I blame myself

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"Como você se sentiria ao lutar contra seus próprios demônios? Como você saberia qual a sensação de estar fora de si? Você pensa que me conhece muito bem! Eu só quero que você saiba que eu me culpo pela minha reputação."

Acordei e o quarto estava escuro. Tateei a cama para poder abraça-lo mas ele não estava lá. Abri os olhos rapidamente olhando em volta pois pensei que ele havia ido embora mas suas roupas ainda estavam lá, relaxei os ombros, afundei minha cabeça novamente no travesseiro sorrindo pois as memorias da noite anterior começaram a vir devagar. Eu as repassava na minha cabeça como se fosse um filme gostoso de assistir, desde a dança até o cair do seu corpo sobre o meu, pela terceira vez exausto. Transamos por três vezes na mesma noite, isso era realmente exaustivo. Rolei para o lado me levantando, assim que mexi minhas pernas senti uma dor pelo meus quadris e por entre minhas pernas, o que eu estava esperando? Eu estava dolorida, obvio, mas ninguém nunca tinha me deixado dolorida antes, ninguém tinha transado mais de uma vez comigo na mesma noite antes. Ninguém tinha me feito gritar e gemer ao mesmo tempo como se estivesse em uma espécie de montanha russa do orgasmo. Peguei a camisa dele e uma calcinha e coloquei, caminhei até o banheiro prendendo meu cabelo com uma piranha e me olhei no espelho.
Céus, Margot, você é realmente uma vadia! – pensei me olhando no espelho vendo as marcas em meu pescoço e em meus seios. Balancei a cabeça lavando o rosto e escovando os dentes, depois fui atrás dele.
Parei na porta da cozinha de braços cruzados olhando-o enquanto remexia meu armário apenas de cueca. Mordi o lábio adorando aquela visão, andei alguns passos e passei minhas mãos pela suas costas largas, ele tinha uma grande tatuagem, algum tipo de símbolo, sei lá. O abracei encostando meu rosto em suas costas quente, acariciou minhas mãos.
E então se virou para mim.
-Bom dia, bela adormecida. – disse, dei um leve beijo em seus lábios.
-É essa a visão de Natalie todos os dias quando acorda? – perguntei. Ele balançou a cabeça sorrindo – sortuda!
-Estava procurando algo decente para preparar para você comer. Você e Lizzy já ouviram falar em comida saudável?
Fiz uma careta, o soltei pegando uma maça e me sentando a mesa. Balancei a maça para ele depois mordendo um pedaço.
-Isso não é um café da manhã sustentável. – respondeu – vou ligar para algum lugar e pedir algo.
Falou pegando o Iphone, revirei os olhos mordendo novamente minha maça.
-Lizzy e eu não cozinhamos, então é mais fácil comprar coisas simples de fazer como cereal.
-Claro, você só precisa abri a caixa.
-E pegar uma tigela – continuei, ele fingiu uma risadinha.
Ele ligou para algum lugar e fez um pedido, eu não sabia que tinha lugares que entregavam café da manhã. Existiam? Pelo visto ele conhecia muito bem essas coisas. Não demorou muito para o nosso pedido chegar, ele pediu croissants, café, e alguma coisa vegana para ele comer. Assim que terminamos ele se levantou jogando as coisas no lixo e levamos as poucas louças que usamos até a pia.
-Você é sempre tão organizado e limpinho assim? – perguntei bocejando, eu estava com uma leve ressaca.
-Gosto de manter as coisas organizadas – respondeu – você pode ir tomar um banho se quiser, sei como quer relaxar o corpo.
Sorri com aquele comentário dele.
-Toma comigo? – pedi fazendo um biquinho, ele me olhou e não resistiu ao meu olhar de Bambi. Enquanto enchíamos a banheira eu estava jogada em cima da cama mexendo no meu celular apagando umas mensagens de Mark, tentando ignora-lo enquanto Jared estava organizando algumas coisas que bagunçamos na noite anterior.
-O que você está fazendo? – perguntei.
-Margot, eu não suporto ficar na bagunça – respondeu, revirei os olhos novamente.
-Nossa, a idade nos deixa assim? – zombei dele, ele franziu o cenho me olhando.
-Tá me chamando de velho?
-Eu? Jamais! – respondi irônica, ele riu balançando a cabeça e então me puxou pelo pé para fora da cama, caí batendo a bunda no chão fazendo uma careta.
-Ouch! – reclamei, então ele me pegou rapidamente com força e agilidade e me colocou sobre seu ombro – O que você está fazendo? – falei gargalhando – Jared me coloca no chão!
Ele me carregou pela sala e me levou até a sacada, me sentando no gradil de concreto enquanto segurava-me apenas pela cintura.
Olhei para baixo e gritei!
-Jared! Me tira daqui, você sabe que morro de medo de altura! – implorei olhando em seus olhos que se divertia com aquilo.
-Retire o que disse! – olhei para baixo novamente meio tonta por causa da altura e me agarrei em seu ombro, apertando minhas unhas em sua pele. Me imaginei caindo dali, me imaginei morrendo. Ele tinha descoberto o meu medo de altura desde o dia em que fomos ao parque quando me recusei a ir na roda gigante e quase tive um infarto na montanha russa.
-Jared! Por favor – implorei mas ele ainda me mantinha ali.
-Retire, Margot! – falou rindo! Olhei para baixo e vi um casal passando.
-Socorro! Esse homem quer me matar! – gritei bem alto chamando atenção do casal que olhou para cima curiosos com aquilo, Jared riu segurando-me pelos punhos – Ele não aceita ser um velho caduco! Socorro! – continuei gritando, ele me empurrou um pouco para trás inclinando meu corpo, senti um frio na barriga e um puta medo de realmente cair, mas sabia que ele não iria deixar mesmo assim meu corpo estremeceu. – Tá! Você não é nenhum velho! – gritei.
-E...? – continuou se divertindo, fechei os olhos para não olhar para baixo mais.
-E... e.... eu não sei! Me tira daqui – gritei, ele gargalhou.
-Você é apaixonada por mim e sou o melhor homem com que já esteve.
-Eu te odeio! – respondi ainda de olhos fechados, apertando-os bem forte sentindo o frio na barriga ainda.
-Fala! – insistiu rindo.
-Tá! É o melhor homem com quem já estive e eu te amo! Te amo! Te amo! – gritei repetidas vezes e então ele me puxou de volta agarrei seu corpo feliz por estar em segurança novamente. Travei a mandíbula e dei um soco nele – você é louco?
-Olha que te coloco de novo.
-Nem pense! E se eu caísse?
-Eu nunca deixaria você cair, Margot. – respondeu com a voz firme, meu corpo ainda tremia por causa da altura. Balancei a cabeça rindo. – Vem, a banheira já deve estar cheia.
Voltamos para o banheiro e a banheira já estava cheia, retirei a camisa dele junto da minha calcinha e entrei na banheira sentindo a água quente relaxar meu corpo. Ele entrou por trás de mim e deitei meu corpo sobre o seu, Jared pegou o sabonete e começou levemente a passar pelo meu corpo mas qualquer toque dele me deixava excitada. Fechei os olhos sentindo-o tocando-me, soltei um leve gemido quando senti sua mão próxima a minha intimidade.
Percebendo como estava, soltou o sabonete e levou seus dedos até lá massageando meu clitóris de leve me roubando gemidos baixos. Desceu mais um pouco e tentou me penetrar com seus dedos mas gemi, não de prazer mas de dor.
-Te machuquei? – perguntou preocupado retirando sua mão rapidamente.
-Só estou um pouco dolorida... – falei.
Ele suspirou.
-Desculpe, meu amor, não quis te machucar ontem mas...
Virei-me olhando para ele e coloquei a mão em seu rosto.
-Hey, foi eu que pedi, lembra? Está tudo bem. Só nunca fiquei assim antes.
Ele juntou as sobrancelhas.
-Não?
Neguei balançando a cabeça, ele pareceu um pouco orgulhoso. Não sei porque isso é motivo de orgulho para alguns homens, talvez seja algo relacionado algo ego masculino, o fato de saber que ele conseguiu me fazer gozar três vezes era realmente motivo de orgulho já que vivemos em um mundo em que homens dificilmente conseguem fazer a garota gozar uma vez, quem dirá três, e ele parecia contente em saber disso, saber que ele conseguiu fazer isso comigo como quando uma garota fica contente ao ouvir um homem elogiando o seu primeiro boquete.
Ele me aconchegou novamente em seus braços, apoiando o queixo em cima da minha cabeça.
-Você é incrível, Mag – foi a primeira vez que ele disse meu apelido e aquilo soou tão carinhoso tão íntimo que me fez sorrir.
Meu telefone tocou uma duas vezes, ignorei, mas não consegui ignorar na terceira ligação. Saí da banheira colocando um roupão e fui até o quarto. Natalie. Revirei os olhos atendendo.
-Oi Mag – disse um pouco animada.
-Oi Natalie – respondi voltando para o banheiro, sentei-me ao lado da banheira apoiada na porcelana, Jared estava realmente relaxado, de olhos fechados com os braços pendurados para fora, acariciei seu braço olhando para seu rosto calmo.
-Você está ocupada hoje? – perguntou um pouco receosa. – preciso conversar com alguém.
Juntei as sobrancelhas.
-O que houve? – perguntei fingindo estar interessada e preocupada.
-Hm... Jared não voltou para casa. Você viu ele ontem?
-Sim, vi sim. – falei maldosa – ele estava irritado com alguma coisa. Falei para ele voltar para casa mas não quis. Ele é um chato, Natalie, como você ainda está com ele?
Ele abriu um olho arqueando a sobrancelhas e me olhando. Mordi o lábio sorrindo depois mostrei a língua para ele, zombando. Um meio sorriso apareceu em seus lábios e ele voltou a fechar os olhos.
-Sério? – ela parecia decepcionada.
-Sim. – respondi indiferente.
-Bom, se você puder conversar comigo hoje me manda uma mensagem? Vou ficar esperando. – sua voz era triste e magoada. Ao ouvi-la falar assim me senti um pouco mal, pois ela estava sempre tão animada e alegre, era uma novidade para mim ouvi-la triste e não entendi porque senti aquilo, aliás, eu não me importava com ninguém, não é?
Pensei um pouco se aquilo seria conveniente. Já era crueldade demais estar conversando com ela com ele ali nu na minha banheira, e depois ouvir ela se lamentar sobre o noivado comigo? Se existisse um prêmio para maior vadia mais cínica, com certeza, eu o levaria.
-Se conseguir um tempo, te mando sim. – falei rapidamente, ela suspirou.
-Ok, Mag. Tchau – disse desligando, estava realmente triste. Desliguei o celular e coloquei em cima da pia, suspirei olhando para Jared que parecia em outro mundo. Acariciei seu rosto pensativa, será que ele também não se importava? Eu era uma vadia sim, mas ele também era um tremendo de um canalha e isso era inegável.
-Jared, você parece que não se importa se ela souber... Sabe, outros caras ficariam apavorados, Você simplesmente parece que não liga – falei baixo, apoiando meu queixo na borda da banheira, ele respirou fundo abrindo os olhos e olhando fundo nos meus.
-Ela sabia, Margot. Natalie sabia e quis ficar comigo mesmo assim. – falou calmo, relaxando os ombros.
Juntei as sobrancelhas.
-Ela sabia que você iria trair ela? – perguntei, ele fez cara de tédio.
-Não seja burra.
-Hey! – belisquei seu braço – só estou tentando entender.
Ele riu.
-Eu quis dizer que quando Elena supostamente estava morrendo Natalie e as irmãs estavam desesperadas, minha mãe estava desesperada com o pedido da amiga e passou meses me importunando dizendo que eu devia isso a Elena. – ele mordeu o lábio rapidamente – Eu tinha trinta e um anos e Natalie apenas vinte, os argumentos de todos eram “Você já está ficando velho, precisa de uma família!” “Elena merece morrer em paz sabendo que a filha está em boas mãos” “Vocês vão ser felizes juntos”.
Ele dizia com voz tediosa, tentei imaginar a pressão que a mãe, família e amigos faziam na cabeça dele para estar com ela.
-E ela estava o tempo todo se insinuando para mim, pode ser tolerável para alguns homens mas eu estava sozinho ah três anos. – falou.
-Você ficou sem transar por três anos? – perguntei rindo, ele franziu o cenho
-Obviamente que não, Margot, mas falo em relação a ter alguém.
-Ah – abri a boca entendendo, triste por ter perdido a piada.
-Isso tudo durou um ano aproximadamente – disse.
-E vocês não desconfiaram que a velha apenas estava fingindo? – perguntei indignada com a burrice e ingenuidade deles. Balançou a cabeça negando.
-De qualquer forma eu finalmente cedi aos pedidos, principalmente de minha mãe e chamei Natalie para sair uma noite, ela é uma ótima garota, bonita, simpática, engraçada entretanto não fazia e não faz o meu estilo.
Que história de amor péssima.
Ele coçou a sobrancelha continuando.
-A pedi em namoro e ela aceitou no minuto seguinte, e alguns dias depois Elena já estava bem mas eu já estava acostumado e um pouco acomodado com o meu namoro com Natalie. Acho que foi a primeira coisa em que me acomodei na minha vida.
-Por que? – perguntei curiosa. Ele pareceu pensar um pouco no que responder.
-Porque eu cheguei a acreditar no amor como uma grande ilusão.
Aquelas palavras poderiam ter saído da minha boca.
-Então, você simplesmente encontra alguém que te faz bem e aceita aquilo.
Voltei a ficar confusa, que contraditório. Como ela fazia bem e não fazia?
-Então, ela te fazia bem? – perguntei, ele respirou fundo e me olhou como se eu fosse burra, não tinha culpa dele contar a história com todo suspense de Stephen King. Ergui as sobrancelhas e balancei os ombros indicando a ele para responder.
-Em partes sim, ela poderia não fazer meu estilo mas eu sabia que poderia construir uma família com ela. Aliás, éramos fieis um ao outro, ela não se intrometia mais no meu trabalho e eu não tinha que fazer muitos esforços com ela.
Ele falava de forma calma, como se aquilo fosse natural. Mas é assim, não é? As pessoas encontram alguém com quem pode se acomodar, casam e vivem juntos até onde podem aguentar. Alguns chegam a morrer juntos mas a maioria se separa antes de completar trinta anos de tolerância a manias, atitudes, e palavras do outro. Uma das razões pela qual eu me imaginava sozinha com um monte de gatos com sessenta anos, não que eu não tivesse autoestima para acreditar que poderia sim encontrar alguém para me acomodar, mas porque era difícil encontrar um homem que fazia valer a pena aguentar suas manias, suas atitudes, suas palavras pelo resto da vida. Mas e Jared? Ele fazia isso parecer valer a pena? Por mais que minha cabeça tentasse gritar um não abafado, meu coração gritou um sim. Ele fazia parecer valer a pena viver essa monotonia de casais que se casam e passam a viver uma rotina, depois tem filhos juntos, e depois morrem.
Falando assim até parece que a vida é só isso. Mas se você parar para pensar vai entender que os momentos que você passa com as pessoas que ama torna essa rotina especial, torna a vida especial. Por isso valia a pena, porque morrer aos sessenta e ter tido uma rotina especial, por ter amado incondicionalmente, por ter tido uma casa, um cachorro e dar um beijo no seu marido todos os dias pela manhã, viver uma vida acomodada com alguém parecia valer mais a pena do que morrer aos setenta e ter passado a vida de bar em bar, festa em festa, procurando amor em lugares errados, sozinha e triste.
E eu parecia me encaixar perfeitamente no grupo dos setenta.
Ele continuou.
-E então eu a pedi em casamento... Mas precisei ser totalmente honesto com ela em relações aos meus sentimentos. Não a amava, não estava apaixonado. E ela apenas disse que estava tudo bem.
-Claro que ela diria isso, estava apaixonada por você. – falei rapidamente.
-E estava tudo bem, consegui levar isso por quatro anos, aliás, estar com uma só garota era melhor do que comer muitas por aí.
Falou dando de ombros.
-E o que aconteceu? – me perguntei referindo-se ao fato dele ter traído ela pela primeira vez.
Ele me olhou um pouco estarrecido com minha pergunta.
-Como assim?
-O que aconteceu para você se cansar disso?
-Você aconteceu! – falou rapidamente, fiquei com a boca entreaberta por alguns segundos. Ele já havia me dito isso antes mas toda vez que dizia algo queimava em mim. Orgulho? Meu ego dizendo que eu era a melhor? Arrogância? Não, nada disso. Felicidade, felicidade por ser amada por ele. – Você não deveria parecer tão surpresa, Margot. Foi estranho quando te vi pela primeira vez, como se você fosse a prova viva de que eu estava enganado.
-Está dizendo que se apaixonou por mim na primeira vez que me viu?
Ele riu pelo nariz.
-Isso só acontece em livros, e na Disney. – passou as mãos no rosto molhando-o.
-Estou dizendo que na primeira vez que te vi te imaginei nua na minha cama. Foi um pensamento assustador até para mim mesmo.
Abri a boca.
-Pervertido! – mas do que é que eu estava falando? Não foi isso o que eu pensei também sobre ele? – Mas achei que você não deixaria uma transa acabar com a sua vidinha perfeita.
-Mas afastei os pensamentos sobre você até que você começou a se insinuar para mim, duvido muito que algum homem resista a você, como já disse antes. Você é tão maravilhosa que faz um homem preferir o inferno ao invés do céu só para ficar com você.
Respirei fundo pensativa. Sim, eu realmente tinha os homens que queria o problema é que todos me queriam, e por isso era a garota mais cara. Por isso era a garota mais requisita. Por isso tinha um contrato com um milionário que eu ignorava as ligações e mensagens constantes como se estivesse fugindo, aliás, eu estava. Engoli em seco pensando nessas coisas.
-Parece uma boa história de amor, não parece? – disse sorrindo, ele me acompanhou. Me levantei ficando em pé ao lado da banheira.
-Você vai ficar aí o dia todo? Vou me vestir. – ele fez uma careta e segurou minha mão me puxando gentilmente para um beijo.
-Volta para cá. – ele disse baixinho.
-Não, se não vou querer ficar ai o dia todo! – respondi, ele me puxou gentilmente para outro beijo mas logo me afastei.
-Tá, tudo bem, aliás, tenho uma reunião em duas horas – disse bufando e se levantando da banheira.
-Me liga! – falei o puxando pela manga da camisa e roubando mais um beijo enquanto ele saia pela porta.
-Claro. – respondeu com um sorriso de canto. – Tchau.
-Tchau! – e ele ficou parado me olhando.
-Tchau, Margot! – falou rindo.
-Tchau, Jared! – respondi rindo também. 
-Quer ficar com a manga da minha camisa? – ele perguntou olhando para o braço. Abri a boca o soltando rapidamente, envergonhada.
-Eu não tinha percebido – falei me desculpando, então ele segurou-me pelo roupão e me beijou novamente, me tirando de dentro do apartamento e me encostando na parede do corredor.
-Agora isso é um tchau – falei respirando fundo assim que nossos lábios se soltaram. Ele me acariciou e beijou minha testa.
-É um “te vejo em breve” – respondeu.
-Muito em breve. – completei. Ficamos parados um olhando para o outro, como se nenhum dos dois quisesse se afastar.
-Até no corredor? Por favor né! – Lizzy apareceu com cabelos bagunçados e saltos nas mãos. Mas até vindo de uma noitada ela continuava linda, sexy e glamorosa.
Jared e eu sorrimos para ela finalmente nos afastando.
-Bom dia, Lizzy. – falou
-Bom dia, Mr. J – ela imitou minha voz me deixando corada e irritada. Jared sorriu e passou por ela indo em direção ao elevador. Fiquei admirando-o enquanto se afastava e entrava, antes de passar pela porta acenou para mim e piscou. – Margot, ele tem uma bundinha sexy. – ela comentou.
-Se fosse só a bundinha. – falei ainda olhando.

Estava dirigindo devagar pelas ruas sem pressa alguma de chegar a agencia. Angelina me ligou assim que Jared saiu dizendo que precisava conversar comigo pessoalmente mas eu á sabia o que ela queria. Eu não estava com medo de enfrentá-la mas deveria.
Cheguei na agencia cumprimentando as meninas e indo direto para o escritório dela, no nono andar.
-Você ouviu, Jane? Dá próxima vez será descontado do seu cachê! – Ouvi a voz dela soar autoritária e séria antes de bater na porta. Quase desisti e então ela se abriu, me pegando de surpresa, Jane passou por mim com lágrimas nos olhos e saiu correndo direto ao elevador.
-Entre, Margot. – Angelina disse, desviei minha atenção de Jane para ela, fiquei me perguntando o que teria acontecido mas provavelmente a fofoca chegaria aos meus ouvidos mais tarde.
-Você queria falar comigo... Eu também vou sair daqui chorando? – falei sarcástica enquanto fechava a porta. Ela cruzou as pernas e sorriu para mim.
-Sente-se. – apontou para a cadeira, caminhei até ela e me sentei enquanto os seus olhos estavam em cima de mim.
-Como estão as coisas? – perguntou para quebrar o gelo da situação.
-Bem, na medida do possível. – falei suspirando e apoiando meus braços em cima da mesa. – mas acho que não é isso que você quer falar para mim, Ang. Então por que não vai direto ao assunto?
Outro sorriso.
-Mag, é isso que adoro em você. Não é estupida igual certas garotas. – Jane, ela quis dizer.
Descruzando as pernas se levantou caminhando até a mesinha de bebidas, onde colocou duas doses em dois copos e me estendeu um, o cheiro do álcool fez meu estomago revirar mas consegui engolir a bebida, achei que precisaria para poder aguentar aquela conversa, talvez para ter coragem de assumir meus sentimentos por Jared.
Parece bobagem, mas não era. Angelina sempre nos dizia o que o amor era: uma ilusão.
Ela era nossa mestre, nosso objetivo era chegar aonde chegou e se virar para ela e dizer coisas do tipo “estou apaixonada” era como pedir para ser mandada embora.
-Mark esteve aqui, ele disse que você andou quebrando umas regras do contrato. – falou calma, sentando-se novamente. Fitei seus olhos suspirando.
-Foi um erro ter assinado aquele contrato – disse apertando o copo em minha mão e levantando os olhos para encara-la, seus lábios se abriram.
-Mag... ele disse que você tem estado com outro homem. Sabe que essa é a regra número um do contrato!
Sua voz era calma mas mesmo assim indignada.
-Eu sei. – falei rápido – eu sei, mas... Ele disse quem era o homem?
-Não. E também não me importa, porque sei que você vai deixar de vê-lo.
Então eu estava com a boca aberta. Ela falou com tanta convicção, com tanta certeza sobre aquilo que quase me senti ofendida.
-Eu não acho que eu vá deixar de ver ele. – falei, seus olhos se arregalaram mas ela suspirou em seguida tentando permanecer calma. Sabia que eu não era como Jane, ou outras garotas que acatava todas as suas ordens ou saia do seu escritório chorando.
-Você gosta dele – passou a língua nos lábios antes de continuar – está estampado na sua cara, mas nós duas sabemos que você não pode ficar com ele.
Relaxei meus ombros diante de tamanha verdade, ela estava certa como sempre, estava certa! Jared Leto nunca seria meu e eu nunca seria de Jared Leto. Nosso romance foi condenado antes mesmo de começar, eu não queria ter começado. Era para ser só sexo, só diversão, mas o filha da mãe conseguiu fazer mais do que isso, conseguiu me fazer me jogar de cabeça em algo que eu temia tanto e temia com razão, me pegou em um momento de fraqueza onde fui obrigada a ser honesta comigo mesma sobre meus sentimentos em relação a ele.
Eu fui manipulada, não por ele, mas pela própria vida. Ela mesmo colocou o idiota do Ryan em meu caminho trazendo memorias tão assustadoras e colocando Jared como meu salvador com uma armadura reluzente e eu queria tanto que fosse só isso, eu queria tanto viver um romance bobo com ele mas não podia.
-Margot, é um erro. Você sabe disso. – meus olhos se encheram de lágrimas de revolta e tristeza.
-Como você sabe que isso é um erro? E se não for? – disse fitando seus olhos.
-Eu sei que é.
-Como? – insisti. Sendo vencida pela minha curiosidade ela se encostou na cadeira direito e respirou fundo.
-Eu me apaixonei quando tinha vinte e quatro anos, dois anos mais velha do que você é hoje. Eu estava insatisfeita com minha vida simples, queria mais assim como você. Dinheiro, poder, glória, beleza. Meus pais não entendiam e nem podiam me dar o que eu queria, o meu namorado também não ele estava trabalhando como um louco em uma empresa e mal tinha tempo para estar comigo o que só me fez querer mais entrar nessa vida. E entrei – falou firme – um ano depois ele descobriu o que eu estava fazendo e me odiou! Todo o amor que ele sentia virou ódio.
Eu escutava aquelas palavras sentindo meu coração se apertar. Pisquei algumas vezes rapidamente para que minhas lágrimas não caíssem, estava se tornando uma idiota chorona.
Ela jogou o cabelo para trás.
-Ele foi embora e me odeia até hoje.
-Vocês ainda se conhecem? – perguntei, outro suspiro.
-Ele se tornou uma grande empresário, todo o trabalho daquela época valeu a pena. Mas ainda assim é um homem duro, convicto das coisas e pessoas que querem por perto e com certeza não me quer por perto.
Mordi o lábio inferior imaginando a minha situação. Me colocando no lugar dela, e por mais que eu tentasse imaginar Jared me perdoando por ter mentido, ou Jared aceitando isso eu sabia que não ia acontecer, sabia que ele iria me odiar por ter mentido e por ter enganado ele, não que as escolhas que fiz na minha vida fosse da conta dele mas ele faria o mesmo, me manteria longe de sua vida e eu já não sabia mais como era viver longe de alguém que me fazia saber o que era ter um coração, o que era ter uma alma viva dentro de você.
-É por isso que eu te digo, Margot, isso é ilusão. O amor dele não foi capaz de me perdoar.
-É diferente, você traiu ele. – falei, ela fechou a cara.
-Trai, mas ele teve culpa, estava sempre ausente. Quem aguenta isso?
Balancei a cabeça.
-De qualquer forma, eu sei que você ainda não contou isso para este homem. Como espera que ele reaja? Ele vai te odiar.
-E se ele... – minha garganta se fechou.
-Ele não vai te aceitar! – falou mais alto me assustando um pouco – Quando ele descobrir isso vai te desprezar.
-E se ele não fizer? – perguntei ainda tentando acreditar nas minhas próprias palavras.
-Pelo amor de Deus, Margot! Se recomponha! Eu não ensinei você a ser uma garota boba apaixonada, não me decepcione! O que a droga do amor fez por você até hoje? O que o amor fez por você? Me diga? Quem te tirou daquela vida decadente na qual você vivia?
Me calei diante a sua razão. Me calei porque ela estava certa e eu, errada.
-O amor só vai te destruir. – disse por fim.
Mordi o lábio pensando em cada palavra que ela despejou em cima de mim, e a odiei por estar tão certa. O que o amor tinha feito por mim? Nada, aliás, eu nunca tinha visto a cara do amor antes. Nunca o vi em nenhuma das suas diversas formas, tudo que vi foi uma esperança que foi destruída, arrancada de mim brutalmente.
Estar ali ouvindo o que ela estava dizendo, ter encontrado Robert na noite anterior com Jared só me fazia entender que era verdade. Eu não podia estar com ele, não podíamos ficar juntos nunca meu passado iria me perseguir por onde quer que eu andasse.
E eu nunca daria a ele o que ele queria, o sonho americano. Era uma garota arrogante, egoísta, manipuladora, e deveria permanecer assim pois foi a única forma que eu consegui superar as coisas pelas quais passei na vida. Eu não podia virar as costas para Angelina e Daniel depois de tudo o que eles fizeram por mim.
-Você está certa. – falei forçando minha garganta que estava com um nó.
Seus lábios voltaram a se curvar em um sorriso.
-Estou.
-Vou acabar com isso. – disse sem ter muita convicção em mim mesma. Me levantei sem ter certeza do que iria fazer, mas que tinha que fazer. Antes de sair olhei novamente para ela para me lembrar do porquê eu teria que fazer aquilo, do porquê eu teria que colocar um fim nisso. Não era fácil, claro que não era, logo após dizer que eu o amava. Angelina ainda era minha inspiração, então olhar para ela me lembrava de quem eu era, e aonde eu queria chegar.
Sorri amarelado para ela e saí do seu escritório pensativa. Como eu iria afasta-lo de mim? O que eu diria? Ai deus! Estava perdida. Eu não queria, só de pensar em manda-lo embora novamente fazia meu coração se partir em dois.
Estava saindo da agencia mias cabisbaixa e avistei Mark sentado na recepção lendo uma revista, seus olhos se ergueram para mim e eu me senti um pouco intimidada. Caminhei até ele.
-Oi. – falei com a voz entrecortada.
-Olá, Margot. – respondeu fechando a revista e a guardando.
Um silencio, eu não sabia o que dizer. Eu tinha que pedir desculpas? O que eu deveria falar exatamente? Uma vontade de ouvir ele dizer que o contrato já era tomou subitamente conta de mim, mas então ele abriu um sorriso e eu percebi que aquela ideia só existia na minha cabeça.
-Eu não contei para ela quem era. – falou me olhando.
-Por que não?
-Eu sei mais sobre o Leto do que você imagina... – falou cuidadosamente deixando um ar de suspense. Apertei os olhos.
-O que você quer dizer? – perguntei.
-Ao menos isso você cumpre – ele riu pelo nariz apontando para a aliança em meu dedo, provavelmente querendo mudar de assunto.
-Mark... eu vou me afastar dele. – falei respirando fundo. – Eu prometo. – minha voz era fraca a e tremula.
Ele olhou fundo em meus olhos.
-Tudo bem, Mag. Eu acredito em você.
-Acredita?
-Claro que sim, sei que no final você fará o que é certo.
O problema era que eu não sabia o que era o certo a se fazer, eu não sabia de nada. Sem ideia de que caminho pegar, não havia placas, não havia sinais ou pessoas para me dar uma pequena dica. Era fácil escolher o batom ideal, o vestido ideal mas isso? Como se escolhe uma coisa dessas? Sem ter certeza de como será no final, sem ter certeza de nada! Era como dar um salto no escuro.
Estar com Jared era tão bom, eu podia me perder em seus braços e eu acabei descobrindo que era isso que eu queria por muito tempo: me perder nos braços de alguém que gostasse de mim de verdade.
Relaxei meus ombros sentindo milhares de coisas ao mesmo tempo, estava tudo uma bagunça, sem ter ideia de que caminho seguir. Que esquina dobrei errado?
-Quer almoçar comigo? – perguntou acariciando meu rosto, meu corpo estremeceu ao seu toque e eu não entendi ao certo porquê. Depois de Jared era estranho sentir o toque de outro homem.
-Claro. – tentei soar amigavelmente, enquanto caminhávamos para fora da Agencia mandei uma mensagem para Natalie pedindo para que nos encontrasse no restaurante.
Ela apareceu assim que Mark e eu terminamos de comer, com o cabelo preso em uma rabo de cavalo e olhos inchados, sentou-se a minha frente e cumprimentou Mark amigavelmente.
-Você chegou rápido. – falei.
-Eu precisava mesmo conversar com você. – o tom da sua voz era pesado, pensei que ela tivesse descoberto tudo, mas logo descartei esse pensamento. Ela estava calma demais, não estava nervosa, estava chateada com alguma coisa.
Seus olhos passaram rapidamente pelos braços de Mark em volta do meu ombro, ele estava sentado ao meu lado.
-Vocês ficam bem juntos. – ela falou. Sorri de para ela. O telefone dele tocou. – ele parece realmente gostar de você. – ela disse assim que ele se levantou para atender com privacidade.
-É, ele gosta. – disse indiferente.
Ela mordeu o lábio inferior.
-Mag... você acha que o Jared gosta de mim? – ela perguntou com os olhos baixos.
-Aconteceu alguma coisa?
-Ele não dormiu em casa, ele não atende minhas ligações. Eu não sei o que fazer.
Uau! Natalie estava realmente triste, e era uma surpresa para mim vê-la tão cabisbaixa, fui pega sem saber o que dizer para ela. “Claro que ele gosta” era fácil demais, mas por alguma razão meu coração se apertou com essa ideia, mentir novamente para a garota tão triste a minha frente. Então ela levantou os olhos, estava chorando o que me desarmou mais ainda. Meus lábios tremeram.
-Viu? Até você sabe que ele não gosta de mim.
-Mas aonde você quer chegar com isso? – perguntei tentando desviar da sua pergunta e da sua afirmação.
Mark voltou e se sentou ao meu lado novamente olhando estranho para ela que tentou secar as lágrimas rapidamente. Mas assim que secava uma, duas outras caiam.
-Só queria saber se você estivesse no meu lugar você iria adiante com isso. – ela disse rápido, estava parecendo mais inteligente.
-Eu acho que você deveria continuar com isso e talvez convença seu marido a voltar para Nova York com você. – Mark falou calmamente, engoli em seco. Natalie olhou para ele estarrecida, e depois balançou a cabeça.
-Ele não iria, a sede da empresa dele é aqui. – falou.
-Faça-o mudar para Nova York. – insistiu ele, claro que para ele seria melhor assim. Jared em nova York e eu na Califórnia. Natalie pareceu pensar um pouco sobre o assunto.
-Natalie, como você pode ter tanta certeza de que ele está te traindo? – falei querendo que ela tirasse aquela ideia da cabeça. Ela não podia levar ele para longe de mim, não tinha esse direito.
Ela olhou fundo em meus olhos.
-Eu pensei que era apenas uns casos, sabe? Algumas garotas que ele conhecia na noite e pegava... Mas ele não é assim, Mag. – ela começou a ficar um pouco alterada – ele não é de ficar pegando prostitutas por aí, eu deveria saber.
-Você quer dizer que ele está em uma relação séria? – perguntei.
-Seríssima! – ela pegou a bolsa e retirou um papel jogando em minha mão – Eu liguei para Ema, a assistente pessoal dele e pedi o extrato do cartão de crédito.
Ela riu de si mesma.
-Nós nem estamos casados e eu já estou perseguindo ele como louca. De qualquer forma, dê uma olhada, Rosie’s flowers? Para quem ele compraria um buque de rosas além de mim? E olha – ela retirou o papel da minha mão e apontou com o dedo – Um colar da Tiffany’s de vinte mil!
-Vinte mil? – também estava surpresa. Ela amaçou o papel e eu levei os dedos até o colar no meu pescoço. Mark percebeu exatamente o que eu estava fazendo.
-Ele nunca me deu uma joia sequer – ela disse balançando a cabeça – essa garota deve ser muito especial para ele.
-A garota com quem o Sr. Leto está vai além de especial – Mark disse bebendo um pouco de refrigerante, Natalie e eu arregalamos os olhos olhando diretamente para ele. Que. Merda.
-Você a conhece? – os olhos da garota se encheram de lágrimas, acredito que talvez até ali ela estava tentando não acreditar na traição.
Mark sorriu sem mostrar os dentes.
-Sugiro que você se case com o Sr. Leto e o leve para Nova York. – Mark persistiu. Ela se afundou na cadeira novamente começando a chorar de verdade.
-Obrigado, Mark, era exatamente tudo o que ela estava precisando ouvir – sussurrei para ele sarcástica.
Ela levantou a cabeça.
-Eu não vou passar por isso! – e se levantou irritada
-Natalie, onde você vai? – perguntei.
-Vou resolver isso agora, Margot.
-Natalie! – gritei e tentei me levantar mas ele me segurou.
-Você ia se afastar, lembra? – falou sério, apertei os olhos o xingando mentalmente.
-Claro.

A acompanhante (CONCLUÍDA) Onde histórias criam vida. Descubra agora