you make me wanna die

511 42 3
                                    

“Você me faz querer morrer todas as vezes que olho em seus olhos

-O que? – eu abri a porta com força porque eu queria entender aquilo melhor, alias eu queria ter entendido errado o que ela disse mas eu tinha entendido perfeitamente. – O que você disse, Lila?
Ela cruzou os braços e olhou para Marina como se estivesse aguardando permissão para falar
-Esquece isso, Mag. – disse Marina se aproximando. – Isso é passado.
-Lila! – gritei assustando-as 
-Ok! – ela falou – umas semanas depois que eu entrei na agência eu escutei Daniel e Angelina conversando e eles falaram que foi um plano de mestre ter feito aquilo porque você estava sendo a galinha dos ovos de ouro. Todos os clientes te queriam, e você estava tão empenhada em crescer que não percebeu que estava saindo com quase cinco homens por semana. – ela falou tão naturalmente mas por que eu senti algo estranho no jeito que ela dizia aquilo?
A minha cabeça rodou, meu estomago embrulhou, e minha garganta deu um nó. Eu comecei a suar frio. Eu estava relembrando daquela noite.
Quando me senti tão exposta, tão humilhada. Invadida, meu próprio corpo não era seguro para mim, não era mais meu corpo, era uma casca nojenta que tinha sido usada. Eu estava sentindo nojo e desgosto do meu próprio corpo.
A minha respiração começou a falhar, o coração palpitar. Apenas joguei as minhas coisas no chão e saí correndo dali como se eu estivesse tentando fugir do passado. Entrei em meu carro, queria ir para um lugar tranquilo. Minha cabeça parecia uma montanha russa de lembranças que eu estava revivendo tudo de uma vez. Desde o princípio da minha dor. Eu lembrei da minha mãe me deixando, da primeira vez que eu dancei em um palco de stripper, da minha transa por cem dólares. Da segunda por apenas cinquenta porque nós precisávamos de cocaína e de tatuagens, muitas tatuagens pelo corpo todo... até isso me ocorreu, sentir falta dele depois de tantos anos. Me lembrei da minha primeira vez como acompanhante, me lembrei de Jared e como eu o amava, Deus, como eu o amava.
Parei o carro próximo a uma ponte.
Ela não era tão alta mas o suficiente para que eu pudesse me debruçar sobre ela para sentir o vento e tentar respirar. Eu precisava mais do que nunca de ar.
Enquanto eu sentia o ar sobre mim desabei a chorar novamente, que droga. Como era horrível lembrar daquela merda toda.
Eu me debrucei novamente sobre a ponte, o rio abaixo estava calmo apesar do vento então eu senti uma pontada na minha barriga... com o susto parei de chorar e levei minha mão até a barriga curiosa. E novamente outra pontada com força, mas não era pontadas... era meu bebê chutando. Ele estava me chutando! Era como se ele dissesse pra mim que estava ali comigo, como se ele estivesse sentindo a minha dor. Eu sorri em meio lágrimas passando a mão mais forte na minha barriga, como aquilo era gostoso. Era como se fossemos um só coração. Senti algo que era difícil de explicar e mais ainda difícil de compreender, de repente senti que havia um motivo especial para estar viva.
De alguma forma sentir o bebe chutando minha barriga, sentir ele se movendo dentro de mim despertou algo diferente. Todas as lembranças ruins eram isso: lembranças. Estava na hora de um recomeço e eu soube que eu poderia fazer as coisas diferentes por mim... e pelo meu filho.
Voltei para o meu carro, pois precisava voltar para a agencia já que eu tinha saído como uma maluca de lá mas antes eu quis desesperadamente passar em outro lugar, o início de tudo aquilo. Eu estava me sentindo um pouco melhor mas o desespero ainda gritava dentro de mim e algumas vozes na minha cabeça me fazia enlouquecer... Você é suja... suja! E ainda quer ter esse filho que vai te odiar, odiar ter uma mãe prostituta. Prostituta! É isso que você é.
As vozes, que eu nunca tinha ouvido antes gritavam dentro da minha cabeça dissipando a tranquilidade momentânea que eu sentia. Levei uma mão na cabeça tentando inutilmente fazer essas vozes se calarem mas parecia que elas estavam por toda parte.
Suja! Suja! Suja!
Gritava mais e mais alto.
-Cala a boca! – eu gritei como se estivesse falando com alguém, mas não tinha ninguém ali. Era apenas eu e as vozes, as vozes que estavam por todo lado e ao mesmo tempo dentro da minha cabeça. Apertei o volante e acelerei mais o carro como se resolvesse algo, como se fosse a solução para fugir daquela voz irritante.
Fui passar pela encruzilhada ainda a toda velocidade e não notei que o farol estava fechado para mim, estava tão empenhada em fugir das vozes que atravessei o farole foi questão de segundos quando ouvi uma buzina muito alta, com o susto olhei para o lado esquerdo, um carro vinha a toda velocidade para cima de mim e eu quis acelerar mais o carro, mas por algum motivo eu  desacelerei enquanto encarava os faróis se aproximando ficando cada vez maior... mais forte e mais perto.

Jared

Eu estava sentado na poltrona pensativo, pensando em tudo. Me questionando. Como eu sendo quem sou me submeto a casar em uma igreja diante de diversas pessoas com alguém que eu não amo? E Margot... ela não mereceu isso. Nenhuma das duas mereceram isso, mas eu acreditei fielmente que Natalie iria se cansar depois de saber a verdade mas sua mãe é como um parasita comendo o cérebro dela. A minha raiva era tão forte percorrendo todo o meu corpo que o copo de uísque que estava em minha mão acabou se encontrando com a parede com força, porque eu queria descontar minha raiva em algo! Em alguém!
-Hey, é assim que recebe o padrinho? – Shannon entrou logo em seguida dando risada. Eu olhei para ele sério, ele parou de sorrir instantaneamente.
-Jared... está na hora, ah meu Deus! Você está vermelho – minha mãe entrou em seguida comentando sobre meu estado. Aquela roupa estava quente. – está tudo bem? Está nervoso? Não precisa ficar, filho.
Ela disse como se não soubesse o motivo de eu estar assim. Me sentia um escravo, um escravo amarrado tendo que pagar uma dívida que não era minha.
-Jared está na hora. – Elena e suas filhas também entraram animadas e ansiosas. Parece que todos foram me buscar. Cara apareceu atrás delas com uma cara de espanto, parecia que tinha corrido uma maratona, ela não iria no casamento por tanto a presença dela ali daquela forma me deixou extremamente preocupado mas antes que eu pudesse dizer alguma coisa meu telefone tocou em meu bolso, pareceu que Cara parou de respirar.
Era Marina.
-Marina? – atendi curioso diante dos olhares de reprovação.
-Jared onde você está? – ela perguntou desesperada. Sua voz emanava preocupação e desespero
-Na igreja, por que? – perguntei.
-É a Margot! – ela falou – ela... ela... ai meu Deus Jared.
Ela começou gaguejar desesperada fazendo meu coração acelerar.
-O que foi? – falei firme.
Ela estava chorando.
-Houve um acidente... Eu estou no hospital mas eu... ninguém me fala nada... eu não sei o que fazer, eu preciso que você venha agora, ela foi levada para uma cirurgia e ninguém me diz absolutamente nada!
Ela disparou, eu paralisei, foi como se o mundo todo tivesse parado de girar. Apenas me virei para Cara que tinha o mesmo olhar de preocupação e desespero. Por um segundo me perguntei se aquilo não fazia parte de algum jogo dela... mas não, Margot não faria isso, ela estava diferente, diferente de quando a conheci.
-Jared, o casamento! Está na hora. – disse Elena.
-Jared, por favor. – suplicou Marina no outro lado da linha. Eu mordi o lábio inferior sem saber o que fazer. Mas eu não iria me perdoar nunca se algo acontecesse com Mag e eu não estivesse ao seu lado.
-Onde você esta? – perguntei – estou a caminho. – falei desligando, todos me olhavam confusos e curiosos. – me desculpe, mãe. – falei passando por elas enquanto elas me chamavam, corri até meu carro com Cara e Shannon no meu encalce. Dirigi sem respeitar as leis de trânsito, eu não conseguia pensar em mais nada além de Margot e meu filho.
Assim que chegamos no hospital corri diretamente para a recepção, Marina estava lá.
-Onde ela está? Cadê ela? – perguntei com o peito subindo e descendo.
-Está em cirurgia. Eu não sei mais nada. Eles simplesmente levaram ela e disse que voltariam para dar notícias. – ela disparou, estava tremendo, extremamente assustada. Eu fechei os olhos por alguns segundos tentando me acalmar e pensar com clareza.
Corri até a recepcionista.
-Eu quero notícias sobre uma paciente. – falei. Ela me olhou com tédio.
-Qual o nome? – perguntou.
-Margot Robbie. – respondi, ela suspirou e começou digitar. Depois olhou para mim novamente – está em cirurgia. – respondeu com a voz também tediosa.
-Eu sei que ela está em cirurgia, eu quero saber se ela está bem! – falei ficando cada vez mais irritado. Ela deu uma pequena revirada nos olhos e respirou fundo antes de falar.
-Se ela está em cirurgia ainda, significa que está bem. Se caso acontecer alguma coisa um dos médicos vem imediatamente avisar a família. – ela falou como se eu estivesse importunando seu precioso tempo. Era um hospital horrível, pequeno, meu Deus, era do outro lado da cidade. Onde Margot estava pensando em ir? Voltei para perto de Marina, Shannon e Cara.
-O que aconteceu? Como aconteceu? Por que ela estaria nessa cidade? – perguntei confuso. Marina balançava a perna e pareceu pensar um pouco antes de me responder.
-Nós crescemos aqui. – ela disse por fim parecendo pensar detalhadamente antes de falarem breves pausas e longos suspiros – há uns dez quarteirões fica a boate onde nós crescemos.
-E o que ela estaria fazendo aqui? Se ela me disse que não gosta desse lugar. – perguntei ficando cada vez mais confuso. Aquela história não tinha pé nem cabeça.
Marina apertou os olhos e assim que os abriu olhou para cima respirando profundamente. Ela estava muito tensa. Depois me olhou diretamente nos olhos
-Eu não gosto de você – ela falou firme – mas a Margot te ama, e ela precisa de você. E a única forma de você poder ajudar ela é sabendo a verdade e o único motivo de eu saber que devo te contar é porque você está de terno e está aqui. Eu sei que você deveria estar se casando.
Ela falou um pouco rápido mas firme. Ela tinha seus motivos para não gostar de mim já que Margot e eu passamos por grandes problemas mas isso não importava, eu queria saber do que ela estava falando.
-Um pouco antes de sair ela descobriu uma coisa sobre sua vida, descobriu que Angelina e Daniel mandaram um homem estuprar ela. Ela saiu correndo e sumiu por quase duas horas. Ela estava destruída, quando ela chegou na agência nitidamente não estava bem e piorou depois do que ouviu. – ela respirou – Ela é uma ótima motorista Jared, ela dirige muito bem! Então por que o carro dela estava parado no meio de uma encruzilhada? O carro morreu? Eu duvido muito!
-Eu não estou entendendo. Você está sugerindo... – Cara tentou dizer alguma coisa mas sua voz vacilou.
-Sim, Cara. – Marina disse a interrompendo – Eu não sei se você sabe mas ela precisa de ajuda.
Marina me olhou e ficou alguns segundos calada provavelmente ainda se perguntando se deveria me contar. Eu queria saber mas sentia que não estava totalmente preparado, seja lá o que fosse.
-Ela é viciada em cocaína. – ela falou rápido demais, e eu senti como se alguma coisa forte atravessasse o meu corpo. Ela era o que?
-O que? – foi o que eu consegui pronunciar.
-Viciada Jared. Por que você acha que ela não quer ter esse filho? Por sua causa? Óbvio que não. É por isso que ela veio para cá, porque é aqui que ela consegue essas merdas. Só que desta vez eu acho que ela realmente estava se sentindo mal.
Eu não estava entendendo o que ela queria dizer com “se sentindo mal". Ela estava triste? Estava passando mal? Shannon e eu nos entreolhamos. Cara revirou os olhos.
-Ela tentou se matar, Jared, pelo amor de Deus. – ela disse levantando as mãos. E eu senti como se tivesse levado um tapa na cara. Como assim tentado se matar? A Margot nunca faria isso, ela era uma mulher forte, independente, e estava grávida. A não ser que a culpa por algo a tenha feito tomar essa decisão mas não, ela nunca usaria drogas com meu filho dentro da barriga dela. Ela não faria isso!
Fui interrompido dos meus pensamentos quando a médica finalmente apareceu, nós quatro rapidamente a encurralamos enchendo-a de perguntas.
-Calma, eu vou responder tudo que quiserem saber, mas no momento é importante saberem que ela está estável teve uma pequena hemorragia interna mas já paramos o sangramento, ela vai se recuperar. – ela disse mas sua voz ainda não era de alívio – o que nos preocupa é o bebê. Ele está um pouco frágil, vamos ficar monitorando de perto para que não ocorra mais nenhuma emergência.
-Mas ele vai ficar bem, não é? – perguntou Cara.
-Vamos acompanha-lo – ela disse – ele não é tão forte quanto um feto do tempo dele deve ser, a mãe não está forte o suficiente.
Ela falou como se estivesse dando uma bronca em nós.
-Quem é o pai? – ela perguntou.
-Sou eu – respondi.
-Sr. Robbie... – ela disse
-É Leto, Jared Leto. Nós não somos casados. - corrigi-a.
-Ah sim! Eu não posso te passar muitas informações sobre minha paciente nesse caso, mas posso falar do bebê.
-A Margot tem se cuidado bastante, ela faz todo acompanhamento médico da gravidez, nós sabemos que o bebê ainda é frágil e é por isso que estamos preocupados. Mas se alguma coisa acontecer, eu quero que você salve ela. – eu falei rapidamente sem pensar duas vezes, eles ficaram me olhando espantados mas eu não suportaria a ideia dela morrer.
Conversamos com a médica por mais alguns minutos até que ela nos levou até o quarto dela. Eu achei que não iria suportar ver ela daquela forma. Machucada, pálida. Ela realmente precisava de nós com ela ali. Minha Margot, estava tão frágil.
Eu deveria sentir raiva por descobrir que ela nunca tinha me contado sobre seus vícios, eu poderia ter ajudado. Mas como sentir raiva de uma menina de vinte e dois anos que foi abandonada logo cedo? Que aos quinze foi obrigada a tentar sobreviver sozinha?
Era impossível sentir qualquer tipo de raiva dela, olhando-a ali daquela forma era como não ver mais uma mulher que ela tanto tentava demonstrar que era. Mas uma menina, uma garota que por mais que tivesse vinte e dois anos, estava perdida.
De repente o medo e o desespero tomaram conta de mim, eu não podia suportar perde-la. Eu a amei desde o início e a amava cada vez mais. Se eu a perdesse, acho que iria a loucura.
Mas ela me parecia tão frágil, tão.. sozinha. Eu também tinha a deixado.
Segurei sua mão sentindo as lágrimas escorrerem.
-Ela vai se recuperar. – A Médica disse.
-Quanto tempo eu posso transferi-la? – perguntei. Ela não entendeu o que eu quis dizer mas eu queria ela no melhor hospital, com a melhor equipe.
-Desculpe mas ela está bem o que nos preocupa é a criança. – ela respondeu.
-Doutora, eu não entendo muito disso mas será que você não pode chamar um psiquiatra? – Marina disse, eu olhei para ela buscando entender o que ela queria com aquilo.
-É que eu desconfio que isso seja uma tentativa de suicídio e não um acidente. – ela falou pausadamente como se estivesse desconfiando do que ela mesmo estava falando. Parecia loucura mas depois do que ela havia me dito, eu tinha que concordar com Marina. A médica por outro lado também ficou preocupada e imediatamente solicitou um psiquiatra para o caso de Margot, agora era esperar ela acordar.

A acompanhante (CONCLUÍDA) Onde histórias criam vida. Descubra agora