He can only hold her

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“Ela está tão vazia, como se sua alma tivesse sido levada embora. Ele tenta descobrir do que ela esta fugindo. Como ele poderia ter o coração dela se ele já foi roubado?”

-Você precisa procurar um médico! – Disse Lizzy assim que entrei na cozinha.
-É só a bebida, para com isso. – falei – deve ser alguma gastrite ou alguma coisa do gênero...
Falei me sentando na mesa e passando a mão pelo meu cabelo. Levantei os olhos para ela que estava de braços cruzados e uma sobrancelha erguida para mim.
-Que cheiro é esse? – perguntei, ela juntou as sobrancelhas olhando em volta.
-Que cheiro?
-Acho que é bolo de chocolate... – falei levantando seguindo o cheiro, abri a porta e vinha diretamente do apartamento a frente.
-Caramba, agora estou sentindo – disse Lizzy – você tem um ótimo olfato – falou rindo.
Meu estomago se contorceu e clamou por um bolo de chocolate com muito granulado e cobertura.
-Preciso de um bolo desses. – falei fazendo cara de pena.
Ela riu.
-Eu vou até a padaria agora e te trago um pedaço. – ela disse saindo, fechei a porta e voltei para a cozinha preparando um suco natural para beber, depois voltei e me joguei no sofá ligando a televisão e assistindo o jornal da manhã.
Meu celular vibrou.
Era Mark e Natalie que estavam me enchendo de perguntas logo cedo, revirei os olhos o pegando.
Respondi eles com respostas curtas e objetivas, Natalie queria passar no meu apartamento mais tarde mas disse que não era necessário. Sério, em uma sexta quem quer ficar ouvindo ela falar?
E então o celular vibrou de novo, junto com meu coração.

Gengibre, metade de uma maça grande com casca, linhaça e para dar um gosto melhor algumas folhas de hortelã.”

A mensagem veio curta mas carregando muita preocupação. Apertei os olhos e mordi o lábio inferior, um pouco nervosa.

“O que é isso?”

Respondi a Jared.

Imagino como deve estar sua ressaca.”

Eu não pude deixar de rir com aquilo, ignorei Natalie e Mark que ainda estavam me mandando mensagem.

Na verdade, já vomitei o resto dos meus órgãos, estou com muita dor de cabeça mas estou mais envergonhada, tem algum remédio para isso?”

Mandei e fiquei olhando para a tela do celular igual uma idiota. Era isso então? Viraríamos melhores amigos? Eu acho que não.

“Margot Robbie envergonhada. Isso é novo!”

Dessa vez a mensagem veio mais divertida. Pensei alguns segundos no que dizer para ele, eu não lembrava direito do que eu havia falado para ele na noite anterior, mas sabia que tinha feito besteira. Eu queria ver ele. Eu queria falar com ele. Eu queria estar com ele. E tudo isso estava se tornando uma contradição insuportável na minha cabeça, pois ao mesmo tempo em que eu queria estar com ele, também o queria fora da minha vida. Mas que se foda.

Será que não podemos nos ver?”

Mandei a mensagem sentindo o corpo esquentar, morrendo de medo de sua resposta, morrendo de medo do que ele poderia dizer e eu devia estar mesmo, pois recebi um belo balde água fria.

Dia cheio!”

Revirei os olhos. Ele estava tentando me ignorar, estava tentando me afastar dele mas não ia conseguir.

“Se você não se encontrar comigo em trinta minutos eu vou até sua empresa!”

Respondi rapidamente como uma louca, mas ele não ia me dispensar só porque eu dispensei ele, ele não tinha motivos mas eu sim e novamente iria passar por cima deles só para estar com Jared. Só para estar com ele.

“Tente passar pelos meus seguranças xo!”

Que filho da puta!

“Não seja esse canalha!”

Respondi novamente. Ele demorou para responder me deixando irritada.

Esteja aqui em trinta minutos!”

Sorri me sentindo vitoriosa, logo pulei do sofá correndo até o meu quarto e vestindo as primeiras roupas que vi pela frente. Penteei o cabelo de qualquer jeito assim como a maquiagem, quando saí do quarto Lizzy entrou com algumas sacolas nas mãos.
-Onde você vai? – perguntou.
-Ver o Jared. – não pude controlar meu sorriso.
-Claro, não sei porque ainda pergunto, mas coma o seu bolo antes de ir.
Ah eu até tinha esquecido do meu bolo, fomos para a cozinha onde ela colocou as coisas na mesa e me entregou o meu pedaço de bolo que estava dentro de um plástico, o abri e me sentei a mesa sedenta por aquele pedaço de bolo que parecia ser minha salvação.
Mordi um pedaço mas não parecia ser bom o bastante, estava faltando alguma coisa. Me levantei e abri a geladeira procurando por alguma coisa, olhei o pote de maionese e peguei voltei a me sentar na mesa e comecei a comer os dois juntos e parecia ser a oitava maravilha do mundo. Dava uma mordida no meu bolo e em seguida enchia a boca com uma colherada de maionese.
-Que merda é essa? – Lizzy perguntou fazendo cara de nojo.
-O quê? – perguntei passando a língua no lábio.
-Isso – ela apontou para a maionese e o bolo. – Margot, isso é nojento.
-Está uma delícia. – respondi – quer?
Ela arregalou os olhos.
-Só se eu estivesse morrendo de fome. – falou pegando uma fatia de mamão e passando a colher, levando até a boca, balancei a cabeça e continuei comendo até se sentir satisfeita. Então assim que terminei fui até o edifício de Jared. Passei rapidamente pela recepção e agradeci por não ter sido Ana a me atender mas no decimo quinto andar dei de cara com Cristina que não pareceu muito satisfeita em me ver.
-O Senhor Leto estava esperando pela Srta. – ela disse um pouco desanimada.
-Eu sei. – falei fazendo voz tediosa.
-Mas ele estava esperando ah uma hora atrás.
-Me atrasei um pouco... – falei abrindo a porta do escritório dele mas ela me impediu rapidamente ficando entre mim e a porta.
-Natalie está aqui! – falou – e por mais que eu adorasse ver o que ia acontecer tenho ordens.
Respirei fundo abaixando os ombros, que merda! O que ela estava fazendo ali? Ele tinha me dito que ela não ia até a empresa dele.
-Eu não vou embora. – falei, eu sabia que Natalie não podia descobrir sobre a gente mas me peguei pensando no que aconteceria se ela descobrisse. Cristina arregalou os olhos.
-Você pode aguardar ele na outra sala e eu aviso a ele que você chegou.
-Vai ser nossa protetora? – zombei, ela cerrou os olhos.
-Eu gosto dele... E não quero que ele se prejudique.
Mordi o lábio rindo.
-Ok. – e ela me levou até um outra sala um pouco menor com uma mesa enorme rodeada por cadeiras, me sentei em uma delas e fiquei rodando entediada. Levou uns dez minutos para a porta ser aberta dessa vez por ele, eu estava com a cadeira inclinada para trás e os pés para cima, apoiados na mesa.
Sorri para ele.
-Área limpa? – perguntei rindo.
-Vem. – ele disse sério, ergui as sobrancelhas mas continuei ali. Ele revirou os olhos fechou a porta e adentrou a sala sentando na cadeira ao meu lado. – o que você quer?
Caramba... a presença dele mexia muito comigo. Cruzei os braços e estudei seu rosto iluminado pela luz do dia, tirei os pés de cima da mesa e me ajeitei na cadeira, apoiando-me em cima da mesa.
-Isso é uma sala de reunião? – perguntei, ele olhou em volta.
-Sim. – disse.
-Então aqui são tomadas grandes decisões? – falei. Ele balançou a cabeça.
-Sim, basicamente. Aonde você quer chegar?
Abaixei os olhos e depois os levantei olhando diretamente nos seus.
-Eu preciso tomar uma grande decisão... E eu preciso do conselho de alguém que sempre está tomando grandes decisões.
Ele parecia tão confuso, tentando entender o que aquelas palavras significavam.
-Margot eu... – ele começou a falar
-Não, me escuta. – segurei em sua mão, ele olhou para aquilo e depois para mim. Afastei nossas mãos novamente e depois joguei o meu cabelo para trás.
Pensei um pouco em como colocar aquelas palavras corretamente.
-Se você tivesse uma empresa que te dá muito dinheiro e muita satisfação mas... mas ela só te trouxesse isso, satisfação e então você tem a oportunidade de realmente fazer o que gosta mas teria que abrir mão da empresa, o que você escolheria?
Ele juntou as sobrancelhas pensando e coçou o queixo. Será que ele iria entender que eu estava falando sobre mim? Umedeceu os lábios e voltou a me olhar.
-Quão importante é a empresa? – perguntou.
-O suficiente para te manter aonde sempre quis estar. – falei.
-Mas se a outra coisa é realmente aquilo que eu gosto de fazer, como a empresa me coloca aonde eu sempre quis estar?
Caramba, ele era esperto. Suspirei.
-Tá, a empresa talvez seja só satisfação pessoal, um caminho que você encontrou para... sobreviver.
-Isso é sobre você? – ele quis saber.
-É hipotético.
-É sobre você. – afirmou. Revirei os olhos.
-Responde! – falei. Outro sorriso.
-Bom, a empresa é importante para mim... mas a outra coisa também.... – eu estava esperando ansiosamente por uma resposta, uma luz, alguma coisa que me fizesse saber o que escolher que caminho seguir.
Ele me parecia o suficiente para abrir mão de tudo. Ele já tinha se tornado o suficiente para bagunçar com tudo.
-Eu não sei, Margot. Eu sei que isso é sobre você eu só queria entender esse outro lado.
Bati na mesa.
-Só me dá a droga de uma resposta! – falei alto nervosa. Ele inclinou a cadeira para trás com os braços cruzados.
-Você sabe a resposta.
A droga do meu humor mudava de minuto em minuto.
-Eu preciso que você me dê a resposta. – falei tentando me acalmar.
Ele estudou meu rosto quieto.
-Eu não posso fazer isso por você. – olhei para ele um pouco decepcionada mas comigo mesma. Ele se inclinou para frente de novo e apoiou os cotovelos sobre a mesa. – São suas escolhas, Margot. E por mais que eu queira dizer a você o que fazer eu não posso. Eu nem ao menos sei com o que estou competindo.
-Não é uma competição, não é mais um jogo para mim. – falei.
-E o que é?
-O que vai me manter viva. – soou dramático mas era uma verdade inegável.
Não me referi a me manter viva fisicamente, mas espiritualmente. Se ele era o único que trazia vida ao meu espirito, o que restaria se eu escolhesse me afastar dele? A resposta daquela pergunta começou a me aterrorizar.
Ele ficou calado por alguns longos segundos e então Cristina bateu na porta e entrou.
-Sr. Leto, o Smoking deve ser preto ou azul? – ela perguntou segurando um tablete na mão.
Ele pensou um pouco.
-Azul – respondeu.
-Péssima escolha! Preto, ele fica melhor de preto. – respondi, Cristina olhou para ele perdida.
Ele suspirou.
-Preto, Cristina. – ela marcou no tablete.
-Obrigada. – e saiu.
-Manda suas secretárias preparem suas roupas? – perguntei sorrindo.
-Sou um homem ocupado. – respondeu ainda sério – Margot... sobre ontem...
Coloquei as palmas das mãos no rosto.
-Podemos esquecer sobre ontem? – falei retirando-as e olhando para ele – bebi demais, falei demais...
-Você disse que não queria se casar! – ele foi direto, abri a boca.
-Disse?
-Disse! – afirmou.
-Oh... – soltei sem saber o que responder para ele, mordi o lábio inferior. Por que Cristina não aparecia novamente cortando aquele assunto? Seus olhos ainda estavam em cima de mim esperando por uma resposta, uma explicação. Relaxei meus ombros.
-Eu não quero. – falei.
-E por que vai?
-Por que você vai? – falei um pouco mais alto.
-Isso não é sobre mim, eu já te disse antes, você está agindo como uma adolescente que não sabe o que quer. O que o Mahoney pode te dar que eu não posso dar em dobro?
-Você acha que é isso? – perguntei um pouco ofendida – que estou com ele porque quero alguma coisa?
-Então por que está?
As palavras quase saltaram para fora mas eu as segurei formando um nó na minha garganta. Um grande e sufocante nó. Eu me sentia como se estivesse presa pelos pés, de cabeça para baixo balançando e balançando sem poder fazer nada.
-Para com isso! – falei voltando a ficar irritada, ele balançou a cabeça. – eu só vim pedir desculpas por ontem eu não quis causar nenhum problema para você.
Soltei finalmente aquelas palavras e tentando mudar de assunto, ele cruzou novamente os braços.
-Por favor, pare de beber daquela forma. – pediu. Mas ele não sabia, não sabia como eu me sentia vazia e como a bebida era minha válvula de escape, ele não sabia como era preciso beber para afogar meus traumas e dores do passado. Deus, Margot! Vá procurar um psicólogo.
-Você vai cuidar de mim todas as vezes que eu exagerar? – perguntei tentando parecer debochada sobre o assunto.
-Infelizmente sim, não é mais algo que eu controle.
Sorri divertida para ele.
-Então eu acho que não vou parar.
Ele balançou a cabeça e ficou vermelho, irritado com alguma coisa. Piscou rápido algumas vezes e segurou meu pulso com força.
-Por que você é assim? Tão complicada? Você vem e diz que não quer estar comigo depois diz que quer. O que é isso que você está fazendo?
-Eu te disse que eu era assim.
Se ele foi capaz de despertar o que estava morto em mim também deveria ser capaz de aguentar o furacão sem reclamações.
-Eu sei! – ele falou com a voz mais fraca – mas estou acostumado com a simplicidade nas mulheres.
-Você quer dizer que está acostumado com elas se jogando em cima de você? – silencio novamente.
-Basicamente. – respondeu – não sei se consigo mais ficar atrás de você, nunca estive atrás antes.
Pisquei algumas vezes repetidamente e soltei meu punho de sua mão a agarrando e entrelaçando nossos dedos.
-Eu te avisei dos riscos – falei sem olhar para ele, mas para as nossas mãos – mas não bastou para deter a sua determinação. Seria tolice você desistir agora por qualquer desentendimento bobo.
E finalmente ergui os olhos novamente para ele que tinha o cenho franzido.
-Margot... você é pior que um cubo mágico.
Sorri.
-Você me mandou embora.
-Agora estou pedindo para você voltar. – falei.
-Por que?
-Porque eu te amo. – as palavras pularam da minha boca antes que eu pudesse segura-las.
Desviei nossos olhares e balancei a cabeça. Estupida. Me levantei antes que ele pudesse dizer alguma coisa mas me senti um pouco tonta, tombei de leve para a frente e ele se levantou me segurando.
-Você está bem? – perguntou.
-S-sim... – gaguejei – eu preciso ir para casa.
-Você não está bem! – ele afirmou.
-Estou ótima. – passei a mão na testa tentando respirar direito já que me senti fraca. Que droga. Por que eu estava tão fraca nos últimos dias? Estomago fraco, corpo fraco, coração fraco até demais. Me sentei novamente na cadeira antes que caísse.
-Vou pegar um copo de água e você vai no médico. – falou com a voz firme.
Eu não queria ir ao médico, principalmente com ele. Apesar de querer muito saber o que estava acontecendo com o meu corpo, seria excesso de cocaína? Não. Eu não ficava em abstinência, todos os dias pela manhã eu cheirava duas ou três carreirinhas para manter o vício, talvez fosse aquilo que Marina falou, eu estava sentindo tanta falta dele que meu corpo estava reagindo. Ele saiu da sala atrás de um copo d’agua, me levantei em seguida e fui até a porta, ele estava de costas e então corri para o elevador, a porta se abriu rapidamente e eu entrei.
-Margot! – ele gritou assim que ela se fechou rapidamente. Seria melhor assim, Jared.

Cheguei na casa de Mark curiosa para saber o que ele tanto queria, ele estava sentado a sua mesa quando entrei.
-Desculpe a demora. Eu tive que resolver um negócio. – falei, ele apenas sorriu.
-Mag, veja o que recebi ah umas semanas atrás. 
Ele estendeu um envelope grande cor creme para mim, o peguei e abri. Tratava-se de um convite.
-Um baile de gala?
Devolvi o convite.
-O melhor do ano! Junta todos os grandes empresários para um baile mas tratasse de um evento beneficente, fazemos doações para causas importantes. Esse ano será para crianças órfãs.
Levantei as duas sobrancelhas e me sentei a mesa que tinha algumas coisas para comer. Peguei um pedaço de mamão que estava com vontade desde quando vi Lizzy comendo mais cedo, um pouco de sal e espalhei nele, pegando uma colher e levando a boca uma grande quantidade.
-Meu deus, que delícia! – falei assim que engoli. 
-Isso é sal. – ele falou.
-Eu sei. – respondi – mas está maravilhoso, eu estava morrendo de vontade de comer isso o dia todo... – falei com a boca cheia – mas legal o baile.
-Recebi o convite ah uns dias atrás, mas não tinha certeza se você estaria bem para ir por causa da gripe.
-Ah, eu estou bem melhor. Talvez a bebida da Marina fez algum milagre mas me sinto bem melhor.
Falei.
-Isso é geleia? – peguei o pote abrindo e cheirando – geleia de ameixa! Minha favorita.
-Você odeia Ameixa. – ele falou juntando as sobrancelhas.
-Pessoas mudam, tá? Eu não gostava e agora por algum motivo desconhecido estou comendo coisas estranhas.
Ele observou aquilo mas não disse mais nada sobre, mas sua expressão dizia tudo o que ele estava pensando, ignorei aqueles pensamentos e continuei comendo meu mamão com sal e geleia de ameixa.
-Então, você vai no baile comigo hoje a noite. – ele disse.
-Preciso de um vestido – falei – e de um salto, e de um cabelereiro e ah! Joias!
Ele balançou a cabeça sorrindo.
-Vou providenciar.
-Obrigado. – sorrimos.

A acompanhante (CONCLUÍDA) Onde histórias criam vida. Descubra agora