Love me two times

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“Me ame duas vezes, eu estou indo embora"

Pequenos quadradinhos deixavam as paredes do banheiro de Lila mais bonito, e fui tudo o que vi a princípio quando abri os olhos, ou os abri pela metade. Meu braço estava dormente e eu só percebi isso quando notei que havia dormido com a minha cabeça apoiada nele, protegendo-a da borda de cerâmica da banheira de Lila.
-Aqui está a minha garota – e por falar nela, a sua voz soou alta demais para a minha cabeça dolorida.
-Ah meu Deus! – murmurei levantando a cabeça, meu pescoço doeu com o movimento. Mexi meu braço com dificuldade e enquanto o mexia, o leve movimento de cotovelo o fez doer. Quanto tempo eu apaguei?
-Acho que foi uma noite longa, Margot. – Marina disse e eu finalmente abri um dos olhos em direção a elas, ou eles. Jared, Lila, Marina, Shannon e Cara me encaravam como se eu fosse uma louca. Talvez eu estivesse parecendo. Cocei meus olhos ardidos pela luz clara do banheiro.
-Ah não faça isso, só vai piorar a situação. – Cara falou – você está lixo.
Dei de ombros.
-Claro que ela está, ela acabou com meu estoque de vodca! Querida, você me deve quase trezentos dólares. – Lila resmungou e eu apenas ergui o dedo do meio para ela.
-Era uma festa – murmurei tentando soar divertida, mas a expressão de Jared me quebrava ao meio. Irritado demais para ficar quieto, culpado demais para gritar comigo. Levei a mão a cabeça rapidamente sentindo-a latejar. Alguns flashes da noite anterior passaram pela minha cabeça, a maior parte deles me fez se sentir envergonhada pela forma que me comportei mas o que eu poderia ter feito? Eu simplesmente não conseguia lidar com aquelas merdas na minha cabeça o tempo todo.
-Vamos para a casa – ele finalmente disse se aproximando e abaixando-se na minha frente, eu o encarei ainda um tanto debochada. Porque eu simplesmente não conseguia parar, não conseguia parar de castiga-lo, não conseguia parar de agir como uma vadia. – você está bem? – perguntou.
E então foi que eu senti tudo subir rapidamente pelo meu esôfago, me virei e coloquei alguma coisa avermelhada para fora. Ele segurou minha cabeça me apoiando. Passei a língua nos lábios sentindo o gosto ruim na boca.
-Melhor agora – debochei me apoiando novamente na parede atrás de mim, estava fraca demais para fazer qualquer movimento sem sentir que meus órgãos iriam subir pela minha garganta. – Não quero ir para nenhum lugar com você. – falei firme e todos nos encaravam, ele apenas reprimiu os lábios antes de falar.
-Não estou te perguntando, estou afirmando. Vamos para casa! – disse firme e eu balancei os ombros como uma criança.
-Vai ter que me carregar – respondi rindo, ele bufou.
-Isso é sério? Você está bêbada? – Cara disse descrente, mas eu não estava, era apenas o meu eu sendo uma vadia para poder fingir que não estava mal a ponto de sentar por horas na cama e chorar feito um bebe.
-Bêbada ou não, você vem para casa comigo. – Jared afirmou pegando levemente meu braço e depois me erguendo nos seus. Eu estava brava demais com ele, mas mesmo assim adorei a sensação de ser carregada nos seus braços fortes escada a baixo da casa de Lila, se é que poderíamos chamar aquilo de casa. Tudo estava uma bagunça. – e vai tomar um belo banho porque está precisando.
Eu dei risada aninhada em seu peito e acabei apagando novamente no carro, no colo de Marina que acariciava meus cabelos. Ela sabia o motivo de eu estar daquela forma, ela não era como Lila que apenas queria que eu bebesse e me divertisse mesmo que o mundo estivesse desabando, Marina sabia que eu precisava ser melhor do que isso mas eu simplesmente não conseguia. Mas assim que chegamos em casa, Jared quis me levar escada acima novamente mas não permiti. Ainda estava cedo, era apenas cinco e meia da manhã então capotei novamente dessa vez na minha grande e confortável cama.
Assim que acordei, os dez primeiros segundos da minha vida foram perfeitos até eu começar a lembrar de tudo, de todas as coisas que estavam acontecendo e aquilo me fazer querer afundar naquela cama até desaparecer em um buraco negro eterno.
-Sua idiota – murmurei para mim mesma enquanto a dor de cabeça ainda latejava forte. A minha porta foi aberta por Nelly que caminhou até mim com uma bandeja grande.
-Eu imaginei que estivesse dormindo – ela disse adentrando – trouxe um remédio para sua dor de cabeça e seu café da manhã.
-Que horas são? – perguntei.
-Apenas oito e meia. – ela respondeu me dando o remédio que rapidamente eu engoli. – Jared saiu para resolver alguma coisa e me informou que talvez a senhora estivesse se sentindo indisposta essa manhã, então fiz seu café.
Olhei para a bandeja e sorri, Nelly era meu anjo.
-Não precisava, Nelly – respondi agradecida – se bem que eu estou morrendo de fome mas acho que preciso de um banho.
E a porta abriu escancaradamente dessa vez por uma garotinha de cabelos escuros que correu até minha cama pulando.
-Mamãe, vamos ao shopping! – gritou pulando. A abracei a derrubando-a na cama retirando-lhe gargalhadas.
-Você quer ir ao shopping? – perguntei e ela sorriu.
-Sim. – disse – você prometeu que iriamos hoje. Hoje é sábado. – ela disse alegre e eu me relembrei de ter prometido a ela isso durante a semana toda. Não poderia decepciona-la.
-Ok, Nelly irá arrumar você e eu vou tomar banho. Vamos daqui a uma hora. – falei e olhos azuis quase saltaram pulando da minha cama segurando a mão de Nelly.
-Vamos, Nell – disse a puxando – vamos rápido.
E Hannah a puxou porta a fora do meu quarto ansiosa, e as duas saíram as gargalhadas. Me levantei e também tratei de me arrumar mas como ainda estava me sentindo indisposta graças a noite anterior, cheirei três carreiras de coca para poder aguentar aquele dia, Hannah era muito elétrica e eu podia chama-la de miss adrenalina porque eu nunca conseguia acompanhar sua energia. Nós fomos para o shopping, e tivemos uma manhã e tarde inteira juntas.
Fomos a um spa, eu precisava ridiculamente cuidar de meus cabelos, unhas, e meu corpo no geral e estava ensinando a minha filha o mesmo. Ela era tratada como uma princesa já que todos ali já nos conheciam e após o sequestro todos passaram a paparicar ela três vezes mais. Depois fomos ao shopping, ela brincou, comeu e me fez gastar mais de mil e quinhentos dólares em brinquedos, o que não era problema nenhum para mim, pois gastei muito mais em roupas e sapatos para nós duas. Nós chegamos em casa pelas seis horas com dois guardas atrás de nós carregando as sacolas e caixas que trouxemos exageradamente e meu dia com minha filha parecia que iria por água a baixo assim que cruzamos a porta da sala, ela correu até Jared e meu sorriso se limitou quando vi Amber sentada no meu sofá.
-Papai! Papai! – Hannah correu abraçando-o e ele a pegou no colo, e toda vez que eu via aquela cena meu coração derretia – mamãe e eu fomos ao shopping, ela comprou um montão de brinquedos para mim e olha o homem disse que meu cabelo é muito bonito.
Ela disparou para contar a ele sobre aquela tarde enquanto ele ouvia atenciosamente, então depois ela correu atrás de Nelly para contar e ela também.
-Sra. Onde quer que deixemos? – Ledger, o meu segurança particular perguntou referindo-se as compras.
-Pode deixar no meu quarto – respondi e eles seguiram, foi então que voltei minha atenção para Jared e Amber, me aproximei deles e não contive o sorriso ao vê-la. Estava com o rosto inchado e machucado, com muitos hematomas, realmente eu era muito impulsiva. Jared tentou não conter o olhar mas era inevitável, eu estava perfeita, nem parecia a mulher bêbada e drogada da noite anterior.
-Amber veio para conversarmos – ele começou a se explicar, e eu camuflei a dor em meu peito com um sorriso debochado e erguendo as sobrancelhas. – sobre...
Ele conteve a frase.
-Sobre a gravidez? – eu falei ainda mantenho um tom irritante na voz mas aquilo me fez querer chorar. Mas eu não choraria, não na frente deles. Ele apenas assentiu com a cabeça. – ótimo, podem ficar a vontade, eu vou continuar aproveitando o meu dia com a minha filha.
Tentei sair mas ele segurou meu braço.
-Você pode ficar se quiser – ele falou e eu bati os olhos rapidamente. Ficar? Para o que? Olhei para ele um tanto descrente no que tinha ouvido.
-Isso não me interessa. – menti.
-É Margot, eu... eu tinha que falar com você. – finalmente ela abriu a boca com uma voz tremula e ridícula que eu sabia muito bem que não era a verdadeira. – falar sozinha.
Ela deu ênfase na frase fazendo com que Jared entendesse que ela queria conversar apenas comigo. Então mesmo discordando ele saiu, aquilo era demais para mim, encara-la, ouvir sua voz, tudo era demais então peguei um copo de whisky e tomei. Depois indiquei para que falasse.
-Eu não queria estragar as coisas entre vocês... – ela começou e eu revirei os olhos.
-Olha Amber, se você for ficar fazendo essa vozinha de coitadinha para mim é melhor você cair fora. Eu não sou estupida, eu cresci na rua com milhares de garotas como você e eu sei muito bem reconhecer uma cobra quando eu vejo uma. – falei aproximando-se dela – e quer saber? Eu não caio nessa historia de gravidez.
Ela abriu a boca um tanto incomodada. Eu vi seus olhos arderem de raiva mas ela manteria a atuação, claro que manteria.
-Eu sei que parece um golpe e... – recomeçou com a voz enjoada.
-Não parece! Eu sei que é. – falei – eu não sou estupida e antes que você ou sua mãe tentem me destruir, saiba que vão ter que tentar muito!
E finalmente ela ficou sem falar me comprovando aquilo que eu já tinha imaginado, elas estavam mentindo, ela mentia fingindo ser uma boa moça mas aquilo nunca daria certo comigo.
-Vai embora, Amber, eu não estou interessada em ouvir você – me levantei sem dar a ela a chance de se defender e subi para o meu quarto. Um nó se formava na minha garganta quando mais eu pensava sobre aquilo. Eu tinha que ter cem por cento de certeza de que ela estava mentindo de que ela não era aquela garotinha boba e inocente que parecia ser, eu tinha que ter! Mas na verdade, lá no fundo eu ainda estava insegura, sem saber ao certo se a minha postura diante daquilo era a correta. Me sentei na ponta da cama pensando no que fazer, no que dizer. O que as pessoas pensariam quando descobrissem? E Jared, o que ele realmente estava pensando? Eu não tinha certeza de mais nada, então para tentar sufocar aqueles pensamentos comecei a arrumar minhas compras e foi quando Jared entrou no quarto, ficou parado na porta e ficamos em silencio alguns segundos.
-Quatro mil dólares – ele disse calmo – foi o que vocês duas gastaram apenas hoje, Cristina me ligou preocupada achando que meu cartão havia sido clonado.
Eu me virei para ele fingindo uma cara de espanto.
-Oh, desculpe, acho que confundi os cartões. – falei nitidamente irônica, ele sorriu balançando a cabeça.
-Não estou bravo, apenas estou deduzindo o quanto você está tão brava comigo que está agindo de forma impulsiva desde ontem a noite.
Fechei os olhos antes de me virar para ele.
-O que foi? Não posso mais gastar com sua filha, ou você está preocupado em economizar para seu novo bebe? – falei e ele respirou fundo. Engraçado como eu sempre tentava ferir ele não só com atitudes mas com palavras. Jared cruzou os braços fortes a frente do peito.
-Não é isso que estou dizendo, Margot. – falou ainda calmo – só quero que resolvamos isso.
-Você já pediu? – perguntei dobrando um vestido e o colocando no guarda roupa.
-O que? – me virei novamente para ele.
-O teste de gravidez. – falei e ele juntou as sobrancelhas.
-Bom, ela usou um desses de farmácia. – e instintivamente eu parei o que estava fazendo e o encarei.
-Oi? – falei incrédula – você está acreditando em um teste de farmácia na mão de uma garota como ela? Você sabe que ela está mentindo, não sabe?
Ele piscou rapidamente um tanto incomodado e adentrou o quarto sentando-se na cama, quieto.
-Jared! – insisti.
-Eu não acho que ela esteja. – falou – eu fui burro, Margot, não me protegi.
Revirei os olhos, como doía ouvir aquilo dele. Deus! Olhei para cima tentando não chorar como uma idiota, mas joguei a blusa que estava em minha mão com força dentro do guarda roupa o fechando com raiva.
-Como você pode acreditar assim nela? Jared, ela pode estar mentindo e você está agindo assim como se quisesse que isso fosse verdade! – eu olhei para ele desesperada – apenas peça que ela vá ao médico, de preferência alguém que você conheça e confie! Você não construiu um império sendo burro assim.
Ele levantou os olhos para mim sem saber ao certo o que dizer.
-Ela está mal, Margot. Perdida, ela basicamente não sabe o que fazer. Chora o tempo todo, está notavelmente desesperada, seria humilhante pedir a ela que fosse ao médico para comprovar algo que visivelmente é verdade.
Abri a minha boca sem ter certeza do que estava ouvindo. Como ele podia?
-Você é um idiota! – gritei com ele – uma menina desesperada? Pelo amor de Deus! Eu tinha a idade dela quando tive Hannah, quando eu descobri que estava grávida não é tão complicado assim.
-Você marcou uma consulta para abortar – ele falou.
-Por que você não acreditava em mim! – rosnei.
-Exatamente! – ele rosnou um pouco mais alto, mas logo em seguida abaixou o tom da voz – e se ela fizer a mesma coisa?
Balancei a cabeça rindo, mas não havia nenhum pingo de humor na minha voz. Ele estava notavelmente iludido na garota frágil e desesperada que Amber fingia ser.
-Vocês são tão diferentes. – finalmente ele rompeu o silencio que se estendeu por alguns segundos – você era forte, confiante, você... Ela não, jovem demais e age como uma menina na idade dela, frágil, confusa, insegura.
-O que isso tem a ver com o assunto? – perguntei tentando não chorar.
Ele me olhou e respirou fundo como se não tivesse certeza se deveria ou não dizer aquilo.
-Você já tinha experiência, Margot, ela foi criada em um lar aconchegante, com pais que a adulavam, foi mimada e teve sempre tudo o que quis.
-Obrigado por me lembrar que ela foi criada como uma rainha enquanto eu fui jogada na rua antes mesmo de saber quem era a droga do meu pai. – falei e foi quando eu soube que tinha que sair dali para não desabar na frente dele. Ele passou a mão no rosto.
-Resumindo, eu era uma vadia quando você me conheceu e ela uma doce e pobre garotinha? – falei.
-Não é assim que estou colocando as coisas. – explicou-se.
-É obvio que é! – gritei – é obvio! Eu era uma prostituta! Uma vadia! Enquanto ela é um doce passarinho que caiu do ninho e você pisou em cima sem querer, agora você acha que tem o dever de cuidar dela!
Ele apenas me olhou concordando sem dizer uma palavra com aquilo. Me aproximei dele segurando seu rosto.
-E eu? E eu? Quem cuida de mim? – perguntei já não segurando as lágrimas, ele franziu o cenho com os olhos tristes.
-Você sempre cuidou tanto de você mesma que quando eu tento cuidar de você, você foge. – ele falou, mas balancei a cabeça descordando, não era verdade. Me afastei dele me virando de costas caindo em lágrimas, humilhantes lágrimas. Ele não estava do meu lado, ele achava que tinha a obrigação de cuidar de Amber no momento mais frágil da vida dela, mas o que ele não enxergava era que eu estava a ponto de surtar também.
-É isso que eu sempre vou ser para você? A prostituta que se apaixonou pelo bilionário? – perguntei com raiva.
-Não, Margot! – ele levantou se aproximando – eu me apaixonei por você. Eu amo você!
Eu o encarei enfraquecida pelas suas palavras.
-Tudo bem, Jared. – falei – você está certo, Amber precisa agora de sua ajuda e eu que fui criada na rua, não posso de maneira alguma roubar o pai de uma criança! Como eu posso ser egoísta assim?
-O que você quer dizer? – perguntou.
-Que eu vou embora.
Sua expressão tornou-se indecifrável. Os olhos dele pararam sobre mim confusos e perdidos.
-Embora? Claro que não. Aqui é sua casa, aqui é sua casa Margot!
E afastei dele e puxei minhas malas do Closet rapidamente a enchendo de coisas com medo de desistir daquela ideia, ele tentou me impedir, tentou me convencer, mas foi inútil.
-Eu vou Jared! – afirmei – não vou ficar sendo uma pedra entre vocês dois.
Assim que terminei de colocar as coisas que julguei necessárias dentro da mala percebi que minhas roupas estavam molhadas, olhei para o teto tentando encontrar de onde vinha toda aquela água até perceber que eu estava chorando. Ele segurou meus braços levemente e contorceu os lábios.
-Não posso mudar o que aconteceu, mas seja lá o que for acontecer agora Mag, preciso de você – ele disse partindo meu coração em dois – sempre precisei.
-Jared...
-Não quis dizer que você era uma prostituta, mas que você era uma mulher extremamente forte quando nos conhecemos, e continua sendo. Por favor, Mag, você não pode ir. – ele fez meu coração balançar de uma forma que tornou impossível ouvir o que minha voz interior queria me dizer naquele momento, segurei seu rosto com as palmas de minhas mãos.
-Eu te amo tanto – falei – mas eu preciso digerir algumas coisas, Jared, preciso entender algumas coisas. Tudo aconteceu tão rápido, em apenas um mês tudo desandou de uma forma desastrosa.
-Não me deixe. – suplicou.
-Não vou, mas preciso de um tempo para mim mesma.

A acompanhante (CONCLUÍDA) Onde histórias criam vida. Descubra agora