Mariners apartment complex

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Você tirou minha tristeza do contexto, eu não sou mais uma vela ao vento. Eu sou raio, o relâmpago, o trovão. O tipo de garota que te fará questionar quem você é, e onde esteve. E quem eu fui? Fui alguém com você nessas praias, sua teimosia, sua fraqueza. Talvez eu possa te salvar de seus pecados.”

-Está pronta? – Jared perguntou, eu me incomodei um pouco para levantar por conta da barriga.
-Estou – respondi.
Estávamos indo para o hospital, era um dia emocionante pois todos queriam saber o sexo do bebê, e claro que eu também estava ansiosa mas tentava conter minhas emoções na frente de todos. Jared estava radiante, eu sabia que para ele era indiferente se fosse menina ou menino, de certa forma eu tinha medo que se talvez fosse uma menina nós não nos daríamos bem, ou se fosse um menino ele nunca iria me respeitar se soubesse o que eu já fui.
Jared estava radiante, eu estava morrendo de medo.
O céu naquele dia estava uma escuridão total, era quase meio dia e parecia que já estava anoitecendo, que belo dia para se descobrir sobre o sexo de seu filho!
-Acho que vem uma chuva por aí – comentei.
-Chuva? A gente vai dar sorte se conseguirmos voltar – Jared disse rindo.
A risada dele era tão linda.
Ele era extremamente lindo.
Seguimos em direção ao hospital e fomos conversando sobre coisas banais enquanto ele dirigia.
Por conta do trânsito, chegamos no hospital quase uma hora e meia depois.
-Ansiosa? – perguntou a médica.
-Um pouco – respondi com ela colocando aquele gel na minha barriga.
Instintivamente eu segurei na mão dele, nem mesmo eu percebi o que tinha feito até ele a apertar, ele estava ansioso, tanto que achou super normal segurarmos as mãos daquele jeito. Apesar de não sermos um casal.
-Esses são os dedinhos – a médica ia falando – os pezinhos, e olha... temos aqui uma menininha.
Ela disse com um sorriso de canto a canto. Eu também sorri feliz em saber daquilo e por um momento joguei todo medo e insegurança fora, o rosto dele também se alargou em um sorriso de orelha a orelha de felicidade, beijando minhas mãos em seguida.
-Uma menininha – ele repetiu olhando para mim.
Depois que fizemos todos os exames restantes e saber que tudo estava bem, já era a hora de voltar para a minha prisão. No meio do caminho o céu pareceu despencar sobre a Califórnia, estava impossível dirigir no meio daquela tempestade e seria suicídio tentar, não enxergávamos nada a nossa frente, e as ruas estavam ficando alagadas.
-Acho melhor pararmos um pouco – ele disse.
-Mas não podemos ficar no meio da rua – respondi. Desembacei o vidro do carro por dentro – Mariners apartment complex Hotel. – eu li quase fechando os olhos uma placa do outro lado da rua.
-É um hotel? – ele perguntou.
-Eu acho que é, parece um bom lugar. – respondi, então ele ligou o carro e rapidamente entrou na garagem do hotel. Felizmente havia vagas, apesar de muitas pessoas terem ido procurar abrigo ali enquanto a tempestade não passava. Jared e eu pegamos um quarto pequeno, com uma cama só, janela, televisão, uma cama só, ar condicionado e UMA cama só.
-Uau, parece que já é noite – falei olhando pela janela na minha tentativa vã de não fazer contato visual com ele.
Ele se deitou na cama e relaxou.
-Acho que não vamos chegar na clínica na hora marcada – ele falou mas não parecia decepcionado com isso, muito menos eu estava.
Me virei olhando para ele.
-Como se fosse ruim para você ficar perto da minha presença maravilhosa. – falei brincando - e também da sua filha.
Ele me olhou sorrindo.
-Oh God! Duas Margot? O que eu fiz para merecer? – ele falou fingindo estar chateado. Eu dei risada e me aproximei dele subindo na cama e lhe dando um tapa.
-Aliás, para merecer eu não sei, mas deve ter sido algo muito, muito bom. – respondi. Ele deu risada.
-Não seja tão convencida. – ele disse.
-Tem razão, ela pode nascer chata e com um espírito idoso igual o pai dela. – falei revirando os olhos.
-Hey, não se lembra da ultima vez que você me chamou de velho? – ele falou e caímos os dois na risada nos lembrando. Ainda rindo eu me deitei do lado dele também olhando para o teto.
Mesmo rindo eu me lembrei daqueles dias quando ficar com ele escondido parecia muito mais fácil do que agora que eu poderia finalmente admitir ama-lo e querer passar o resto da minha vida com ele.
Eu respirei fundo e ele se deitou de lado, me olhando.
Ele me olhava como se estivesse pensando a mesma coisa que eu.
-Era mais fácil? – ele perguntou.
-O que? – perguntei olhando para ele.
-Fingir que não me amava? – puta merda! Ele realmente parecia ler meus pensamentos.
-Não seja tão convencido – eu disse imitando-o, ele sorriu.
-E você não minta para mim. – ele falou e começou acariciar meu rosto. Por que ele complicava tanto assim as coisas? Como eu poderia pensar em uma resposta se todo o meu corpo estava concentrado no toque dele?
-Nunca foi fácil amar você  – respondi me sentindo mais sincera comigo mesma do que com ele.
-Eu que o diga – disse e rimos novamente. Então a mão dele desceu levemente pelo meu pescoço, fazendo meu corpo todo se arrepiar e ele soube, porque continuou provocando.
-Você não tem que se sentir perdida, eu sei que para você tudo mudou rapidamente em poucos meses, mas eu quero te ajudar a melhorar, Mag. Você não sabe que desde que nos conhecemos, eu sou seu? – ele falou olhando diretamente nos meus olhos. Ah, como eu odiava aquilo porque eu sempre senti como se ele fosse um projeto perfeitamente arquitetado para destruir meu amor próprio e todos os meus neurônios que me faziam raciocinar direito, e então automaticamente tudo em mim parecia chamar somente pelo nome dele.
O que eu poderia responder? Eu não sabia direito.
-Eu te amo. – falei impulsivamente. Ele sorriu sem mostrar os dentes ainda me acariciando.
Então se inclinou um pouco e me beijou, nós nos entregamos aquele beijo como deveria ser. Duas pessoas se amando imensamente.
E quando separamos nossos lábios eu ainda queria mais. Mais dele.
-Margot – ele falou quase sussurrando. – Casa comigo?
O que? – foi o que a minha mente gritou mas não consegui dizer as palavras como se tivesse engasgada. Casar? Eu casar? Eu nunca... nunca passou pela minha cabeça que eu poderia me casar. Que Jared Leto e eu poderíamos nos casar.
Aliás, a ultima vez que eu pensei em casamento foi com vinte anos quando Lila e eu dissemos que apenas nos casaria com um milionário por conta do dinheiro... Mas isso parecia ser uma idiotice agora.
Jared Leto me pediu em casamento!
O homem que eu amo.
De repente eu achei que aquilo foi um plano dele e de Constance pois tudo que ela tinha me dito na noite anterior começara a passar pela minha cabeça me sufocando ainda mais. O pior era que tudo que ela disse fazia sentindo.
-Não precisa responder agora porque eu... – ele começou falar vendo a minha demora para responder.
-Sim! – eu interrompi ele, nem meus ouvidos acreditavam direito.
-O que? – perguntou.
-Eu disse sim, eu... eu quero me casar com você. Quero ter uma filha com você, quem sabe um cachorro e dormir de conchinha e acordar do seu lado todos os dias. – eu falei disparada – eu quero me casar com você.
E aí estava novamente o sorriso radiante, dessa vez era em nós dois. Eu ainda não estava acreditando mas palavras eram insuficientes para expressar minha alegria, minha felicidade. Eu disse sim.
Eu fiquei apavorada assim que a resposta saiu mas não demonstrei. Ele estava radiante e eu totalmente apavorada. O que aconteceria dali em diante? De repente toda a minha vida antes dele começou a passar pela minha mente como se fosse um filme. Um filme longo e complexo. Eu faria diferente antes? Talvez. Eu estava pensando em como a minha vida era ah dois anos antes e tentei imaginar como ela seria dois anos depois, com ele. Ao mesmo tempo que apavora, me dá medo, eu adoro, a adrenalina, o êxtase de poder viver com algo que eu sempre quis mas sempre fui muito covarde de admitir: estar com alguém que amo. Isso era surreal. Eu teria que me beliscar algumas vezes para ter certeza de que não era um sonho. Mas parecia, parecia aqueles sonhos que mesmo depois que a gente acorda, a gente quer voltar a dormir pra ver se consegue voltar aquilo. Eu estava fazendo a coisa certa? Meu subconsciente gritou. E eu adoraria ter uma resposta para aquela pergunta, mas eu não tinha, eu apenas me sentia imensamente feliz e tão dominada pela paixão, mas também confusa e nesses momentos meus pensamentos vão diretamente para ele. Eu lembro de quem eu era, as vezes sinto saudade. A mulher egocêntrica, arrogante, egoísta, vaidosa e caprichosa parece ser uma memória distante agora, uma pessoa completamente diferente de quem eu sou. Apesar de andar chorando por aí eu me sinto mais forte, porque hoje eu tenho pelo o quê lutar. Vai além de bailes e festas e vestidos com diamantes, vai além de qualquer coisa que eu achava que era valioso.
Eu vejo o Caos que estava me rodando, uma vida completamente vazia e caprichosa. Uma amargura e angustia que aos poucos iria me consumir  por completo. Meu mundo seria um lugar vazio e chato de se viver até ele... ele aparecer, com apenas um olhar fez uma explosão de sensações acontecer dentro de mim. Ele, me desmontou por inteira. Ele virou meu mundo de cabeça para baixo e de uma coisa eu tinha total certeza:
Minha vida e principalmente o meu coração não eram mais os mesmos, não depois de Jared Leto.

A acompanhante (CONCLUÍDA) Onde histórias criam vida. Descubra agora