Gotten

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“Não me faça pensar nele, a maneira em que ele tocou em você me assombra todos os dias".

-Ele está ai? – perguntei para Nelly que abriu a porta da sala para mim, ela negou com a cabeça e eu suspirei – ótimo , quero apenas ver Hannah.
Adentrei a sala com as pernas, o corpo todo fraco. Eu estava tentando me livrar sozinha das drogas, desde a nossa última discussão ah quase duas semanas atrás Jared estava me evitando e eu estava evitando as drogas e as bebidas, apenas nos falávamos sobre Hannah e eu estava esperando o maldito teste sair, o que já estava demorando horrores, porque ela simplesmente não fazia? A desculpa era que ela estava visitando uma prima e que não poderia estar na Califórnia para fazer o exame com o médico particular de Jared como foi exigido. Era inacreditável como ainda acreditavam nessa vadia. Hannah estava na piscina brincando e se animou toda quando me viu. Mas eu estava com tanto frio, com o corpo tão fraco que não quis entrar na piscina e a deixei lá brincando, fui até a cozinha pegar um copo de água mas acabei caindo no meio do caminho, como se fosse desmaiar.
-Sra. – um dos empregados veio correndo tentando me ajudar. – Você está bem?
-Sim... – forcei a voz – só fiquei um pouco zonza.
Ele segurou em minhas mãos preocupado.
-Você está com as mãos frias – falou depois tocou em minha testa – e ardendo em febre!
Ele estava certo, mas não era uma surpresa para mim. Estava ah apenas dois dias sem usar nada, claro que meu corpo responderia de alguma forma. Ele me ajudou a se levantar e me fez deitar no sofá, tudo o que meu corpo mais queria.
-Vou pegar um remédio – disse mas quem retornou foi Nelly extremamente preocupada.
-Mag! – ela tocou em minha testa e depois segurou minhas mãos, eu tremia da cabeça aos pés e suava demais. Meus olhos ardiam, eu queria desesperadamente cheirar alguma coisa pra essa sensação horrível passar mas simplesmente eu tinha que permanecer firme. Senti um enjoo forte e os cantos da boca salivar, não aguentei e acabei vomitando. Nelly segurou meu cabelo atrás da minha cabeça e depois eu tombei novamente no sofá fraca e zonza. Minha respiração estava fraca.
Depois que tomei um remédio e Nelly limpou o chão ela insistiu que eu me deitasse em um dos quartos e eu estava com tanta dor e frio que acabei aceitando, me encolhi dentro do cobertor e finalmente consegui adormecer.
-Margot! – Jared me acordou desesperado, demorei um pouco para abrir os olhos – meu Deus, você está pegando fogo.
Eu sentia meu corpo queimar de dentro para fora mas dei uma risadinha pensando em um duplo sentido para essa frase, de repente eu não me importava que meu corpo estivesse pegando fogo, eu não me importava se a febre aumentasse tanto a ponto de fazer meu coração parar (mesmo que talvez isso seja impossível), eu só queria não ter que sentir aquilo de novo. Meu inferno particular.
-Vem – ele tentou me erguer mas eu não tinha forças nenhuma.
-Me deixa aqui – pedi murmurando mas ele se levantou dando ordens a mais alguém que estivesse no quarto e depois voltou me fazendo ficar sentada, não havia forças em meu corpo e eu mal conseguia enxergar ele mas sabia que ele estava tirando meu vestido, depois me pegou no colo. Meu corpo acordou com a água morna, mais fria do que quente, e meus dentes bateram um contra o outro com o frio que senti.
-Temos que fazer a febre diminuir – ele disse e eu o encarei ainda tremendo pensando que ela não iria diminuir, não tinha nada que eu pudesse fazer a não ser esperar aquele inferno passar.
Ele acariciou meu rosto.
-Por que não me disse que estava ruim?
-Porque nós não somos mais nada – outro efeito da abstinência, ficar agressiva por nada. Ah como eu contaria a ele que eu estava tentando ficar limpa? Juntei meus joelhos até meus peitos enquanto tremia, ele recolheu a mão que me acariciava e ficou me encarando em silêncio por alguns segundos, eu estava passando frio mas sentia meu corpo queimar por dentro, aquela porra não estava adiantando e demorou muito para ele perceber pois isso só aconteceu quando eu voltei a vomitar até ficar zonza e ele ter que me segurar nos braços, eu temi que ele soubesse o que estava acontecendo mas eu sabia que isso não aconteceria. Na última vez, eu estava trancada em uma clínica e ninguém além das enfermeiras sabiam o que estava acontecendo comigo.
-Já chega! Nós vamos para o hospital – cravei minhas unhas em seu braço
-Não, por favor – supliquei e ele me olhou espantado
-Margot, já é madrugada e você só piora. – eu ia negar mas gritei de dor quando senti meu estômago doer como se alguém o tivesse ferido com uma faca, Jared arregalou os olhos mas assim que viu as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, passou seu braço por de baixo de minha perna e o outro pelas minhas costas.
-Ledger, ligue o carro! – ele desceu as escadas comigo em seu braço usando apenas um roupão e roupas intimas, Ledger ligou o carro e saímos em disparada para a clínica médica, já que eu implorava para não ir para um hospital, ele me levou até o médico particular da família mesmo achando que era uma péssima ideia, a clínica era pequena mas serviria. Nós entramos rapidamente, e o dr. Owen já estava a nossa espera, veio correndo.
-Deite-a aqui – e eu fui colocada na maca ainda sentindo pontadas fortes em meu estômago, o Dr. Começou uma série de exames perguntando aonde doía mas eu não conseguia nem mesmo definir um local, no fim ele me medicou (tudo que eu não queria), e exigiu exames de sangue para saber o que estava acontecendo.
Ele saiu do quarto uns minutos depois e eu fiquei deitada na maca sendo medicada, com Jared ao meu lado.
-Está se sentindo melhor? – como eu não estaria? Aquele idiota mandou injetarem morfina em mim mesmo que eu tivesse implorado aos gritos que não fizesse, era exatamente o que meu corpo queria. Fiquei pensando naquela pergunta alguns segundos, melhor? Melhor? Eu nunca melhoraria, inferno! Nunca! Lágrimas começaram a descer pelo meu rosto e ele rapidamente segurou minha mão mas eu não me dignei a olhar para ele.
-Eu estou tentando... – comecei a falar – tentando me livrar dessas merdas, tentando não acabar em uma clínica de novo.
Os olhos dele se abriram mais.
-Mag, quer dizer que...? Droga, Margot, porque você não me contou? – brigou comigo mas com a voz mansa, tentando me acalmar e me mostrar que ele estaria ao meu lado.
-Eu não quero voltar para a clínica – respondi – eu não posso...
-Você passa tanto tempo sendo forte que as vezes eu esqueço o quão sensível você é. Você nunca me deixa cuidar de você, nunca deixa ninguém cuidar você. Não percebe? Você tem uma família que te ama e amigas que amam você e estamos todos do seu lado.
Ele estava certo, por um momento eu senti meu coração bater com felicidade dentro do peito. Eu podia estar passando por uma turbulência na minha vida mas isso não mudava o fato de que eu tinha pessoas que realmente me amavam e estariam do meu lado em qualquer situação. Especialmente ele. Eu tinha perdido as contas de quantas vezes eu havia mandado ele sair da minha vida, ou dito que tínhamos acabado, mas ele estava ali. Era quase quatro horas da manhã e ele estava ali, segurando minha mão e olhando todos os meus demônios de perto, todos os meus monstros e simplesmente permaneceu.
Contudo eu melhorei, mas sabia que voltaria a ficar ruim novamente e então deveria procurar ajuda de algum profissional mas não queria de forma alguma me internar e Jared compreendeu bem essa minha decisão, os exames de sangue foram feitos mas não foi preciso esperarmos pelos resultados já que já sabíamos o que estava me deixando mal daquela forma e então fomos embora, cheguei no meu apartamento por volta das sete da manhã com ele.
-Você vai ficar bem? – ele perguntou.
-Vou, eu vou descansar. – respondi.
E aquele clima horrível se instalou entre nós, joguei o cabelo para trás, eu estava precisando urgente de um banho.
-Lizzy deve estar aí, qualquer coisa ela pode me ajudar – tentei tranquiliza-lo.
Eu sabia que ele queria ficar, sabia que ele daria tudo para ficar ali e cuidar de mim mas eu não podia mais cair em seu charme, seu encanto ou na minha obsessão por ele. E doía em mim dizer para ele que eu não precisava da sua presença porque Deus do céu eu precisava e muito mas duas batidinhas na porta e Leo rapidamente entrou no meu apartamento nos deixando assustados.
-Eu ouvi dizer que você está mal – ele se aproximou assustado. Espera, como?
Jared e eu trocamos olhares e aquilo me partiu ao meio, os olhos dele notavelmente tristes e decepcionados.
-Eu estou melhor – respondi a ele, e Leo parecia ignorar Jared ali parado, ele acariciou meu rosto e o toque dele doeu, ou foi a forma como Jared olhou aquilo tudo?
-Bom, Margot, então eu já vou, vejo que você está em boa companhia – disse meio irônico mas ele não ia sair como perdedor, com passos firmes ele se aproximou passando o braço pela minha cintura e me beijando forte e o que eu podia fazer? Aquele beijo fazia minha alma se sentir viva. Depois me soltou me deixou zonza por alguns segundos e saiu.
Leo torceu o nariz, meu Deus, como que eu havia entrado em um triângulo amoroso sem perceber?

Dois dias depois eu estava melhor, tinha oficialmente entrado em minha luta contra as drogas mais uma vez mas com um terapeuta me ajudando. Naquela noite, Marina e Shannon resolveram fazer um jantar para oficializar o noivado e claro que isso teria que acontecer na mansão, minha ou sei lá, eu ainda não sabia como chama-la. Cada uma pessoa teria que levar um prato foi quando eu me deparei comigo mesma olhando para a porta da mansão segurando um bolo.
-Você trouxe a sobremesa? O que é? – Lila apareceu do meu lado erguendo o pano – um bolo?
Disse desanimada.
-Melhor do que vinho – falei encarando a garrafa em sua mão – isso é um jantar.
Ela deu de ombros.
-Não finja que se importa, eu sei que esse bolo foi o primeiro que você viu no caminho pra cá.
E ela estava certa, mas balancei a cabeça e finalmente entramos na casa. Ela estava um pouco cheia, havia muitos parentes próximos de Jared e Shannon, Cara estava lá com Nina e tinham oficialmente também assumido um namoro. Todos pareciam bem, até mesmo Jared sentado no sofá rindo e conversando com um tio que eu apenas tinha visto algumas vezes, Hannah estava brincando com outras crianças no jardim e Marina tentando acompanhar as conversas das mulheres Leto. Tudo parecia perfeito, então por que eu me sentia tão deslocada? Eu cumprimentei a todos, abracei minha filha mas não pude deixar de me esconder no jardim com a desculpa de que iria ver como minhas rosas estavam e por um lado foi bom pois elas realmente precisavam serem cuidadas.
-Está se escondendo, não é? – Lila disse já segurando uma taça de vinho e me estendendo outra, neguei com um balanço de cabeça – O que foi? Não vai me dizer que está tentando ficar limpa?
-Estou – respondi normalmente ainda mexendo nas rosas mas soube que ela revirou os olhos.
-Você está fazendo merda, amiga. – comentou – quer dizer, não quero ver você viciada mas claramente você tem que resolver os motivos que te levam até as drogas antes de querer corta-las de vez.
Uau. Ela estava certa, as vezes eu esquecia como ela tinha alguma inteligência ali, parei de mexer na rosa e olhei em direção a piscina onde Jared estava rindo e conversando, ele me olhou de volta mas então virei rapidamente o rosto.
-É, ele é uma droga – comentou nossa espectadora – ele é a prova viva de como o amor pode foder com nossa cabeça, por isso que me mantenho longe.
-Achei que você se mantém longe porque gosta de foder com caras diferentes – respondi a olhando e ela riu.
-É, também. E falando sobre caras diferentes, me fala um pouco sobre aquele loirinho britânico, Leonard...?
-Leonardo. – falei respondendo e sentindo um aperto no coração.
-Ele é bem gatinho, ele tem o pau grande?
Eu a encarei perplexa mas não deveria já que era do feitio dela dizer aquelas coisas.
-O que foi? Vocês tem saído bastante juntos. - defendeu-se – só que sei lá, para você estar com ele, ele deve ter um pau gostoso já que você não trocaria o gostoso do Jared...
Revirei os olhos e joguei o cabelo para trás.
-Eu não sei, tá legal? – respondi irritada – não sei qual o tamanho do pau dele, nós não transamos.
Ela abriu a boca chocada.
-O que? Vocês estão nessa de cafézinho juntos e ainda não deu pra ele? O que você está esperando?
Eu olhei para Jared novamente sabendo exatamente a resposta para aquela pergunta mas sem conseguir responde-la.
-Ah! – Lila disse tirando o peso de uma perna para a outra – agora entendi tudo, escuta Mag quando você se casou com Jared eu achei que finalmente eu poderia ser a rainha. Mas devo continuar reverenciando você, você é má!
Ela disse realmente fazendo um sinal de reverência e depois gargalhou me deixando com cara de idiota.
-Do que você está falando? – perguntei.
-Você está usando Leo como seu Step, não é? Só não entendi porquê 
Mordi o lábio inferior em duvida sem saber se eu podia contar a ela a realidade da nossa situação, todos sabiam que Jared havia me traído e que eu havia traído ele. Todos sabiam como estava tudo uma merda entre nós dois mas ninguém sabia do divorcio ou da suposta gravidez de Amber. E Lila estava certa, Leo era meu estep.
-Quando tudo isso acabar você não vai querer sair de mãos vazias, você é uma vadia má. – comentou me tirando dos meus pensamentos.
-Cala a boca, Lila. – falei revirando os olhos – Leo é legal e muito gentil...
Ela gargalhou me interrompendo 
-Que porra de gentileza. – ela disse – ele nem vai fazer você chegar perto de um orgasmo e quando você abrir as pernas para ele, estará pensando no gostosão que está vindo pra cá.
Ela deu um gole no vinho em sua mão e eu me virei rapidamente dando de cara com Jared que tinha um sorriso bobo no rosto, ele a cumprimentou com um aceno e ela saiu para rir de mim em outro lugar.
-Lila está animada – ele comentou e eu voltei a atenção para as minhas rosas.
-Está sendo a idiota de sempre – respondi e ele riu.
-Não é ótimo, Marina e Shannon? Nunca achei que ele fosse se casar. – nós olhamos em direção a eles dois próximos a piscina abraçados, minha amiga tinha uma expressão tão feliz no rosto.
-É, eu também nunca achei que ela fosse se casar. – respondi – mas se ele a machucar vocês vão ter que chamar a policia para ela não mata-lo.
Ele deu risada.
-Ela tem braços finos. – respondeu.
-Tá brincando? Já viu o tamanho daqueles peitos? São enormes e podem ser usados como uma arma.
Jared riu alto chamando a atenção para nós me fazendo rir também mas logo a risada dele se foi dando lugar a uma expressão séria. 
-Achei que você gostaria de saber que Amber foi fazer os exames, ela fez todos. – eu engoli em seco e minha barriga congelou.
-Todos?
Ele balançou a cabeça.
-Não pedi apenas de gravidez mas também de paternidade. É um exame mais complicado mas eu quero ter certeza antes de perder...
Sua voz falhou e minha respiração também, apertei os olhos rapidamente. 
-Tudo bem – foi apenas o que eu consegui responder, ele iria continuar falando mas Constance nos chamou avisando que o jantar estava servido e nós todos nos dirigimos até a sala de estar.
-Hannah, amor, vem comer – a chamei mas ela fez um bico.
-Ah mamãe, eu estou brincando – choramingou.
-Pode deixar, Sra. Eu mesmo vou dar comida para as crianças – disse Rebeca colocando outro sorriso no rosto da minha filha e quem poderia resistir? Fui para a sala onde todos estavam em volta da mesa já envolvidos em uma conversa alegre, meu lugar, obviamente, era ao lado dele e até que não foi um grande incômodo. 
Quase vinte minutos após o almoço ser servido, uma das empregadas sussurrou alguma coisa no ouvido de Jared que o fez se levantar rapidamente mas com descrição eu perguntei o que era mas ela me negou a responder. Fiquei inquieta alguns segundos tentando controlar minha curiosidade mas quando se passou dez minutos e ele não voltou, me levantei atrás dele. Sentia que alguma coisa estava errada.
-Eu te disse para não vir até aqui – ouvi a voz dele vir da sala, estava baixa e claramente irritada. Parei entre o vão da porta, eu não era do tipo que ficava escutando conversas alheia mas não consegui resistir.
-Mas o que mais eu poderia fazer? – Eu deveria estar chocada por ouvir a voz chorosa de Amber mas de certa forma eu sentia que era ela que estava ali. Apertei os olhos e cerrei o punho.
-Mas hoje não é o dia e nem a hora apropriada pra isso. – ele falou firme.
-Eu estou desesperada, Jared. Veja, tudo deu positivo, eu te disse que não era necessário esses exames mas você insistiu! – ela começou a chorar e eu, bem, meu coração parou por alguns segundos junto com o resto do meu corpo. Bati as costas na parede atrás de mim com a mão no meu peito, Deus do céu, era verdade então.
-Shh, fique quieta – disse ele tentando acalma-la. – eu já disse que vamos resolver isso.
Eu não podia ficar ali ouvindo aquela conversa, precisava enxergar com meus próprios olhos então surpreendi os dois saindo de meu esconderijo, os olhos de Jared pareciam que iam saltar para fora do crânio. Puxei os papéis da mão fina dela e passei os olhos sobre ele, não tinha como ser falso, era idêntico ao mesmo que eu recebi quando tive a notícia de Hannah. Eu levantei os olhos para ela e depois para Jared, jogando os papéis com força em seu peito. Dei alguns passos para longe deles com a mão na cintura, respirando forte, tentando não chorar, tentando não surtar, tentando não querer usar heroína, tentando não querer morrer.
-Mag... – ele disse
-Cala a boca! – gritei, esbravejei, surtei – não fala nada!
E ele realmente se calou.
-Você não tem direito de dizer nada – continuei. – eu nem consigo olhar na sua cara quanto mais ouvir sua voz.
Todos apareceram correndo na sala, eu sabia que tinha gritado mas não percebi que minha voz estava tão alta. Os olhos de todos passaram sobre nós notavelmente confusos e perdidos.
-O que está acontecendo aqui? – foi Constance que perguntou.
-Jared e eu estamos nos divorciando, ele tem uma nova família – respondi sentindo uma onda de raiva e ódio começar das pontas de meus pés subindo até minha cabeça, me deixando irada. Os olhos dele pararam sobre mim perplexos, não era dessa forma que ele queria contar as coisas e muito menos deixar sua mãe com aquele olhar espantado. – Por que vocês estão tão surpresos? É a mesma coisa que ele fez com Natalie!
Gritei.
-Não é a mesma coisa! – disse ele de volta com a voz também Já ficando alterada e toda vez que ele falava aquela onda de ódio atravessava meu corpo mais forte.
-É claro que é! – gritei novamente eu simplesmente não conseguia aceitar aquilo que estava diante dos meus olhos – É claro que é! O que você vai fazer, uh? Casar com ela?
Me aproximei dele travando a mandíbula.
-Eu acho que seria a coisa certa a fazer – aquela vaca disse como se eu tivesse falado ou perguntado alguma coisa a ela, minha onda de ódio veio novamente e em apenas um passo eu acertei o rosto dela com tanta força que a fez cair. Ele me segurou mas com as duas mãos em seu peito o empurrei para longe.
-Tire suas mãos de mim! – esbravejei, Deus como eu queria matar ele por ser tão estúpido. Como ele deixou aquilo acontecer? O empurrei mais e saí daquela casa que parecia me sufocar mas ele veio atrás de mim no quintal enquanto eu seguia para o meu carro, segurou meu cotovelo. Péssima escolha, senti minha mão arder com o tapa que acertei em seu rosto e mais um empurrão 
-Não toca em mim! Seu idiota! Estúpido! Egoísta! Você acabou com tudo! – gritei, chorei, eu não sei mas enquanto dizia acertava seu peito com socos e inutilmente tentava acertar seu rosto que ele desviava, ele apenas deixava que eu acertasse seu peito como se aquilo não o atingisse.
- Como? Você acabou com a gente!
-Margot! – tentou me fazer parar mas eu queria acerta-lo, queria machuca-lo 
-Eu odeio você! Odeio! – dei outro tapa em seu rosto finalmente recobrando um pouco meu estado normal, todos nos assistiam e eu havia esquecido desse detalhe. O encarei ainda furiosa sem saber se ele era capaz de enxergar a minha dor, minha tristeza, ou se ele somente ficaria ali parado me vendo queimar, me assistindo chorar. Me surpreendi ao ver que ele também estava querendo chorar, as bochechas avermelhadas assim como os olhos. Puxei minhas mãos em um solavanco e me virei de costas, já estava me sentindo humilhada o suficiente.

O clube estava cheio, o comum para uma noite de sexta, ou sábado. Eu já não fazia ideia que dia era, estava mais alterada do que tinha pretendido estar, vestindo um vestido justo e saltos altos eu podia ser confundida com qualquer uma das minhas strippers, e realmente estava sendo.
Quando Marina e o restante do pessoal chegou, eu estava sentada em uma das mesas com uma perna de cada lado de um homem que eu nem sabia quem era mas que beijava muito bem, além de ser muito gatinho.
A música estava alta, era melhor assim, abafava meus pensamentos.
-Com licença – Marina deu dois toques no ombro dele para que ele parasse de me beijar – Você pode soltar ela por um minuto?
Ele fez uma careta mas me soltou, saindo em seguida. Cruzei minhas pernas e dei risada, ela ficava uma graça nervosa comigo. Não foi preciso ela abrir a boca para eu saber o que ela iria dizer.
-Estou me divertindo – falei – e chamei vocês porque sei que estraguei o jantar... então resolvi dar uma festa para comemorar!!!
Falei feliz demais, ou ao menos parecendo feliz demais, ela balançou a cabeça e finalmente o resto do pessoal se juntou a festa, e eu vi os olhos azuis dele ali. Eu sabia que eles estaria ali, todos eles estariam para me impedir de fazer alguma besteira.
Então o homem que beijava muito bem reapareceu me abraçando por trás e os olhos de Jared arderam em fúria e como eu adorava aquela fúria! Acariciei os braços fortes que estavam na minha cintura e sorri, ele bufou.
-Quem é seu novo namorado, Mag? – perguntou Lila rindo.
Vasculhei minha cabeça tentando lembrar do nome mas era inútil, alguma coisa com A, ou seria C? Eu não sei, por que isso importava?
-É Martin! – ele disse e eu dei de ombros.
Marina balançou a cabeça e puxou meu braço me tirando de cima da mesa.
-Está me machucando! – reclamei enquanto ela me arrastava para um canto do clube, ela era extremamente forte.
-O que você vai fazer agora? Se vestir igual uma vadia e sair com qualquer um? – gritou ainda me segurando – vai beber até acordar amanhã sem se lembrar de nada, só porque você está se sentindo mal?
Eu não respondi, apenas fiquei encarando ela. O que eu diria? Que não? Besteira! Era exatamente aquilo que eu estava fazendo novamente, era assim que eu lidava com meus demônios e ela sabia que estava errado.
-Cuida da sua vida! – respondi irritada, porque ela não se metia na vida perfeitinha dela e me deixava em paz?
-Não dá! Olha o que você faz com você mesma, é inacreditável.
-Marina, é melhor você ir atrás do Shannon – Ótimo! Mais um pra cuidar da minha vida! Jared apareceu atrás dela com os braços cruzados na frente do peito e eu revirei os olhos.
Ela me encarou mas depois saiu extremamente brava e decepcionada. Eu podia fingir que aquela expressão dela não me deixava triste, mas não podia negar a mim mesma que me sentia horrível após o efeito da bebida por deixar as pessoas que me amam decepcionadas comigo.
O clima entre nós era horrível, eu queria chorar mas também queria bater nele por ser tão idiota.
-O que você quer? – perguntei ríspida.
-Nada, apenas estou cuidando de você.  – falou com as mãos no bolso como se fosse a droga do meu pai. Eu ri.
-Cuidando de mim? Eu não preciso disso. – respondi empinando o nariz.
-Você está bêbada, dançando para qualquer um aqui como uma stripper, além de ser inconsequente é impulsiva.
Travei a mandíbula furiosa, além de me humilhar ele ainda ia até o MEU clube me ofender!
-Acha que eu sou impulsa? – coloquei a mão na cintura e me aproximei dele – inconsequente? Você é o pai de um bebê novo, papaizinho! Não te contei? Estou celebrando, Marina e Shannon vão se casar e você vai ser papai de novo, e eu... bem, vou continuar com minha vida.
-O que isso significa? – ele quis saber.
-Nós tínhamos um acordo! – alterei a voz irritada.
Ele pareceu desesperado e segurou meu braço.
-Eu não dou a mínima para acordo nenhum, eu não vou perder você. 
Eu dei risada, ou gargalhei.
-Mas você já perdeu – respondi soando óbvia, é claro que aquilo soou como uma mentira nos meus ouvidos mas ele não precisava saber. Seus lábios tremeram e ele pareceu meio perdido, levemente soltou meu braço e saiu me deixando sozinha com meus pensamentos. Mas não seria ele que acabaria com a minha noite, de forma alguma, em menos de trinta minutos Leo estava lá admirando meu clube que sem duvidas era um dos mais caros da região. 
-Uau, faz jus a você – ele disse.
-O que você quer dizer?
-É tão luxuoso e espetacular! – respondeu me tirando um sorriso convencida, Jared estava nos encarando, ele estaria ali como prometera para cuidar de mim mas eu não precisava e nem queria a sua presença e os olhares começaram sobre nós quando todos me viram com Leo e não com Jared, e para a minha surpresa, Babsy, uma das garotas novas foi até ele. Loira, alta, bonita, aquela vagabunda só podia ter perdido o juízo mas me mantive no meu lugar ao lado de Léo.
Tentei ficar quietinha e não me meter em confusão, Marina estava bêbada e divertida novamente me fazendo rir e esquecer meus problemas, Cara estava puta com Nina porque umas garotas estavam dando em cima dela e Léo parecia estar sendo aceito bem pelo meu círculo de amigas mas eu sabia que meu coração só aceitaria um. E tive mais certeza disso quando olhei para o lado e vi Jared sentado no sofá da sala vip conversando com alguns caras quando Babsy se inclinou e disse alguma coisa em seu ouvido, colocando a mão em seu peito. O que? O que ela estava pensando?
Levantei o rosto como um cachorro olhando naquela direção, e Cara já entendeu perfeitamente pois segurou meu pulso.
-Ah não! – falou – Você está muito bêbada para tomar atitudes precipitadas.
-Não estou tomando nenhuma atitude precipitada. – respondi mas ela apertou mais meu braço. 
-Meu irmão é um idiota, Margot, esquece ele e fica aqui com a gente!
Puxei meu braço e sorri para ela.
-Só vou mostrar a eles quem manda aqui, porque acho que esqueceram – pulei da mesa em que estava sentada e caminhei com elegância ate eles, Babsy estava rindo sentada no braço do sofá dele mas parou quando me viu.
-Babsy, certo? – falei e ela assentiu com um aceno de cabeça – quem te contratou? Lizzy?
-F-foi. – respondeu.
-Ótimo, acho que ela não deixou algumas coisas claras aqui, não é? – olhei para Jared e depois para ela – eu pago você para dançar, e divertir os caras.
-Mas eu pensei que você iria gostar, eu estou...
Eu fechei os olhos e os abri rapidamente.
A peguei pelo braço puxando rapidamente para nos distanciar deles, não queria dizer nada na frente de Jared.
-Você pode dar pra qualquer um aqui quando e na hora que quiser, menos com ele – apontei para ele – ele é meu, entendeu? Só meu!
Ela tremeu os lábios.
-Oh, não fique decepcionada. – debochei – eu sou sua chefe, você é minha empregada é melhor fazer o que eu mando! Pode foder com qualquer um aqui, mas tire sua cabecinha do meu homem!
Ela apenas balançou a cabeça intimidada, Babsy era nova mas eu sabia que ela era uma das cobras que tinha naquela boate, daria seu sangue para ser uma das minhas acompanhantes mas eu sabia que ela faria o tipo de mulher que roubaria meus clientes como outras vadias já tentaram. Para mim, ela servia apenas nos palcos.
-Fique longe das minhas garotas – falei para ele assim que voltei, ele sorriu de lado.
-Achei que não se importasse mais. – respondeu.
-Você nem deveria estar aqui – tentei mudar o foco do assunto – pode ir embora, não preciso da sua proteção! Vou deixar Léo me levar para casa hoje.
O rosto dele escureceu e ele se levantou do sofá, de repente só havia eu ele e uma parede atrás de mim.
-E vai deixar ele te colocar na cama e fazer amor com você até dormirem? – zombou e eu dei de ombros.
-Talvez! – respondi sorrindo sabendo o quanto aquilo o torturava.
-Você odeia isso quando está bêbada, eu sei o que você gosta.
-E o que você tem a ver? – indaguei empinando o nariz – eu durmo com quem eu quiser, quando e aonde eu quiser!
-Então vocês dois podem ir para o inferno!

A acompanhante (CONCLUÍDA) Onde histórias criam vida. Descubra agora