“Há ainda razão para te amar mesmo depois pelo que passamos...”
Ele ficou calado olhando para a janela, eu também não queria dizer mais nada porque de certa forma eu sentia como se não tivesse que lhe pedir desculpas mas eu queria que ele falasse comigo ou pelo menos olhasse para mim.
-Você tirou meu filho de mim, quando pretendia mudar isso? – ele perguntou com a voz baixa.
Olhei para ele com meu olho que estava bom.
-Eu não sei. – respondi – eu não sabia o que fazer mas eu não ia deixar você tira-lo de mim como fez com a Hannah.
Então finalmente ele se virou para mim, pensei que ele me olharia com raiva, ódio, qualquer coisa assim mas seus olhos estavam avermelhados, reprimiu o lábio inferior e suspirou.
-Eu preciso sair agora, depois eu volto. – falou rapidamente e simplesmente saiu do meu quarto, de certa forma agradeci por ele te feito isso, por ter saído pois eu queria ficar sozinha. Senti o peito aliviado por finalmente contar para ele, não foi a forma que eu havia escolhido contar mas contei, tirei aquela culpa, medo e peso das minhas costas agora teria que me preparar para o que viesse, e não querendo pensar nisso mais acabei adormecendo, acho que eu precisava disso. Dormir um pouco.
Acordei algum tempo depois com uma dor no pé da barriga, uma dor muito forte mas de princípio não me importei, aliás, era normal sentir dor após tantos chutes que levei. Mas logo as dores começaram a me parecer cólicas, alguma coisa estava errada. De repente senti uma dor aguda, forte e passei a mão por entre minhas pernas após sentir algo quente escorrer por elas, era sangue. Espantada, e completamente nervosa me levantei da cama e percebi que o colchão tinha uma mancha enorme de sangue. A dor continuava, me fez inclinar-se para frente apoiando-me sobre a cama, e mais sangue escorria. Apertei o botão de chamar a enfermeira e logo ela apareceu correndo.
-Margot, o que está acontecendo? – perguntou correndo para me ajudar.
-Eu não sei. – respondi, logo ela constatou todo o sangue e vi em seus olhos o quanto aquilo também a preocupou.
-Chamem a Obstetrícia. – ela gritou indo até a porta e depois voltou, e aquilo só me apavorou mais. Porque eu precisava de uma obstetra? Logo a médica apareceu.
-Margot, preciso que você respire, ok? – falou enquanto começava a me examinar.
Acabou que fui levada para um exame obstétrico e depois novamente para o meu quarto, a médica tentava me distrair falando de algumas coisas enquanto o exame não finalizava por completo mas sua expressão não me enganava, assim que eu estava novamente no meu quarto com colchões limpos ela deu um sorriso, não aqueles sorrisos alegres que diz que está tudo bem, mas aqueles sorrisos empáticos quando algo ruim acontece e alguém quer lhe mostrar solidariedade.
-Margot, - ela suspirou – você sofreu um aborto.
-O que? – falei mas minha voz quase não saiu, tudo dentro de mim parecia ter virado gelo. – É impossível, eu não estava grávida, eu saberia. – continuei com a voz fraca. Ela segurou minha mão.
-Você estava, uma semana e meio. O exame mostrou que há muitos ferimentos internos no colo do útero provavelmente pelas pancadas causadas pela agressão... Enfim, você perdeu o bebê.
Eu acho que fiquei uns três minutos tentando digerir aquilo, olhando para ela sem saber o que dizer. Tudo passou na minha cabeça rapidamente, ah mais ou menos uma semana e meio Jared eu havíamos transado no Jeep, eu perdi nosso filho. A minha cabeça parecia uma montanha russa, ou uma roda gigante, não sei, qualquer coisa parecida com algo que desce e sobe rapidamente com pensamentos, palavras, memorias, culpa.
-Margot? – ela me chamou pois eu aparentemente tinha saído de orbita.
-Uh? – respondi.
-Você entendeu o que eu disse? – perguntou – não foi culpa sua, seu bebê poderia crescer saudável e forte.
Eu balancei a cabeça.
-Então, ele acabou que tirando meu filho de mim? – falei, ele não tirou Nate mas me tirou a oportunidade de ter gerado outra criança, de ter amado mais uma criança. Ela suspirou e apertou mais minha mão.
-Isso não importa, você continua forte e saudável. Pode ter outros filhos futuramente. – falou – quer que a gente chame alguém?
-Não... Não. – falei rapidamente – eu quero estar sozinha.
-Tudo bem. – ela falou, receitou um medicamento para que a enfermeira me desse e logo em seguida saiu. Eu fiquei deitada na cama, sem conseguir dormir, comer, era difícil até mesmo respirar. Eu não queria falar, eu não queria respirar. Eu só fiquei deitada ali pensando quando que iam parar de tirar de mim a minha felicidade?
Eu vi pela janela enquanto Marina e Jared conversavam com a médica, eles não perceberam que eu estava olhando, não conseguia ouvir a conversa mas sabia que ela estava contando a eles o que tinha acontecido, quando me olharam eu só consegui me virar de costas, não queria ter que ter aqueles olhos cheios de pena sobre mim, mas eles tinham mesmo que vir até o meu quarto?
-Oh Mag! – Marina entrou toda chorosa já rapidamente me abraçando – eu sinto muito.
Apenas balancei a cabeça. Não queria falar.
-Como você está? Está dolorida ainda? – ela continuava falando afagando minha cabeça então eu simplesmente comecei a chorar, enterrei meu rosto entre as palmas das minhas mãos para que pelo menos pudesse esconder-me da humilhação. Mas Jared, ele sempre sabia exatamente o que fazer.
Não esperou mais nada para vir até a cama e me abraçar com força, onde eu pude encontrar conforto, ao menos em seus braços eu tinha conforto.
-Margot, eu não sei se é um bom momento agora mas... a polícia gostaria de falar com você. – O medico entrou meio sem jeito no meu quarto com mais dois policiais atrás de si.
Jared me soltou e eu sequei as lagrimas que caiam sobre meu rosto.
-Você está bem? Está em condições de falar?
-Sim. – menti balançando a cabeça, ele sabia que eu não estava mas não quis se opor a mim. Os policiais foram breves, fizeram algumas perguntas, pediram para que eu explicasse a razão de tudo isso e logo foram embora, o medico e a obstetra decidiram que eu devia ir para casa, pois ficar dentro do hospital não iria me ajudar a se recuperar. E Jared insistiu que eu fosse para a mansão com ele pois assim ele cuidaria bem melhor de mim, eu não queria dizer mais nada só concordei com aceno de cabeça o que estava deixando todos preocupados pois eu não falava, não chorava, apenas ficava quieta mas o que eu podia fazer? Era assim que eu estava me sentindo. Depois de todas as coisas que eu passei no ano anterior eu estava cansada de lutar e lutar, queria que pelo menos alguma vez eu pudesse ser feliz sem ninguém tentando tirar meus filhos de mim, destruir meu casamento ou me bater até quebrar algum osso. Era como se a felicidade não fosse para mim, como se fossemos duas pessoas distintas, que nunca ficariam juntas.
Cara e Jared me levaram para mansão, me senti mal pois todo o caminho Cara tentava me animar mas era só ver o meu reflexo no espelho que meu mundo desabava, assim que chegamos Hannah nos ouviu entrar e veio correndo chamando por mim mas ao me ver ela parou a meio caminho com cara de assustada, meu coração quebrou, quase ouvi o som dele se partindo.
-Hannah, é a mamãe, dê a ela um beijo porque ela está dodói. – Jared disse pegando-a no colo e trazendo-a para mim mas eu via o quanto ela estava com medo, qualquer criança ficaria.
-Está tudo bem. – falei baixo – mamãe está machucada mas logo vai ficar bem.
-Quem te machucou, mamãe? – ela perguntou tentando não ficar mais preocupada.
-Foi um acidente. – Jared respondeu, então ela veio e me deu um beijo com receio de me machucar mais e aquilo, bom, aquilo me machucou de outra forma.
-Eu vou deitar, estou me sentindo cansada. – falei para todos.
-Quer ajuda? – ele perguntou, olhei para as escadas e sabia que cada degrau seria uma tortura. Assenti com a cabeça, ainda teria que lidar com a humilhação de ser carregada escada acima.
No jantar, ele me levou comida mas eu não quis comer e a semana toda foi assim, eu mal comia, eu não saia da minha cama e não por não poder, mas eu simplesmente não queria levantar. Por mim ficaria ali a vida toda, Maggie estava responsável por Nate e vinha toda noite me contar como foi o dia dele e de Hannah mas eu não permitia que ela o trouxesse enquanto meu rosto não estivesse sarado, que aliás, depois de uma semana já estava bem melhor, meu olho não estava mais inchado porém ainda estava roxo. Jared vinha todo dia me trazer comida, café, almoço e janta, tentava me fazer sair do quarto mas eu não queria sair daquela cama, eu simplesmente me sentia afundada em um misto de tristeza, angustia, culpa e raiva. Eu tinha raiva da vida porque todas as vezes que tentei ser feliz, ela veio e destruiu tudo. Eu não podia ser feliz sem perder alguém, sem que alguém tentasse tirar meus filhos de mim ou tentasse me espancar até a morte.
Na outra sexta de manhã ele veio até o meu quarto por volta das oito da noite tentar me fazer comer mas eu recusei novamente o que estava claramente deixando-o irritado. Sempre que ele se aproximava eu sentia uma tensão sobre ele, como se ele estivesse preocupado com algo.
-Você precisa comer, Mag. – ele falou – e precisa deixar entrar um pouco mais de luz no quarto.
-Não. – respondi – posso ficar muito bem assim além do mais a luz do dia irrita meus olhos.
Ele bufou.
-Margot, você tem que sair dessa cama! – alterou um pouco a voz e depois passou a mão na testa – você não foi a única que perdeu um filho aqui.
Eu fiquei quieta olhando-o, ele estava certo porém para ele as coisas pareciam ser menos complicadas. Então ele se sentou na ponta da cama de costas para mim e suspirou novamente – eu odeio te ver assim, caída assim. – falou novamente.
-Por que está aqui, Jared? Por que eu estou aqui? – falei – eu achei que você iria me odiar por ter levado Nate embora por quase um ano.
Então silencio por alguns segundos até que ele falou novamente.
-Eu odiei, Mag, odiei que você levou meu filho embora, mas eu parei para pensar antes de tomar qualquer atitude e entendi a razão pela qual você fez isso.
Eu fiquei um pouco estática. Ele entendeu?
-Depois de todas as coisas ruins que eu te fiz era sensato você fugir com ele, eu te trai, eu machuquei você, fiquei exigindo que você largasse as drogas e as bebidas mas não via que eu deixei você sozinha, que você estava procurando conforto nessas coisas após a morte de um amigo, depois tirei sua filha de você e acreditei na mentira de outra acho que mais para te ferir do que por acreditar mesmo, porque não suportava te ver com outro homem, hm, ego masculino – ele deu uma risadinha mas não havia humor em sua voz – eu errei, Margot, errei muito e olhar para você caída assim me faz pensar que eu te direcionei nesse caminho, que eu te coloquei nessa cama, que eu feri a única mulher que eu amei com tanta intensidade.
O silencio reinou no quarto após ele dizer todas aquelas coisas, eu fiquei me perguntando o que viria a seguir daquilo. Eu fiquei impressionada com as palavras dele, aliás, antes ele nunca tinha falado isso, era sempre justificativas de suas ações, sempre um motivo pelo qual ele fazia coisas estupidas que destrua nós dois e naquele momento ele estava tomando toda culpa para si, ele estava confessando que havia me ferido da forma mais cruel que alguém poderia ferir.
-Você foi embora com meu filho porque eu tirei Hannah de você e confesso, não que eu me orgulho disso, eu confesso que se tivesse ficado talvez eu teria feito o mesmo com Nate.
Ouvi tudo aquilo quieta e pensativa, ele enterrou a cabeça nas palmas da mão e nossa, eu senti meu coração apertar com tanta força dentro do meu peito que lagrimas rapidamente rolaram em meu rosto, em um salto me aproximei dele e o abracei pelas costas com força.
-Não é só sua culpa, eu tive minhas atitudes idiotas. Eu não deveria ter me deixado levar pela presença de Bradley em minha vida, comecei a confundir as coisas, a me sentir uma adolescente novamente quando na verdade já era uma mulher casada com uma filha, eu não aguentei quando você me traiu, fiquei me afundando nas bebidas sabendo que isso traria mais problemas para nós, e eu odiei ficar longe da minha filha mas talvez tenha sido melhor assim... Jared, nós dois erramos mas ainda estamos aqui, porque eu te amo tanto e faria tudo novamente para recomeçarmos, para mudarmos, para acertamos. Nós temos dois filhos lindos – falei com um meio sorriso lembrando de nossos filhos – e ainda poderemos ter um terceiro – uma leve dor apontou em meu coração ao pensar no filho que perdi mas continuei – Eu te amo, e não importa mais o passado, estou feliz com você hoje. Estou abatida pois não suporto mais tanta dor, é doloroso demais passar por tudo isso e pensar que finalmente tudo vai estar bem e então perder um filho... eu só preciso de esperança, eu preciso saber que amanha ninguém vai vim aqui e tirar minha felicidade de mim. – falei segurando seu rosto com a palma da mão enquanto ele olhava para mim. Ele suspirou um pouco, e então segurou meu pulso.
-Você quer esperança? – perguntou assenti com a cabeça. – Então casa comigo.
-O que? – arregalei os olhos acreditando que eu havia escutado errado
-Casa comigo, Margot. – respondeu – seja minha mulher novamente
Antes de conseguir dizer qualquer outra palavra meus lábios se estenderam em um longo sorriso.
-Posso considerar isso um sim? – perguntou com o mesmo sorriso.
-Você pode considerar como um “com certeza”. – falei então ele me puxou, me beijou fortemente e me segurou em seus braços com forças.
-Mas antes quero levar você para longe daqui por um tempo – ele falou interrompendo nosso beijo – vamos pegar as crianças e sumir, por um ou dois meses, vamos simplesmente viajar para qualquer lugar com elas e depois, quando voltarmos a primeira coisa que vamos fazer é nos casar.
-Você é louco! – respondi rindo, ele falava com tanta alegria, tanta convicção do que queria, tanta empolgação que foi difícil não ficar empolgada também.
-Por você, Ms. – respondeu voltando a me beijar novamente.
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A acompanhante (CONCLUÍDA)
Romance(+18) "Margot era uma acompanhante de luxo, mas não qualquer acompanhante. Era a garota mais requisitada e mais cara da agência. Após ter sido deixada pela mãe aos quinze anos para trabalhar como striper em uma boate qualquer na Califórnia e na busc...