Let Go

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Porque eu estou sozinha? Você me deixaria antes de eu perder a cabeça? Porque você mentiu e eu também, oh, você choraria, choraria se eu partisse essa noite?”

Um tempo para mim mesma. Era o que queria e o que eu estava buscando, por isso arrastei duas malas enormes de volta para o meu apartamento junto de Lizzy, por sorte ela ainda morava lá depois dos anos e manteve o meu quarto intacto.
-Você precisa de alguma coisa? – perguntou assim que soltei as malas no chão do quarto.
-Não, estou bem. – respondi tentando não demonstrar o turbilhão de emoções que eu estava sentindo naquele momento, naquele quarto onde vivi anos da minha vida sendo outra pessoa.
-Qualquer coisa estou do quarto ao lado, como sempre – ela disse animada saindo em seguida me deixando sozinha com meus pensamentos. Coloquei um lençol novo sobre a cama e logo me lancei sobre ela, abri meu celular para ver se havia alguma mensagem mas nada novo. Já era quase oito horas e meu coração doeu ao lembrar de Hannah, a coloquei para dormir antes de sair dando-lhe um forte beijo e dando instruções para Nelly que insistiu para vir comigo, mas como eu permitiria? Não tiraria da minha filha o conforto de viver na casa enorme em que vivia para morar comigo em um apartamento minúsculo, eu precisava de Nelly com ela, precisa que ela cuidasse de Hannah enquanto eu estava tentando colocar minha cabeça no lugar.
Sem querer chorei, chorei muito. Eu sentia que já estava acabando com meu deposito de lágrimas, e se mesmo que ele acabasse, eu choraria a seco. Sentia como se estivesse morrendo. Me sentia um posso sem fundo e vazio. Eu não sabia se minha vida estava parada ou desmoronando, e ali na minha cama a sensação era de que eu nunca ia sair do fundo desse poço, minha vida parecia uma montanha russa de tristeza, eu era o sinônimo da tristeza. Eu me degradava cada vez mais e mais, que loucura. Sim, eu estava me autodestruindo, não pense só nas drogas e no álcool, pois era uma autodestruição mental. O nada estava fazendo mais sentindo na minha vida do que qualquer outra coisa, comecei a me sentir meio pacata em relação a tudo o que estava acontecendo a minha volta, como se a vida estivesse rindo de mim e eu só me sentei como se não me importasse mais. Depois de um certo tempo, eu parei de chorar, não queria ter que me acostumar com aquela situação triste e melancólica, ou eu iria acabar como uma dessas pessoas suicidas que se jogam de uma ponte qualquer, ou simplesmente me entupindo de remédios. Isso não me assustou, parecia reconfortante acabar com tudo aquilo. Mas eu seria a cópia fiel da minha genitora se eu abandonasse a minha filha. Antes de adormecer eu quis ligar para ele. A voz dele por anos foi a última que eu ouvi antes de dormir e eu não tinha ideia de como iria sentir falta daquilo. Eu pensei em ligar e perguntar do porquê eu estava sozinha, e se ele iria me deixar sozinha antes que eu perdesse minha cabeça ou se ele choraria se eu realmente partisse.
Mas eu não consegui dormir, eu havia esquecido como era conviver com Lizzy. Um show de festas noite após noite. Por um tempo eu havia me esquecido como ainda éramos jovens e um tanto despreocupadas com a vida, elas mais do que eu. Eu passei tanto tempo trabalhando, sendo a mãe perfeita, a mulher perfeita, a presidente perfeita, tudo perfeita que acabei esquecendo como era sentar na sala e fumar maconha sem me preocupar com o resto do mundo. Tentei dormir virando de um lado para o outro, mas as risadas vindas da sala me impediram.
-Ah, Mag, acordamos você? – Lizzy disse soltando a fumaça do cigarro, ela estava sentada usando um vestido curto no colo de Jax, respirei fundo abrindo mais a janela para toda aquela fumaça sair.
-Não, na verdade nem consegui pregar os olhos – respondi adentrando mais a sala e me sentando entre eles. Jax e Lizzy não estavam sozinhos, Opie, Filip, Tara, Clay e Gemma também estavam ali fumando maconha e bebendo Whisky. Eles eram um motoclube que Lizzy havia conhecido em uma das visitas deles ao meu clube, eu sabia o que eles faziam: tráfico de armas e drogas. Jax era o presidente do clube e o mais longo namorado de Lizzy. Eu não me importava muito com o que eles faziam da vida deles desde que mantê-se aquelas merdas longe das minhas merdas. De certa forma, eu acho que sempre tive um imã para pessoas fodidas, talvez eu fosse tão fodida que sempre seria assim. Me sentei entre eles pegando o cigarro de maconha da mão de Opie e levando aos lábios, ao menos aquilo iria me fazer relaxar, foi o que pensei mas não era verdade.
A noite se estendeu com risadas e conversas, armas e drogas. E por mais que tudo aquilo fosse errado, era o tipo de lugar que eu não me sentia deslocada. E no meio da noite Tara que estava bêbada se aproximou de mim tremendo.
-Você está bem? – perguntei mas seus olhos me provaram que não. Segurei sua mão apertando-a forte então percebi as marcas no seu braço e entendi o que estava acontecendo. A levei até o meu banheiro e ela me mostrou a seringa já contendo a droga.
-É nova, mas Opie não pode saber que estou usando. – ela disse – eu prometi a ele que iria parar mas simplesmente não dá.
Falou rápido demais.
-Ele não pode saber. – sussurrou mas foi inútil, pois ele abriu a porta como se soubesse exatamente o que sua namorada estava fazendo.
-Que droga, Tara! – gritou – de novo essas merdas!
-Opie, eu... – ela tentou dizer alguma coisa mas ele simplesmente a pegou pelo braço a arrastando porta a fora, claramente irritado com o vício da garota. Eu não pude tomar nenhuma atitude sobre aquilo, apenas balancei os ombros, cada um com suas próprias merdas para resolver. Então ia saindo de volta a nossa pequena festinha quando vi que Tara havia deixado a seringa li, virei novamente para a porta afim de sair mas algo me parou. Sair? Para onde? Meu mundinho medíocre cheio de pessoas que querem de ferrar? Por que eu mesma estava tentando ficar bem para pessoas que só estavam acabando comigo? Dei um passo de volta para o banheiro e segurei aquela seringa pequena e fina, encarei alguns segundos o conteúdo amarelado e tão atraente que não pude resistir, eu não queria resistir. Coloquei uma fita de cabelo ao redor do braço e quando minha veia estava nítida, apliquei como lembrava que se fazia. A picada não me incomodou, nada me incomodou. Voltei para o quarto e tombei na minha cama esperando pela aquela sensação da morfina correndo pelas minhas veias fazendo todo o meu mundo se dissipar, deixando somente aquela sensação de prazer e anestesia que eu simplesmente não conseguia resistir. Caminhei ate minha cama um tanto desnorteada sentindo todo o meu copo aos poucos ficando cada vez mais dormente, e não vi quando adormeci.
No dia seguinte fui para agencia resolver algumas coisas, na reunião discutíamos sobre como a nosso lucro estava ficando cada vez mais baixo sendo que as contratações estavam cada vez mais aumentado, eu deveria estar preocupada com isso mas na verdade estava com a cabeça em outra idéia.
-Vamos fazer um leilão! – anunciei interrompendo a discussão delas – ao invés de contratarmos mais garotas, vamos atrair mais clientes!
-Adorei a idéia, não teria pensado nisso  - Lila disse.
-É por isso que eu sou a chefe aqui – falei arrogante tomando um gole de meu café. No final da tarde dirigi de volta para o meu apartamento um tanto desgastada por ter ficado mais tempo no trabalho do que as garotas mas eu precisava me distrair um pouco porém acabei me surpreendendo assim que abri minha porta do meu apartamento e dei de cara com Jared no meu sofá junto de Lizzy conversando e rindo, ela sempre fazia qualquer homem sorrir.
-Como nos velhos tempos  – ela disse assim que entrei e revirei os olhos  - acho que é a minha deixa.
Não falei nada ate ela sair para seu quarto.
-O que você esta fazendo aqui? – perguntei batendo a porta
-Eu vim ver você. – falou calmo.
-Não quero visitas.
Ele revirou os olhos se levantando.
-Não pode querer fugir de mim para sempre, estamos casados! – se aproximou falando firme e eu revirei os olhos novamente, tinha perdido a conta de quantas vezes havia feito aquilo naquele dia.
-Oh, agora você se lembra que somos casados? – provoquei, retirei minha bolsa e caminhei ate a cozinha afim de comer alguma coisa mas como sempre nada saudável. Lizzy ainda vivia como ah três anos atrás. Eu havia me esquecido que o tempo parecia ter afetado mais a mim do que elas. Jared encostou na porta da cozinha e ficou me observando, me deixando nervosa, os olhos dele sobre mim sempre me causaram esse efeito.
Então eu senti um incomodo no braço algo que eu não havia reparado o dia todo era no hematoma roxo esverdeado em meu braço resultado de alguma veia estourada na noite anterior pela minha falta de pratica ao injetar heroina naquela região. Tentei não olhar muito para o meu braço para não chamar atenção, porém já era tarde demais, como um touro ele atravessou a cozinha puxando meu braço analisando aquela área claramente confuso.
Puxei o braço, mas ele o segurou.
-Jared... – falei tentando pensar em alguma coisa, mas não conseguiria mentir para ele, não quando os olhos dele fitaram nos meus me paralisando tão nitidamente decepcionado e irritado.
-Como você pôde? – foi o que ele perguntou me quebrando ao meio.
-E... – comecei a falar inutilmente
-Como você pode querer voltar para essas merdas depois de tudo o que aconteceu, Margot? – esbravejou finalmente soltando meu braço e passando a mão na cabeça – você pensou em Hannah? Acha que é justo para sua filha de quatro anos de idade ter que ver sua mãe se afundando assim?
Droga! Ele poderia ter pegado mais leve.
-Você pensou em mim? Quer que eu te veja afundar novamente nisso sem fazer nada? Quer que eu te assista morrer assim? – ele gesticulava e apontava para o próprio peito me deixando ainda mais sem palavras. Mas o que eu podia dizer? Apoiei-me na pia da cozinha sentindo lagrimas nos olhos e a vergonha por ser tão fraca tomar conta de mim. Ele limpou o lábio com a língua em um sinal claro de que estava extremamente puto comigo.
-Desde quando isso? – ele quis saber.
-Desde aquela noite com Bradley... – confessei como uma adolescente envergonhada. Ele simplesmente parou com as mãos na cintura me olhando furioso. – não me olha assim, Jared! Como se eu tivesse algum defeito.
-E como eu deveria te olhar? – falou friamente e eu não agüentei deixando as lágrimas descerem uma de cada vez pela minha bochecha. Como ele deveria me olhar se nem eu mesma conseguia me encarar diante de um espelho?
-Você está me olhando como se eu fosse doente, como se toda essa dor fosse inexistente! Você não sabe, não entende – fechei os olhos alguns segundos pensando em todos os calmantes e antidepressivos que eu estava tomando que já não faziam mais efeitos, comecei a pensar que era loucura estar ali presente.
-Não entendo realmente – confirmou – não consigo entender porque você insiste em querer voltar para isso... Só que não posso deixar Hannah te ver assim.
-O que você quer dizer? – perguntei assustada. Ele olhou para os lados como se não pudesse me encarar mas depois seu olhar encontrou novamente com o meu.
-Enquanto você estiver usando essas merdas, vou tomar medidas para manter Hannah longe de você.
As palavras dele me acertaram como um golpe no estomago.
-Você não pode fazer isso comigo! – falei segurando sua camiseta para que ele não se afastasse de mim – você está me pressionando!
-Ah não se faça de vítima, Margot porque isso não combina com você. – ele disse puxando a camisa e se afastando – a escolha é sua, ou você larga essas merdas e volta para casa ou eu vou dar um jeito de restringir a sua presença na vida de Hannah!
Eu fiquei olhando para ele para saber se aquilo era sério mesmo, se ele não estava apenas me testando mas os olhos azuis e firmes de meu marido ficaram sobre mim o tempo todo sérios, me fazendo se sentir pequena sem saber direito o que pensar sobe aquilo mas quando se tratava de Hannah eu não podia colocar meu orgulho acima dela.
-Tudo bem – falei por fim – ainda não posso voltar para casa mas vou largar as drogas e as bebidas novamente por Hannah.
Ele contorceu os lábios irritado quando falei que não voltaria para casa.
-Você tem que voltar para sua casa! – esbravejou
-Que casa? A sua casa?  - dei ênfase – não consigo! Você não enxerga nada, Jared, nada!
Ele franziu o cenho sem entender o que eu quis dizer e senti que já era a hora de colocar aquilo para fora, era fácil todos eles acharem que eu gostava de me drogar e era difícil para mim parecer fraca ou agir como uma vitima diante dele.
-O que você quer dizer?
-Você me acha forte, Jared? Acha que eu uso toda essa merda por que eu tenho orgulho disso? Acha que eu gosto de ver minha filha preocupada comigo? As vezes eu me sinto tão sozinha, e eu já passei por isso antes. Eu estive sóbria durante a porra de três anos e agora simplesmente não consigo evitar cheirar um pouquinho de manhã antes do café, ou um copo de Whisky antes de dormir, e não é só porque minha mãe tentou me matar e roubar minha filha mas porque todas as vezes que eu fecho meus olhos a única imagem que passa na minha cabeça é do homem que eu amo com outra mulher!
Ele ficou estático por alguns segundos quando eu joguei aquilo nele, por um tempo nem eu mesma soube mas ali diante dele eu entendi perfeitamente o que estava me matando.
Respirei fundo.
-Quando Bradley morreu eu estava tão fraca que achei que precisava de você por perto para conseguir superar a dor, quando você foi baleado o pensamento de nunca mais ver você vivo me deixou apavorada. – falei baixo tentando conter a emoção em minha voz – mas toda essa mentira agora esta me matando, não posso simplesmente viver assistindo você ser pai de uma criança de uma mulher que eu simplesmente odeio.
Nossos olhares permaneceram fixos um no outro por um tempo, eu queria saber o que ele estava pensando mas não precisava adivinhar, em seus olhos eu conseguia ver o quão perturbado ele estava com aquelas palavras ou confuso, sabia que era crueldade despejar todas aquelas coisas de uma vez em cima dele mas simplesmente não podia carregar todo aquele peso sozinha, ele tinha que saber! Ele devia saber que ele também me feriu.
-O que você está querendo dizer, Margot? – se aproximou e eu me afastei porque toda vez que ele chegava perto eu enfraquecia, perdia a razão. Eu amava aquele homem, Deus, como eu o amava, mas aquele amor estava me sufocando. – Diga!
Insistiu e eu desviei nossos olhares porque simplesmente não conseguia encará-lo.
-Você quer se separar de mim quer me deixar? – falou e eu continuei com a cabeça abaixada sem conseguir me mover, fungando como uma criança que tenta ao Maximo controlar as inevitáveis lagrima. – diga!
Apertei meus olhos com força, eu queria conseguir dizer queria poder falar mas não conseguia, as palavras ficaram presas na minha garganta me sufocando.
-Eu só...  – tentei dizer – eu vou deixar as drogas por Hannah, mas não vou voltar para casa! – afirmei.
Ele balançou a cabeça.
-Você não pode fazer isso comigo! – falou ele finalmente me tirando toda tristeza para dar lugar a raiva, fazer isso com ele? Ele não tinha escutado toda aquela merda que eu falei? O fuzilei com os olhos, e o empurrei com as mãos em seu peito.
-Fazer isso com você? – gritei já alterada – porra! Você não escutou nada do que eu disse, nada! Nem sobre eu ir embora!
Seus olhos azuis ficaram parados sobre mim, sobre essa louca que eu estava parecendo.
-Margot... – tentou corrigir o que tinha dito mas era tarde demais.
-Vá! – gritei novamente mesmo sem ter certeza se eu queria que ele fosse. E então ele se virou, me dando as costas e partindo da minha cozinha, eu encostei na pia e me sentei no chão chorando como uma idiota fracassada, quando eu me tornei isso? Quando eu me tornei esse tipo de mulher? Tão fraca, tão perdida. As coisas não podiam ficar assim, não iriam ficar assim.

A acompanhante (CONCLUÍDA) Onde histórias criam vida. Descubra agora