Alive

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“Eu nasci em uma tempestade de trovões, eu cresci do dia para noite, eu joguei sozinha, eu joguei por contra própria mas eu sobrevivi”

Nada se podia comparar com a sensação de estar livre, de dormir na minha própria cama, comer da minha comida e estar com meus filhos. Mas lá no fundo ainda permanecia a dor e mágoa de ter passado um mês confinada em uma jaula como um animal sem ter feito nada. Eu era inocente e mesmo assim paguei e estava pagando por algo que outra pessoa fez, eu tinha que provar minha inocência.
-Você não está comendo de novo – Jared me tirou de meus devaneios.
-Eu não estou com fome – respondi olhando para o prato na minha frente, como eu poderia pensar em comer quando ainda corria o risco de voltar para a cadeia? Enquanto eu não provasse que Amber tinha matado Léo, nada tirava de mim o medo e paranoia de voltar para aquela prisão dessa vez por anos.
-Você precisa comer – afirmou – precisa voltar a sua vida normal.
Eu joguei os talheres sobre a mesa.
-Vida normal? – perguntei – vida normal? Eu tenho um assassinato nas minhas costas, Jared!
-Você está obcecada por isso, eu já te disse que você não vai voltar para a cadeia! – a voz dele se tornara mais grave
-Como você sabe? – perguntei mas ele não me respondeu – como Jared?
Depois de insistir ele finalmente voltou a olhar para mim e não pode confessar com palavras mas seus olhos me disseram tudo aquilo que eu não estava esperando.
-O que você fez? – perguntei ele tinha que falar.
-Agilizei as coisas para você, você tem seus segredos e eu os meus – foi resposta dele e claro que aquilo era vingança por eu não ter lhe dito o que eu ia fazer com vinte mil dólares dentro da cadeia.
-Você comprou o juiz? – perguntei estática e ele não respondeu – Você comprou ele!
-Eu não ia deixar você naquela prisão um dia mais – o que ele disse era lindo, me encheu de emoção mas o fato de aquilo ser o motivo da minha saída me assustou ainda mais. Eu não estava “livre" porque eles acreditavam em mim mas porque Jared havia dado dinheiro a eles. – e o juiz é um de seus clientes.
-Você ofereceu minhas garotas? – falei alto incrédula e ele apenas deu de ombros, puta da vida me levantei saindo dali. Eu sei que ele tinha a melhor intenção e com certeza eu teria feito o mesmo por ele mas tudo enfatizava o fato de que a qualquer momento eu poderia voltar para a prisão, além de não poder nem sair da Califórnia. Fiquei na sala sozinha pensando naquilo quando meu telefone tocou.
-Lauren? – perguntei.
-Oi Margot – ela disse apreensiva – vou ser rápida, Angelina voltou a ter contato com Amber, está tudo como deve ser! E o melhor é que a vaca não desconfia de nada.
Ela deu uma risadinha.
-Ela não vai – eu disse – conheço Angelina muito bem, e quando ela achar que está nos usando mal pode esperar para a surpresa!
Lauren deu outra risada.
-Vocês estão bem? – perguntei porque de qualquer forma ficava preocupada com elas.
-Estamos, Kristen com o mal humor dela de sempre e Jennifer pelo contrário... mas estamos bem, mal vejo a hora de acabarmos com isso.
-Em breve, gatinha – respondi – preciso desligar, minha advogada está aqui me encarando.
-Ok, tchauzinho – e desligou, encarei Nina que estava em pé a minha frente com a sobrancelha erguida e braços cruzados.
-Você vai colocar todo meu trabalho de te tirar daquela prisão por água a baixo. – ela disse.
-Não finja que você não sabe que Jared comprou o juiz – falei dando de ombros e ela sorriu se sentando ao meu lado.
-Era para ser um segredo – respondeu – de qualquer forma, como eu sei que você não vai desistir desse seu plano maluco, trouxe um presente.
Então ela retirou do bolso um relógio dourado cintilante. Ergui as sobrancelhas me perguntando no que aquele relógio me ajudaria e por ter percebido minha expressão ela gargalhou.
-Um relógio?
-Não me subestime! – fingiu estar ofendida e puxou meu punho colocando o relógio – eu fui até nova York fazer uma visita no meu antigo escritório no FBI e acabei pegando um brinquedinho. Isso não é um relógio.
-O que você quer dizer? – ergui o punho admirando a peça dourada com detalhes pretos que combinava perfeitamente comigo.
-Você acha que Amber simplesmente vai confessar? – perguntou – você precisa de uma prova! Isso não é um relógio, é um gravador.
Meus lábios se estenderam em um sorriso largo e encantador. O que seria de mim sem minhas amigas? Rapidamente puxei Nina para um abraço que a deixou irritada, odiava abraços.
-Ok, não precisa exagerar. Aliás, eu sou paga para proteger suas costas, não sou?
-E você faz isso tão bem! – respondi – mas espera, Cara sabe que você está me ajudando? Porque a família toda de Jared acredita que isso é errado.
Ela fez um bico e revirou os olhos.
-Eu amo Cara, e ela é minha garota! Mas as vezes ela consegue ser tão mimada, e eles não entendem, acreditam na policia e em toda sua “justiça". Eu cresci no Harlem, Margot, eu trabalhei como policia durante anos e sei muito bem como justiça não existe nisso. – ela falou rápido – eu não posso te impedir apesar de também achar isso loucura, mas posso ao menos tentar te proteger.
Muita coisa na minha vida poderia ser difícil e complicada mas eu não podia reclamar das pessoas que eu tinha a minha volta. Me sentia abençoada por ter anjos maravilhosos ao meu redor. Abracei Nina novamente mesmo em meio a negação dela.
-Estou começando a ficar com ciúmes – Cara apareceu dando uma risadinha – ou será que posso fazer parte?
-Acho que seu irmão não iria gostar muito! – comentei e as duas riram. – Nina estava apenas me ajudando.
-Ajudando? – quis saber.
-Um pequeno presentinho para Margot conseguir uma prova mais rápido – Nina parecia tão confiante que tudo daria certo, ela estava tão empolgada com aqueles olhos castanhos brilhando de felicidade e autoconfiança mas a expressão de Cara mostrava o quanto ela desaprovava o apoio de Nina, as grossas sobrancelhas juntas davam a ela um ar mais sério.
-Você está ajudando Margot a voltar para a cadeia? – disse alto.
-Claro que não! – respondeu – estou fazendo por ela o que vocês deveriam fazer.
-O que? Apoiar ela a ir atrás de uma psicopata? – disse mais alto – Você deveria colocar um pouco de juízo na cabeça dela!
Era estranho ouvir Cara daquela forma.
-Cara, ela está me ajudando – me intrometi mas logo em seguida percebi que foi um erro.
-Te ajudando? Pelo amor de Deus, Margot! Você conheceu um monte de criminosas e agora quer ir atrás de uma vadia louca arriscando a própria vida, eu vi quão mal meu irmão ficou quando você foi embora a primeira vez, não vou concordar com esse seu plano maluco!
Ela simplesmente disparou para cima de mim falando alto me deixando completamente chocada com as palavras duras. Mas o que eu podia fazer? Ela não tinha a droga de uma acusação nas costas dela.
-Por que você não cuida da sua vida? – disse a deixando boquiaberta.
-O que está acontecendo aqui? – Jared interrompeu-nos encarando-nos.
-Sua mulher e o plano suicida dela. – explicou Cara – e a minha namorada que a apoia.
-Alguém tem que fazer isso – respondeu Nina deixando Cara e também Jared irritados.
A noite nosso jantar foi horrível, Cara e Nina de cara virada, Jared emburrado e até Nate estava doente. Marina e Shannon foram para a mansão e todos fizeram um complô para que eu desistisse do meu plano mas eu não iria desistir! Eu não iria deixar que minha inocência estivesse nas mãos de um juiz babaca que só pensava em mulher.
Com Nate doente optei por ficar no quarto dele até que ele dormisse o que levou um bom tempo. Assim que finalmente ele adormeceu, minhas costas estavam extremamente doloridas de ficar andando de um lado para o outro com ele em meu colo, mal notei o quanto ele havia crescido naqueles meses desde que voltei para Califórnia.
Entrei em meu quarto e Jared estava na cama lendo um livro, ou tentando me ignorar, me sentei na ponta da cama encarando-o mas ele mal se dignou a levantar os olhos para mim, até que eu tomei o livro de sua mão.
-Eu estou lendo – disse calmamente.
-Está me evitando – respondi e ele bufou.
-Do que isso te importa? Minha opinião ainda vale alguma coisa na sua vida? – ele disse me provocando, estava agindo como um adolescente revoltado.
-Você sabe que sim! – afirmei.
-Então desista desse seu plano maluco – suplicou ele e mesmo que eu quisesse tanto, mesmo que eu o amasse com todas as minhas forças para fazer qualquer coisa por ele eu não podia simplesmente desistir, iria até o final.
Fiquei quieta o encarando, ele sabia que eu não desistiria então irritado comigo se levantou afim de querer sair do quarto mas não antes de eu voltar a falar.
-Por que você simplesmente não pode confiar em mim? – perguntei e foi como se eu tivesse ofendendo-o.
-Porque eu não posso perder você de novo! – esbravejou se virando para mim me pegando de surpresa – não posso!
Me levantei segurando suas mãos afim de pegar todo aquele medo notório para mim.
-Não vai me perder – disse mas não foi o suficiente para que ele se acalmasse.
-É? Aparentemente sempre terá alguma coisa entre nós, Margot!
Ele falou se afastando e saindo, me deixando em pedaços. Me sentei novamente na cama me sentindo um pouco triste e sufocada, eu estava colocando em risco tudo simplesmente para ir atrás de Amber mas eu tinha tanta certeza do que queria que eu sabia que tudo daria certo. Estava tudo perfeitamente planejado.
Eu desci novamente para a sala mas parecia que todos estavam emburrados comigo, com exceção de Nina que me olhava discretamente e revirava os olhos depois tentava novamente acariciar uma Cara emburrada e extremamente nervosa. Tá, que se dane! Eu não estava aguentando aquela pressão que eles estavam colocando em mim então resolvi dar um passeio, era melhor do que ficar em casa com aqueles mal humorados.
-Aonde você vai? – ele perguntou antes de eu sair e eu bufei.
-Andar, volto em alguns minutos – respondi saindo, na metade do quarteirão começou uma chuvinha fraca, nada que fosse realmente me incomodar. Era normal eu me sentir um tanto deslocada no meio da minha família? Talvez fosse, eles estavam querendo cuidar de mim o tempo todo que se esqueciam que eu sabia fazer isso perfeitamente. A minha voltinha me levou até a única, ou únicas pessoas que me apoiariam em um plano completamente insano como esse. O túmulo de Bradley e Lila estavam ali, na minha frente. Duas pedras grandes de mármore que carregavam os mesmos sobrenomes. Me ajoelhei em frente a eles pegando aquela rosa morta que estava ali ah algumas semanas, ela se despedaçou por completo em minhas mãos.
-Eu sei que você me apoiaria – falei olhando para o túmulo de Bradley – e você provavelmente tentaria me trair – concluí olhando para o de Lila. – mas vocês não tem ideia do quanto eu sinto falta de vocês.
Respirei fundo, além de maluca assassina eu tinha me tornado essa pessoa mórbida que fala com mortos. Ótimo! Eu vi o sol se pôr por completo no horizonte e finalmente tudo escureceu por completo, algumas luzes do cemitério se acenderam em alguns pontos. Eu ouvi o barulho de um carro distante, mas não me importei era bom saber que eu não era a única maluca que ia falar com mortos.
Voltei minha atenção para os dois túmulos, era engraçado como eu não sentia mais dor. Quer dizer, eu sentia falta deles, da risada, alegria até mesmo dos comentários idiotas de Lila mas não doía mais como antes. Eu finalmente sabia lidar muito bem com minha dor sem correr para entorpecentes e bebidas alcoólicas.
E pensando nessas coisas eu ouvi um barulho atrás de mim, me virei rapidamente assustada mas notei que era somente o vento sobre o arbusto mas meu coração disparou com o susto. Voltei-me para os túmulos feitos de mármore tentando me acalmar, mas por algum motivo eu continuei com a sensação de que não estava sozinha. A coisa mais idiota que se passa na nossa cabeça essas horas é que algum fantasma resolveu se levantar do túmulo e bancar o engraçadinho comigo, ou apenas o susto mesmo estava me deixando nervosa. Respirei fundo, não havia motivos para estar tão assustada assim.
-Bom, acho que já é hora de ir – murmurei para mim mesma e antes de me levantar ouvi um barulho de folhas se mexendo, eu não estava louca. – Quem está aí? – perguntei tentando manter a voz o mais firme possível. Houve um minuto de silêncio e eu percebi que estava sendo paranoica. Ri de mim mesma imaginando o quanto eu poderia estar sendo maluca mas um barulho forte soou atrás de mim e eu me virei rapidamente, eu não vi nada além do chão em seguida. Algo, alguém me acertara com força na cabeça e eu caí com a cara em cima do túmulo de mármore de Bradley, antes de apagar eu vi o contraste do sangue contra o mármore.

Eu abri os olhos e no mínimo movimento de cabeça eu a senti latejar com força. Imediatamente quis voltar a dormir para não sentir aquela dor. Tentei passar a mão no local onde estava latejando mas meus punhos estavam presos, e tudo estava escuro. Como um choque de realidade, eu lembrei rapidamente do que acontecera. Eu estava amarrada em algum lugar, uma cama talvez pois estava deitada, meus punhos estavam sobre minha cabeça amarrados juntos em um aperto que quase parava minha circulação. A única luz ali era da lua que invadia o local por uma janela fechada, eu mal conseguia enxergar um palmo a minha frente. Minha boca estava tampada com algum tipo de fita.
Me mexi na cama e até meus pés estavam presos um no outro! Milhares de coisas se passaram na minha cabeça naquele momento. Pelo cenário tudo era óbvio, eu havia sido sequestrada a questão era por quem? De certa forma não me senti tão apavorada quanto deveria, especialmente quando ouvi vozes vindas do corredor.
-Como você pôde ser tão estúpida? – eu reconheceria o timbre daquela voz em qualquer lugar. – idiota!
-Eu achei que seria uma boa ideia – a voz chorosa que eu estava esperando soou desesperada tentando convencer talvez a si mesma que aquilo tinha sido uma boa ideia. O que seria “aquilo" exatamente?
-O que? Colocar ela no seu carro e trazer para a minha casa seria uma boa ideia? – a voz esbravejou incoformada dando enfase nas palavras conforme saiam de sua boca furiosa. Eu fiquei quietinha porque estava interessada demais em ouvir e entender.
-Eu só... quero dizer o plano era matar ela, não era? – esclareceu e ouve um silêncio por um segundo, depois um estralo e algo caiu no chão.
-Sua loira burra! Estupida! Já faz mais de cinco horas que ela está desaparecida, você fez o favor de matar aquele idiota britânico, quem você acha que a polícia vai ir atrás de quem quando notarem que ela sumiu? – disse mais furiosa ainda, e tive que concordar com ela. Amber seria a primeira pessoa que Jared iria atrás quando notasse que eu estava desaparecida. Mexi minhas mãos que já não sentiam nada pela falta de circulação, e me movi na cama infelizmente fazendo barulho. Em menos de três minutos a porta do quarto foi aberta trazendo luz suficiente para incomodar meus olhos e revelar minhas sequestradoras. Donna e Amber entraram rapidamente, Donna tinha os olhos como de um animal prontos para me atacar a qualquer movimento que eu fizesse e Amber parecia mais uma gatinha assustada com a palma da mão no rosto avermelhado, deu para enteder o que havia sido o estralo que eu ouvi.
-Finalmente acordou, estava quase jogando seu corpo no primeiro córrego que visse – Donna disse firme e depois suspirou como se não soubesse exatamente o que fazer. Eu ergui as duas sobrancelhas como se não me importasse, de certa forma não me importava realmemte tudo estava começando a acontecer da forma que eu queria.
-Nós podemos... – Amber balbuciou mas Donna com apenas um olhar a fez se calar-se.
-Cala a boca sua coisinha inútil – ela disse – tire essa droga da boca dela.
E com apenas alguns passos ela se aproximou puxando a fita da minha boca com força me machucando.
-Para alguém com mãos tão finas, você me machucou – falei incomodada e ela me fuzilou com aqueles olhinhos azuis assustados. Assustados com a mamãe.
-Você não está em condições de fazer piadas aqui – Donna disse se aproximando – não é porque Amber foi estúpida que significa que eu não queira realmente te matar.
Eu não entendi muito bem o que eu estava sentindo, talvez por ter passado por tantas coisas eu já não me intimidava tão facilmente, o fato era de que eu não tinha medo algum do que estava acontecendo ali.
Bocejei.
-E quando isso vai acontecer? Estou ficando cansada de todos vocês dizerem que vão me matar, ou me destruir etc etc etc – falei calmamente – e pelo que ouvi tem uma grande falha no seu plano, graças a minha irmãzinha.
Os olhos de Donna se acenderam em raiva e voltaram-se para Amber.
-É uma pena que essa garota não faça nada certo, mas não pense que estou blefando! – tentou novamente soar assustadora mas aquilo ali estava realmente entediante. Olhei para Amber e quase pude ler seus olhos, ela estava atrás de Donna encarando-a com uma certa raiva mas abaixou a cabeça quando Donna se virou novamente para ela.
-Vamos tira-la daqui – falou – não posso deixar ela na minha casa por muito tempo, vou arrumar um lugar melhor. Mantenha seus olhos nela enquanto eu não volto, não faça nada de estúpido de novo! E tampe a boca dela.
-Eu estou com fome! – reclamei – e meus ombros doem!
Elas me encararam descrente do que eu estava dizendo. Donna revirou os olhos.
-De alguma coisa para ela comer e desça um pouco seus braços, sem desamarra-la! – deu enfase na ultima parte e saiu com Amber em seu encalce, enquanto as duas saíram do quarto eu respirei fundo. Olhei em volta e então eu soube exatamente onde eu estava, em meu quarto, antigo quarto. A ultima vez que estive aqui eu tinha apenas quatorze anos, eu conhecia a vizinhaça e sabia que podia gritar e qualquer um me ouviria mas eu precisava permanecer ali. Olhei para meus punhos e o relógio que Nina havia me dado, sorri agradecendo mentalmente por ter uma amiga tão inteligente. Com muita dificuldade eu apertei o botão minúsculo dourado e quando ele deu o primeiro click eu sabia que era a hora de começar a agir.

A acompanhante (CONCLUÍDA) Onde histórias criam vida. Descubra agora