Back to the Basics

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“Querido nós poderíamos voltar às origens...”

Acordei esfregando os olhos, minha cabeça pareceu querer explodir com um simples movimento que fiz. Respirei fundo, eu estava dormindo mas estava em movimento... E havia barulhos e pássaros. Abri os olhos rapidamente olhando em volta, conhecia o barulho do motor daquele carro. Só uma pessoa que eu conhecia tinha aquele carro.
-Bom dia dorminhoca. – olhei para Jared que dirigia tomando uma espécie de suco de alface, com uma mão só no volante e a outra na janela do carro. Ele olhou para mim através dos óculos escuros e sorriu sem mostrar os dentes.
Franzi o cenho, confusa. Olhei em volta a paisagem e só havia estrada, e mais estrada.
-O quê? Onde estamos? – falei sem ter certeza se era essas as perguntas corretas a se fazer.
-Na estrada. – disse calmamente. Balancei a cabeça – estamos na estrada ah quase um dia inteiro e você não acordou.
Senti meu estomago revirar e os cantos da minha boca salivar.
-Para o carro. – falei, ele olhou para mim um pouco confuso.
-É melhor parar o carro agora. – falei, ele levou o carro até a guia da estrada e abri a porta soltando o meu cinto rapidamente, pulando para fora, qualquer coisa que eu tenha bebido na noite anterior subiu pelo meu esôfago queimando-me por dentro, debrucei-me e vomitei com a mão na barriga. Jared saiu do carro rapidamente dando a volta e segurou meu cabelo com uma mão e com a outra segurou meu corpo. Não foi tão nojento, só saiu uma coisa azulada com cheiro forte, respirei fundo me recompondo sentindo o sangue voltar para a minha cabeça.
-Melhor? – ele perguntou.
-Não finja que se importa. Você com certeza acha que eu merecia isso, uma grande dor de estomago.
Ele soltou meu cabelo e passou a mão na boca rindo.
-Por mais teimosa que você seja, eu nunca te desejaria mal algum.
Reprimi o lábio inferior sentindo um gosto ruim na boca, gosto de vomito. Fiz uma careta e ele deve ter notado.
-Toma – retirou do bolso de seu Jeans um chiclete. Encarei aquele chiclete que me parecia uma grande salvação e peguei colocando na boca, logo sentindo o gosto de morango... ou cereja. Tanto faz. Minha cabeça ainda latejava um pouco mas não doía tanto quanto antes. Jared se encostou no impala e cruzou os braços. Cobri meus olhos por causa do sol e olhei em volta.
-Onde estamos? – disse finalmente olhando para ele.
-Na estrada – disse sarcástico. Revirei os olhos.
-É sério, Jared! Onde estamos?
Ele olhou para os lados como se estivesse procurando alguém, e depois voltou a me olhar por trás dos óculos.
-Não vou te contar ainda... Mas sei que você vai gostar.
Abri a minha boca, perplexa.
-Isso é sequestro, você sabia? Vou ligar agora para a polícia... – passei a mão no meu corpo procurando pelo meu celular mas não achei, claro ainda estava usando o vestido da noite anterior, empurrei ele enfiando a cabeça dentro do carro pela janela procurando minha bolsa, mas ela também não estava lá. Respirei fundo. Aquilo só podia ser um pesadelo... O pior pesadelo do mundo. Ele havia me sequestrado! E o pior que eu quase não lembrava da noite anterior.
-Cadê a minha bolsa? Cadê as minhas coisas?
-Deve ter ficado no bar ontem, aliás, você não deveria ficar aceitando bebida de estranhos, Margot, sabe o quanto isso é perigoso para uma mulher e ainda mais usando Tiffany?
Parei de falar tentando processar o que ele havia dito, parecia um pouco irritado comigo, como um pai dando broncas na sua filha adolescente descuidada. Me senti uma adolescente descuidada ou até mesmo uma bêbada inconsequente. Relaxei meus ombros suspirando e olhando-o, queria olhar nos olhos dele. Por que ele não tirava aquele óculos que o deixava incrivelmente mais atraente? Odiava falar com pessoas que estavam usando óculos escuros, você consegue descobrir muitas coisas apenas olhando fundo nos olhos de alguém.
-Eu não lembro de quase nada de ontem... só de estar provocando você.
Dessa vez ele suspirou relaxando os ombros e estudando meu rosto, umedeceu os lábios.
-Aqueles garotos drogaram você e iam te machucar, mas claro que eu não iria deixar que isso acontecesse.
-Obrigada...? – foi o que eu consegui pronunciar, realmente me sentia uma adolescente rebelde diante do meu pai. Se ele queria me fazer sentir-se culpada, estava conseguindo. Ele não respondeu, apenas ficou me olhando com as mãos na cintura.
-Tá, agora vamos sair desse sol e continuar viagem. – ele começou a caminhar de volta para o carro, abri a boca olhando para ele.
-Jared! Você precisa... – e ele entrou no carro me deixando com cara de idiota, fechei minhas mãos dando socos no ar com os dentes cerrados. Idiota. Abri a porta e entrei também. – Você precisa me dizer onde estamos indo... eu preciso dizer para Lizzy que estou bem. Tem o Mark... – ele pareceu irritado ao ouvir-me pronunciar o nome do meu “suposto” noivo. Olhou para mim finalmente retirando os óculos escuros e colocando-os no porta luvas.
-Lizzy sabe exatamente onde você está... Ela fez isso para mim.
Ele apontou para uma mala vermelha jogada no banco de trás do impala, que eu não havia reparado antes.
-Quanto ao seu noivo, não se preocupe. Ele pode ficar preocupado com você alguns dias.
-Alguns dias? – quase gritei. Ele revirou os olhos.
-Você quer voltar para ele? – ele olhou fundo em meus olhos, abri e fechei a boca sem saber direito qual seria a resposta correta para essa pergunta.
Não.
Quer dizer.
Sim.
Ou Não.
Não, quero ficar com você.
Meu subconsciente gritou essas palavras. Abaixei meus olhos olhando para as minhas mãos.
-Foi o que eu pensei – falou colocando o cinto, balancei a cabeça e sem dizer mais nada também coloquei meu cinto.
-Apenas me diga para onde estamos indo. – falei fazendo um beicinho, ele sorriu.
-Não se preocupe, Ms.
E então continuamos seguindo viagem. Meu estomago estava roncando e aquele vestido e saltos estavam me matando. Pulei para o banco de trás abrindo minha mala olhando o que Lizzy havia colocado lá dentro, as roupas faziam mais o estilo dela do que o meu. Peguei um cropped branco e um short de cintura alta, retirei meu vestido e com muita dificuldade consegui me vestir. Tirei os saltos que deixaram meus pés marcados e coloquei minhas botas, depois pulei novamente para o banco da frente me sentindo mais aliviada, com o corpo mais leve. Mas meu estomago ainda estava roncando, olhei para aquela gororoba verde que Jared ainda estava tomando e a peguei, ele me olhou pelo canto dos olhos, retirei a tampa do copo e cheirei fazendo uma careta.
-O que tem aqui dentro? – perguntei.
-É um suco de alface, limão, brócolis e gengibre.
Achei que fosse vomitar novamente.
-Não tem nem uma bolacha de sal aqui? – perguntei fazendo uma careta, ele riu.
-Isso é melhor do que qualquer besteira que você e um bilhão de pessoas foram ensinadas a comer. – Cheirei novamente o suco fazendo mais uma careta, divertindo Jared. De qualquer forma, era melhor do que ficar com o estomago vazio. Assim que ia virando o copo avistei um grande M ah alguns km de distância, o meu salvador havia chegado.
-Graças a deus ainda existem lanchonetes nas estradas. – falei um pouco alto até para mim mesma. Jared riu da minha atitude e logo entrou no drive do mc Donalds. Pedi dois lanches, batatas fritas e coca cola do tipo grande, Jared olhava para aquilo tudo com nojo. Quando mordi o primeiro pedaço do meu hambúrguer senti algo semelhante ao orgasmo.
-hmmm – gemi mastigando aquele hambúrguer que parecia ser a oitava maravilha do mundo.
-Devo sentir inveja desse hambúrguer por te fazer gemer assim?
Olhei para ele engolindo o pedaço que estava na minha boca e rindo. Quando queria, ele conseguia ser bem engraçado. Jared passou o indicador no canto da minha boca limpando o molho do lanche, puxei sua mão e lambi seu dedo sentindo o gosto do molho.
Ele olhou aquilo atentamente mas balançou a cabeça devagar voltando suas mãos para o volante e voltou a seguir viagem. Mais uma hora de viagem e eu já me sentia desconfortável novamente, me remexia, colocava os pés para fora da janela empurrando o banco para trás até onde ele poderia chegar, cantando, falando besteiras com Jared, mas aquele maldito lugar – seja lá onde for – nunca chegava e aquilo estava me matando.
-A gente já chegou? – perguntei.
-Não. – respondeu.
-A gente já chegou? – perguntei novamente reprimindo uma risada, lembrando do burro do Shrek. Era uma piada antiga, mas nunca perdia a graça.
-Não. – ele respondeu novamente. Fiquei quieta por um dois minutos.
-A gente já chegou? – perguntei novamente.
-Não, Burro, a gente não chegou! – ele disse imitando a voz do Shrek com perfeição. Meus lábios se estreitaram em um sorriso besta.
-Hey, não sabia que você era fã de Shrek.
Ele riu.
-Como não seria? É um dos melhores contos da Disney.
-Não é da Disney... É da dreamWorks. – falei como se tivesse sido ofendida pessoalmente.
-Ora Ora, temos uma fã de cinema aqui.
-Gosto de tudo relacionado a filmes... – falei me ajeitando no banco. Ele olhou rapidamente para mim e depois voltou a olhar para a estrada.
-É? Qual o seu filme favorito?
-Clube da luta. Minha primeira paixão platônica na vida foi o Brad Pitt. – falei suspirando levando a mão até o peito, ele riu.
-Aprenda a viver, descanse quando morrer. Tudo que você precisa está dentro de você. – ele falou imitando a voz do Tyler, abri a boca mais ainda. Era incrível como ele sabia imitar bem personagens.
-Também é o meu filme favorito. – disse sorrindo, fiquei olhando para ele um pouco encantada, eu acho. Mordi o lábio inferior, tinha mais em comum comigo do que eu já havia imaginado e porra, como era bom demais falar sobre aquelas coisas com ele. Todas as outras pessoas com quem já estive insistia em assuntos chatos. Negócios, dinheiros, luxo, festas, e com ele eu podia imitar o bob esponja e ele faria uma imitação perfeita do Patrick. Começamos a falar sobre filmes e eu contei a ele de quando era criança queria ser atriz, e como em todo Halloween me fantasiava de Dorothy. Nossa conversa pareceu encurtar o tempo, mas já estava escuro quando avistamos uma placa. Fell’s Church, Arizona. População: 5.000.
Abri a boca olhando para ele um pouco assustada.
-Você me trouxe para o Arizona?
-Não exatamente, estamos ao redor de Arizona. É uma cidade pequena. – ele falou calmamente olhando em volta como se tentasse se lembrar qual rua seguir, me ajeitei no banco olhando para a cidade a minha volta. Estava quente, e via muitas pessoas nas ruas conversando e caminhando. Parecia ser um lugar agradável. Mas Jared não parou de dirigir na cidade, foi um pouco mais além, passamos por toda a cidade até chegarmos a uma casa, ou cabana se preferir. Ficava uns vinte minutos distante de toda a cidade. Ele parou o impala e descemos, meus joelhos até doeram sentindo o movimento nas articulações assim que fiquei em pé, Jared ergueu os braços se espreguiçando e olhou para a cabana, a cabana-casa era grande mas não tanto quanto a casa de sua mãe em Santa Monica. Era toda de madeira, com janelas na frente, uma varanda com um balanço antigo e com chão que rangia. Jared pegou nossas malas, que eram apenas duas e com um movimento de cabeça me pediu para segui-lo. Paramos em frente a porta.
-Vai ter que pegar a chave no meu bolso. – ele disse, me virei para ele e sorri boba. Com um movimento de cabeça me mostrou que a chave estava no bolso da frente de seu jeans.
-Isso não me intimida – falei, ele apenas sorriu. Enfiei a mão no seu bolso, que por sinal era fundo e puxei as chaves que estavam ali. Olhei para todas elas me perguntando qual seria.
-A mais antiga. – disse, vi a chave dourada e coloquei na porta, depois girei a maçaneta abrindo-a. Olhei em volta impressionada. O lugar parecia ser muito aconchegante, tinha uma lareira – não que fossemos precisar – sofá, mesa, quadros, uma sala-cozinha e uma escada. Era tudo o que se via primeiramente quando se entrava na cabana-casa. Jared depositou as duas malas no chão depois esfregou as palmas das mãos.
-Está muito limpo aqui. – falei, ele sorriu.
-Cara esteve aqui semana passada com a namorada dela. – falou olhando em volta – e alguns amigos. Ao menos não deixaram bagunça e eu por outro lado não venho aqui ah anos.
Andei até a lareira observando as fotografias. Havia uma muito bonita, Constance, Shannon, Jared e uma garota loira de olhos azuis.
-Ela é a Cara? – perguntei.
-Sim. – ele se aproximou de mim olhando a fotografia – devia ter uns vinte anos nessa foto.
-E quantos anos ela tem agora?
-Vinte e dois. – levantei as sobrancelhas. Ela parecia ser uma garota divertida, inteligente, daquelas que você chamaria para qualquer festa pois ela se encarregaria de toda animação. Mas tínhamos a mesma idade, e eu parecia ser mais uma mulher do que ela, que ainda parecia ser uma garota normal. Coloquei novamente a foto em cima da lareira e olhei para Jared.
-Hm... e então? Me trouxe para sua cabana-casa para...?
Ele riu passando a mão na boca.
-Cabana-casa? Da onde você tirou isso? – ele parecia se divertir com minha criatividade.
-Não sei como devo chamar isso aqui.
Ele olhou para mim alguns segundos com olhos divertidos. Então pegou minha mão.
-Vem comigo. – Passamos pela cozinha que eu mal tive tempo de notar os detalhes e depois ele abriu uma porta, que dava acesso a uma espécie de varanda dos fundos. Estava escuro então eu não conseguia enxergar direito qualquer coisa que ele quisesse que eu visse, ouvíamos o barulho das arvores e de grilos. – Veja.
Ele apontou e um pouco mais para frente eu vi um lago, um grande e belo lago. Eu vi uma cabaninha, e uma doca, olhei para ele que tinha um belo sorriso no rosto.
-Isso é uma casa do lago. – falou como se eu fosse uma boba. – E quero que você fique comigo aqui por um tempo.
Suspirei fundo. Eu deveria?
-Quanto tempo?
-O quanto precisarmos.
Precisarmos para o que? Me perguntei, mas não quis perguntar para ele porque tinha medo da sua resposta. Um silencio tomou conta de nós e foi então que percebi que sua mão ainda estava segurando a minha, instintivamente levei meus olhos para baixo, o dedão dele acariciou o meu e meu corpo se arrepiou com aquele simples toque. Soltei rapidamente sua mão e cocei a cabeça.
-Bem então você vai ter que me mostrar onde vou dormir – a expressão dele foi um tanto engraçada, seus lábios tremeram. – O que foi?
-Espero que você ainda goste de dormir junto comigo. Temos quatro quartos aqui, um para cada pessoa da família, mas minha mãe achou um exagero e esvaziou dois cômodos e Cara e seus amigos quebraram uma das camas que sobraram, meio selvagem, não acha?
-Sério? – disse rindo. – E onde você vai dormir?
Ele riu também.
-Não seja má, Ms. Não vou fazer nada que você não queira.
Empinei o nariz e olhei para ele estudando seu rosto, até que não seria ruim dormir com ele. Quer dizer, claro que seria sua idiota.
-Tudo bem, Mr. J. Mas que suas mãos fiquem bem longe da minha cintura.
Ele as ergueu em forma de rendição, depois voltamos para dentro da casa. Subimos para o quarto que ele disse que ficaríamos, aconchegante na verdade, não chegava aos pés dos quartos em que eu era acostumada a dormir mas era realmente muito confortante. Havia uma cama de casal, com alguns lençóis, uma armário e uma penteadeira. Um banheiro também pequeno, que cabia somente um espaço para o banho, vaso e pia. Me joguei na cama e fiquei mais animada com o colchão de mola.
-Ah como eu quis uma cama o dia todo! – murmurei, Jared riu retirando a camiseta, mordi o lábio olhando para o corpo dele, ele fingia que não notava mas sabia exatamente o que estava fazendo. Então pegou a mala colocando em cima da cama, perto de meus pés e a abriu retirando suas roupas e as depositando dentro do guarda roupa, fez o mesmo com as minhas. Depois retirou uma calça de moletom cinza, parou na minha frente de costas para mim e retirou os sapatos, logo e seguida o Jeans. Como eu não tinha reparado que ele tinha uma bunda linda e sexy? Vestiu o moletom e depois se virou para mim, mudei rapidamente os meus olhos para as minhas unhas, mas percebi quando ele sorriu.
-Nada supera um moletom confortável – falou.
-Estou com fome. – murmurei, ele franziu a testa.
-Depois de comer tudo aquilo ainda está com fome? Vá na cozinha preparar algo para comer, tenho certeza que ainda tem alguma coisa por lá.
Me apoiei em meus cotovelos no colchão, sentindo todo o peso do meu corpo e arregalei os olhos para ele.
-Você acha que eu cozinho? Sério?
-Ainda bem que eu cozinho. – falou balançando a cabeça e sorrindo.
Ele cozinhava! Céus, ele cozinhava! E ele ia mesmo ficar andando por aí só de calça de moletom? Sendo uma tentação ambulante por aí?
Então ele se virou e desceu as escadas indo para a cozinha, retirei minhas botas e fui atrás dele. Estava olhando dentro do armário para checar o que poderíamos comer ali, Cara havia deixado algumas coisas decentes para comer e então ele começou a preparar tudo enquanto eu observava sentada no sofá tomando um bom vinho.
-Quando você comprou essa casa? – perguntei olhando em volta, ele estava cortando algum legume, parou e olhou para mim.
-Não comprei. Eu cresci aqui.
-Achei que tivesse crescido em Louisiana. – me inclinei mais no sofá tomando outro gole do meu vinho.
Ele me olhou com aqueles olhos azuis.
Lindos.
Brilhantes.
Profundos olhos azuis.
Quer dizer, eu tinha olhos azuis mas os dele eram profundos, dos tipos que você podia se perder neles. E eu acho que havia me perdido.
Não, espantei esse pensamento, era o vinho, com certeza era o vinho.
-Vivi em Louisiana até os dez anos, mas era um sacrifício para minha mãe viver parada em um lugar só por muito tempo. Viemos para o Arizona e então ela conheceu Carl... Daí o nosso nome Leto. Shannon acabou recebendo mais do que somente Leto, Shannon Carl Leto. É um belo nome, não é?
Falou jogando um pedaço de legume na boca e mastigando.
-Carl vivia aqui, ele e minha mãe foi amor a primeira vista. Logo todos estávamos morando aqui e ele foi o pai que nós três não tivemos.
Levantei as sobrancelhas entusiasmada em saber mais sobre ele.
-E então ele morreu – ele falou tão rápido que parecia que a morte de Carl não fosse um marco importante em sua vida, mas havia sido. Era notável no modo de falar que Carl realmente servira de inspiração para ele. – as coisas começaram a apertar aqui em casa, eu tinha dezessete anos na época, Shannon estava indo para um caminho mais radical na vida e então nós dois fomos para Nova York em busca de uma vida melhor e o resto da história você já deve saber.
-Posso entender o motivo de sua mãe ser tão orgulhosa. – comentei, ele se aproximou e sentou no braço do sofá pegando o vinho da minha mão e dando um gole. – Shannon abriu sua própria academia com o tempo, eu estava fazendo decisões importantes e Cara descobrindo sua sexualidade.
Ele riu, a forma doce como ele falava da irmã me fazia querer conhece-la.
-Gostaria de conhecer sua irmã. – falei, ele olhou para mim um pouco. – ela parece ser um pouco divertida.
-Ela é. – ele riu como se estivesse lembrando de momentos engraçados com a irmã – talvez um dia eu apresente ela a você.
Ou não.
-Talvez no seu casamento? – sugeri, ele fechou a cara devolvendo-me a taça e voltando para trás do balcão checando as panelas no fogo. Seus ombros estavam tensos, e me arrependi de ter tocado no assunto.
-Claro. – foi o que respondeu, tá, o resto da noite foi um pouco esquisita com um clima esquisito, ele serviu nosso jantar e eu nunca experimentei uma comida tão simples e tão boa quanto aquela. Claro que conversamos mais, mas apenas coisas bobas, e como sempre eu colocava uma barreira entre ele e as coisas mais intimas da minha vida, coisas que ele e nem ninguém poderiam saber.

A acompanhante (CONCLUÍDA) Onde histórias criam vida. Descubra agora