“Eu vou ter que ficar chapada a minha vida toda para esquecer que sinto sua falta”
Eu abri os olhos, aliás, eu abri o único olho que conseguia. Meu olho direito estava debaixo de uma pele inchada e roxa, lábios cortados e quase não conseguia ouvir, o médico disse que meu ouvido fora afetado pelas pancadas que levei mas que em breve ele voltaria ao normal. O meu ombro, que tinha sido a parte mais machucada, agora estava com seis pontos juntando a pele que Angelina havia perfurado. Eu estava sendo costurada e curada por fora, mas nada do que faziam melhorava a dor que eu estava sentindo por dentro. Era o primeiro dia depois de tudo.
Jared ainda estava em recuperação, Hannah estava sendo encaminhada para um terapeuta infantil especializado em traumas e eu ainda estava tentando segurar as pontas.
Não podia sair do hospital pois havia uma fila enorme de jornalistas querendo saber o desfecho da história, todos acreditando que Hannah havia sido sequestrada por causa de Jared, quando na verdade, minha própria família havia feito um complô contra mim. Já não bastavam os anos de humilhação, abandono e escárnio, eles tinham que voltar. Ah um mês eu não fazia ideia onde eles estavam, em um dia eu reencontrei minha mãe, descobri que tinha uma irmã e matei meu pai com um tiro após ele atirar contra meu marido e perdi Bradley, isso não parece algo que a gente consegue digerir rápido.
Eu estava sentada ao lado da cama de Jared, ele ainda dormia. Tinha sido submetido a outra cirurgia de peito aberto por conta de fragmentos que ainda estavam em seu corpo e tinham ido direto para o seu coração. Deus, como as coisas poderiam piorar?
-Mag – Marina deu duas batidinhas na porta e sussurrou, eu levantei a cabeça para ela, eu estava chorado. – isso aqui é para você.
Ela me estendeu um pedaço branco de papel e mordeu o lábio inferior, receosa. O que é isso? – perguntei ela simplesmente abaixou a cabeça.
Peguei o papel pardo de sua mão, e abri. Estavam me chamando para depor contra Angelina no tribunal no final daquela mesma semana, mordi o lábio inferior sem saber o que pensar. Eu deveria ir? Eu iria conseguir encarar ela diante de um tribunal sem tentar matá-la na frente de todos?
Apenas fechei o papel e o entreguei para Marina.
-Eu preciso ver Hannah! – falei saindo do quarto silencioso de Jared, ela veio e silencio atrás de mim e nossos passos foram interrompidos por Lila, que com os olhos inchados e avermelhados me parou. Ela ainda não sabia da morte de Bradley, ou tinha acabado de descobrir mas não por mim.
-Você... – foi o que ela disse com ódio. – por sua culpa!
Eu fiquei calada, não conseguia dizer nada porque eu sabia que aquilo era verdade.
-E você não teve coragem de me contar! – gritou chamando a atenção de todos ao nosso redor, Marina que já tinha entrado a nossa frente tomou as rédeas da situação.
-Lila, eu acho que já está um clima bem ruim aqui! – disse tentando conte-la, mas eu não me importava não me importava se ela quisesse gritar, ou até mesmo me culpar, porque eu também me culpava.
-Ele era meu irmão, ele era tudo que eu tinha! – lamentou-se deixando lágrimas de ódio descer pelas bochechas avermelhadas. Eu também não pude deixar de chorar, sentindo-as descerem quentes pela minha bochecha. Lila travou a mandíbula e passando por Marina, acertou meu rosto com um tapa que doeu três vezes mais por conta dos machucados que já estavam ali.
Eu somente levei a mão até meu rosto, não conseguia revidar, não conseguia sentir raiva dela, tudo que eu sentia era contra mim mesma.
-Não ouse chorar! Você o colocou nisso, se você o tivesse deixado livre, se o tivesse deixado partir... mas não, você tinha que ter os dois não é? E agora, você está quase sem nenhum! – ela deu uma risadinha maldosa, finalmente me irritando mas eu não podia perder meu tempo com ela então apenas a empurrei e saí andando a deixando sozinha com toda sua histeria.
Tudo se acalmou, ou pareceu se acalmar quando eu finalmente parei em frente a janela de vidro da creche e vi os cabelos escuros de Hannah no meio de outras crianças, mas ela não estava brincando estava simplesmente ali.
-Ela pergunta por vocês a cada cinco, dez minutos. – Dra Kefer apareceu do meu lado com aqueles cabelos ruivos e olhos doces que me irritavam. – Ela está com medo de ficar sozinha.
-E eu não deveria estar com ela justamente por causa disso? – perguntei voltando a olhar por trás da janela.
Ela soltou um suspiro.
-Hannah não se lembra muito do que aconteceu, eles a mantiveram sedada por quase todos os dias. Mas ela ainda tem flashes, e mesmo que estivesse dormindo nada impede de seu subconsciente captar as coisas que acontecem e volta. – começou a explicar – ela precisa estar com outras crianças, com outras pessoas e entender que não vão machucá-la, ou ela pode desenvolver uma fobia social.
Meus olhos encheram de lagrimas. Fobia social. Não era justo que minha filha tivesse que passar por isso, não era justo que ela tinha que lidar com as consequências da minha vida. Tudo que ela tinha que ser era uma criança despreocupada e feliz e viver dentro do mundo inocente e ingênuo dela.
A mão pequena da Dra pousou na minha costa como apoio.
-Contudo, ela é uma criança muito inteligente, Margot, e muito forte pela idade dela, eu tenho certeza que um dia quando tiver idade para entender essas coisas, ela vai se orgulhar muito de você por ter salvado ela.
Eu apenas assenti com um sorrisinho. Será que ela realmente iria se orgulhar de mim? Será que um dia minha filha teria orgulho de ter uma mãe como eu? Com a minha história, e toda a minha arvore genealógica problemática? Desde antes de nascer as pessoas tentaram feri-la e tudo por minha culpa, Jared deveria ter arrumado uma mãe melhor para seus filhos e Hannah, ela não merece nada disso. E foi com esses pensamentos que logo lágrimas amargas brotaram em meus olhos, mas as limpei rapidamente quando Hannah me viu pela janela e veio correndo até mim.
Uma semana já havia se passado, meu rosto estava desinchado, meu ombro cicatrizando. Hannah já brincava normalmente, e Jared estava se recuperando muito bem. Enfim, tudo parecia estar voltando ao eixo. As visitas eram constantes, a minha casa estava sempre tão cheia que mal sobrava tempo para mim mesma o que de certa forma era bom, eu não suportaria ficar sozinha com meus próprios pensamentos. Angelina, graças ao belo trabalho de Nina como nossa advogada, foi condenada a vinte e cinco anos de cadeia por seqüestro, formação de quadrilha e assassinato mas mesmo assim eu sentia como se aquilo não fosse suficiente, ela havia seqüestrado minha filha, matado Bradley nem mesmo Deus teria o mesmo prazer que eu ao se vingar dela. Amber e Margareth sumiram, mas eu sabia que todo aquele silencio delas não era desistência, Angelina assumira toda a culpa sozinha o que foi uma surpresa para nós já que minha mãe era a cabeça daquilo tudo. Todos falavam sobre tudo, sobre qualquer coisa que não fosse o ocorrido como se estivessem fugindo desesperadamente do assunto, como se estivessem demasiadamente bem, como se nada tivesse acontecido e aquilo estava me matando, mas de certa forma eu conseguia entende-los, queria que tudo não tivesse passado de um simples e terrível pesadelo mas todas as vezes que eu me olhava no espelho e encarava os machucados em meu rosto, ou via a cicatriz se formando no peito de Jared, tudo passava na minha mente como um filme mal e cruel.
-Se você quiser pode tocar – Jared brincou me tirando dos meus devaneios enquanto eu encarava o buraco que já estava quase totalmente fechado em seu peito, deixando uma pequena cicatriz de algo que um dia fora o pesadelo para mim, o sangue saindo de seu peito ao montes enquanto ele perdia a consciência em meus braços, eu achei que ele fosse morrer.
Balancei a cabeça e me levantei.
-Eu estava apenas pensando – falei tentando espantar as imagens que me invadiram. Ele sorriu e caminhei até ele, me sentando ao seu lado na cama. Os olhos azuis carinhosos me encaravam e eu sabia que ele iria tentar novamente, tentar passar pela barreira que eu construí tentar chegar até minhas emoções que eu simplesmente não queria que aparecessem.
-Você quer conversar? – perguntou segurando minha mão – precisa conversar, você passou por muita coisa.
Apertei os olhos rapidamente. Que droga, eu não queria falar por que se eu começasse a falar iria desmoronar e eu não queria que isso acontecesse.
-Estou bem – tentei minha melhor voz – muito bem. Você está bem, está vivo. Hannah está em casa e tudo está bem.
-E você deu um tiro em um homem, passou dias sem ver Hannah, eu quase morri, Angelina seqüestrou nossa filha e deu uma facada em você, depois descobriu que tem uma irmã que... – ele parou de falar engolindo a própria frase, quando soube que Amber era minha irmã mais nova a culpa pelo o que aconteceu o consumiu ainda mais – e sua mãe voltou! E Bradley...
-Para! – pedi um pouco alto, não conseguia pensar em Bradley. – eu sei, aconteceu tanta merda de uma só vez, mas estou bem. Veja, estou bem!
Insisti mas ele me conhecia muito bem para saber quando eu estava mentindo, porém não queria insistir naquele assunto chato.
-Você ficou muito mal, eu te deixei sozinha por um tempo por causa do tiro e...
-Então você poderia me recompensar de outra maneira! – ergui as duas sobrancelhas e soei sugestiva para ele tentando desesperadamente mudar o foco daquela conversa antes que ela acabasse ainda mais comigo.
-Mag... – mas ele sabia que eu estava apenas tentando fugir.
Sentei em cima dele com uma perna de cada lado, ele não iria resistir e eu iria fugir daquilo. Beijei seu pescoço passando a mão pelo seu peito tentando o máximo não tocar em sua cicatriz que me arrepiava, ele resistiu um pouco, mas logo sua mão encontrou minha cintura e ele a apertou com força me puxando contra seu próprio corpo. Arfei quando suas mãos subiram pelo meu corpo por dentro de minha blusa encontrando meus seios. Rapidamente retirei minha blusa deixando meus seios a mostra, ele os olhou com desejo e finalmente o clima chato e mórbido foi substituído por desejo e tesão. Mordi meu lábio inferior e inclinando um pouco sua cabeça ele chupou meu seio esquerdo, me roubando gemidos enquanto eu bagunçava seu cabelo castanho.
Ele deu um tapa na minha bunda e a apertou com força.
-Não faz isso – pedi arfando.
-Por que não?
-Me deixa... excitada... – falei entre um gemido e outro que escapou de meus lábios, ele sorriu.
-E se eu fizer isso? – perguntou sem esperar respostas, sua mão adentrou minha calcinha de algodão rosa, encontrando o ponto molhado e excitado entre minhas pernas. Deitei a cabeça na curva de seu pescoço enquanto sentia seus dedos em mim, gemi manhosa e recebi uns beijinhos em meu pescoço enquanto seus dedos entravam e saiam de mim com gentileza, ficando cada vez mais rápido.
-Jared! Mamãe e eu... Puta merda! – De início não consegui reparar de quem era aquela voz, mas quando ergui a cabeça vi os olhos azuis de Cara arregalados, Nina estava com ela. Elas tinham passado muito tempo juntas. Depois Shannon entrou atrás delas, ele se espantou com a cena, mas depois começou a sorrir. Com um pulo me joguei para o lado na cama me cobrindo com o lençol sem saber se deveria estar com raiva, vergonha ou apenas rir daquela situação. Mas Cara e eles riram, e Jared também e foi a primeira vez naquela semana que alguém riu de verdade naquela casa.
-Que porra! – eu reclamei me levantando com o lençol cobrindo meus seios. – Não ria! – dei um tapa em Jared que estava até vermelho.
-Meu irmãozinho levou um tiro, mas ainda prova que está cem por cento vivo – Shannon deu risada acompanhado de Cara que só parou quando Nina disse:
-Belos peitos. – e piscou, mas eu fechei a cara e me afundei na cama me escondendo deles e então dei risada, de qualquer forma aquela situação era engraçada. Os olhinhos azuis e pequenos de Cara encararam Nina que apenas balançou os ombros.
Eu bufei e me levantei indo até meu banheiro para me vestir, quando saí eles estavam conversando com Jared algo animado e tentei por alguns instantes compartilhar daquela mesma alegria mas simplesmente não conseguia, como se algo dentro de mim estivesse desligado então com a desculpa de que iria ver Hannah saí deli os deixando naquela nuvem de alegria que eu simplesmente não me encaixava. O que foi bom pois assim que desci dei de cara com Marina que estava com os olhos castanhos abertos mais do que o necessário depois Lila entrou na minha sala com as bochechas vermelhas e olhos pequenos avermelhados de quem esteve chorando.
-Eles liberaram o corpo dele hoje – ela disse receosa, desviando os olhos dos meus e molhando o lábio inferior – eles precisavam do corpo dele como perícia para o julgamento de Angelina.
Eu apenas balancei a cabeça me sentindo um pouco tonta.
-Eu fui em uma funerária... Mas eu não sei muito bem como resolver essas coisas, eles disseram que eu precisaria de ajuda para carregar o caixão porque eu não conseguiria sozinha... – ela estava falando e ao mesmo tempo olhando para suas mãos, para o teto, para qualquer lugar menos para mim o que me demonstrava o quanto ela não estava sabendo lidar com aquela dor. Seu problema não era ir a funerária, era estar enterrando seu irmão, sua única família. A voz engasgada, as lágrimas que se formavam em seus olhos, Lila estava despedaçada e não sabia como pedir ajuda então eu dei um passo para frente porque eu sabia exatamente como ela estava se sentindo. A puxei pelo pulso e rapidamente a abracei, um abraço que a fez chorar soluçando em meu ombro.
-Está tudo bem. – falei abraçando-a com força – eu vou ajudar você.
-Ele era meu irmão... – lamentou-se.
“Ele era meu amor também” pensei tentando não deixar nenhuma lágrima cair, como poderia? Ela era irmã dele, aquele momento deveria pertencer somente a ela.
No dia seguinte, logo pela manhã quente e ensolarada Jared parou o carro em frente ao cemitério. Eu desci do carro sentindo minhas pernas fracas, e me dignei a olhar para o céu. Céu azul idiota! Brilhando acima de nós como se houvesse motivos para estarmos alegres, ou contentes.
-Vamos? – ele passou a mão pela minha cintura e eu apenas respondi com um sorriso, agradecendo mentalmente que ele estivesse segurando-me, pois eu não tinha certeza se agüentaria ficar em pé. Um pouco a frente, eu pude ver a pequena sinagoga do cemitério. Paramos em frente a porta marrom pesada, acredito ter observado cada detalhe dela antes de ter coragem o suficiente para empurrá-la, o que Jared o fez lentamente respeitando cada suspiro meu, cada passo demorado que eu dava como se, se eu demorasse mais Bradley ainda estaria vivo, mas não estava e o nó que apertava minha garganta me sufocando me lembrava isso a cada vez que eu respirava. Eu olhei os bancos e o corredor no meio dele que me levava diretamente ao um caixão marrom envernizado no centro da sinagoga. Havia uma quantidade suficiente de pessoas, “suficiente” não é isso que a gente pensa a nossa vida toda? Quantas pessoas comparecerão no nosso enterro? Lila estava no banco da frente, petrificada, como se estivesse fora de si e foi até ela que eu caminhei sentando-me ao seu lado segurando sua mão gélida, ela apenas bateu os cílios como se estivesse me agradecendo. Jared permaneceu lá atrás, junto a Shannon e Marina que estavam ali unicamente por Lila.
-Então meus queridos irmãos... – o padre tornou a falar como se estivéssemos em um culto. E eu sem querer quase soltei uma risada. Um padre? Bradley nunca acreditou em Deus, ele nunca acreditou em nada além de si mesmo, e de repente as palavras dele de muitos anos atrás vieram a minha mente “Viva rápido, morra jovem, seja selvagem e se divertida”. Eu acho que ele levou isso muito a sério.
E finalmente o padre baixinho e rechonchudo parou de falar, dando-nos a liberdade de se aproximar no caixão aberto. Eu não queria, eu estava apavorada para me aproximar, mas Lila precisava se despedir dele ou ela nunca mais estaria em paz consigo mesma, porém sozinha ela nunca iria lá então segurei sua mão e ela me olhou espantada.
-Você vai querer fazer isso – respondi, ela respirou fundo e mordeu o lábio inferior.
-Eu não tenho certeza – respondeu perdida.
-Mas eu tenho – afirmei, então confiando em mim segurou minha mão com força e com passos lentos nos dirigimos até o caixão, meu coração parecia que iria parar a cada passo que eu dava, minha respiração saia entrecortada e comecei a ficar um tanto desesperada sem ter certeza se eu conseguiria encará-lo ali.
Mas eu consegui.
Ele ela estava com as duas mãos sobre a barriga, usando o mesmo smoking que o vi no evento de Constance ah algumas semanas atrás. As tatuagens estavam quase apagadas em sua pele pálida roxeada, ele simplesmente parecia que estava dormindo.
-Seu idiota! – Lila disse – você é um idiota, Bradley! – disse novamente. – Como você pode me deixar quando eu precisei de você? Eu só tinha você, seu babaca egoísta!
Ela fechou o punho e caiu em lágrimas.
-Egoísta! – gritou já fora de si e eu não consegui me mover, sentindo-me totalmente culpada, pois apesar de tudo ele estava ali por minha causa, era a mim que Angelina queria morta não ele.
-Ly – eu tentei acalmá-la colocando uma mão no seu ombro mas bruscamente ela me empurrou com força.
-Não! É culpa sua! – ela gritou apontando o dedo em meu rosto – você sempre teve tudo que quis, até ficou viva! Você deveria estar nesse caixão, Margot, você!
Ela estava totalmente descontrolada, e a culpa não conseguia me deixar reagir então apenas abracei meu corpo me sentindo pequena no meio de todos aqueles olhares. Um dos amigos de Bradley apareceu tentando acalmar Lila, mas ela continuou gritando então eu fui protegida pelos braços de Jared que me envolveram, rapidamente me tirando daquele lugar pequeno e sufocante.
Quando saímos da sinagoga eu quis chorar, eu queria muito chorar mas as malditas lágrimas não vinham.
-Você está bem? – ele perguntou receoso, mas sabia que eu não estava.
-Estou... Ela só está querendo alguém para jogar a culpa – respondi, mas ele balançou a cabeça.
-Mas não é justo! Não é sua culpa. – e por que eu me sentia culpada?
Balancei a cabeça jogando o cabelo para trás.
-Eu vou embora – falei – eu preciso ir.
-Tudo bem, vamos – ele se prontificou, mas eu precisava ficar sozinha, respirar sem os olhos de ninguém em cima de mim. Precisava de um pouco de paz. Então menti dizendo que tinha que passar no clube e resolver algumas pendências e assim ele seguiu para casa para ficar com Hannah. Já estava anoitecendo quando eu finalizei as coisas que tinha que fazer, e surpreendentemente a idéia de voltar para casa me pareceu um pouco depressiva então decidi ir até o bar do clube e tomar alguma coisa. Uma, duas, três, quatro e cinco doses de tequila e eu já não estava mais na condição de tomar decisões. Bebi, dancei, “me diverti” e quando uma voizinha de consciência soou lá no fundo decidi que era a hora de ir embora também pensei em chamar alguém para me buscar mas resolvi que eu mesma iria dirigir a droga do meu carro.
E enquanto eu dirigia sentia que estava perdendo o controle de mim mesma, e queria pedir desculpa a todos se parecia que eu só estava reclamando ultimamente mas a vida teima em ficar complicada e eu realmente comecei a considerar a possibilidade de sair desse mundo.
Assim que cheguei em casa, as luzes todas apagadas e o silencio reinando na sala me fez se sentir como uma estranha entrando em um lugar que não era meu, fui até o quarto da Hannah e ela dormia docemente abraçada a um urso grande e peludo então cambaleando e tateando as paredes fui até meu quarto, não acendi a luz.
Meu marido dormia tranquilamente com apenas um lençol branco fino cobrindo sua cintura para baixo, o peito e abdômen definido estava exposto. Caminhei ainda cambaleando até a cama e deitei em cima dele, o beijando pelo pescoço, pelo ombro.
-Mag? – ele acordou com um susto, sorri mordendo o lábio inferior parecendo uma menina travessa, mas os olhos dele estavam assustados – que horas são? – olhou em volta confuso – você chegou agora?
-Uhum – respondi ainda prensando os dentes em cima de meu lábio, ele passou a mão no cabelo o jogando para trás e acendeu o abajur, a luz fraca e amarela refletiu em meu rosto me incomodando um pouco.
-Está bêbada? – perguntou apertando os olhos.
-Um pouquinho – falei mimada soltando meu lábio e deixando um beicinho aparecer o que o fez sorrir mas logo em seguida tornar sua expressão preocupada e séria porque ele sabia o que tinha me levado a bebida.
-Você não quer falar sobre isso? – perguntou e eu revirei os olhos, então me inclinei para frente e o beijei. Ele resistiu um pouco mas cedeu quando encontrei seu membro por debaixo do lençol e apartei por cima da bermuda. – Mag... – sussurrou.
-Hm? – beijei seu pescoço e apertei mais seu pau que já estava ficando rígido e eu sabia que tinha-o vencido novamente. Ele me empurrou para cama subindo em cima da mim, minha intimidade se contorceu já o querendo, o querendo muito. Gemia baixo enquanto seus lábios percorriam meu pescoço descendo pela minha clavícula, indo até meus seios, sua mão entrou por debaixo da minha saia me roubando gemidos baixos e sufocados, não demorou muito para ele finalmente me penetrar devagar, mas forte até que finalmente explodiu em orgasmo.
Nossas respirações estavam fortes e pesadas e a ponta de seu nariz roçava no meu, quente e suado. Jared abriu os olhos azuis intensos dando de encontro com os meus, azuis e perdidos e como eu queria que ele não enxergasse aquele desespero que estava dentro de mim, mas ele enxergava e ele sempre enxergaria tudo mesmo que eu tentasse de todas as formas esconder.
-Eu te amo! – ele disse quase como um sussurro com uma de suas mãos em meu rosto.
-Eu te amo! – respondi ofegante ainda, mas não por causa do sexo, mas porque amar ele ultimamente estava tirando muito de mim. Eu não consegui deixar ele depois de tudo o que aconteceu mesmo que a dor da traição rasgasse meu peito todos os dias, as lembranças dele com ela me feriam de forma alucinante mas eu sabia que se eu o perdesse agora, eu não agüentaria. Em um mês eu tinha perdido muitas coisas importantes, eu não agüentaria perde-lo também e tudo aquilo rodava na minha cabeça como um carrossel, um carrossel que eu não conseguia descer.
Em alguns minutos ele pegou no sono, dormindo tranquilamente do meu lado e como em todas as outras noites eu permaneci acordada sentindo um aperto no peito que me tirava o sono, o que me fez relaxar foi dois comprimidos de metadona que fez meu corpo todo relaxar e eu finalmente conseguir fechar os olhos. Mas antes de dormir eu pensei, será que ia ser para sempre assim? Esse buraco no meu peito me matando com a falta de alguém que nunca mais vai voltar, alguém que se por anos se foi e droga! Eu já devia estar acostumada, eu já passei por esse luto antes mas tudo que ficava na minha cabeça era será que daqui dez anos ele vai reaparecer novamente, dizendo que teve que ir? Pedindo desculpas por demorar tanto para voltar? Eu sentia falta daquele sorriso, daquela risada descontraída e das tatuagens, o cabelo esvoaçando no vento, e os abraços quentes mesmo que fossem tão finos. Será que eu teria que ficar chapada a vida toda para esquecer que sinto falta dele? Tantas perguntas, tantas dúvidas, tantos “será”, mas não havia motivos para ter dúvidas, ele havia ido não iria mais voltar. O seu sangue escorreu pelos meus braços manchando toda a minha roupa, eu toquei nas feridas em suas costas, toquei em suas mãos gélidas e pálidas. Ele não existia mais para esse mundo, eu nunca mais o abraçaria novamente e tudo o que me sobrou foi um buraco no meu peito onde ele costumava estar.
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A acompanhante (CONCLUÍDA)
Romance(+18) "Margot era uma acompanhante de luxo, mas não qualquer acompanhante. Era a garota mais requisitada e mais cara da agência. Após ter sido deixada pela mãe aos quinze anos para trabalhar como striper em uma boate qualquer na Califórnia e na busc...