Pacify her

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Alguém me disse para ficar longe das coisas que não são minhas. Mas, como ele era seu se ele me queria tanto?

-Hm, e o que você acha de Cheryl? – Jared perguntou acariciando minha barriga. Estávamos deitados na minha cama, ele encostado na parede e eu em sua frente, nossas mãos em minha barriga faziam movimentos únicos.
-Muito, muito forte. – falei rindo, ele sorriu também.
-E Brianne? – ele continuou na nossa lista inacabável de possíveis nomes para a bebê.
-É muito Inglês. – respondi.
-Você crítica todas as minhas opções. – ele reclamou mas dando risada.
-Nós temos gostos muito diferentes. – falei horrorizada com todos os nomes que ele me apresentava. – Eu quero algo que combine com ela.
-E como você acha que ela vai ser? – ele perguntou.
-Bom se for igual a você será mandona, exibida e muito convencida. – eu falei e ele riu.
-Acha mesmo que eu sou que sou assim? – ele perguntou ainda rindo e me abraçando mais forte por trás. Eu dei risada.
-Ok, nós somos! – respondi.
-Ela vai ser uma menina forte, inteligente, determinada, muito bonita e doce, sensível e compreensível. – ele falou acariciando minha barriga novamente.
-Ah, e como você sabe disso tudo? – eu perguntei rindo. Então ele mordeu o lóbulo da minha orelha
-Porque ela vai ter uma ótima mãe que vai lhe ensinar a ser assim. – ele sussurrou. Sua voz pareceu percorrer todo o meu corpo de uma só vez.
-Seu nome vai ser Hannah. – falei rapidamente. Era o nome que mais se encaixava naquelas características, especialmente quando eu imaginava uma menina doce. Jared sorriu.
-Hannah?
-Sim, você não gosta? – falei 
-Hannah Elisabeth Robbie Leto. – Ele falou um pouco alto e então eu senti um chute na minha barriga justamente onde nossas mãos estavam. Arregalamos os olhos e estendemos os sorrisos juntos.
-Eu tenho a impressão que ela gostou. – concluí virando o rosto para nos beijarmos.

Jared e eu estávamos noivos ah quase dois meses, e já fazia três meses que eu estava trancada naquele lugar, com a presença dele tudo era mais suportável. Mas foi um inferno e por momentos eu achei que não iria conseguir, abstinências, as piores dela, me fazia vomitar, tremer, sentir muito frio, meu coração acelerava e desacelerava rapidamente o que eu temia que pudesse prejudicar minha filha. Eu não podia tomar remédios por causa da gravidez então suportava todas as dores sozinha. Eu costumava passar mal a noite, então quase ninguém sabia o que realmente acontecia comigo lá dentro mas eu tinha que permanecer forte, tinha que permanecer firme porque quando Hannah nascesse eu teria que ser uma mãe para ela e não uma drogada alcoólatra. Jared e eu optamos em não contar sobre a gente para ninguém, não queríamos ou melhor, não estávamos pensando em se casar tão rápido após o episódio com Natalie. Como ele chamaria sua família para outro casamento dentro de tão poucos meses? E eu também estava tentando levar uma coisa de cada vez, uma das coisas boas que estava acontecendo era o crescimento gradual da agência. Cada vez mais clientes, cada vez mais acompanhantes. Marina era a escolha certa para ser uma VIP. Já que ela acompanhava tudo e depois me passava todas as informações e o meu trabalho eu fazia de lá de dentro, mesmo que Jared ficasse dizendo que eu deveria descansar o que ele não entendia era que o trabalho ao menos me distraia das abstinências.
Eu estava com quase sete meses e uma barriga enorme. Hannah consumia tudo de mim, e era extremamente ativa. As vezes eu queria que Jared não fosse me ver porque só de ouvir a voz dele, ela se mexia e me chutava até que ele cantasse, quando ele cantava ela se acalmava. Meus pés estavam inchados e meus peitos enormes, eu quase não me reconhecia.
-Você está pronta? – Jared perguntou entrando no meu quarto. Nós tínhamos que ir em um exame de rotina da gravidez.
-Eu estou enorme, Jared. Você me deixou enorme, com uma criança que me chuta só de ouvir sua voz. – eu falei me olhando no espelho, vi ele sorrindo pelo reflexo junto com Marina e Cara que iriam conosco.
-Você está linda. – ele respondeu e instantaneamente eu corei.
Nós fomos para o médico, de acordo com os exames tudo estava em seu devido lugar apenas Hannah ainda não estava em posição para nascer mas tinha tempo até lá, ela decidiu que com quase sete meses era a hora certa para ela ficar sentada mas a obstetra ficou de acompanhar para que até o período correto, ela ficasse na posição. O dia estava bom, não era apenas dia de fazer exames mas também o dia em que finalmente eu consegui minha alta e era oficialmente uma ex drogada, ainda teria que passar em consultas e terapias mas a clínica já não era mais necessária. Então assim que saímos do hospital fomos para casa.
-As minhas coisas continuam no meu quarto. – falei entrando e olhando. Jared havia ido na clínica buscar o restante das coisas que ficaram lá.
-Margot, fala a verdade... Você e o meu irmão estão brincando de casinha ou isso é sério? – Cara perguntou. Eu olhei para elas duas que estavam imóveis me olhando.
-Cara... – tentei mudar de assunto 
-É sério, ele não sai mais da clínica. Vocês dois não brigam mais, estão sempre sorrindo um para o outro, qual é, Maggot. – ela parecia uma criança querendo um doce. Eu olhei para ela em dúvida se era certo dizer aquilo. Eu não sabia porque estava com tanto medo, medo de que me julgassem? Rá! Quando que eu deixei de fazer algo em prol do que as pessoas pensavam? A verdade é que quando eu colocava aquilo em palavras, eu me assustava. Mas minha linha de raciocínio logo se cruzou com a de Marina que me conhecia perfeitamente bem.
-Não é estranho admitir, Margot. Vocês passaram tanto tempo escondidos, em uma brincadeira de pique esconde que agora que estão livres, é estranho. – Ela falou com a voz doce e mansa que ela tinha quando queria.
-Por que estou pagando a minha terapeuta quando tenho você? – falei divertida e as duas logo sorriram ao som da minha voz brincalhona mas Marina se aproximou mais com olhos piedosos e manhosos – ok, Jared e eu estamos noivos. – falei rapidamente e Deus, como aquilo soou deliciosamente estranho aos  meus ouvidos. Jared e eu estamos noivos, a frase ecoou em minha mente dando voltas me deixando zonza por um segundo, um maldito segundo que fez meu coração parar e depois bater novamente numa explosão de ansiedade e felicidade sentimentos totalmente desconhecidos por mim até então. Eu não sei porquê mas fiquei esperando uma repreensão, como se o que eu estivesse fazendo era errado mas os lábios das duas se alongaram  num sorriso quase insuportável e olhos saltitantes e cintilantes.
No instante seguinte as duas me abraçaram calorosamente mas com cuidado com minha enorme barriga.
-Margot, isso é maravilhoso – Mary disse – eu não gosto dele, não muito. Mas gosto dos brilhos nos seus olhos quando você fala dele.
Eu apertei a mão branca e magricela e com dedos largos de minha amiga.
-Obrigado – eu respondi a sua forma de me dizer que me apoiava em minha decisão.
-Nem acredito que você vai ser minha irmã – Cara disse fingindo estar decepcionada – porque agora perdi totalmente minhas chances com você.
Nós três caímos em risada com as palavras de Cara que logo em seguida voltou a me abraçar, contente por eu estar prestes a ser da família.
Depois de muitas conversas sobre absolutamente tudo, eu me sentia fraca e cansada. Eu sabia que minha filha seria forte, porque dentro do meu útero ela se mostrava assim. Ela era tão forte que me tornava fraca, fraca para andar por muito tempo, para falar por longas horas, as vezes eu queria apenas ficar deitada porque até pensar era exaustivo, não estava sendo uma gestação muito fácil e por um momento eu jurei que aquilo era um castigo divino por minha filha ser um fruto de uma traição. Mas que se danasse toda essas coisas, eu iria mostrar para o universo, destino, deuses, e demônios que eu suportaria pela única pessoa que me amara mesmo após sentir a dor alucinante que eu sentia no peito, a pessoa que mesmo que ainda não havia sequer visto o mundo, ou sentido meu toque em sua pele, ela me amou sabendo que sua mãe era uma mulher quebrada, dentro de uma carcaça egoísta e manipuladora e ela sabia que eu poderia me reconstruir e por isso, mesmo após um ferimento, Hannah lutou para permanecer viva. Ela era como eu, desde nova lutamos pelas nossas vidas e ninguém tiraria minha filha de mim.
Marina e Cara se retiraram do meu quarto para que eu pudesse descansar e assim eu fiz, caindo em um sono profundo e relaxante assim que a porta do meu quarto se fechou.
Eu acordei, não sabendo ao certo quanto tempo depois, com sede. Querendo poupar esforços de descer as escadas chamei por Nelly ou algum empregado da casa mas foi inútil como se não houvesse ninguém ali. Eu bufei desacreditando da ideia de ter que me levantar para poder pegar um mero copo de água então tentei ignorar minha sede quando percebi que não era eu a sentir sede, e sim Hannah, enquanto a sede persistia ela se remexia na minha barriga de forma irritante. As pessoas costumam se maravilhar ao ver um bebê chutando a barriga de sua mãe mas ninguém realmente gosta de ser chutado, especialmente de dentro para fora e Hannah era incrivelmente inquieta. Ela se remexia, me chutava, as vezes eu a sentia até em minhas costelas e isso é possível. As vezes eu queria gritar para que ela se acalmasse, mas seria inútil só aumentaria os seus movimentos, então eu pedia para ele cantar, cantar para que ela finalmente ficasse quieta.
Isso me aterrorizava, as vezes eu me pegava irritada com uma criança que nem mesmo havia nascido e eu temia ficar como minha mãe e abandonar a Hannah, a mercê de homens malvados e perigosos... Não, eu morreria antes de deixar alguém machuca-la, ou melhor, mataria.
Não aguentando mais sua persistência me levantei e assim que me coloquei sobre meus pés senti o quarto se mover ao meu redor, apoiei minhas mãos sobre o criado e respirei fundo.
-Você é realmente insistente, meu anjinho. – falei passando a mão na barriga e sorrindo. Em passos leves e calmos me dirigi para fora do quarto, foi ao notar o som dos meus passos que percebi o quanto aquela casa estava silenciosa, extremamente silenciosa. – Nelly? – chamei do topo da escada dando-me uma ultima oportunidade de não descer aqueles degraus que pareciam não terem fim mas apenas obtive o silêncio como resposta.
Estiquei minha perna e segurei sobre o corrimão para descer mas meus passos foram interrompidos por uma mão gélida que tapou minha boca e me puxou para trás, senti não somente a mão gélida como também o ferro afiado de uma faca sobre a minha garganta enquanto a dona daquelas mãos me puxavam de volta para o quarto. Sim, a dona pois com aquelas mãos tão finas e dedos longos só poderia ser uma mulher. Uma mulher forte alias.
Tentei ver quem era a pessoa por trás de mim enquanto tentava inutilmente me soltar mas foi horrível, a mulher só me soltou quando voltamos para o meu quarto onde ela rapidamente me jogou na cama e fechou a porta atrás de si.
Finalmente meus olhos se cruzaram com os tons amarronzados dos olhos de Elena, que respirava forte, pesado e tinha os lábios trêmulos.
-O que você está fazendo? – perguntei ainda sentada na cama. Ela voltou os olhos para mim.
-Cala a boca! – ela disse entredentes com os olhos ardendo, eu quase pude ver sua íris arder em chamas.
A sua voz era tão fria quanto suas mãos, ela olhou para a faca sem ter muita certeza do que realmente estava fazendo. Minha cabeça entrou em um dilema sobre o que eu deveria fazer: obedece-la ou continuar falando? Felizmente, ou infelizmente, a minha arrogância falou mais alto.
-Que merda você está fazendo aqui, aliás? – continuei falando furiosa por ela ter colocado aquelas mãos nojentas e ossudas em mim. Então com passos firmes e longos, Elena se aproximou de mim e me deu um tapa tão forte que eu caí na cama. Minha mão direita rapidamente encontrou o local aonde ela depositou um tapa extremamente forte para alguém com o físico dela.
Seus olhos passaram em questão de segundos pelo corpo e eu senti os olhos arderem com uma lágrima que escorreu teimosamente por conta da dor e ardência que senti. Vagabunda!
-Então é verdade... – ela falou com uma voz ainda fria e olhos que pareciam águias sobre mim atenta a qualquer movimento. – Você realmente está grávida e vai se casar com ele.
O QUÊ? Foi o que a minha mente gritou. Aquela vadia, aquela velha maldita estava ali por causa Dele? Ah qual é, me dê meus créditos de participação naquela história. Ela poderia ao menos dizer que estava ali para me punir pelo o que EU fiz e não pelo o que ele fez.
-Ele destruiu o coração da minha filha por causa de uma vagabunda como você? – ela perguntou mas não parecia que esperava uma resposta. Eu não disse nada, não por medo mas talvez estava tão presa dentro da minha raiva que só conseguia imaginar quantas vezes eu poderia soca-la sem sentir meu braço doer e a única razão pela qual ela estava se sentindo tão poderosa sobre mim era por estar segurando uma faca e estar quase sobre mim, apontando a lâmina afiada bem em direção ao meu nariz. Eu desviei nossos olhares e encarei aquela faca, como seria se eu conseguisse arranca-la de sua mão?
-Jared Leto tem que pagar pelo o que fez com minha filha... ele tem que pagar! – ela rosnou furiosa e então eu levantei os olhos para ela.
-O que ele fez? – perguntei com um sorriso sarcástico. Que patética. – Quem a jogou aos leões foi você, colocando na cabeça dela que ele a amava... você envenenou ela com suas luxurias e ganancias quando quem deveria ter tirado ela daquela ilusão, era você. – eu falei ainda sorrindo –Você colocou as vendas nos olhos dela, era você que deveria tirar.
Eu vi quando ela travou a mandíbula e o maxilar com tanta força, os olhos marrons tornaram-se mais escuros e ela voltou a encostar a faca na minha garganta, senti uma pequena pressão na minha pele tocando a ponta daquela lâmina, minha nuca parecia queimar de hesitação, enquanto meu corpo permaneceu imóvel mas meus olhos permaneciam sobre e iriam permanecer mesmo que ela enfiasse aquela faca em mim mas eu não podia permitir. Eu não cheguei tão longe para ser morta por uma caduca gananciosa.
-O que foi? – perguntei – a ganância engoliu sua língua? – provoquei e então ela entreabriu os lábios trêmulos, assim como sua mão
-Eu só queria o melhor para ela, não queria que ela se ferisse. E tudo estava dando certo até você aparecer! – ela disse – com essa cara de sonsa mas mente do diabo. É isso que você é, tão perversa quanto Lilith, e tão astuta quanto um demônio. É a mulher que o diabo deixou na terra.
Eu alarguei meus lábios em um sorriso sem ter certeza se deveria me sentir ofendida ou lisonjeada. Pisquei rapidamente, era uma pena estar grávida e barriguda, limitada a fazer movimentos rápidos e bruscos, ah e que Deus a perdoasse se eu colocasse minhas mãos naquele pescoço magricela.
-Então faz o que você tem que fazer! – gritei subestimando-a. Ela não teria coragem, eu conhecia os olhos de um assassino, de um psicopata, de uma maluca. Eu estivera de frente a eles diversas vezes: meu chefe, meu primeiro chefe dono daquela boate imunda colocava os olhos em mim de forma nojenta, além de ser uma traficante nojento que matava qualquer um que não lhe pagasse suas dívidas e ainda me chamava de sua, sua? Quando nem ao menos eu era minha! Depois aquele porco imundo que enfiou seu pau nojento e asqueroso em mim depois de me atingir com um golpe covarde e cruel, que filho da puta. E depois Angelina, a maluca! Eu vi quando os olhos dela se deliciaram com a ideia de atravessar minha barriga com um pedaço de vidro enorme... Todos eles tinham algo em comum em seus olhares antes de ferir alguém, uma espécie de êxtase e alegria, mas Elena não, ela tremia, ela hesitava, ela era fraca!
Mas eu não.
Antes de que ela pudesse dizer mais alguma coisa eu segurei seu punho puxando-a para o lado com força o que a fez inclinar-se totalmente, o ombro, em um simples movimento poderia ser deslocado mas com a outra mão ela segurou meu pescoço, apertando com tanta força enquanto eu tentava inutilmente soltar-me mas aquela puta era horrivelmente forte. Vencida pela sua mão em minha garganta, eu soltei seu braço mas suas mãos continuaram em meu pescoço, eu estava perdendo o ar e as forças quando estiquei meu dedos finos e longos para a faca caída sobre a cama e a enfiei em sua perna, ela gritou e eu achei que aquele grito faria alguém vir as presas até meu quarto antes que aquela maldita me matasse estrangulada.
Mas ninguém veio, então tive que agir por conta própria, como ela mesmo com uma faca em sua perna, insistia em me estrangular, retirei a faca aos sons de seus gritos e enfiei uma, duas, três vezes, com sangue jorrando em minhas mãos. Ela finalmente me soltou cambaleando para trás, o oxigênio entrou de uma vez só pelas minhas vias me fazendo tossir e tentar respirar fundo enquanto recobrava o ar. Eu me levantei e enquanto ela estava caída sobre o meu quarto fazendo uma espécie de torniquete improvisado, eu cambaleei zonza para fora do quarto, me apoiando na parede, a faca ainda estava na minha mão mas eu não encontrava minha voz quando tentava gritar.
Próximo a escada, eu senti as mãos gélidas e ossudas novamente sobre o meu pescoço mas com um impulso e ódio, acabamos indo para a frente da escada, no topo da escada.
-Ele tirou a alegria da minha filha, você sabia? – ela rosnou.
-Sua hipócrita! – falei empurrando-a – Você ao menos a ama! Ele me fodeu diversas vezes, mas quem fodeu a mente da inocente Natalie foi você! – acusei o que a deixou mais possessa, então novamente as mãos dela tentaram encontrar o meu pescoço e nós giramos numa espécie de luta, eu queria fincar novamente a faca sobre sua perna que ela arrastava tão fraca quanto eu, mas rapidamente ela me virou, não deu para pensar, respirar, ou me segurar, com as duas mãos direcionadas aos meus peitos, enquanto eu dava as costas para a escada, ela rapidamente me empurrou escada a baixo. Eu pensei que iria desmaiar, mas eu senti cada osso meu tocar cada degrau, bater com tanta força enquanto eu rolava o que parecia ser infinitos degraus mas a pior parte foi quando senti a pressão do meu corpo contra a minha barriga no chão, foi uma, dois, três, quatro batidas quando finalmente tudo parou e eu estava sobre minha barriga no chão gélido da sala, a dor se alastrou de uma só vez por todo o meu corpo e eu achei que iria apagar mas não, a minha mente, traiçoeira, me permitiu ficar acordada enquanto eu olhava para minhas mãos ensanguentadas de Elena, apoiando-se para que eu me levantasse, mas mesmo que elas tivessem forças minhas pernas não, então apenas me virei arrastando-me até a parede onde encostei minha coluna dolorida pelas vezes que encontraram-se com os degraus.
Elena desceu as escadas correndo com os olhos saltados, eu achei que ela iria terminar o que tinha em mente mas os olhos tomaram uma cor avermelhada, em seguida veio as lágrimas.
-O que eu fiz? – levou a mão até a boca tamanho era seu espanto.
-Termina o que veio fazer! – ordenei mas vi seu corpo estremecer. Então virando os calcanhares ela saiu correndo na outra direção – covarde. – falei respirando fundo.
Ok, depois de toda essa confusão desnecessária eu tinha apenas que me levantar e chamar alguém mas todo o meu esforço foi interrompido quando o gélido de algo escorreu por entre as minhas pernas e nem mesmo a mão de Elena com uma faca na minha garganta foi capaz de me fazer estremecer como aquilo. Eu olhei para baixo, coisa que não tinha feito antes e a poça de sangue que me rodava era inacreditável. O vermelho do sangue se perdia no tom escuro do meu vestido mas ao encontrar-se no chão logo fazia contraste com o piso branco e alegre da mansão.
Aquilo não podia estar acontecendo... Não podia.... Não podia! Eu levei a mão ensanguentada até a cabeça e só tive ideia do quão intenso, alto e forte foi meu grito quando senti o fundo da garganta arder e os olhos arderem juntos. Eu gritei apavorada, e meus gritos foram finalmente capazes de fazer alguém aparecer alguns empregados.
Onde essas porras estavam aliás quando uma louca me jogara escada a baixo?
-Srta. Robbie... – um deles chegou depressa com os olhos saltados, pela enorme tesoura em sua mão deduzi que ele estava nos fundos, no jardim. – Eu vou chamar ajuda.
E rapidamente ele ligou para a emergência, meu coração parecia cada vez bater mais lento... mais e mais... minha mão estava sobre minha barriga o tempo todo.
-Vamos, meu anjinho, chute a mamãe. Vamos, chute-me! Minhas costelas, meu ventre, apenas me chute Hannah! – eu berrei apavorada. E meu coração ficava mais lento – tome, tome para você cada batida. Apenas me deixe saber que está viva.
Eu dizia enquanto minha visão se tornava cada vez mais embaçada pelas lágrimas que desciam aos montes misturando-se ao sangue que eu mesma levara ao rosto sem perceber, só pude notar quando o gosto metálico tocou em meus lábios com uma lágrima que escorreu rente ao meu nariz.
-Vamos, Hannah. – eu choraminguei desesperada. – obedeça a mamãe.
-Srta. Eu liguei para a emergência e para o Sr. Leto. – o empregado desesperado me disse, enquanto alguns outros tentavam me ajudar mas eu não queria sair daquele chão enquanto ela não se mexesse.
A ambulância demorou séculos, ou talvez o meu desespero me tenha feito pensar isso mas os paramédicos rapidamente me levaram para a emergência do hospital. Lá estava eu novamente.
A doutora, muito simpática apareceu.
-Srta. Robbie, eu sou a Dra. Robbins, e eu vou cuidar de vocês, ok? Preciso que mantenha a calma e vamos ver como está a pequena Hannah. – ela disse me preparando para uma ultrassom.
-Robbins? – perguntei num sorriso fraco – é coincidência que nossos nomes sejam quase iguais? Não deixe minha filha morrer, eu nunca vou conseguir esquecer seu nome
Enquanto eu falava ela olhava fixo pro monitor, seu olhar paralisado me assustou. Rapidamente ela tirou a maquina de minha barriga e virou-se para mim.
-Margot, sua filha tem que nascer agora! – ela afirmou e dessa vez meus olhos saltaram. Como assim? O que estava acontecendo? Uma espécie de eletricidade rapidamente percorreu pelo meu corpo ao ouvir ela dizer aquilo – ela tem uma pequena hemorragia que se não for corrigido, ela vai morrer. Eu sei que ainda faltam dois meses mas ela precisa nascer.
Meus lábios tremeram e eu olhei em volta, procurando por Ele. Que droga, Jared era para você estar do meu lado.
Apenas balancei a cabeça consentindo para ela a Cesária e então fui rapidamente levada para a sala de cirurgia.
Eu podia sentir todo o meu corpo tremer, cada musculo do meu corpo estava enrijecido, meus olhos passavam-se por toda aquela sala medonha cheia com enfermeiros e médicos. A cada segundo eu engolia saliva, talvez fosse o medo. Eu estava me sentindo sozinha, exposta, quase podia ouvir as batidas do meu coração tão alto quanto a voz da médica que estava a todo momento dando ordens para o residente que estava ajudando-a. Eu não sentia minhas pernas, não sentia minha barriga mas sentia meu coração bater quase pulando para fora.
-O pai chegou – ouvi uma das enfermeiras dizer para a médica, meus olhos focaram nela e eu pude ver em sua íris que ela sabia que eu não queria ficar sozinha.
-Mande ele entrar. – ela disse voltando os olhos para minha barriga onde ela ainda estava fazendo os primeiros cortes.
Em seguida, ele atravessou a sala tão rápido e desesperado abaixando-se ao meu lado. Ele passou a mão na minha cabeça coberta por uma touca hospitalar e sorriu.
-Que susto você me deu, Mag. – falou logo em seguida sorrindo. Um sorriso lindo. Um sorriso de alívio. 
-Que bom que está aqui. – respondi sorrindo também, e ele inclinou-se para frente me depositando um beijo. No início eu achei que tivesse sido o beijo que talvez tivesse me tirado do ar por alguns instantes, que tivesse tomado o meu fôlego. Mas o som das batidas do meu coração cessaram gradualmente e eu não estava mais sentindo-o tão forte na minha cavidade torácica, eu achei que era calma por ele estar ali comigo mas meu olhos foram fechando gradativamente.
-A pressão está caindo.
-Ela está com uma hemorragia interna. – foram a ultimas coisas que eu ouvi antes se sentir meu corpo totalmente fraco desliga-se daquela sala e cair num profundo sono, com Jared apertando minha mão com força, desesperado.

A acompanhante (CONCLUÍDA) Onde histórias criam vida. Descubra agora