“Eu sou ruim em amar, mas você não pode me culpar por tentar. Você sabe que eu estaria mentindo se dissesse que você é o único que pode me consertar, olhando pelo meu histórico.”
-Hey, Girlie! – a voz de Lizzy soou do outro lado do telefone animada – como estão as coisas no México?
-Um pouco entediante, na verdade. – ela suspirou.
-Margot Robbie! Você diz a mesma coisa ah duas semanas, vai se divertir. Você adora o México.
Joguei o cabelo para trás e me sentei na varanda do hotel.
-Claro, como vão as coisas por aí?
-Entediantes, mais do que ai! – ela respondeu, mas ela sabia que não era isso que eu queria saber – ele não aparece ah três dias, acho que finalmente desistiu de esperar por você.
Meu peito doeu. Eu não queria fazer aquilo com ele, não queria mesmo, era crueldade demais apenas sumir e ignorar suas mensagens e ligações, mas eu não tinha coragem suficiente para encara-lo pessoalmente e dizer que ele deveria ficar longe da minha vida. Olha no que me tornei, uma completa covarde. Ficar escondida no México com Mark pelas duas semanas ao menos tem me ajudado a manter esse plano em pé, apenas evite-o, quem sabe ele se cansa de mim e me odeia. Ou conte a verdade, Robbie, vai ser mais fácil se ele te odiar. Era o que eu pensava mas sabia que nada disso seria fácil, mas o casamento dele aconteceria na semana seguinte e se eu voltasse quando ele já estivesse casado seria melhor, Natalie com certeza iria me matar por ter desaparecido mas isso não me preocupava.
Mark entrou no quarto secando o cabelo com uma toalha.
-Hm, preciso desligar, ok? Te ligo mais tarde.
-O que eu falo para o Leto? – insistiu.
-Diga que eu... eu resolvo quando voltar.
-Isso não faz sentindo. – respondeu irritada.
-Tchau, Lizzy.
-Com quem está falando? – Mark apareceu na varanda assim que desliguei a ligação.
-Lizzy. – respondi balançando o celular.
-Não quer ir para a piscina? Está um sol incrível lá fora.
Balancei a cabeça negativamente.
-Eu pedi o seu café da manhã. – ele falou estendendo a mão para mim para que eu me levantasse.
-Não estou com muita fome... – falei calmamente entrando no quarto com ele.
Ele respirou fundo.
-Mag, achei que te trazer para o México te deixaria feliz.
Eu também achei que estar no México me faria feliz, mas como podia? México me lembrava ele, me lembrava da última noite em que estivemos juntos. Da forma como ele me amou intensamente, me possuiu da maneira que eu gostava e depois dormiu abraçado comigo como se nos pertencêssemos.
-Estou bem, Mark, acho que o calor daqui tira um pouco minha disposição.
-Acho que o tempo aqui não está te fazendo bem, já foram dois desmaios desde que chegamos.
-E alguns vômitos também mas o tempo quente e a comida forte não parece ser uma boa combinação para estrangeiros desacostumados. – tentei o meu melhor sorriso.
E então nosso café da manhã finalmente chegou, ele pediu algo mais americanizado do que a comida típica do país que estava me fazendo mal desde a hora em que chegamos no hotel.
Me sentei a mesa para comer o ovo mexido com pequenos pedaços de bacon, mas por que é tão difícil para as pessoas acertarem o Bacon? Ou estava muito cru, ou estava parecendo toicinho e naquele caso era como se o porco estivesse ainda vivo ali na minha mesa. O cheiro e o aspecto do bacon revirou meu estomago e nem tive tempo de correr para o banheiro.
Vomitei ali do lado mesmo, depois de colocar quase um rim para fora apoiei meu cotovelo sobre a mesa. Sentindo os lábios tremerem e uma fraqueza no meu corpo.
Mark veio correndo me ajudar.
-Eu pensei que a comida iria te fazer bem. – falou – vou pedir para alguém vim limpar isso aqui, vá se deitar um pouco.
Ele me ajudou a se levantar a caminhei até a cama me jogando nela. Tudo estava rodando ao meu redor, uma faxineira não demorou para subir até o nosso quarto.
-Acho melhor voltarmos para casa. – ele falou. – se você não está conseguindo se adaptar com o ambiente aqui, é melhor irmos para casa.
Olhei para ele juntando as sobrancelhas.
-Achei que iriamos só semana que vem.
-Você está mal, Mag. É melhor estar em casa. – respondeu me acariciando.
Chegamos no aeroporto de Los Angeles na manhã do dia seguinte, eu ainda me sentia mal, fraca mas estar em casa novamente era muito bom. Mark fez questão de me deixar em casa o que foi irritante pois queria ter tido um tempo livre para poder ligar para Lizzy e saber se Jared tinha dado algum sinal de vida novamente. Seria horrível chegar em casa e dar de cara com ele no meu sofá me olhando com aqueles olhos que eu sentia tanta falta.
Mas felizmente, ou infelizmente, quando cheguei em casa ela estava vazia. Nem sinal de Lizzy. Carreguei minha mala até meu quarto e me joguei em cima da cama. Tentei de todas as formas afastar ele dos meus pensamentos, mas eu queria saber como ele estava, queria saber o que tinha acontecido entre ele e Natalie depois daquele dia no restaurante, se eles haviam terminado ou se ainda estavam juntos. Eu queria saber sobre ele, então vencida pela minha curiosidade e fixação por Jared Leto peguei meu celular e liguei para Natalie.
Ela demorou alguns minutos para atender.
-Olha só quem apareceu. – a voz triste não estava mais ali.
-Eu estava viajando. – falei como desculpa.
-Tudo bem, Mag. – disse ainda alegre, logo senti meu coração doer porque já era uma prova de que eles ainda estavam juntos, se eles tivessem terminado Natalie estaria chorando comendo um pote enorme de sorvete.
-Mas devo ter perdido muita coisa sobre o casamento, não é?
-Ah o casamento... – sua voz falhou, meu coração se encheu de expectativa novamente.
-O que houve?
-Hm... Jared resolveu que seria bom se nós remarcássemos a data.
Expectativas destruídas novamente.
-Como assim? – perguntei confusa.
-Hm, ele disse algo sobre uma convenção que ele não pode perder que caiu exatamente no dia do nosso casamento e quis remarcar a data para o mês que vem.
-Ah... ele disse? – falei desanimada – então ao menos vamos ter mais tempo para preparar os detalhes que faltam.
Ela riu engasgada.
-Claro! Tipo, eu estava ansiosa para minha despedida de solteira que você me prometeu mas acho que consigo esperar.
Eu nem lembrava dessa despedida de solteira. Pretendia levar ela para uma balada e deixa-la totalmente bêbada mas acho que desisti desse plano ah umas semanas atrás.
-Ah, Mag, hoje nossas famílias vão se reunir na casa da minha irmã para um jantar.
-Isso parece legal. – comentei desprezando a ideia de família junta. – se divirtam.
Ela riu novamente.
-Você como minha madrinha deverá estar lá, sua boba!
-Natalie eu não acho que seja uma boa ideia... – comecei a me lamentar para fugir daquilo. – tenho coisas a fazer.
-Claro que tem, coisas de madrinha! Como minha madrinha você tem que estar lá, Mag.
Ela ficou os próximos dez minutos insistindo para que eu fosse, eu admirava como ela podia ser persuasiva quando queria, e sua persuasão mais a minha vontade de ver ele me convenceu. Acabei concordando em ir naquele almoço com ela as duas horas. Coloquei uma calça Jeans, uma bota e uma blusa de rock.
As duas horas eu cheguei na casa de Lilian, me perguntei por que eles quiseram fazer o almoço lá mas assim que vi a quantidade de pessoas entendi que não seria uma boa ideia fazer aquilo na cobertura, crianças corriam pelo quintal da casa, alguns homens estavam tomando cerveja e conversando quando me aproximei da porta.
Eles me olharam curiosos.
-Você deve ser a Margot. – um deles disse – amiga da minha prima.
Sorri.
-E você deve ser o primo que ela nunca mencionou para mim antes. – brinquei, ele sorriu. Lembrava ela um pouco. Olhos castanhos, cabelos escuros e um belo sorriso.
-Sou Stan. – ele estendeu a mão.
-Prazer, Stan. Você viu Natalie por ai? – olhei em volta.
-Está lá dentro com o fresco do marido dela. – riu – ops, com o marido dela.
-Tudo bem, eu também o acho um pouco fresco se me permiti confessar.
Ele riu pelo nariz e tomou um gole da sua cerveja.
-Vamos, eu te levo até ela. – Ele segurou em meu braço de forma gentil e me conduziu para dentro da casa, havia muitas pessoas sentadas no sofá conversando e rindo, inclusive Shannon e Ele. Assim que nossos olhos se cruzaram eu congelei no mesmo lugar sem conseguir desviar dele, mas ele foi mais discreto e mais frio, pois simplesmente se virou para uma garota loira de cabelos cumpridos que estava sentada ao seu lado.
-Magzinha! – Natalie pulou nas minhas costas chamando a atenção de todos para mim. – Família, essa aqui é minha amiga e madrinha, Margot.
-Oi – balancei a mão meio sem jeito.
-Você é a Margot Robbie? – a menina loira que estava sentada ao lado de Jared disse, ela se levantou e me abraçou forte.
-Você é garota que não transou com o Shannon! Garota, eu sou sua fã. – sua voz era gostosa de ouvir, ela era muito bonita, todos olharam para minha cara com o comentário que ela fez. – Eu sou Cara Leto Delenvigne, a irmã mais nova e também a mais bonita.
Claro que não transei com Shannon, mas transei com Jared. Melhor, me apaixonei por Jared.
-Já ouvi falar sobre você antes. – disse feliz em finalmente conhecer a famosa Cara.
-Eu sei, eu sou famosa. – ela disse rindo – estou brincando. Você é muito bonita, acho que o Shannon desistiu de você porque ficou com medo de se apaixonar.
Olhou para o irmão e piscou, rindo. Ele balançou a cabeça e se levantou me abraçando forte me tirando do chão.
-Eu? Me apaixonar por uma garota igual ela? Nunca nessa vida. – soou sarcástico.
-Você é bobo, Shannon. – respondi.
-Quer dizer que você é solteira? – Stan perguntou animado.
-Sou... – falei rápido, Jared e Natalie olharam para mim rapidamente confusos, mas os olhos dele voltaram para minha aliança. – Quer dizer, sou noiva.
-Uma garota que esquece que é noiva! Cara, da onde você veio? – Stan perguntou fazendo todos rirem.
-Ela não é pro seu bico, Stan. – disse Natalie.
-E pro meu? – Cara brincou.
-Ok, ela conseguiu atenção de dois Letos, ainda bem que agarrei o mais bonito – Natalie disse fazendo todos rirem, menos eu e ele. Irritado, ele se levantou do sofá e parou a minha frente.
-Oi, Margot. – disse, sua voz fez meu corpo estremecer.
-Oi, Jared. – coloquei o cabelo atrás da orelha.
-Você sumiu.
-Eu estava viajando com meu noivo. – ele travou a mandíbula, magoado com o que eu disse. Droga! Por que eu era tão estupida? Não quis magoa-lo, mas as palavras simplesmente pularam da minha boca.
-É bom que está de volta. – sua voz era fria e distante.
-O Almoço está pronto. – Constance apareceu – Oh, Margot você veio!
Ela me abraçou, e eu odiava abraço mas os dela era maternal demais, era maravilhoso demais.
-Vamos, Nat. – Jared disse passando os braços por ela e a conduzindo para a cozinha.
Me sentei entre Shannon e Cara que fazia palhaçadas sem parar. Minha barriga já estava doendo por conta disso, de tanto que eles me faziam rir.
Peguei um pouco de champanhe e tomei um gole.
-Mãe, sua comida é sempre incrível! – Cara disse com a boca cheia. – Obrigada por não chamar empregadas para fazer isso.
-Está realmente uma delícia, Constance. – falei.
-Margot você está aqui.
Ah droga! Elena apareceu colocando um outro prato em cima da mesa cheia de familiares que eu estava tentando gravar os nomes.
-A madrinha tem que estar, não é?
-Natalie me disse que você está noiva e se casará em breve. – falou.
-Não tão em breve, eu acho. – sorri tentado parecer simpática mas estava nervosa, os olhos azuis permaneciam em mim enquanto eu falava.
-Falando em casamento, fale para gente como está indo as coisas Natalie? – alguma tia, ou parente de Natalie perguntou animada. Todos estreitaram seus olhos para cima da garota curiosos.
-Natalie está cuidando de tudo, não é amor? – Jared que respondeu. Eu me engasguei com a bebida. Amor? Desde quando ele a chamava de amor? E aquele papo de que “ela sabia que eu nunca iria me apaixonar por ela”? Desde quando ele a abraçava daquela forma como se realmente gostasse dela?
Todos olharam para mim.
-O que vocês estão olhando? A garota está morrendo, o que tem demais nisso? – Cara disse se divertindo com a situação, me deu um copo d’agua.
-Desculpe – falei baixo.
-Mag e minhas irmãs estão me ajudando muito com tudo. – disse ela contente – Já escolhemos quase tudo, buffet, vestido, sapatos, roupas das madrinhas, o buquê, a igreja... Foi um longo mês para poder preparar tudo. Não sei o que teria feito sem elas para me ajudar.
-As madrinhas existem para tornar a vida da noiva mais fácil. – Lara disse sorrindo.
-Por que você não é madrinha também? – perguntei me virando para Cara. Ela arqueou a sobrancelha para mim com um sorriso irônico.
-É que eu deveria subir no altar com um padrinho e não uma outra madrinha, se você me entende.
-Aonde estamos? No século dezenove? – ri.
-Aparentemente para alguém sim. – Cara lançou um olhar para Natalie.
-Cara! – Jared a repreendeu com um olhar.
-Desculpe, irmãozinho, irmã lésbica calando a boca, aliás, não queremos que a família tradicional de Natalie ache que ela está se juntando a um bando de pecadores e uma abominação.
Cara falava de uma forma engraçada, mas não tinha nenhum tipo de humor por trás daquilo. Os olhos de alguns parentes de Natalie se arregalaram.
-Cara! – dessa vez Constance a repreendeu.
-Que se dane! – ela se levantou jogando os talheres na mesa e andando.
Fiquei olhando para ver se alguém iria ir atrás, dizer alguma coisa para a garota que nitidamente estava chateada e magoada com alguma coisa. Nem mesmo Shannon se levantou.
Balancei a cabeça e me levantei indo atrás dela, que estava sentada no balanço das crianças rodando ele. Me aproximei sentando no balanço ao seu lado.
Ficamos em silencio por alguns segundos.
-Eu sei que pareço uma garota idiota e dramática. – ela falou – não era essa a impressão que eu queria passar de mim para você.
-Você não parece. – respondi. Ela me olhou e sorriu. – era por isso que você se manteve afastada?
Ela abriu a boca.
-É tão obvio assim? – perguntou rindo, mesmo triste ela permanecia com um sorriso no rosto. Piscou algumas vezes e olhou para o céu – minha família me aceita desde sempre, não foi um problema para mim em relação a isso. Jared foi o primeiro que eu contei... Ou fui obrigada a contar.
-Por que? – perguntei curiosa balançado devagar.
-Ele me pegou dando uns beijo na garota mais popular do colégio – ela riu – a princípio ele me odiou por que ele sempre foi afim da garota. Mas não houve julgamentos, foi tipo “Hey, mãe, curto garotas!” “Ah ótimo, não vou precisar me preocupar com garotos brincando com minha bebezinha!” Como sou sortuda, não é?
Ela sorria.
-Muito.
-Mas antes de sua família te aceitar, você tem que se aceitar. – ela tirou o sorriso do rosto – porque você sabe que coisas assim vão acontecer e é inevitável que você se sinta péssima.
-Mas você não deveria. – falei tocando em seu ombro – você é uma garota incrível.
-Você não sabia que Natalie não gosta de mim, sabia? Ela finge para o meu irmão mas não tira a roupa na minha frente porque acha que eu vou ficar olhando... Como se ela fizesse meu estilo – riu novamente – certa vez ela me disse que eu não iria ficar próxima dos meus futuros sobrinhos porque ela não queria que eles fossem incentivados a serem gays.
Fiquei de boca aberta diante de um pensamento tão ultrapassado.
-Ela me beijou. – eu disse. Cara arregalou os olhos para mim sem acreditar.
-Holy Shit! Não brinca? Deve ter sido sexy.
Eu ri.
-Na verdade eu a beijei, mas ela retribuiu então...
-Que vadia hipócrita! – falou um pouco alto demais – então... você curte garotas. Será que tenho alguma chance?
A sua voz mudava de triste para divertida rapidamente. Como eu tinha imaginado antes, ela era divertida, inteligente, carismática e alegre. Uma ótima companhia.
Ela riu de si mesma novamente.
-Estou brincando... Eu sei que você já gosta de um Leto.
Congelei.
-Como...
-Eu sei? – ela balançou para trás e para frente devagar – sou uma ótima observadora. Aquele negócio “Oi Margot, Oi Jared” já deixou minhas anteninhas acessas, e você engasgando comprovou minhas suspeitas.
Respirei fundo lembrando do que Jared tinha falado sobre ela contar se soubesse, ela deve ter lido meus pensamentos.
-Relaxa, não vou contar. É uma surpresa para mim Jared sendo um canalha... É algo que ele sempre odiou, sabe, nosso pai traiu nossa mãe a caiu fora então nunca imaginei ele sendo um total cretino, ele nunca foi nada além de um homem extraordinário.
Era tão bonita a forma como eles três eram unidos e se amavam. Como era ter um irmão?
-Mas considere isso minha vingança contra a vaca da Natalie. Ela merece isso.
-Você é má! – falei aliviada por ela prometer indiretamente guardar segredo.
-Eu sou um amor. – respondeu.
Ouvimos risadas vindo de dentro da casa, olhamos juntas na mesma direção.
-Você vai voltar?
-Você acha que eu vou ser vencida por aqueles idiotas? Maggot, se não for para causar eu nem saio de casa.
Ri com ela.
-Maggot? – perguntei levantando as sobrancelhas.
-Mag é muito tedioso.
-Eu acho que gostei desse. – rimos.
-Ótimo. Vamos? – ela se levantou estendendo a mão para mim.
Cruzou nossos braços e já senti que éramos amigas. Jared talvez tenha sido o único que saiu com defeito, Shannon e Cara eram alegres e te conquistavam rapidamente enquanto Jared era o oposto dos irmãos, distante, frio, cético e muito crítico. Paramos na porta da cozinha e todos olharam para nós.
-Minha namorada agora, Jared! – zombou ela, olhei para ela sufocando um riso e Jared corou com todos os olhares em cima dele, limpei a garganta e puxei Cara de volta para nossas cadeiras.
-O que você está fazendo? – Shannon perguntou baixo assim que todos voltaram a falar.
-Você sabe exatamente o que estou fazendo – ela disse. Ele juntou as sobrancelhas.
-Cara... – ele começou a falar.
-Parem os dois! – sussurrei no meio deles tomando uma posição – isso não vai ajudar ninguém.
Eles dois se entreolharam e como se estivéssemos pensando a mesma coisa olhamos para Jared, que tinha o olhar em cima da gente curioso para saber o que estávamos falando. A conversa ainda era sobre o casamento deles, Cara olhou para mim revirando os olhos. Definitivamente seríamos ótimas amigas.
-Mal posso esperar para te ver subindo naquele altar, Nat. – Lilian disse batendo palminhas, Cara e eu nos entreolhamos e fizemos uma cara de deboche.
-Idiota – ela sussurrou.
-Oi? – perguntou Lilian olhando para ela.
-Nada. – ela respondeu sorrindo debochada.
-Já que você é uma das entusiastas, vou me lembrar para quem ligar quando estiver precisando de uma babá. – Ele disse apertando Natalie em um abraço e beijando o rosto dela. A menina sorriu se entregando aos carinhos dele, não pude deixar de abrir minha boca e fixar meu olhar nele incrédula. Ele falando sobre filhos? Alguém por favor, devolva Jared Leto porque aquele homem não era ele.
Lilian riu.
-Cuidarei do bebê com maior prazer.
-Dos bebês. – ele a corrigiu. Todos riram.
-Quantos você pretende ter? – Natalie perguntou sorrindo.
-Com você, muitos! – Eu quase engasguei dessa vez com a minha saliva. O quê? Como ele poderia ser tão idiota assim?
Senti um nó na minha garganta e um gelo no estomago. Jared estava falando sobre filhos na minha frente, criando planos para uma família perfeita e feliz depois de me dizer que me amava. Depois de todos os nossos momentos juntos, era como se pegasse meu coração e o rasgasse em dois. Uma raiva misturada com uma angustia cresceu dentro do meu peito fazendo meus olhos se encherem de lágrimas, pisquei rapidamente levantando-os para que as lagrimas não caíssem.
-Muitos porque você que não vai parir. – ela disse dando um tapa nele.
-Mas vamos nos divertir muito fazendo eles. – ele falou e todos na mesa riram, menos eu.
Eu abaixei a cabeça e comecei chorar como uma idiota sensível. Escondi o rosto nas minhas mãos e chorei chamando a atenção de todos a minha volta, eu não entendi direito o porquê estava tão sensível assim mas sentia como se qualquer coisa poderia me fazer cair em lágrimas e ouvir aquelas coisas sobre ele me fazia não só cair em lágrimas, mas ficar desesperada.
Com certeza todos estavam pensando que eu era uma louca chorando assim por nada. E com certeza eles tinham razão por pensar isso. Nem mesmo eu consegui entender o porquê desmoronei assim na frente de um bando de estranho se nem mesmo na frente das minhas amigas eu chorava ou demonstrava fraqueza. Mas me sentia tão sensível como um castelo de cartas a um sopro de desmoronar.
Cara colocou a mão no meu ombro, empática.
-Mag, está tudo bem? – Natalie perguntou preocupada.
Levantei a cabeça secando as lágrimas pelas costas das mãos e piscando rápido tentando não olhar nos olhos dele.
-Está eu só... – sem conseguir continuar com a frase me levantei correndo e saí dali, daquela cozinha que parecia me sufocar. Corri até meu carro abrindo a porta rapidamente e me jogando lá dentro, abaixei a cabeça no volante e continuei chorando como uma idiota.
Idiota! Todos eram um bando de idiotas, eu, ele, Mark, Natalie, todos! Eu estava tão confusa em relação as coisas que eu queria, o caminho que eu deveria seguir. Talvez fosse por isso que eu estava chorando.
Não consigo entender direito como nós conseguimos complicar tudo, sempre, mesmo quando podemos optar pela maneira e o caminho mais simples. Acho que isso já é de nós, já é natural do ser humano, as coisas complicadas, as pessoas e relações complicadas são como um imã para nós. E eu não sei onde eu estava com a cabeça quando fraquejei e me deixei cair de cabeça no jogo de sedução dele, porque tudo isso era um jogo, não era? Eu não sabia o que a gente tinha e ele muito menos. Não dava para entender, mas era isso que a gente era. Uma complicação.
Mas doía tanto amar ele. Por que o amor tem que doer tanto? Me fez ficar ali chorando como uma boba, e eu não sabia se era certo se sentir assim por ele.
Natalie deu duas batidinhas no vidro do carro, suspirei levantando a cabeça e abrindo a janela. Levantei os olhos para ela.
-Mag pode falar comigo se quiser. – disse cheia de empatia e preocupação na voz.
-Eu só preciso ir para casa. – falei conectando a chave ao carro. – te vejo amanhã.
O liguei, ela se afastou ainda preocupada e eu saí dali, dirigi diretamente para o meu apartamento, cheguei desesperada. Feliz por não ter ninguém em casa corri para o meu quarto e me joguei na cama desabando completamente. Chorando, soluçando agarrada ao meu travesseiro.
Nesses momentos tantas coisas passam por sua cabeça, você chora sem saber direito o porquê está chorando e depois se pega chorando por coisas que aconteceu anos atrás e começa a se lamentar desejando que a vida fosse diferente, que as coisas ao seu redor fosse diferente. Sempre gostei daquela frase “Querer ser uma outra pessoa é um total desperdício da pessoa que você é” mas naquele momento eu queria muito ser outra pessoa, eu queria muito nunca ter conhecido Jared Leto.
Devo ter chorado por uns trinta minutos seguidos, minha cabeça já estava latejando e meu nariz entupido mas eu continuava agarrada ao travesseiro até que ouvi alguém bater na porta mas não pretendia abrir. Se fosse Lizzy ela entraria sem bater. Levantei da minha cama ainda agarrada ao travesseiro e caminhei em passos leves até a porta.
-Margot, eu sei que você está aí. Abra a porta. – ele disse, ou ordenou. Meu corpo estremeceu com a voz séria e preocupada de Jared, eu sabia que se abrisse a porta as lágrimas viriam novamente com força. Apertei mais o travesseiro com força que cheguei a achar que o pano se rasgaria.
-Margot! – ele disse novamente, reprimi o lábio e caminhei lentamente para mais próxima da porta.
-Por favor, vá embora. – pedi com a voz baixa e fraca.
-Vamos conversar, meu amor. – ele disse, sua voz parecia atingir minha alma, apertei os olhos novamente sentindo-os arderem pelas lágrimas que voltaram.
-Me deixe sozinha, quero ficar sozinha! – falei com a voz chorosa.
-Margot, abra essa porta ou eu juro por deus que eu vou arromba-la! – ele parecia estar falando muito sério, não parecia estar blefando mas me mantive parada na mesma posição.
-Vai embora! – falei com um nó na garganta.
E então uns segundos de silencio e de repente uma batida muito forte na porta, fez tremer até a parede. Me assustei com o barulho que fez e apertei mais o travesseiro.
-Eu vou quebrar essa porra! – ele disse mais irritado.
Soltei o travesseiro no chão e dei um passo largo agarrando a maçaneta, abri a porta e levantei meus olhos olhando diretamente para ele. Olhou para mim e engoliu em seco, sem saber como reagir direito surpreso com meu estado de quem esteve chorando por meia hora, ele nunca me viu tão desesperada assim... bom, apenas quando Ryan tentou me machucar.
Então com um passo ele veio e me agarrou com força, por alguns segundos encontrei alivio em seu abraço, encontrei conforto e amor. Afundei meu rosto em seu peito deixando meu coração e meu corpo se satisfazer alguns segundos com a presença e o toque dele. Me senti tão pequena, como alguém que precisa de proteção.
Eu queria minha vó, e pensar na minha vó só acabou mais comigo.
Me soltei de seus braços tentando parar de chorar.
-Você não deveria estar aqui – falei fungando e me afastando mais.
-E onde eu deveria estar? – perguntou.
-Com a Natalie... planejando ter filhinhos juntos ou sei lá o quê.
Ele balançou a cabeça sendo atingindo pelas minhas palavras.
-Eu só estava tentando te provocar.
Olhei para ele pasma.
-Satisfeito agora? – a minha voz ainda era tremula.
Ele respirou fundo e deu uns passos se aproximando novamente.
-Eu não quis te magoar, mas você sumiu por duas semanas me ignorando. Como você acha que fiquei?
Passei as mãos nos olhos secando algumas lágrimas que escorriam. Ele caminhou dando mais alguns passos me puxando pelo braço para outro abraço carinhoso, seu cheiro me envolveu e dessa vez eu não chorei. Já tinha tomado a minha decisão.
-Eu estava tão bravo com você – ele sussurrou.
Abri um meio sorriso.
-Eu estava com raiva de mim também.
Ele olhou para mim balançando a cabeça.
-Só estava com raiva de você porque você ainda está tentando lutar por algo que você sabe que sente por mim.
Suspirei fundo levantando a cabeça para olha-lo.
-Não sei o que fazer, Jared, está tudo uma bagunça.
-Então se abra comigo, você precisa me deixar entrar! – disse me soltando e segurando meus braços, eu suspirei abraçando-o novamente. Era tão bom estar com nossos corpos conectados um ao outro dessa forma.
-Eu sei que você merece mais do que isso, Jared. Merece alguém que te ame da maneira que quer ser amado, não merece ser o segredo de ninguém. Merece filhos, uma esposa, um bom casamento, e no momento... no momento não posso te dar isso.
Você merece a chance de ter a família que sempre quis e eu estou aqui complicando as coisas, apenas.
Ele se afastou de mim franzindo a testa.
-Pare com isso agora. – ordenou com a voz firme – pare de me dizer o que eu mereço. E quanto ao o que você merece?
Sorri para ele, ele era tão bom que as vezes eu pensava que eu o tinha criado. Que eu tinha criado a noite que salvaria o meus dias.
-Eu não mereço você. – falei calma. Ele abriu a boca.
-Você merece ser feliz, e eu também e minha felicidade é você.
Não sei porquê mas ouvir aquilo me irritou, me afastei dele com raiva.
-Mas eu não sou a garota que você acha que sou. – gritei como se estivesse arrancando aquele peso de dentro de mim, ou pelo menos, metade dele. Ele me olhou perplexo. – Não sou a droga de uma garotinha meiga que merece o seu amor, você é bom demais para mim Jared.
-Você enlouqueceu? – passou a mão no queixo e depois se aproximou novamente segurando minhas mãos, os olhos desesperados e angustiados. – Tenho trinta e cinco anos, Margot e se aprendi uma coisa nessa vida é que ela é uma merda, uma merda. Má, incerta, triste e cruel. Passei por muita coisa para chegar aonde estou hoje, coisas que acabaram comigo, meu amor – toda vez que ele me chamava assim meu coração apertava mais – mesmo com Natalie eu estava sozinho, achando que deveria estar com ela para preencher um vazio mas aí você apareceu com esses olhos encantadores e trouxe luz para a minha escuridão. Mas parece que tem algo a mais, você nunca se abre para mim nunca me deixa entrar.
Fiquei estática depois de ser bombardeada por aquelas palavras que pareciam vir do fundo da alma dele. Eu estava começando me odiar por fazer aquilo com ele. Apertei os olhos sentindo o peso daquelas palavras e me aproximei colocando o indicador em seus lábios.
-Eu sou a pessoa mais egoísta e arrogante que alguém pode conhecer, tinha planos, ambições e certezas e aí eu te conheci e você me fez questionar tudo, você me fez se apaixonar novamente. Você não me trouxe luz, Jared, você é a minha luz.
Ele abriu um sorriso perfeito e riu, mas eu continuei séria.
Olhei para o chão e limpei a garganta. O que eu estava fazendo? Eu sabia que não podia dar mais esperanças a ele, falar aquelas coisas bonitas e depois vim com um balde de agua gelada mas senti uma necessidade de ser honesta com ele. Eu o estava confundindo. Mas eu não tinha aberto a porta para fazermos as pazes, estava com a cabeça naquilo que Angelina havia dito. E em Mark.
-Não podemos mais fazer isso, Jared. – sussurrei com medo, ele arregalou os olhos surpreso com minhas palavras.
-O que?
-Também vou me casar, lembra? – ergui a mão para ele mostrando a aliança. – não podemos mais nos ver.
Fiquei me perguntando se aquelas palavras o machucavam tanto quando estavam me machucando.
-E o que está fazendo, Margot? – disse se afastando de mim novamente – você abriu a porta para... para terminar comigo?
Eu não respondi, achei que se dissesse as palavras carregariam mais verdades do que eu estava disposta a admitir.
-Diga! – falou mais alto me assustando se aproximando novamente, segurou-me pelos ombros e me sacudiu – Diga! Diga que não quer ficar comigo.
-Jared – balbuciei fraca, comecei a ficar um pouco zonza. Eu estava fazendo aquilo com ele, estava partindo seu coração.
-Diga, Margot. Diga que não me quer mais. – a cada palavra meu coração doía, a cada lágrima tenho certeza que uma parte dele também doía.
Agarrei seus braços e o fiz parar de me sacudir, olhei em seus olhos e mordi os lábios.
-Eu te deixei entrar – confessei com a voz um pouco mais necessitada do que quis – você foi mais profundo, foi até onde ninguém nunca foi. E isso me apavora.
Ele parecia não entender.
-Passar o resto da vida com uma pessoa que você não ama não te assusta, mas o meu amor sim?
Ele parecia indignado com isso, mas ele não sabia, não tinha como entender.
Engoli em seco.
-Eu sinto muito mas ao menos com ele eu sei que não vou me queimar. – confessei meu medo baixo até para meus próprios ouvidos escutarem.
-Mas você me ama! – ele gritou trazendo a tona minhas lágrimas.
-Eu sei! – gritei de volta – eu sei! E eu odeio isso. Eu te odeio por me fazer sentir isso, por eu acordar de manhã e você ser meu primeiro pensamento. Te odeio por te amar demais!
Seus lábios tremeram.
Sequei as lágrimas, meu humor alternava de sensível a irritada, de melancólica a alegre e isso a alguns dias. E aquilo também estava acabando comigo, é isso o que o amor faz, nos torna patéticos.
-Eu sinto muito... – falei me aproximando dele e tentando abraça-lo para consola-lo o que era inútil, já que era eu quem estava o magoando. – eu te amo tanto.
-Não – ele se soltou de minhas mãos – você não pode fazer isso, não pode me dizer que me ama e depois acabar comigo.
Respirei fundo e olhei para o chão sem conseguir mais encara-lo.
-Nós acabamos aqui, Margot. – ele parecia convicto disso.
-Nós acabamos aqui. – concordei.
Ele choramingou antes de toda cor ser drenada de seu rosto, seu corpo tremeu por um momento enquanto ele balançava a cabeça, depois se virou em direção a porta e começou a se afastar.
-Vá para o inferno, Margot.
E assim ele fechou a porta atrás de si e eu desabei novamente porque não havia mais nada eu pudesse fazer além de chorar.
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A acompanhante (CONCLUÍDA)
Romance(+18) "Margot era uma acompanhante de luxo, mas não qualquer acompanhante. Era a garota mais requisitada e mais cara da agência. Após ter sido deixada pela mãe aos quinze anos para trabalhar como striper em uma boate qualquer na Califórnia e na busc...