Não se trata apenas do meu orgulho, é só até essas lágrimas secarem"
-Eu não tentei me matar. Foi um acidente! – Eu repeti pela milésima vez para a Dra. Houston, Margareth Houston. Era o nome da médica que eu estava basicamente sendo obrigada a fazer terapia após uma suposta tentativa de suicídio denunciada pela minha melhor amiga e Jared que deveria estar cuidando da vida dele.
-Então me fala sobre o acidente, Margot. – ela disse com calma.
-Eu estava dirigindo e o outro carro apareceu e bateu no meu. – falei. Ela suspirou.
-Só isso? – ela disse
-Só. – respondi.
-Quando você acordou, estava desesperada pela vida do seu filho. Por que? – ela perguntou novamente, eu dei risada. Risada porque eu não estava acreditando que eu tinha que passar por aquilo. Era uma piada.
-Ué, e o que uma mãe faria? – perguntei o óbvio para ela.
-A questão Margot é que de acordo com o que eu ouvi você passou a gravidez toda, até agora, renegando o bebê do qual você chama de feto. Mas a sua preocupação foi algo fora do comum, você estava literalmente desesperada. O que eu posso entender nisso? Houve algum sentimento de culpa? Você fez alguma coisa que poderia machucar o bebê?
Eu senti como se as palavras que eu tentasse pronunciar estavam me engasgando. Eu não machucaria meu filho... ainda mais depois de tê-lo sentido.
Levei a mão até a barriga.
-Não, eu nunca machucaria o bebê. Eu só... – respirei fundo e meus olhos se encheram de lágrimas, que droga. Eu não queria chorar, mordi o lábio inferior com força tentando segurar as lágrimas – eu só olhei para aquele carro vindo em minha direção e por um segundo eu pensei... pensei... e se tudo acabasse? Se tudo desaparecesse? E se eu desaparecesse? Eu me senti tão cansada de lutar, de tentar, de continuar. Eu por um momento quis que o mundo me engolisse. Eu quis sumir, eu quis morrer. – eu respirei fundo – olha pra isso, me tornei uma mulher fraca que fica se lamentando pelas coisas que aconteceu. Eu me tornei uma idiota, patética.
-Não, Margot. – ela falou – você não se tornou isso.
-Então o que? Por que eu fico chorando, querendo que tudo acabe, colocando minha vida em risco. Me diz, o que é isso? – insisti.
-Você passou por muitas coisas na sua vida. Mas você nunca as superou de fato, você empurrava a sujeira para debaixo do tapete e depois ia se divertir com suas amigas como se estivesse tudo bem. Enterrou seus sentimentos para não lembrar do que tinha passado, e quando você se deixou sentir um pouquinho de sentimento por Jared, tudo veio a tona de uma só vez, além de descobrir que estava grávida. – ela falou mas tudo aquilo parecia óbvio para mim.
-Isso não faz diferença mais, o que eu não quero é ficar carregando isso comigo – respondi.
-Então você tem que parar de fugir, parar de ter medo e fazer aquilo que quer. E entender que o fato da sua mãe ter te deixado, não tem a ver com você, você era uma criança. – ela falava de uma forma séria, não havia nenhum tipo de sentimentalismo em sua voz o que parecia fazer tudo se tornar mais claro.
-Minha mãe não tem nada a ver com Jared. – falei sem olhar para ela. Ela ficou confusa.
-Então o que é? – quis saber mas eu fiquei calada, ela respeitou meu silêncio de alguns segundos.
-Bradley. – falei, ela juntou as sobrancelhas.
-Bradley? – perguntou. Eu balancei a cabeça concordando. Respirei fundo, ah quanto tempo eu não falava dele? Quanto tempo eu não pensava nele? Mas só ao pronunciar seu nome as memórias voltaram como uma onda gigante quase me afogando.
-Meu primeiro namorado, meu único namorado. – falei, ela pareceu mais interessada. – Conheci ele quando tinha apenas quatorze anos, ele é irmão da Lila. Ou era irmão da Lila.
-E onde ele está? – ela falou.
-Morto. – respondi como se peito fosse explodir. Apertei os olhos respirando fundo.
Ela ficou quieta me dando tempo para processar aquilo, não era fácil.
-Eu não posso passar por isso de novo. Sentir isso de novo. Eu amei ele como uma maluca, e ele morreu e nunca mais amei ninguém, até Jared aparecer.
Ela torceu o nariz.
-Quantos anos tinha quando morreu? – ela quis saber.
-Eu tinha apenas dezesseis, ele tinha vinte e um. Eu sei que não era certo, eu era menor de idade e ele... mas nada do que fazíamos naquela época era certo mesmo. Eu era stripper, e ele era traficante – eu dei risada, olhando por esse ângulo parecia até uma historia engraçada – a gente usava drogas juntos, bebíamos juntos e as vezes eu ajudava ele assaltar lojas de conveniência, ou arrombar carros, como Sid e Nancy. Mas ele morreu, ele me deixou e eu não posso passar por isso de novo.
Concluí não querendo mais falar daquilo.
-Você acha que Jared pode te deixar? – ela falou.
-Eu acho que sim. – respondi.
-Isso porque você acha que as pessoas não podem te amar de verdade. – ela afirmou.
-Não, porque eu sempre fodo com tudo. – eu disse. Algumas lembranças vieram a minha mente naquele momento. Era estranho falar dele, como se ele não tivesse morrido de fato mas ainda estivesse vivo. Bom, ao menos ele ainda era uma lembrança viva na minha mente, vez ou outra eu lembrava dele, em como mesmo em meio ao caos, éramos felizes juntos. Ouvi duas batidas na porta.
-Está na hora. – Jared disse segurando uma bolsa, eu suspirei olhando para ela. Eu não podia acreditar que eu tinha concordado com aquilo. Ficar meses em uma clínica de reabilitação depois que Marina fez o prazer de contar a ele que eu sou uma viciada.
-Eu irei até a clínica como acordamos, e vamos continuar a terapia. – Ela disse me ajudando a deixar a sua sala. Seguimos quietos em direção a clínica que ficava em Los Angeles, a mesma clínica onde inúmeras celebridades foram internadas pelo excesso de álcool e drogas. Eu não queria falar com nenhum deles, nem Jared, nem Marina, ninguém pois por causa deles eu fui obrigada por lei a me internar ou poderiam tirar meu filho de mim assim que ele nascesse.
Andamos os corredores daquele lugar seguindo uma enfermeira que ia nos explicando tudo. Eu me sentia acorrentada, presa, olhava as pessoas naquele lugar como se não tivessem vida. Como eles podiam me deixar ali? Logo agora que minha agência começara a crescer.
-O seu quarto vai ser esse. – ela parou em frente a uma porta branca e a abriu. – espero que seja aconchegante.
Tentei um sorriso mas foi em vão. O quarto era pequeno, uma janela que dava vista a um Jardim, uma cama com lençóis e travesseiro branco. Um pequeno guarda roupa azul, penteadeira, banheiro, tudo exclusivo e pago por ele.
-É lindo, e bem aconchegante não é, Mag? – Marina tentou quebrar o clima mas apenas balancei a cabeça.
-Bom então vou deixa-los a vontade. – A enfermeira disse se retirando, Marina foi atrás dela para assinar alguns papeis enquanto Jared ficou comigo.
-Você vai ficar bem, entenda, é para que você se recupere – disse segurando meus ombros eu apenas balancei a cabeça pois já tinha começado a chorar, de novo.
-Eu sei. – falei engolindo em seco. Ele franziu o rosto triste, solidário com a minha tristeza.
-Mag, por favor...
-Eu te contei que ele chutou? – falei tentando quebrar o clima triste, funguei – ele chuta quando eu estou triste. Ele me chuta quando eu me sinto péssima eu só não entendo se ele está sentindo dor ou se quer que eu saiba que esta comigo.
Ele sorriu, porém ainda estava triste. Assim como eu, ele estava apenas tentando quebrar o clima ruim que estava entre nós dois.
-Cadê a Natalie? – perguntei curiosa.
-Voltou para o Texas, vai ficar um tempo morando com suas irmãs e sua mãe. – ele respondeu.
Eu ri dando de ombros.
-Pelo menos não vamos ter mais que ouvir as idiotices dela. – falei desviando nossos olhares. Ele torceu o nariz e se aproximou.
-Não faz isso, isso não funciona mais comigo. – ele falou se aproximando.
-O que? – perguntei tentando soar indiferente.
-Não fica tentando ser essa mulher arrogante e egoísta que não se importa com as pessoas. Eu te conheço e eu sei que se importa, que você se preocupa. Sei que está se sentindo péssima pela Natalie, porque eu estou. – ele falou tirando meu sorriso de deboche do rosto. Deus! Eu odiava como ele me entendia, como ele me conhecia. Odiava que ele conseguisse desvendar cada mistério só olhando em meus olhos.
-Tem razão, nós fomos dois filhos da mãe. – respondi – e tudo isso por nada!
Ele juntou as sobrancelhas.
-Nada? Tem certeza? – perguntou colocando as mãos na cintura. Pisquei rapidamente tentando organizar as ideias. – Não finja também que não foi por nada.
Eu me virei para ele.
-E então? – perguntei mas antes de poder dizer qualquer outra coisa ele me beijou, beijou forte e intenso. Juntou nossos corpos um ao outro de uma forma que me fazia perder as forças. Ele tinha razão, talvez tivesse válido a pena tudo aquilo. O toque dele fazia todo o meu corpo se arrepiar, eu podia sentir cada centímetro da minha pele, todas as sensações de uma vez.
De repente uma pergunta me veio a mente: O que nos impedia de ficarmos juntos agora?
Eu não sei.
Eu ainda tinha medo.
Finalizamos nosso beijo com uns selinhos e ele me deu um beijo forte na testa.
-Você vai ficar bem, ok? Eu estarei aqui com você todos os dias. – ele prometeu segurando meu queixo com o polegar olhando em seus olhos.
-Obrigado. – respondi. Então ele me abraçou forte, seu perfume me envolveu, seu braço forte em volta de mim.
-Está na hora de ir. – Disse a enfermeira entrando no quarto com Marina atrás. Jared e eu nos afastamos, legal, era hora de ficar sozinha. Revirei os olhos respirando fundo, tentando controlar a minha vontade de surtar. Eu me despedi deles e fiquei ali sentada na cama, pensando em como seria minha vida ali dentro.
Eu arrumei o quarto ao meu gosto, em seguida a enfermeira reapareceu no meu quarto dizendo que o médico queria me conhecer, fui levada até ele, era um homem alto, aparentemente com seus cinquenta anos e simpático além de muito inteligente. Nós conversamos sobre meu tratamento, o período em que eu ficaria ali, sobre saídas, visitas, tudo. A Dra. Margareth iria me visitar toda semana para continuarmos com minha terapia, de acordo com o médico a presença dela era extremamente importante para a minha recuperação, já que o fato de eu usar drogas e bebidas estava diretamente ligado com o fato de eu usar todas essas coisas para fugir dos meus traumas.
Eu achava tudo aquilo um exagero e só aceitei passar por aquilo por causa do meu filho.
Meu filho, já fazia cinco meses que eu estava grávida e ainda tentava me acostumar com a ideia de ter uma criança se formando em mim.
A primeira noite naquele lugar foi horrível, eu chorei quase a noite toda querendo estar em casa mas me mantive firme com a minha decisão. De manhã todos tomamos café juntos em uma sala grande e bonita, a maioria das pessoas ali eram homens mais velhos e adolescentes mulheres. Eu pensei em me enturmar mas eu não tinha muito animo.
-Margot, tem visita para você – a enfermeira disse, meu coração palpitou imaginando ser ele mas quando me virei minha empolgação foi embora, Constance estava ao lado da enfermeira e Cara estava com elas.
Me levantei e nós fomos para o meu quarto, para termos maior privacidade.
-Jared disse que você concordou em vir para cá depois do que houve e eu tive que vim ver como você está. – ela disse. Eu olhei para ela.
-Não precisava. Aliás, você deve estar me odiando agora depois que eu interrompi o casamento tão aguardado – falei ironicamente.
-Tá brincando? Se eu fosse um pouquinho mais desajuizada eu te dava um beijo na boca por ter conseguido finalmente espantar aquela sonsa da Natalie das nossas vidas. – Cara disse alto e alegre, como sempre e eu não consegui deixar de rir do seu modo de falar.
-Cara! – Constance a repreendeu.
-O que foi, mãe? – ela falou – ninguém gostava daquela garota! Só você, menina fresca. “Ai meu cabelo isso, ai porque Jared e eu vamos ter filhinhos" – Cara disse imitando uma voz engraçada.
Constance respirou fundo nem mesmo ela conseguia se controlar com as palhaçadas da filha.
Ela segurou minha mão o que eu achei muito estranho, mas não pude ser grossa com ela.
-Eu não odeio você, Margot. – ela disse olhando em meus olhos – eu não concordo com as coisas que vocês dois fizeram, a maneira como fizeram mas – outro suspiro – eu não posso negar minha culpa nisso.
Eu juntei as sobrancelhas sem entender.
-Culpa? – perguntei.
-Sim. Eu forcei Jared a ficar com ela mesmo sabendo que meu filho não a amava. Eu fui o maior motivo dele escolher permanecer com ela tanto tempo, quero que entenda, Jared não é um homem que se dobra aos desejos dos outros, mas ele se dobrou por mim.
Ela falava e eu podia sentir a dor em sua voz, ela carregava uma culpa de forçar o filho a fazer algo que ele não queria. Eu relaxei os ombros e apertei suas mãos mostrando compreensão.
-Você não tem culpa, Constance. Jared e eu optamos por isso, eu... eu... eu não me importei se isso iria machucar alguém no início. Eu comecei com isso e não é atoa que acabei em uma reabilitação.
-Margot, todos nós temos uma parcela de culpa. Natalie também sabia que ele não a amava e vivia falando sobre se matar caso ele a deixasse. Elena sempre foi uma grande amiga mas... a ganância falou mais alto. – ela disse rapidamente – mas o que está feito, está feito. Não adianta mais nos lamentarmos, não é?
Ela falou sugestiva.
-Com certeza – eu concordei sem ter muita certeza aonde ela queria chegar com aquilo.
-Bom, agora eu quero saber como isso vai terminar. – falou. Olhei rapidamente para Cara e depois para ela. Como assim?
-A gente quer saber Margot se tudo isso foi somente fogo de palha ou se vocês dois realmente vão ficar juntos. – Cara disse rapidamente.
Eu fiquei com a boca entreaberta alguns segundos sem saber direito o que dizer, eu não sabia o que aconteceria.
-Eu queria saber Margot, porque seria uma pena ver que vocês lutaram e mentiram por nada. – Constance deu continuidade – Você está grávida, vocês mentiram para todos, tiveram um caso por quase um ano inteiro, isso foi em vão ou eu posso acreditar que isso tem um objetivo?
Ela falava olhando fundo em meus olhos mas o que ela estava esperando? Que eu simplesmente tomasse uma decisão naquela hora? Nós tivemos um caso mas isso não significava que éramos almas gêmeas, apesar de me sentir morta sem ele.
-Eu não posso te responder isso, pelo menos não agora. – eu falei. Ela piscou rapidamente me mostrando indignação. – Me desculpa, Constance mas Jared e eu não somos obrigados a ficarmos juntos.
-É claro que é. – ela falou.
-O que? – eu perguntei rindo – claro que não.
Ela franziu as sobrancelhas.
-Eu sabia que vocês estavam tendo um caso desde a primeira vez que vi vocês dois juntos em santa Mônica. Você olha para ele como se ele fosse tudo para você, e ele como se coração batesse por você. Você acha que conseguiria mesmo deixar isso para trás?
Uau.
Eu fiquei sem respostas, mordi o lábio inferior prendendo a respiração. Constance não era nenhuma senhora boba, ela sabia o que falar e quando falar.
-Bom, Margot, espero que pense no que eu disse e não jogue fora novamente a oportunidade de ser feliz - ela disse se levantando, nós nos despedidos e elas foram embora me deixando com um bolo de coisas na cabeça para pensar. Decisões, decisões, Decisões, sempre são tão difíceis. Eu falo que não me importo e que está tudo bem. Mas não, não está bem e eu me importo. Porra!! Eu me importo pra caralho.
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A acompanhante (CONCLUÍDA)
Romance(+18) "Margot era uma acompanhante de luxo, mas não qualquer acompanhante. Era a garota mais requisitada e mais cara da agência. Após ter sido deixada pela mãe aos quinze anos para trabalhar como striper em uma boate qualquer na Califórnia e na busc...