Now or Never

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“Eu preciso de você comigo porque não tem ninguém aqui

-Você? – foi a única coisa que consegui dizer com uma voz falhada, que saiu como um sussurro.
Ela sorriu, e eu não sabia o que aquele sorriso significava.
-Por que está tão surpresa? – ela perguntou com aquela voz forte.
-Por quê? – perguntei ainda petrificada, a arma que estava em minhas mãos tremia junto com todo o meu corpo. Seus olhos percorreram meu braço e pararam nela, e os azuis claros tornaram-se escuros.
-Largue a arma! – ela disse ainda forçando o cano da sua na testa de Hannah e rapidamente eu larguei.
-Ok! Ok! Só não machuque ela – supliquei, e ela sorriu novamente convencida.
Tudo rodava ao meu redor, nada fazia o menor sentido ali. Eu estava perdida, confusa, nada fazia a droga de sentindo nenhum!
E meu corpo finalmente se lembrando como fazer movimentos, eu dei o primeiro passo para dentro do quarto me aproximando delas. Donna balançava Hannah com cuidado, com carinho, mas ainda mantinha a arma em sua testa.
-Ela é linda, não é? – ela falou – ela me lembra tanto você, apesar dos cabelos escuros, e fisicamente lembrar mais o Jared, vocês tem a mesma personalidade. – ela dizia como se estivesse contando uma história a uma criança – ela é inquieta, curiosa, mandona, observadora e fala bastante, justamente igual você na idade dela.
-O que? – eu balbuciei, tinha medo de que qualquer movimento meu a fizesse machucar Hannah, então ela ergueu os olhos para mim sorrindo sem mostrar os dentes. – Como você sabe  disso?
-Ora, você não espera que uma mãe se esqueça assim tão fácil de uma filha, não é? – ela sorriu novamente – Mag, eu cuidei de você na infância.
Se tudo estava girando antes, então agora tudo havia parado e estava em câmera lentas, as palavras dela estava em câmera lenta. Perdi a força em minhas pernas e meus joelhos falharam, caí sobre eles tentando respirar fundo, tentando processar aquilo. Eu não pensava em minha mãe ah anos, ela simplesmente havia sumido depois de me entregar para aquele idiota, e então de repente ela estava ali segurando minhas filhas no colo, com um olhar, aquele olhar que me assustava desde que eu era criança, eu me senti uma criança! Eu senti como se a qualquer momento ela fosse me pegar pelo braço e me jogar no quarto novamente, me deixando de castigo durante um dia inteiro, sem comer, sem sair, sem assistir televisão.
-Não faça essa cara para mim! Sabe que eu sempre odiei que você me olhasse desse jeito! – ela ralhou comigo, exatamente como ah anos atrás.
-O que você quer com minha filha? – perguntei com a voz falhada, segurando meu peito como se ele fosse realmente explodir.
-Uma vó não pode estar com sua neta? – ela perguntou rindo, sua risada ecoou por todo o cômodo.
-Você não é vó dela! – eu falei entredentes, recuperando minhas forças. O seu rosto escureceu, ela se levantou e colocou Hannah na pequena caminha, e ela nem se moveu direito. Tive até medo de que ela estivesse morta, mas ela não tinha nenhum arranhão o que me confortou. Eu estava tão atenta em Hannah que só percebi o tapa que ganhei quando me apoiei na cômoda branca.
-E você não grite com sua mãe – mas eu não havia gritado. – Bom, acho que devemos deixar algumas coisas claras aqui já que presumo que você chegou até mim por causa daquele imprestável do Gary, ele sempre foi um babaca.
Ela falava com desdém enquanto caminhava até minha arma que deixei caída no chão. Jogou a franja dourada que pendia sobre seu olho direito para trás, e suspirou olhando para mim novamente – Você ficou muito bem de vida, Margot, muito bem. E quando eu descobri onde você estava, como estava e com quem estava é claro que eu tinha que ver com meus próprios olhos minha filhinha linda, bem sucedida e minha pequena Hannah, herdeira de tudo isso.
Ela andava de um lado para o outro, me irritando, me deixando enjoada.
-Mas você não tem mais os mesmo olhinhos assustados, não é? – ela perguntou sorrindo.
-E por isso você se aproximou de Constance, por isso fingiu ser amiga dela, para se aproximar de mim, não é?
Ela bateu palmas.
-Você herdou o talento da manipulação de mim, não pense que tenha sido de seu pai que hoje você já deve ter uma ideia de quem seja... – Deus, como ela era má!
-Quem era! – eu a corrigi – e eu dei um tiro na testa dele sem pensar duas vezes.
Ela paralisou por alguns segundos depois engoliu em seco, como se fosse demais digerir aquelas palavras.
-Bom, pelo menos ele não vai ficar mais no meu pé atrás de dinheiro já que eu prometi dar a ele uma boa quantia enquanto ele enviava aquelas fotos para o seu marido. – Vagabunda!
-Acho que não temos o mesmo gosto para homens – respondi debochada, e ela fingiu uma risadinha.
-Bom, Margotizinha – disse – é uma pena que esteja aqui, vou ter que matar você aqui mesmo para poder levar Hannah comigo.
Meu coração palpitou desesperado, ainda estava tudo muito confuso e muitas peças não se encaixavam ali. Eu não sabia se iria conseguir salvar minha filha, eu não sabia se conseguiria me salvar e tudo piorou quando Roy adentrou o cômodo com Bradley na mira de sua arma.
-Esse espertinho estava lá em baixo. – ele disse empurrando-o para dentro do quarto, seu nariz estava sangrando sinal de que esteve brigando. Donna abriu um sorriso largo e olhou para mim.
-Acho que temos o mesmo gosto para homens – respondeu voltando sua atenção para Brad.
-Não, não temos! – falei fitando meus olhos nela, eu queria poder voar no pescoço dela mas alguma coisa na minha mente me fazia se sentir como aquela mesma criança que ela abandonou.
Ela riu. Sua risada malvada e despreocupada ecoou pelo cômodo, Hannah se remexeu na cama, como eu queria ao menos poder abraça-la mas qualquer movimento que eu fizesse aquele Roy viria para cima de mim.
-Margareth eu vim o mais rápido que pude! – ouvimos uma voz soar pelo corredor e como ela soou conhecida nos meus ouvidos, Bradley balançou a cabeça igualmente quando um cachorro escuta a voz de seu dono, seus olhos vidrados na porta e de repente outro choque, quase como se eu tivesse levado um tapa. Angelina apareceu na porta, não glamorosa e esplêndida como sempre mas com o cabelo longo e escuro preso em um rabo de cavalo, uma calça jeans e regata, nos pés nada de Loubotin como sempre usava, mas uma bota suja de lama de quem esteve andando em lugares assim.
Os olhos claros pararam em mim e seus lábios carnudos tremeram, quase pude ouvir o coração dela bater mais alto. Depois de um momento assim, ela tirou os olhos de mim para coloca-los em Bradley que estava paralisado, a encarando como se visse o amor da sua vida.
-Jane? – ele disse e ela estremeceu. – eu sabia que você estava por trás disso! Mas por que? Por que sequestrar uma criança? Por que se arriscar tanto se podíamos conseguir dinheiro de outra forma?
Ele se aproximou dela e eu vi seu peito descer e subir enquanto a minha cabeça dava voltas. Jane? Ela não era Jane! Era Angelina Jolie, a mulher que um dia eu quis ser. Então entendi o porquê daqueles olhos apavorados, ela vinha ah anos mantendo um disfarce para Bradley, um disfarce que iria por água a baixo assim que eu decidi abrir minha boca numa risada fraca e debochada.
-Jane? – eu falei – não tinha um nome melhor? – perguntei a irritando, ela bateu os olhos rapidamente e se afastou de Bradley.
Eu me coloquei de pé.
-Ora Angelina! Agora tudo faz sentido – falei me sentindo fraca e pequena diante deles, finalmente as peças se encaixando ainda faltavam algumas mas eu logo iria monta-las, mas ali, olhando para ela eu entendi, entendi exatamente tudo o que estava acontecendo!
Ela rapidamente se aproximou de mim e acertou meu rosto com um tapa, que ardeu mas quando fui fazer o mesmo ela mirou a arma na minha cara.
-Finalmente nos reencontramos, não é, Carmen?
A arma não me assustava mas eu engoli em seco.
-Chega de conversa! – Margareth, Donna, mamãe, eu não sabia como chama-la, disse alto mas eu ainda precisava entender – precisamos andar logo.
-Andar logo? O que você quer dizer? – eu falei ficando assustada, e ela deu aquela risadinha novamente.
-Bom, acho que tenho tempinho para que ao menos você saiba o que aconteceu aqui. – ela começou – você, sua vagabundinha nojenta, depois que eu larguei você com aquele imprestável do Gary, Louis não quis mais estar comigo! Ou seja, ele estava comigo por sua causa sua imprestável, eu fui atrás de você para te trazer para casa mas você tinha desaparecido, sumido, fugido de Gary – ela começou a falar como se fosse uma historinha para alguma criança dormir – eu procurei você por anos, mas você simplesmente desapareceu!
-E então eu apareci – Angelina disse com um sorriso orgulhoso nos lábios – você destruiu tudo na minha vida, Margot, acabou com minha agencia, roubou meus clientes e minhas garotas! Tudo! – ela rosnou – até mesmo ele você conseguiu!
Eu ri.
-Parece que eu finalmente superei você – falei e recebi um belo soco por causa disso.
-Mas aprendi uma coisa, a vingança leva tempo e você, Magzinha, havia tantos buracos na sua vida para eu começar a cavar. Começamos pelo ex namorado sexy e gangster que estava preso em nova York por trafico de drogas – ela olhou para Bradley que parecia descrente no que estava ouvindo.
-Está nos dizendo que todo esse tempo você me usou para chegar até ela? – ele perguntou cerrando os punhos e ela respondeu um com um sorriso cínico que eu quis arrancar de seu rosto aos socos.
-Pois é, gatinho, de alguma forma eu tinha que chegar até ela e você veio bem a calhar – outro sorriso – depois eu descobri que Margareth, uma mãe inconsolável estava a procura de sua filha e ponto pra nós duas! Juntas conseguiríamos conseguir o que queríamos, ela o seu dinheiro e eu a sua destruição. E foi tão simples, eu apenas joguei o seu ex namoradinho para você ficar toda perdida, pobre Jared, sendo deixado por um garoto.
As duas riram novamente fazendo meus ouvidos doerem por ter que ouvir aquela história, enquanto Brad se sentia usado, humilhado e era explicito em seu rosto aquilo.
-É claro que eu mandei o idiota do Gary atrás de você mas o inútil acabou sendo morto – Margareth disse com voz tediosa – então eu tive que recorrer ao último recurso que foi pegar a pequena Hannah.
Ela se aproximou em passos lentos até mim segurando meu rosto com apenas uma mão me fazendo se sentir pequena, diminuída na presença dela.
-Eu vou levar ela embora, ela vai se tornar uma prostituta mirim igual você e depois que você e Jared sofrerem um trágico acidente e acabarem mortos, eu vou ficar com todo o dinheiro, vou ser a vozinha preocupada com o bem estar da minha neta!
Meus olhos quase saltaram para fora ao ouvir aquilo, eu não podia deixar aquilo acontecer, não podia deixar que minha filha tivesse a mesma vida degradante que eu tive, os mesmos demônios.
Segurei o pulso dela com força apertando-a, ela abriu a boca para dizer algo mas engoliu em seco, seus olhos podiam me mostrar que eu realmente estava machucando-a mas Angelina me acertou com a arma, depois novamente e eu caí, tudo girou antes de eu finalmente apagar e sussurrar um “deixem minha filha”.
-Mag! Mag! – ouvi uma voz distante desesperada me chamar – Mag, acorda!
Pisquei algumas vezes antes de finalmente abrir os olhos, que arderam ao fazer contato direto com a luz sobre mim, a voz inquieta que me acordara era de Bradley.
-Vamos, a gente precisa ir agora! – ele disse me balançando e me sentando.
-O que aconteceu? – balbuciei colocando a mão na cabeça onde doía e sangrava, Angelina realmente tinha me acertado.
-Elas saíram, aliás, eu ouvi o carro saindo. – ele falou – mas tem gente na casa, eu vi pela janela e Margareth saiu deixando Angelina e Roy aqui, com Hannah! A nossa chance é essa de levar Hannah embora antes que ela volte.
Ele disparou andando para lá e para cá, indo até a porta e voltando. Eu me levantei ainda cambaleando, tentando me equilibrar e tudo demorou um pouco para ficar normal na minha visão. Bradley olhou em volta.
-Precisamos de alguma coisa forte – ele disse.
-Como o que? – perguntei.
-Como uma madeira.
-Eu acho que já sei! – falei olhando para a cadeira nossa frente, era feita de madeira e tinha pernas fortes e grossas. Andei até a cadeira e olhei sugestiva para ele que entendeu o que eu quis dizer.
-Acho que serve! – ele falou – agora precisamos chamar atenção deles.
Ele se posicionou atrás da porta com a cadeira em suas mãos, enquanto eu peguei um abajur em cima da cômoda e o lancei contra a janela quebrando os vidros em pedacinhos, fazendo o barulho desejado, Brad e eu esperamos por alguns minutos mas nada aconteceu.
Nós bufamos.
Então arrastei a cômoda pelo chão do quarto novamente fazendo barulho e finalmente conseguimos o que queríamos.
-Hey! O que estão fazendo? – Roy disse, ou gritou batendo na porta mas ficamos quieto – Me respondam! – ordenou com a voz forte, Bradley e eu tivemos que segurar a risada.
Então finalmente ele abriu a porta e tudo aconteceu muito rápido, ele me olhou no fundo do quarto e então Bradley acertou suas costas com a cadeira, ele caiu fazendo um barulho alto e então ainda não satisfeito Brad o acertou novamente para ter certeza de que ele ficaria dormindo por um tempo.
-Pega a arma dele – eu sussurrei e foi isso o que ele fez, nós saímos do quarto e o trancamos lá dentro. Andamos em passos leves pelo corredor em direção a escada.
-Roy? – Angelina chamou – Cadê você?
-Está dormindo – Bradley sussurrou debochando. – vá procurar Hannah, eu lido com ela! – ele ordenou mas eu estremeci, tive medo. Eu não podia deixar ele a só com Angelina, não podia deixar que ele caísse em seus encantos senão eu estaria sozinha. E se ele me traísse? Se ele a ajudasse concluir seu plano psicopata?
-Não! – eu disse – procure-a para mim, Brad! Eu mesma vou cuidar de Angelina.
Falei sem ter muita certeza se deveria mesmo deixa-lo ir atrás de Hannah mas não tinha muitas opções, ele negou mas eu insisti que fosse e como um animal que está prestes a ir para o abatedouro eu segui escada abaixo, por onde ouvia-se a voz de Angelina.
E como uma suicida, louca, paranoica, eu segui a voz dela até encontra-la na cozinha, os olhos claros saltaram em surpresa ao me ver ali em pé diante dela, sem medo algum, apenas a olhando aguardando seu primeiro movimento que eu sabia que ela iria fazer.
-Onde está o Roy? – ela perguntou com fúria na voz.
-Está dormindo – respondi dando alguns passos até ela que permanecia parada – eu acho que está na hora de eu e você resolvermos as coisas, não é?
Ela empinou o nariz, visualmente não era mais a Angelina que eu conhecera mas ela ainda estava ali dentro, a mesma mulher arrogante e presunçosa.
-Cadê minha filha? – perguntei a encarando.
-Nós vamos leva-la! – ela afirmou e só podia estar fora de si se achava que eu iria permitir isso.
E tudo aconteceu rápido demais, eu acertei seu rosto em um soco que a fez se debruçar mas não cair, ela me devolveu outro com um pouco mais de força pois foi preciso eu me apoiar na geladeira ao nosso lado. Assim que me equilibrei novamente e virei para ela, gritei. A dor passou por todo o meu corpo como se fosse um raio que me atingira, da nuca até meus pés. Ela havia enfiado uma faca em meu ombro e doía como o inferno aquilo, minhas mãos tremiam mas mesmo assim reunindo uma coragem totalmente desconhecida segurei o cabo da faca sem ter certeza se deveria ou não arrancar, enquanto ela me olhava feliz consigo mesma por ter me acertado.
-Sua vagabunda! – ela rosnou e me atingiu novamente com outro soco enquanto eu tentava arrancar a faca dali, o que se tornou quase impossível pois a dor era alucinante, me impedindo até mesmo de raciocinar o que foi suficiente para ela me acertar no rosto uma, duas, três vezes. Apesar de ser magra, ela era extremamente forte e ágil. Sem conseguir mexer um dos braços, eu estava em desvantagem ali.
Meus olhos se encheram de lágrimas por causa dos socos que levei, e pela humilhação mas eu tinha que manter aquela vaca ali comigo! Finalmente, talvez por causa da raiva puxei a faca de meu ombro que saiu junto com um grito de minha garganta, a joguei no chão cambaleando, estava difícil até para respirar, a faca caiu manchando o chão de sangue enquanto meu omrbo parecia uma cachoeira vermelha. Ela se aproximou de mim novamente, mas dessa vez eu a acertei com um soco que a fez se debruçar então meu joelho logo encontrou sua barriga, mas ela se pôs ereta novamente puxando-me pela blusa e me empurrando de encontro a parede.
-Você acha que é mais forte do que eu? Eu criei você, Margot! Eu! Você é uma versão ridícula de mim.
Gritou antes de apertar meu ombro machucado me roubando um grito ensurdecedor. Lágrimas desceram pelo meu rosto por conta da dor alucinante que senti quando ela o apertou com mais força. Eu não tinha força mais, toda minha força havia sumido dando lugar a dor que percorria meu corpo. Ela me deu outro soco que me fez debruçar-se, e novamente outro, segurou meu cabelo por trás da minha cabeça e me empurrou até a pia, batendo minha cabeça contra o mármore, o que me fez ficar zonza, rapidamente letárgica, caí sobre seus pés como uma perdedora, mas ali, naquela hora para mim não importava perder ou ganhar, eu só queria levar Hannah embora.
Ela subiu em cima de mim colocando suas pernas uma de cada lado de meu corpo.
-Você acha que pode me vencer? – perguntou retoricamente – olha só para você, mal pode salvar a si mesma!
Riu.
Eu tentei falar mas estava muito fraca.
-Eu tenho pena de você, Margot, e até que valeu a pena esperar todo esse tempo para te ver assim tão submissa a mim, tão abaixo de mim, ninguém teria prazer melhor do que eu. – ela continuava falando enquanto eu olhava-a em cima de mim, a vista embaçada e meu olho direito já não conseguia enxergar mais nada como se eu tivesse perdido a visão, de repente sua voz foi ficando mais baixa pensei que ela estivesse sussurrando mas então compreendi, eu que não estava escutando-a muito bem com o ouvido direito.
-Olha só, tão fácil matar você! – falou novamente – tão...
Ela parou de falar, nós ouvimos um barulho, era a porta se abrindo. Com a agilidade de um gato ela se levantou e correu para fora da cozinha, e tentei me levantar na mesma velocidade. Nós fomos até a sala e então Bradley estava com Hannah em seu colo, pronto para sair daquela casa dos horrores, foi quando Angelina gritou.
-Não! – gritou alto – Não vai levar ela! Roy! – gritou desesperada.
Bradley ao me ver arregalou os olhos, sua expressão estava tão assustada que eu mal conseguia imaginar como eu estava ali mas o que me preocupou foi o fato de Hannah ainda estar dormindo.
-Vai! – falei mesmo fraca – vai agora!
-Não vou deixar você – ele disse
Angelina tentou se aproximar dela, mas segurei o rabo de cavalo dela puxando-a para trás.
-Vai agora, Bradley, leva minha filha com você. Por favor, salva ela. – implorei em lágrimas, eu não me importava em morrer, apenas que Hannah estivesse salva e foi isso que ele fez, mesmo com aquela expressão triste e furiosa, mesmo com os olhos ardendo em raiva foi isso que ele fez saindo porta a fora enquanto eu e Angelina nos atacamos novamente em uma luta que parecia que não teria fim, a acertei diversas vezes no rosto com meu braço bom enquanto ela me acertou diversas vezes com seus dois braços bons, caímos sobre a mesa da sala quebrando-a toda exatamente como na ultima vez e que brigamos, mas dessa vez a briga estava mais séria.
-Dessa vez eu não vou errar! – falou firme erguendo um caco de vidro em sua mão mas eu me desviei e a chutei na barriga para longe de mim, ela caiu e se cortou com o vidro. Me levantei e enquanto ela tentava se levantar eu a chutei no rosto o que a fez cair novamente. E era o momento perfeito para fugir, e eu ia, mas fui tomada por um ódio, uma fúria que subiu pelo meu corpo e tudo que eu quis foi acabar com aquela vaca naquela hora mesmo que meu ombro ainda doesse, segurei seu cabelo e bati sua cabeça contra o chão a fazendo gritar de dor.
E em seguida ela riu.
-Pode fazer o que quiser comigo, Margot! Não sou só eu que quero sua destruição. – rosnou.
-Eu acabo com a vagabunda da Donna também – afirmei enquanto segurava sua cabeça, apertei seu maxilar – eu acabo com qualquer um de vocês sozinha, podem se enfileirar!
Falei convicta de que podiam todos estar contra mim, mas eu ainda assim acabaria com qualquer um deles porque eu era a porra da Rainha! Eu sou a protagonista da minha história e ela iria pagar por colocar as mãozinhas nojentas na minha filha. Bati novamente sua cabeça contra o chão só pelo prazer de ver ela sangrar, e implorar para que eu a deixasse mas ela não fez, claro que não faria.
-Você vai acabar matando toda sua família – ela sorriu, os dentes perfeitamente brancos dessa vez manchados de sangue.
-O que você quer dizer? – perguntei sem ter certeza se ela estava só soltando seus venenos ou queria realmente dizer algo que preste.
-Sua irmãzinha – ela riu – sua irmãzinha estava transando com Jared.
E ela explodiu em gargalhadas pela expressão que eu fiz, mas ainda assim mantive minhas mão em seus cabelos.
-Amber? – perguntei e ela sorriu novamente me confirmando.
-É... achou que eu iria tentar te destruir sozinha? Pelo visto, a sua mãezinha é muito mais esperta do que você. Quem você acha que apresentou ela para Bradley dizendo que eles eram “primos” distantes? – gargalhou novamente – eu já disse, você é uma cópia barata minha.
Tudo passou por mim como uma avalanche, de repente não era mais meu ombro que doía mas sim meu corpo todo, minha vida toda estava sendo irreconhecível para mim. Sempre soube que minha mãe estava grávida quando me deixara mas nunca imaginara que ela um dia apareceria na minha vida com minha irmã, e Amber, Amber era uma manipuladora egocêntrica. Aquilo só serviu para que meu ódio aumentasse, aumentasse de uma maneira que eu tinha certeza que me tornaria uma assassina ali mesmo, naquele instante.
Mas a porta rompeu em um barulho e homens fardados entraram na casa com armas em suas mãos, Golan entrou por último bancando o super herói e droga, como eu odiei ter contado para ele onde eu estaria. Angelina sorriu aliviada, porque ela sabia que eu iria matá-la.
-Está tudo bem, agora, Margot. – Golan se aproximou mas eu ainda segurava aquela filha da puta pelos cabelos. – vá ficar com sua filha e nos deixe terminar essa bagunça.
Foi o que ele disse e eu me lembrei de Hannah, me lembrei de Jared como se saísse de um transe. Toda raiva rapidamente se esvaindo dando lugar a preocupação. Hannah! Eu soltei Angelina como se solta um inseto morto e corri porta afora procurando por Brad, ele estava próximo ao Austin.
-Cadê ela? Cadê? – disparei em perguntas gesticulando rápido demais, olhando para todos os lados – Cadê ela?
Gritei.
-Hey, calma! – falou – ela está bem. Quando eu saí toda a polícia já estava aqui em fora, eles levaram ela para um hospital pois acreditam que alguém deu alguma coisa para ela dormir daquela forma, como se ela não pudesse ficar acordada.
-Desgraçados, malditos! Eu vou matar aquela vagabunda. – falei me virando decidida voltar para dentro da casa e atirar na cara de Angelina mas Brad me deteve.
-Não faça isso! – ele me segurou e eu me debati em seus braços.
-Me larga! Eu vou matar eles, todos eles, Angelina, Amber, Margareth, Roy, toda a porra do universo, eu vou matar eles! – gritava, chorava e me debatia em seus braços.
-Não! Você não vai! – ele insistiu gritando também – você vai cuidar de si mesma. Você vai ir ficar com sua filha e seu marido, eles precisam de você agora.
Eu perdi as forças e como se uma explosão tivesse acontecido dentro de mim eu chorei. Caindo de joelhos, tudo era demais para mim, toda aquela situação, toda aquela descoberta, toda a minha família desgraçada que estava querendo me destruir. Eu não fazia o tipo vitimista, eu não era assim mas naquele momento tudo o que passou na minha cabeça foi “Por que eu? Por que eles simplesmente não podiam me amar?”
-Você está sangrando bastante – ele disse e tinha alguma coisa em seu olhar que estava acabando ainda mais comigo. Com força, ele rasgou a manga da própria blusa e improvisou em meu ombro para parar o sangramento. – vem, você está muito machucada precisamos ir para o hospital e você precisa da sua família.
“Sua família” isso me trouxe um pouco de paz. A família com a qual eu nasci podia ser a pior de todas, mas eu ainda tinha a MINHA família. Jared e Hannah eram todo conforto que eu tinha nesse mundo, e apesar de querer tanto me vingar de todos aqueles que me feriram eu também queria na mesma intensidade estar com eles dois. Um pouco desnorteada e fraca eu fui conduzida até uma das quatro viaturas paradas ali, e no momento em que eu estava entrando no carro me arrisquei a olhar para trás, vi Angelina e Roy saído de dentro da casa algemados com as mãos em frente do corpo, eu pude sentir a raiva dela do outro lado da calçada e não me contive em erguer meus pulsos para ela, eu estava livre, eu era livre.
Mas ela não me deixaria vencer, não mesmo. O ódio e a fúria foram notórias quando me viu livre, mesmo algemada ela conseguiu retirar a arma da cintura do policial distraído a sua frente e a mirou para mim, sem pensar apertou o gatilho e eu pude ouvir o disparo contra mim. Eu fechei os olhos e senti um vento, esperando que aquelas balas finalmente atravessassem o meu corpo, e me levassem ao chão. Mas elas não vieram.
Quando abri os olhos, eu esta fechada e protegida nos braços de Bradley, que me escondeu em um abraço virando-se de costas e se colocando a minha frente. Eu ergui os olhos como se tudo se movesse em câmera lenta, os olhos vazios, a boca entreaberta e a força que ele fazia contra o meu corpo logo se esvaiu enquanto ele caia lentamente de joelhos a minha frente.
-Brad... – sussurrei segurando seu braço mas ele já estava de joelhos, e eu também.
O sangue logo fez um poça ao seu redor, saindo de suas costas enquanto ele tossia e mais sangue saia pela sua boca.
Estava difícil raciocinar, difícil fazer alguma coisa. Ele tinha se colocado na frente das balas por mim, ele me abraçou e simplesmente me protegeu. O ar parecia não querer entrar mais no meus pulmões, meus olhos não podiam acreditar no que eu estava vendo: ele morrendo em meus braços.
-Por favor, fica comigo! Alguém me ajude! – gritei sendo rapidamente rodeada por policiais e socorristas, um deles me puxou para trás mas eu não podia solta-lo, não podia deixa-lo.
-Mag... – ele agonizou e segurou minha mão fraco. Eu a apertei com força.
-Não! Não faça isso! – implorei, achei que estivesse chovendo quando água caiu sobre seu rosto se misturando com o sangue que já descia pelo pescoço, mas então percebi que eu estava chorando. – Não diga adeus para mim – implorei enquanto alguém me puxava para longe, mas eu não conseguia solta-lo.
Por fim alguém me empurrou com força e eu o soltei, abriram a camiseta dele e começaram a fazer massagem cardíaca, foi quando eu percebi que eu o estava perdendo.
-Brad! – gritei – Por favor... – implorei ainda ajoelhada tentando me soltar daquelas mãos que me prendiam, o olhar vazio dele, o sangue que ainda escorria por sua boca, eu não podia aceitar! Eu não queria aceitar! Foram três disparos, três balas, e eu queria que uma delas estivesse em mim. O socorrista parou de massageá-lo e olhou para o policial que me segurava.
-O que? Por que você parou? Você precisa salva-lo! Levem ele para o hospital. – eu gritei me debatendo e me soltando, eu mesma comecei a massagear seu corpo mas algo gritava em mim que eu já o tinha perdido, e quando por fim meus braços cansaram, eu só pude cair sobre seu corpo o agarrando em um abraço, o mesmo que ele me dera antes de morrer e chorar, pedindo aos deuses que o me devolvesse, porque eu ainda o amava.

A acompanhante (CONCLUÍDA) Onde histórias criam vida. Descubra agora