. Eu não posso deixar o destino, o universo, deuses, demônios, qualquer idiota me fazer viver longe da mulher que eu amo! – ele parecia estar ficando mais irado. Eu tinha que acabar com aquilo ali logo.
-Jared, nós não podemos ficar juntos. Acabou de vez. – falei – vá viver sua vida enquanto eu a minha. – me aproximei dele e coloquei a mão em seu rosto – por favor.
-Não Mag... – falou com os olhos marejados e segurando minha mão – Não me deixe.
Eu acho que pude ouvir meu coração quebrar ao ouvi-lo falar daquela forma. Eu não queria mas era necessário. 
-Adeus, Jared. – disse soltando sua mão e lutando contra todo o meu corpo para me retirar dali. Saí sem olhar para trás, arrasada, devastada, com o coração tão apertado que achei que iria explodir. A duas quadra dali parei meu carro no encostamento para poder chorar escondida. Parecia que algo estava sendo arrancado de mim com tanta força que eu mal conseguia respirar. Mas eu não podia voltar atrás, estava feito.
Depois de 10 minutos chorando, limpei as lágrimas e dirigi para a minha agência onde iria focar todos os meus objetivos. Passei pela recepção... teríamos que contratar uma recepcionista, fui direto ao meu escritório, a porta estava meio aberta enquanto pude ouvir as meninas conversando e algo me chamou a atenção, fiquei parada escutando enquanto elas falavam.
-Quem diria que a raiva da Margot iria resultar nisso – disse Lila – Angelina deve estar se corroendo. – Eu sorri, tinha que concordar com ela. Iria entrar mas o que Marina disse me instigou a continuar ali.
-Bom pelo menos ela está bem – falou – e por favor, Lila, mantenha sua boca fechada, não precisamos que a Mag relembre daquele inferno que ela passou.
Lila riu debochada.
-Ah, mas eu acho que isso faria ela investir muito mais. – disse. Do que elas estavam falando?
-Você ficou maluca? Acha que dinheiro algum compensa isso? Ela não precisa passar por isso novamente, então esquece isso.
Que droga. Será que elas não poderiam dizer o que estava acontecendo?
-Do que vocês estão falando? – perguntou Lizzy, finalmente.
-Você não acha que se a Margot descobrir que foi a Angelina e o Daniel que contratou aquele cara para estuprar ela, ela não os odiaria ainda mais? Isso faria ela querer crescer mais para derrubar eles.
Ela falou com tanta calma e naturalidade como se estivesse falando de uma coisa banal. Eu devo ter congelado ali também por alguns segundos digerindo aquilo. As pessoas que um dia eu mais admirei tinham mandando um homem me estuprar simplesmente para poder lucrar em cima de mim, simplesmente para eu aceitar ser um acompanhante. Acho que minha cabeça rodou um pouco.

A acompanhante (CONCLUÍDA) Onde histórias criam vida. Descubra agora