Promises

730 46 5
                                    

É tarde demais para você vir e ficar? Para você dizer que é meu?”

Uma semana já havia se passado e eu já estava começando a me acostumar com aquela vida fácil de apenas repousar. Eu não precisava fazer nada, apenas repousar. Enquanto a cicatriz em minha barriga não se curasse por completo eu tinha que viver como se fosse inválida. As pessoas faziam tudo por mim, desde pegar um copo d'agua a uma toalha. Para mim aquilo não bastava de um exagero e capricho, nunca fui acostumada a esperar pelos outros. Mas para Jared era de suma importância que todos naquela casa me respeitasse pois eu era a mãe do filho dele. Os empregos tinham ordens de dar mais preferencia a mim do que até mesmo Natalie. Era estranho ser tão bem tratada assim, como se eu fosse a dona da casa mas eu não me rendi muito a todo aquele capricho, eu não precisava que pessoas fizessem por mim coisas que eu era extremamente capaz de fazer sozinha apesar de todas as represálias de Jared ao me ver “fazendo esforços”.
Era sábado e parecia que o céu estava desabando sobre a Califórnia naquela noite. Estávamos todos na sala cada um entretido em suas coisas. Cara estava com fones de ouvidos mexendo no celular, Natalie, Constance e Elena estavam em um assunto chato sobre vestidos e sobre como a prima de Natalie havia engordado após a gravidez, eu sentia que a qualquer hora meus ouvidos iriam sangrar só de ouvi-las falar sobre a vida dos outros com tanto empenho. Shannon estava jogando alguma coisa em seu celular também, Jared em seu notebook e eu entediada de cara para cima.
Jared levava os dedos até as têmporas a cada um minuto e tinha o rosto avermelhado, os olhos irritadiços que a todo momento ele os apertavam, e soltava um suspiro longo forçando a vista contra a tela do notebook repousando em suas pernas.
-Filho, você precisa tomar um remédio para essa dor de cabeça – disse Constance.
-Estou bem, mãe.  – ele respondeu. Ela suspirou. Ele sempre teimoso como era deixava a mãe maluca. Me levantei e me aproximei dele por trás da poltrona abaixando próximo ao seu ombro.
-O que você está fazendo? – perguntei entediada encarando a tela cheia de planilhas, contas, formulários e tudo aquilo que eu e meu histórico escolar até o primeiro ano do ensino médio não me permitiam entender.
-Trabalhando, preciso rever esse relatório até o final da semana que vem e tem umas mil páginas  - ele disse com a voz cansada e olhos marejados. Estava exausto em pleno sábado, não é atoa que estava morrendo de dor.
-Você está com dor? – perguntei retirando meus olhos da tela e o fitando.
-Um pouco de dor de cabeça – ele respondeu como se não fosse grande coisa.
-Você precisa descansar – respondi passando a mão pelo seus ombros, ele sorriu.
-Estou bem, Margot. – falou ele tentando me convencer mas não conseguiu.
-Está exausto, é sábado a noite. Você deveria estar descansando, mas exausto e com os olhos nesse monitor o máximo que você vai conseguir é uma enxaqueca e morrer aos 50 com um AVC.
Ele me olhou arqueando as sobrancelhas.
-Uau! Quando cursou faculdade de medicina dra. Robbie? – falou debochado.
-Haha – fingi uma risada – eu assisti uma vez em greys anatomy – respondi e nós dois gargalhamos juntos.
-Estou bem, Mag, não se preocupe. – ele falou tentando me tranquilizar mas não me dei por vencida.
-Vamos fazer um trato, se você descansar eu prometo ficar de repouso e parar de me esforçar! – falei rapidamente, eu sabia que ele iria topar pois na última semana o que ele mais me disse foi “por favor, pare de se esforçar".
-Feito! – ele mal pensou, eu dei um saltinho de alegria comemorando.
-Nelly, trás uma aspirina por favor – falei ainda mais rápido e logo ela trouxe, estendi para ele que fez uma careta – Tome, sem fazer cara feia.
Ele então tomou o remédio e quis voltar para o notebook mas eu não deixei. Fechei o notebook e coloquei em cima da mesinha da sala segurando sua mão o retirando da poltrona.
-Descansar!!!! – insisti o puxando em direção as escadas. Subimos até seu quarto, eu o fiz deitar na cama e percebi que ele estava com febre mas acho que uma boa dormida já ajudaria bastante. Ele rapidamente se enrolou debaixo do cobertor.
-Bom, agora durma. – falei mandona.
-Não quer dormir aqui comigo? – falou acariciando meu braço, eu dei risada.
-Na cama da sua noiva? Nem pensar! – respondi ainda rindo. Ele sorrio de lado.
-Ah um tempo atrás isso não era problema para você. – ele respondeu. Eu franzi o cenho rapidamente pensando em como ele estava certo sobre aquilo.
-Agora é. Eu estava pensando em uma coisa... se eu não posso ter você só pra mim, então você não pode me ter. – respondi e seu meio sorriso logo sumiu ao perceber que eu estava falando sério. 
-É sério? – ele disse.
-É claro que é. Estou cansada de metades, decida-se Jared, ou você fica com ela ou você fica comigo mas saiba que eu não vou esperar para sempre – falei firme, ele ainda ficou me olhando provavelmente se perguntando se aquilo realmente era sério. É, eu decidi colocar um pouco de pressão em cima daquilo. Como ele não disse nada eu continuei – bom, mas não precisa pensar nisso agora. Descansa, você precisa. – falei, dei um beijo em seu rosto por crueldade e saí de seu quarto indo em direção ao meu.
-Será que vou ter que colocar uma tranca aqui? – perguntei ao me deparar com Natalie no meu quarto.
-Eu preciso falar com você.  – ela falou com a voz chorosa, balancei o ombro indicando para que ela falasse. – É... porque você está fazendo isso? Porque você simplesmente não para? – ela perguntou me deixando sem entender nada.
-Do que você está falando? – perguntei já me irritando com sua voz chorosa.
-Do Jared! Por que você não para de tentar roubar ele de mim? Por que você continua querendo ter algo com ele? – ela falou rapidamente, eu abri a boca entendendo o que ela queria dizer mas não entendendo como ela podia chegar a conclusão de que apenas EU queria algo.
Eu olhei para ela.
-E por que você não para? – perguntei. – Por que você não para de se humilhar por um homem que não ama você?
Seus lábios tremeram mas ela não disse nada.
-Isso é humilhante. Ele não te ama, quer prova maior? – falei e apontei para mim mesma – ele insiste que eu fique morando aqui, por que? Porque estou com um filho dele na minha barriga. Natalie, acorda! Jared não te ama. – falei tentando abrir os olhos dela.
-Ele só está enfeitiçado por você... Se você for embora ele poderá me amar. – ela falou com a voz chorosa como se aquilo fosse uma solução simples e prática, o que todos nós sabíamos que não era, nós nos amávamos, nós dois éramos orgulhosos demais para admitir isso e ele covarde demais para enfrentar sua própria mãe e decidir finalmente com quem iria ficar, mas eu não estava mais afim de ficar nesse joguinho de espera, eu não queria ficar a disposição dele.. Mas Deus, eu o amava tanto que só de pensar em nunca mais tê-lo sentia o coração apertar como se fosse parar a qualquer instante. Eu passei a mão na testa já ficando irritada com a atitude dela.
-Ele nunca te amou! – falei um tanto alto – está com você por conveniência! Sua mãe coloca essas coisas na sua cabeça porque ela quer a fortuna dele, Natalie. Mas Jared nunca te amou e nunca vai te amar. Vamos lá, você é linda e jovem, pode estar com alguém que realmente queira você.  Por que ficar se humilhando atrás de um homem que apenas te atura? – explodi, fazia tempo que eu queria dizer aquelas coisas para ela para que talvez ela pudesse enxergar a verdade mas foi inútil, a garota desabou a chorar como uma adolescente. Eu revirei o olhos e bufei.
Me aproximei mais dela e então ela se jogou no chão agarrando minhas pernas me deixando sem reação.
-Não tire ele de mim. – ela olhou para mim com os olhos cheios de lagrimas implorando. Eu continuei sem saber o que fazer – Ele é o amor da minha vida. Não tire ele de mim. – continuou agarrada as minhas pernas.
-Natalie! – falei puxando ela para cima – é melhor você se recompor! – sacudi ela pelos ombros.
O que ela tinha na cabeça ao se ajoelhar na minha frente daquele jeito? Eu senti raiva mas não dela e sim da mãe dela que fazia aquela garota acreditar em uma ilusão. Mas ela continuava chorando e chorando e eu não sabia o que fazer porque ela era apenas uma garota ingênua que cresceu ouvindo mentiras sobre sonhos, príncipes e amores eternos. Natalie era a típica garota que cresceu para viver em um castelo de sonhos e alegria, e eu, eu estava sendo a bruxa de seu sonho retirando a alegria e jogando-lhe uma praga, na cabeça dela, ele era seu príncipe encantado enfeitiçado pela bruxa malvada. Ah, e se eu contasse que eu não era tão má assim? E se eu disser que talvez eu possa ter sido uma princesa sequestrada por um bruxo malvado e fiquei perdida? Será que eu deixaria de parecer uma bruxa má e egoísta?
-Tudo bem! Eu não vou fazer nada para provocar o Jared. – falei convencendo a mim mesma que talvez eu poderia deixar de usar as armas daquela bruxa egocêntrica e egoísta para dar espaço a um pouco de empatia para uma garota iludida. Ela mal sabia que a bruxa em sua história na verdade era sua própria mãe – vou tentar me manter afastada mas se ele decidir ficar comigo Natalie, não tem ninguém que ficará entre nós dois.
Ela ergueu os olhos para mim.
-Você vai? – perguntou.
-Vou! Considere isso como um pedido de desculpas. – respondi da melhor forma que pude – essa é sua chance, eu vou ter esse filho, deixo com ele e depois vou embora para sempre.
Ela deu um meio sorriso, e tentou me abraçar.
-Sem abraços! – Falei, ela ficou meio sem graça – agora vá que eu quero descansar. – ela se retirou do meu quarto. Me sentei na cama pensativa, o que eu fiz? Deixei aquelas lagrimas idiotas me sentimentalizar? Só podia ser aquelas drogas de hormônios da gravidez que estava me deixando idiota. Ah como eu queria nunca ter me metido nisso. Agora eu teria que me afastar de Jared por causa daquela imbecil iludida.
Me joguei na cama levando a mão na cabeça. Isso não poderia ficar pior.

No dia seguinte eu estava matando o tédio nos fundos da mansão, onde havia um jardim. Eu não tinha conhecimento do meu amor por flores até ficar ali, havia diversos tipos de flores e as minhas preferidas, rosas vermelhas. Eu estava regando-as quando ouvi umas vozes familiares atrás de mim. 
-Ah meu Deus! Cadê a minha Margot Robbie Glamorosa e quem é você? – perguntou Lila. Eu me virei surpresa para Marina, Lila e Lizzy que estavam paradas me olhando. Eu parecia tão diferente delas.
Elas pareciam três mulheres lindas e glamorosa, usando Gucci e Diamantes. Enquanto eu estava com um vestido simples florido, e cabelos soltos, caídos sobre meu rosto.
Sorri ao vê-las e as abracei.
-Achei que vocês tinham se esquecido de mim. – falei.
-De jeito nenhum, Mag. Mas você sabe, são tantos clientes... – Lizzy falou – eu acabei de voltar de Nova York.
-Uau! Eu tinha me esquecido da correria de uma acompanhante. – falei ainda sorrindo – eu fico a maior parte do tempo atoa, regando plantas, ouvindo musica, dormindo, pelo menos essa mansão é enorme, tem piscinas, uma quadra. Da pra fazer milhares de coisas aqui. – disparei.
-E Mag, sua barriga, está enorme. – Instintivamente levei a mão até a barriga que realmente estava grande. Não tão enorme quanto o exagero de Marina, mas estava bem arredondada.
Me sentei no banco de madeira que enfeitava o jardim.
-É, ele cresce rápido. – tentei manter o ânimo na voz mas não conseguia mentir para minhas três melhores amigas.
-O que foi, Mag? Chateada por que Angelina não conseguiu matar o bebe? – Lila falou com Uma espécie de humor sádico. Levantei os olhos para ela.
-Muito pelo contrário, estou muito feliz que isso não tenha acontecido – respondi tranquilamente só para ver o veneno dela escorrendo pelos cantos da boca.
-Mas você queria tirar ele daí de qualquer forma. – ela respondeu e logo em seguida se sentou ao meu lado no banco. – Ah mas eu entendo você... – então sua voz tornara-se pretenciosa – depois de ver que Jared comprou essa mansão enorme, e te deixou aqui na vida boa, é mais fácil ter um Leto do que ficar sendo acompanhante de vários caras.
-Não é verdade – eu falei ofendida. – eu não decidi ficar com o bebê por causa dele.
Falei como se eu devesse alguma explicação. 
-Então... ? Margot, Angelina expulsou você da agencia. Jared é sua única opção ou voltará a ser stripper.
Só de ouvir novamente o nome de Angelina, senti o sangue ferver. Fechei os olhos por alguns segundos. 
-Eu não dependo de Angelina! Falando nela, como ela está? – perguntei curiosa para saber o que tinha acontecido com ela que sumira durante todos aqueles dias.
-Bom, o que ouvimos foi que ela decidiu tirar férias na Europa. – Lizzy falou sem ter muita certeza se realmente aquilo era verdade ou apenas boatos mas eu dei risada porque eu conhecia Angelina muito bem e ela não tirava férias na Europa assim.
-Europa? Ela deve ter ido fazer plásticas para arrumar a cara dela que eu quebrei – respondi rindo. – De qualquer forma... É bom ela aproveitar.
-O que você quer dizer? – perguntou Marina. Eu olhei para ela.
-Ela arruinou minha vida. E eu vou destruir tudo que eles construíram, cada centavo, vai ser meu. – respondi me deliciando com a ideia da vingança, eu ainda não tinha um plano concreto, não tinha certeza de como iria fazer aquilo acontecer mas eu sabia que antes de qualquer coisa, Angelina e Daniel iriam pagar por tentarem me manipular, por tentarem destruir a única frecha de ar fresco, de felicidade, de amor, que eu senti por anos. Eles tentaram me destruir e óbvio, a bruxa malvada que habitava dentro de mim não deixaria isso quieto.
-Mag, não tem razão para isso. – Marina falou passivamente, se eu era uma bruxa ela poderia ser uma fada, gentil, carinhosa, decidida, e forte. Mas Marina não sentia a dor que eu sentia, ela não sabia o que era ser usada e ao simples toque de felicidade ver tudo ruir em frente aos seus olhos novamente e exatamente por isso, ela era uma boa pessoa.
-É claro que tem. – respondi – quando essa criança nascer, eu vou dar ela para Jared já que ele insiste tanto, depois eu vou embora e vou me vingar da Angelina por tentar me matar.
As três ficaram caladas por que sabiam que independente do que dissessem, eu não daria ouvidos.
-Você fala com tanto ódio. – Marina disse preocupada.
-Eu estou cheia de ódio. – respondi rapidamente fitando suas íris marrom que mostravam claramente sua preocupação.
Ainda estávamos conversando no jardim quando Jared chegou. Cumprimentou as meninas, e se aproximou de mim.
-A barriga da Margot está ficando enorme, não é, Jared? – Marina disse em um tom irônico. Eu sabia que por trás daquela frase tinha um “seu filho da mãe” mas não disse nada. Apenas lancei-lhe um olhar que dizia para ficar quieta.
Ele sorriu talvez ignorando a provocação dela.
-Ela está linda. – disse ele respondendo com descontração a provocação de Marina.
-Ela nem parece a mesma garota. – Lizzy disse –olha para ela, usando roupas simples, sem maquiagem e cuidando de plantas no jardim de uma mansão.  – ela estava fazendo uma crítica?
-Ela está perdendo tempo! Que mulher ficaria em uma mansão cuidando de mato? – era a vez da “doce" Lila expressar sua tão estimada opinião. Eu revirei os olhos.
-Hey, Margot está aqui e Margot não dá a mínima sobre o que vocês estão falando. – falei ficando um pouco alterada. Que droga. Só porque eu estava ali não significava que eu tinha que agir como se fosse dona daquela casa, daquelas coisas. Jared e eu nem estávamos juntos, ele não estava sendo corajoso o suficiente e eu não sabia se ele estava esperando alguma coisa. Respirei fundo.
-A Margot é realmente difícil de agradar, ou impressionar. – ele comentou com as mãos no bolso – ela pode ter tudo o que quiser aqui, mas não é uma mansão que ela realmente está procurando, não é, Mag? – ele falou e olhou fundo nos meus olhos em seguida. Senti a nuca queimar e as bochechas ficarem avermelhadas. Ele sabia o que eu queria para mim antes mesmo de eu saber. A questão era que eu queria aquilo, mas não conseguia deixar de ser quem eu me tornara.
-Eu espero que você dê a ela então  - Marina respondeu. Ele apenas acenou com a cabeça. Aquele assunto estava um tédio então disse a eles que estava me sentindo um pouco indisposta e precisava descansar, subi para o meu quarto e fiquei lá olhando para a minha barriga que realmente estava ficando enorme. As semanas passavam e eu as vezes esquecia que eu estava carregando um ser humano dentro de mim... como ele será? Será que vai ter olhos tão azuis quanto os de Jared, ou azuis igual ao meu? Bom, sempre ouvi dizer que meninos tem tendência a herdar as características da mãe, mas e se for uma menina? Ela pode ter belos cabelos castanhos e olhos azuis, mas se herdar a minha personalidade terá que ser muito bem educada para não se tornar uma riquinha arrogante, mimada e chata. Mas quem se importa? Aliás porque estou pensando nisso? Eu nem ao menos quero essa criança.
Fui interrompida dos meus devaneios com Jared que entrou em meu quarto sem bater.
-O que você quer? – perguntei calma mas curiosa.
-Conversar. – ele falou sentando-se na cama, ao meu lado.
-Eu estou cansada. – respondi objetivamente na esperança de que ele se tocasse e saísse dali mas foi totalmente em vão. – Sobre o que quer falar? Você deveria estar falando com sua namorada sobre o casamento que é daqui ah alguns dias... – eu sabia o quanto ele odiava se lembrar disso. Toda vez que tocávamos nesse assunto ele se sentia tenso e deixava o local.
-E você vai fazer o que quando eu voltar? – perguntou – quais são seus planos, Margot? Eu estou um pouco curioso sobre o que você pretende fazer de agora em diante.
Juntei as sobrancelhas sem entender o porquê a minha vida era interessante para ele. Mas... eu não tinha pensado nisso.
-Por que você se importa? – falei na tentativa de desviar o assunto.
Ele coçou a barba e pareceu um pouco tenso antes de falar.
-Eu estava pensando... você é jovem, tem apenas vinte e dois anos poderia estudar alguma coisa que tem interesse. Quem sabe até teatro, você disse que sempre quis ser atriz.
Eu dei uma risada alta 
-Eu estou muito velha para ir para Hollywood e tentar ser uma grande estrela de cinema – ele deu risada também – e honestamente, eu não tenho ideia do que eu vou fazer.
Ele se virou de lado e deitou olhando para mim. Ficamos um de frente para o outro, porém sem nos tocarmos 
-Eu posso pagar para você estudar o que quiser, fazer o que quiser. Você pode ser quem você quiser ser, Mag. – ele falou olhando diretamente em meus olhos e eu vi o quanto ele queria que eu fosse melhor, senti naquele momento que ele acreditava que eu poderia ser grande, que eu nasci para ser grande. Mas, eu não queria ir para uma faculdade, eu nem mesmo havia terminado o ensino médio. Eu iria achar meu caminho só precisava de um tempo.
-Não, Jared. – respondi, e também seria loucura aceitar isso dele – eu sei me virar.
Ele umedeceu os lábios. E finalmente, me tocou. As pontas dos dedos acariciando meu rosto, afagando meu cabelo, era tão bom e ao mesmo tempo era tão ruim, ele não era meu.
-Você é uma mulher extraordinária e nasceu para ser grande. – ele falou quase sussurrando. Apenas sorri, acho que nem eu mesma acreditava muito naquilo. Segurei sua mão que me acariciava, seus dedos eram ásperos mas não muito, na palma de sua mão havia dois calos pequenos que dava para sentir. Entrelacei meus dedos aos dele e fechei os olhos, acabei pegando no sono tão depressa que não deu tempo de dizer mais nada para ele.

Eu pensei em vestir alguma coisa elegante, mas não tinha como andar de salto já com aquela barriga. Então coloquei um vestido branco, rodado, sapatilhas e uma maquiagem bem leve. Desci as escadas e passei pela sala onde todos estavam conversando ou entretidos em seus celulares, eles pareceram não notar minha passagem mas Jared notou, ele sempre notaria.
Quando estava para entrar em meu carro, ele me surpreendeu atrás de mim.
-Onde você vai? – quis saber.
Mordi o lábio inferior pensando. 
-Andar por aí, lembrar que existe vida fora dessa casa. – respondi irônica, ele cerrou os olhos e cruzou os braços.
-Você não pode fazer esforços. – disse erguendo uma sobrancelha. Revirei os olhos irritada com aquela mania dele de querer me proteger.
-Eu estou bem! – falei firme.
-Posso ir com você? – perguntou preocupado. Eu sabia que sua preocupação era honesta, Jared não conseguia esconder muito bem suas intenções de mim. Mas eu realmente não tinha certeza se era um boa ideia ele ir. Respirei fundo antes de responder.
-Acho que não é uma boa ideia – respondi rapidamente.
-Mag, - ele segurou levemente meu cotovelo – É sério, eu me preocupo com você. – disse com os olhos caídos e quem resistia aquele olhar dele?
-Tudo bem! Mas só para ficar bem ciente de que você não vai gostar nadinha. – falei antes de entrar no carro deixando ele curioso, o caminho foi um pouco silencioso. Ele estava intrigado e curioso para onde estávamos indo e eu não lhe dei nenhuma pista.
Entrei no estacionamento do restaurante ainda ambos calados. O manobrista pegou meu carro e Jared e eu seguimos até a mesa.
-Desculpe o atraso, estou um pouquinho acostumada a não dirigir. – falei sorrindo surpreendo Mark, que ao me ver abriu um grande sorriso mas ao notar a presença de Jared, o desfez quase por completo. Jared, por outro lado franziu o cenho sem entender nada. – Bom, eu acho que vocês já se conhecem. – falei tentando escapar de ter que apresenta-los. – Jared veio me fazer companhia por estar preocupado.
-Suponho que seja por causa disso? – ele falou apontando para a minha barriga, sorri sem jeito.
-Sim. – respondi, Jared e eu nos sentamos na cadeira a sua frente e logo pedimos alguma coisa para beber e comer enquanto Mark e eu conversávamos. Jared, que havia prometido não se intrometer abriu seu celular e se Interessou em alguma coisa. Tentei desviar nosso assunto da minha gravidez e tentar deixá-lo mais leve possível mas com Jared ali ficava difícil. – Bom, Mark, eu precisei te chamar aqui hoje porque você é a única pessoa que eu posso contar... Minha vida na agência da Angelina acabou depois dela tentar me matar, você deve ter ouvido a história... – falei como se fosse um assunto totalmente comum, dizer que alguém tentará me matar soava comum aos meus ouvidos mas ouvir quando Jared dizia me amar, eu me desmontava. Que droga. Quem aceita ódio e renega o amor? Quem em sã consciência faz esse tipo de escolha?
-Sim, claro. – ele respondeu coçando o queixo sem parecer conseguir acreditar naquele absurdo, aliás, eu sempre admirei Angelina. – Suponho que teve a ver com suas relações pessoais. – ele deu olhada rápida para Jared, que como prometeu, ignorou e continuou absorto em seu celular.
-Sim, mas isso não vem ao caso mais, o que vem ao caso é que eu não tenho nada além do dinheiro que economizei o que não é suficiente para mim, então eu decidi abrir a minha própria agência. – falei rapidamente com um sorriso parecendo uma adolescente sonhadora. Mark pareceu surpreso, e Jared me olhou confuso. Eu mal esperava para ouvir o que ele tinha a dizer.
Mas Mark pareceu contente em me ouvir dizer aquilo.
-Sério? – falou com um leve sorriso no rosto.
-Sim, a única coisa que eu tenho total conhecimento nessa vida. Eu quero comandar minha agência mas como eu disse, eu não tenho dinheiro suficiente. – concluí. 
-E é ai que eu entro? – ele falou tomando um gole de vinho.
-Sim! – falei, normalmente quando eu queria que os homens fizessem algo por mim, eu sempre soava sexy e pretenciosa, mas ali eu estava alegre, esperançosa, cheia de planos e me sentindo horrível por ter feito o que fiz com Mark mas estar ali pedindo sua ajuda. – Quer dizer, eu sinto muito por ter mentido para você, Mark. Mas você sempre foi a única pessoa em que eu pude confiar em todos esses anos.
Ele sorriu novamente tomando outro gole de vinho, Jared parecia alheio a nossa conversa mas eu sabia que não estava. Ele estava prestando atenção em cada palavra. Eu não me importava com sua presença, eu não me importava que ele me ouvisse, porque mais do que eu nunca eu queria que ele soubesse quem eu era.
-Margot, eu não vou dizer que te considero como uma filha porque pais não fazem o que nós costumávamos fazer – ele falou com certeza na intenção de provocar Jared. E conseguiu, eu reprimi um sorriso. – mas você sempre teve a minha admiração, eu sempre soube que você nasceu para ser extraordinária. Então, apenas me diga o quanto precisa e eu ficarei feliz em ser seu investidor.
Eu sorri de lado a lado sem conseguir acreditar naquilo, Mark iria realmente me ajudar. Ele iria realmente me ajudar a começar.
-Eu fiz alguns cálculos – peguei um papel todo bagunçado com uma lista de coisas que eu tinha anotado com valores, me senti uma leiga, burra, que não tinha ideia sobre coisas como empreendedorismo, financeiros, administração e ainda estava no meio de dois empresários de sucesso. Coloquei o papel sobre a mesa e percebi Jared dando uma olhada de canto – eu fiz por cima, não tenho ideia de como essas coisas funcionam mas eu acredito que preciso de mais ou menos isso...
Ele viu o valor, quase meio milhão. Pensou por uns instantes.
-Acho que dá pra ajudar. – disse pegando um talão de cheque do bolso. – espero que você não me decepcione.  – disse assim que entregou o cheque pra mim.
Eu estava tão feliz que comecei a chorar e agradece-lo. Eu não sabia como fazer as coisas começarem mas sabia que com certeza aquilo era um começo. Então nós conversamos mais sobre algumas coisas até que ele teve que ir, então Jared e eu voltamos para a casa.
No caminho eu percebi que ele estava incomodado com alguma coisa, eu o deixei dirigir. 
-Eu te disse que você não iria gostar de vir. – falei. Ele travou a mandíbula e respirou fundo. – eu sabia que ver Mark te deixaria nervoso.
-Não foi ver ele que me deixou nervoso. – ele falou – por que você veio pedir a ajuda dele quando eu estava do seu lado? Você acha que eu não posso te dar esse dinheiro? – ele disse irritado. Olhei para ele sem entender o que aquilo significava.
-E qual motivo de eu não pedir a ele? Eu já te disse que não quero nada de você.  – respondi dando de ombros.
-Eu ofereci pagar uma faculdade para você estudar qualquer coisa e é isso que você quer fazer? Ser uma cafetina? – ele falou assim que parou o carro na garagem da mansão. Eu fiquei tão irada com o que ele disse que não me dignei a responder, apenas desci do carro batendo a porta com força – Margot! – ele gritou mas eu ignorei indo para dentro da casa. Entrei no meu quarto e fechei a porta com força já começando a chorar. Por que ele tinha que ser tão idiota as vezes? Como alguém conseguia ser tão perfeito e no minuto seguinte parecer o homem mais horrível do mundo para mim? Ah que ódio! E esses malditos hormônios da gravidez que parece intensificar quatro vezes mais as minhas emoções, me deixa aqui no quarto chorando como uma besta simplesmente porque o homem que eu amo não me entende, o homem que eu amo se casará em breve com outra garota porque simplesmente não quer desapontar as expectativas da mãe. Me deitei na cama sentindo um pouco de dor nas costas.
Nelly bateu na porta e logo em seguida entrou.
-Está chorando, meu anjo? – ela perguntou caridosa e preocupada como sempre. Nelly era uma mulher forte e bonita. O sotaque britânico a deixava ainda mais linda, além de ser imensamente amorosa, caridosa, e gentil, não demorou muito tempo para que nós duas ficássemos intimas e ela me tratar como uma filha, ou como eu sempre imaginei que fosse um carinho de uma mãe para com uma filha.
Eu estava chorando, não simplesmente por causa do Jared mas comecei a sentir uma azia muito forte. Outro sintoma da gravidez.
-Estou bem. – falei com a voz tremula. Ela se aproximou e passou a mão no meu cabelo afagando-o, depois sua expressão tornou-se assustada.
-Jesus, Margot. Você está ardendo em febre. – ela falou colocando a mão no meu rosto que eu sentia queimar desde cedo mas ignorava, também estava me sentindo fraca e melancólica. – Vou trazer um remédio para você.
-Eu não quero remédio – falei, me sentia forte ainda. – estou bem, Nelly.
-Não está, não. Está grávida, com febre e triste. Margot, o que o Sr. Leto lhe fez desta vez?
Eu respirei fundo lembrando das coisas que ele disse.
-Ele é um idiota! Apenas isso, Nelly. – falei ficando alterada novamente. Senti um pouco de tontura e agradeci mentalmente por estar deitada, caso contrário eu teria caído. – mas esquece, Nelly, estou cansada, apenas preciso descansar.
-Tudo bem, Magzinha. Mas qualquer coisa me chame! – falou um pouco autoritária, afagou meu cabelo novamente e me deu um beijo no topo da cabeça. Apagou a luz do meu quarto e saiu, acabei adormecendo.
Mas assim que acordei estava me sentindo pior, o corpo queimando, tremendo de frio e a boca totalmente ressecada. Era só o que me faltava.
Eu chamei pela Nelly que demorou um pouco para aparecer, mas assim que veio e percebeu como eu estava achou melhor chamar um médico, eu tentei negar mas foi em vão.
-Margot, você está com uma inflamação na garganta o que está te causando febre, não é nada grave mas você está gravida, e uma febre pode prejudicar a criança. Eu vou te prescrever um medicamento que ajudará rápido e outras recomendações são: tomar banho em água morna, beber bastante liquido, repouso e medicação. Caso não haja diminuição da febre vá depressa para o hospital. – o dr. Falou amigavelmente.
-Tudo bem, Dr. – respondi, ele saiu junto com Nelly e eu dei graças a Deus pois queria ficar sozinha para descansar, mas não demorou muito para a minha porta ser aberta e Jared entrar totalmente desesperado.
-Você está bem? O que aconteceu? Você precisa ir ao medico? Margot, me diz o que aconteceu! – ele disse desesperado, eu não tinha forças para discutir com ele.
-Me deixa sozinha – falei.
-O que houve? – perguntou sentando-se na minha cama e passando a mão no meu rosto. Aquele toque maldito que quanto mais eu odiava mais eu queria.
-Estou bem, Jared. Apenas uma garganta inflamada. – respondi com a voz um pouco fraca. – Você pode ir. – continuei insistindo.
-Por que simplesmente não me deixa cuidar de você? – ele falou como se fosse a pergunta mais simples com a resposta mais simples. Eu revirei os olhos, nem mesmo doente ele me dava paz. Olhei para ele e bufei.
-Está com raiva por que eu disse aquilo para você mais cedo?
-O que você acha? – perguntei ironicamente. Ao menos ele não soou arrogante, ou egoísta dessa vez.
Ele mordeu o lábio inferior um pouco pensativo. 
-Escuta Mag – disse depois de um tempo em silêncio – eu não quis julgar você, só não entendo como dentre tantas coisas no mundo que você pode fazer, você quer agenciar garotas. É por causa do dinheiro?
Ele perguntou e realmente parecia não entender. Mas quem entenderia? As pessoas tem sempre a mania de ver as coisas apenas pelo seus pontos de vista, e eu não as culpo. Acredito que todos devem ter suas opiniões mas devem também ser flexíveis referente a opiniões contrarias, alias, o mundo não gira em torno do nosso próprio umbigo.
Nessa paciência e seguindo essa mesma linha de raciocínio entendi que Jared merecia uma chance de tentar compreender a minha decisão. Me sentei na cama com um pouco de dificuldade.
-Isso é tudo que eu conheço, antes de tudo (ou antes de conhecer você), o meu maior objetivo era ocupar o lugar de Angelina na ideia de ser maravilhosa como ela – falei com calma – depois ela tentou me matar, destruiu o que tínhamos e sumiu. Eu quero fazer isso porque eu não vou ser a Angelina, eu vou ser maior que ela, além de poder ajudar inúmeras garotas a sair de uma vida degradante e se tornar uma acompanhante. – tentei explicar com minhas palavras mas ele continuou pensativo – não é apenas o dinheiro ou não é mais a questão de ser maravilhosa, mas de fazer a única coisa que sei fazer.
Ele coçou a barba e me olhou.
-Você tem um planejamento? – perguntou me olhando.
-Como assim? – falei.
-Planejou como vai fazer? O dinheiro você já tem para investir, precisa agora de um planejamento.
Ele estava tentando me ajudar? É isso? Eu fiquei parada uns segundos olhando para ele sem acreditar naquilo.
-Você precisa planejar como você vai começar, organizar as coisas, Margot. – ele estava ficando um pouco empolgado.
-Mas eu não tenho conhecimento sobre essas coisas. – respondi me sentindo um pouco perdida, ele sorriu de lado.
-Eu já volto – disse e saiu me deixando confusa e intrigada. Mas rapidamente ele voltou com um notebook na mão e sentou-se ao meu lado na cama, ligou o notebook e abriu diversos documentos da empresa dele me dando exemplos de planilhas, anotações, sistemas, e afins. Mesmo com febre ficamos até tarde da noite com ele me ensinando diversas coisas sobre administração de empresa e juntos fomos planejando a iniciação da minha agencia de acompanhantes.
Ele estava tão empolgado falando e me ensinando coisas que mal percebeu como eu olhava para ele, de repente era como se a voz dele fosse apenas uma voz de fundo e eu fiquei admirando-o. Como era lindo quando estava concentrado em algo, e principalmente quando se referia a mim. Como era elegante, charmoso, e extremamente inteligente. E tinha ideias que eu nunca imaginaria. Enquanto eu o admirava acabei pegando no sono em seu ombro, sentindo o cheiro de sua pele. Era como dormir com anjos.
-Mag! Mag! – acordei com ele me chamando. Meus olhos pesaram para abrir e minha boca estava seca, muito seca.
-Hm? – murmurei ainda de olhos fechados 
-Você está ardendo em febre, precisa tomar um remédio. – ele falou preocupado – vamos, acorde.
Eu abri ao olhos com imensa dificuldade. Ele me ajudou a se sentar, me deu o remédio e colocou um termômetro em baixo do meu braço.
-É bom medir sua temperatura – ele falou – se a febre não abaixar terei que te levar para o médico.
Ele era tão lindo preocupado comigo.
-Você ficou aqui a noite toda? – perguntei quando olhei para o relógio e percebi que já era três horas.
Ele sorriu tímido. 
-É mas não na sua cama, na poltrona. – e realmente havia uma coberta em cima da poltrona, ele não podia ter feito aquilo. Ficar sentado ali a noite toda só me olhando dormir com medo de que a febre me desse um convulsão.
-Jared, você não precisa fazer isso. Eu estou bem – falei e então ele pegou o termômetro e olhou.
-Trinta e nove graus de febre não me parece uma pessoa que está bem. – ele disse mais preocupado ainda. – Deita e vamos esperar o remédio fazer efeito, se não fizer vou levar você para hospital.
Eu me deitei sentindo como se eu fosse uma criança sendo cuidada pelo próprio pai. O engraçado era que ele não parecia estar preocupado apenas com o bebê mas sim comigo. Mas o que eu estava pensando? Ele me amava, só era covarde demais! O homem que eu amava também me amava mas não tinha coragem para ficar comigo.
Pois o amor que vá tomar no cu.
Eu estou aqui sentindo o corpo queimar de fora para dentro, e tudo o que eu penso é “ele me ama mas não quer ficar comigo". Eu sou uma grande idiota.
-Jared, você não precisa ficar nessa poltrona, ou vai ficar morrendo de dores nas costas amanhã. – falei.
-Não tem problema, quero ficar aqui para ver se você vai ficar bem. – ele respondeu.
Eu molhei ao lábios ressecados por conta da febre.
-Eu quero dizer, por que você não deita aqui comigo? – eu acho que a frase demorou mais a ser formulada na minha cabeça do que a ser dita.
Ele olhou para mim e pensou durante alguns segundos talvez achando que eu iria mudar de ideia.  Mas não mudei, então ele em passos leves veio novamente para perto da cama e se deitou, eu continuei encolhida de baixo das cobertas e ele deitou virado para mim, logo voltei a adormecer.

Na manhã seguinte eu acordei mas Jared já não estava mais no quarto. A febre havia diminuído e eu me sentia melhor. Tomei um banho morno, e toda vez que eu me olhava no espelho era como se minha barriga aumentasse. Eu estava com três meses, e aparentemente tudo estava bem mesmo com todo aquele processo de cicatrização do ferimento.
Coloquei um vestido porque era a única roupa que me deixava confortável, desci para a cozinha e todos estavam tomando café.
-Mag, está melhor? Jared disse que você teve febre nessa madrugada. – Constance perguntou segurando minhas mãos, ela tinha o mesmo olhar de preocupação de Jared.
-Estou bem, Constance. – respondi tentando acalma-la.
-Mas tomou remédio? É perigoso estar febril durante uma gravidez, você e o bebê podem se prejudicar além do mais, eu sinto falta da sua disposição e alegria nessa casa. Dou graças a Deus de você ter achado uma forma de fazer Jared descansar, se cuidar. Ele trabalha tanto que nem eu consigo fazer ele parar para descansar.
Eu não sabia se ela estava me agradecendo ou fazendo uma crítica ao Jared, então sorri.
-Ah mas ele precisa parar um pouco as vezes – respondi. Todos estavam prestando atenção e foi então que eu percebi que aquela família era totalmente doida. A sogra da noiva estava cumprimentando a amante por fazer bem ao filho, aonde isso poderia ser sério? Mas a realidade era que ninguém queria Jared casado com Natalie que apesar de amar ele não era tão inocente assim, em poucas semanas na casa eu percebi o quanto ela destratava dos empregados, dando ordens, humilhando, menosprezando, além de sempre se exaltar sobre qualquer pessoa que tinha menos do que ela, e suas maiores preocupações serem sua beleza ela não era só uma princesa ingênua, ela poderia ser ingênua em relação a Jared, mas era uma princesa tirana, arrogante, que ao se tornar rainha iria maltratar todos que estivessem a baixo de seus pés. O casamento era apenas uma moeda de troca, uma promessa a uma amiga que não poderia ser quebrada.
Elena torceu o nariz ao me ver com Constance.
-Parece tão bem, Margot – ela falou – não parece que está tão necessitada assim de atenção que foi preciso vigilância a noite toda. – falou soltando seus venenos.
-Estou melhor agora, Elena. Obrigada por reparar. – falei irônica me sentando a mesa.
-Bom que fique bem logo, o casamento de Jared com Natalie é daqui duas semanas e então você não poderá mais ter Jared a noite toda te vigiando. – ela respondeu, que vaca! Pior que ela sabia como me provocar, sabia como me irritar.
-Eu já disse que não preciso. Quando Jared e Natalie voltarem da lua de mel eu já estarei de volta para a minha casa, aliás, já estou bem, meu ferimento cicatrizou então não preciso de gente ao meu redor 24 horas.
Ela sorriu gostando da ideia de me ver mais longe dali o possível. 
-Chega! Eu estou tentando ter uma manhã em paz, após uma noite maravilhosa, Elena você poderia guardar suas opiniões para você? Não é necessário me lembrar todos os dias a data do casamento, pois saiba que eu nunca esqueço. – Jared falou firme, não me pareceu uma lembrança boa ao dizer que nunca se esquecia do casamento, muito pelo contrário, soou mais como se ele estivesse se referindo a uma maldição que era preciso conviver dia e noite.
-Só estou dizendo que fico feliz em saber que pretende ir, Margot. Assim não tem porque a gente achar que você está tentando dar o golpe em Jared, não me leve a mal mas é comum mulheres do seu tipo engravidarem apenas para viver da fortuna do outro.
Puta que pariu!
Como eu queria não estar grávida para poder voar em cima daquela maldita.
Ela vendia a própria filha, colocando coisas em sua cabeça e estava me acusando de ser uma golpista? Que hipócrita!
-A minha Natalie poderia ter feito o mesmo, mas não precisou. Ela é uma mulher linda, com princípios. Mas eu não posso ser tão dura com você, não é, Mag? Nem sua mãe quis ficar para te ensinar a ser uma mulher de respeito.
Eu não acreditei quando ela disse aquilo, ninguém acreditou. Levantei os olhos para ela que instantaneamente encheram-se de lágrimas, como ela sabia? De qualquer forma, eu iria responder mas um nó se formou em minha garganta quase me sufocando.
-Eu perdi a fome. – Falei me levantando e saindo dali, mas não fui muito longe. Cheguei na sala de estar e desabei em lagrimas. Por que? Por que eu ainda estava naquela casa ouvindo aquelas coisas? Subi rapidamente para o meu quarto e peguei minhas malas jogando minhas coisas, assim que desci ouvi vozes da cozinha.
-Quem você pensa que é para falar assim com ela? – Era Jared, a voz grossa estava alta, muito alta. De uma forma que eu nunca tinha ouvido.
-Eu só... – Elena tentou falar.
-Você não tem nada aqui! A Margot tem mais direito nessa casa do que você, então você decide deixar ela em paz ou expulso você agora mesmo dessa casa!
-Jared! – Natalie disse – ela é minha mãe.
-Filho... – Constance tentou dizer.
-Mais uma palavra Elena, e eu acabo com tudo hoje. – ele falou e parecia muito decidido. Todos ficaram quietos, aproveitei para acabar com aquilo.
-Jared, não! – Entrei na cozinha – Você não precisa fazer isso, estou deixando essa casa hoje. Isso é loucura. Olha para gente. Parecemos uma piada, eu carrego seu filho, enquanto sua noiva mora no mesmo teto que eu.
Falei mas ele pareceu ficar mais irritado.
-O que? Você não vai embora! – ele disse. Como podia ser tão teimoso?
-Eu vou! Eu preciso ir. – respondi. – Não posso ficar morando na mesma casa que a sua mulher, isso... isso é insano.
Ele respirou fundo.
-Então eu acabo tudo hoje. – ele disse parecendo desesperado, todas nós arregalamos os olhos.
-O que? – falamos em uníssono.
-Você tem que ficar! – ele falou. Mas eu não deixaria ele fazer aquilo. Não assim, não dessa forma. Segurei suas mãos.
-Nós nunca daríamos certo juntos! – falei – eu vou embora, e você vai casar. Não quero nada dessa forma, talvez um dia Jared, mas hoje não. De uma vez por todas, me deixa ir.
-Não posso – ele falou segurando minha mão com força.
-Por que não? – perguntei ficando nervosa com ele.
-Porque você me fez prometer nunca te deixar ir. – ele falou e rapidamente voltei a noite em que eu pedi isso a ele, pedi que ele me mantivesse perto mesmo que eu relutasse em ir embora pois eu me conhecia e sabia que ao qualquer momento eu colocaria as coisas a perder. Deus! Então de uma só vez toda aquela loucura estava fazendo sentido, ele estava me mantendo ali porque eu o fiz prometer que ele nunca me deixaria partir, porque ele acreditava em nós... Mas eu estava perdida e apesar de sentir enorme felicidade em saber que ele ainda mantinha sua promessa, eu precisava saber se mesmo que eu fugisse, ele ainda iria tentar me manter perto.
Eu dei um passo para frente e me aproximei dele, soltando minha mão levemente, me inclinei nas pontas dos pés e aproximei minha boca de seu ouvido.
-Eu te amo... – eu sussurrei – e eu vou amar para sempre, e eu te agradeço por cumprir sua palavra mas hoje você tem duas promessas a serem cumpridas e infelizmente as duas se chocam, ou você cumpre o que me disse ou cumpre o que disse a sua mãe... E até você descobrir qual vai ser sua escolha, por favor, me deixe partir.
Falei mas não me referia a ir embora da casa. Eu me referi a libertação de um amor fadado ao fracasso, de um amor que mais nos machucava do que nos fazia feliz. De algo que parecia que iria me consumir viva! Eu precisava ser liberta da sensação de pertencer a ele, precisava ser libertada do amor que eu sentia e que ele sentia.
Ele apertou os olhos.
-Por favor. – implorei. Ele balançou a cabeça. 
-Não dá! – disse. – Simplesmente não consigo.
-Então vou ter que te forçar a fazer isso, não me procure mais. Tudo que temos em comum agora é esse filho mas depois dele, tudo acaba Jared! – falei firme.
Ele ficou imóvel, sem acreditar no que eu tinha dito.
Então peguei minhas coisas e saí, voltei para o meu apartamento porque era o certo a se fazer, mesmo que aquilo tenha custado os restos do meu coração e minhas lagrimas.

A acompanhante (CONCLUÍDA) Onde histórias criam vida. Descubra agora