Piece of my heart

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“Você está cada vez mais longe, querido, bom talvez dentro do seu coração você saiba que isso não é certo e você nunca me ouviu chorando a noite? Bom eu choro o tempo todo e todas as vezes eu digo a mim mesma que vou suportar a dor, então venha e tome mais um pedaço do meu coração”

Meu nariz coçava muito, avermelhado como estava qualquer um diria que eu estava resfriada. Mas não estava. Todo aquele pó que usei de manhã para conseguir lidar com a rotina daquele dia estava me causando uma coceira insuportável além de fungar a cada um minuto. Havia tantas pendências, tantas coisas para fazer e meu corpo só queria estar jogado na cama como fora toda essa semana mas já estava na hora de tentar ao menos voltar a minha rotina normal. Mas era o que eu podia fazer para tentar incansavelmente tampar aquele buraco no meu peito: trabalhar, trabalhar, se drogar, se drogar. Mas eu também passava algum tempo com Hannah, o que trazia muita luz para os meus dias totalmente nublados.
A minha porta se escancarou e eu me surpreendi com Lila adentrando minha sala com Marina atrás de si.
-Olha eu sei que fui uma vadia com você, mas ainda somos amigos, certo? E você não deixaria sua amiga desempregada, deixaria? – ela disparou se apoiando na minha mesa olhando-me nos olhos. Já tinha novamente o seu humor rotineiro e a postura arrogante, usando diamantes nos braços, Saint Laurent nos pés, e uma jaqueta de couro da Gucci. Parecia-me muito bem para quem acabou de passar por luto.
Marina olhou-me rapidamente com os olhos castanhos cheios de duvidas. Eu não podia simplesmente ignorar a mulher na minha frente que a sua maneira estava me pedindo desculpas e não foi a primeira vez que Lila foi uma vaca comigo, ela precisava de alguém para culpar e lá estava eu pronta para receber todo o peso da culpa da morte de um dos homens que eu mais amei na minha vida.
Suspirei fundo.
-Está tudo bem, Lila. – falei sem interesse em mais drama. – você não precisa sair da agencia.
Ela abriu um sorriso.
-E uau, você está muito bem usando Gucci e Saint Laurent, além do porsche lá no estacionamento – Marina comentou, e ela a olhou como um leopardo pronto para atacar.
-Eu perdi meu irmão, estou fazendo o melhor que posso – ela respondeu empinando o nariz fino e perfeitamente desenhado.
Eu abaixei os olhos tentando não transparecer a dor depois de ouvir aquilo, era diferente a forma como ela falava como se a morte dele agora fosse seu passe livre para fazer qualquer coisa estúpida.
-Só estou dizendo, interessante como você sempre reclamou do salário e agora tem dinheiro de sobra para andar como uma rapper. – comentou Marina novamente deixando Lila sem falas. Eu não sabia aonde aquele assunto nos levaria então soltei um pigarreio.
-Bom você pode voltar sim Lila e Mary, só me mantenha informada sobre o financeiro da empresa, ok? – pedi de uma forma que não fosse tão grosseira, mas colocando um ponto final naquilo fechando meu notebook e me levantando. Deixei elas e suas discussões inúteis e voltei dirigindo para a minha casa.
Quando entrei, Hannah estava sentada na mesa jantando e Nelly estava na pia. Abracei minha filha por trás dando um beijo forte em seu rosto, sentindo o cheiro doce de seus cabelos escuros e macios como de uma criança de quatro anos.
-Mamãe, veja eu estou comendo tudo – ela disse orgulhosa de si mesma me mostrando o prato. Era uma conquista, pois depois de tudo o que aconteceu o seu apetite havia diminuído consideravelmente. Nelly soltou um sorriso também de alegria.
-Isso é muito bom, Hannah – falei – e o que você conversou hoje com a tia? – era como chamávamos a terapeuta infantil, muito melhor do que usar termos técnicos assustadores para uma criança. Ela abriu os olhos azuis intensos como os do pai e sorriu.
-A tia deixou eu pintar com tinta mas eu sujei tudo – falou alegre – e eu contei para ela que você está triste.
Bati meus cílios rapidamente.
-Eu não estou triste. – respondi tentando um sorriso alegre e olhando-a. – eu estou feliz que você esteja em casa com a mamãe e o papai.
-Mas você está triste, eu vi você chorando – ela me respondeu batendo o garfo rosa de plástico no prato e depois me olhando. Meu coração apertou forte, até minha filha estava notando o quanto eu estava mal e eu achava que conseguia esconder isso das pessoas a minha volta. Que tola! A beijei novamente tentando não deixar meus olhos lacrimejarem.
-Mamãe está bem, Hannah, só um pouco cansada. – falei.
-Então vai descansar – respondeu na inocência de uma criança e eu quis que tudo fosse simples daquela maneira.
-Eu vou, prometo. – falei e ela sorriu – onde está papai?
-Eu não sei – me disse olhei para Nelly curiosa.
-Ele disse que iria até o bar da esquina com Shannon e que logo voltaria. – ela me respondeu me estendendo depois um comprimido e um copo com água – tome.
Encarei aquele grande comprimido roxo.
-O que é isso? – indaguei curiosa.
-Vitamina. – respondeu – você precisa se manter mais forte, está mais magra e notavelmente cansada. Tome! – falou como uma mãe dando ordens e eu como uma filha obediente tomei deixando-a satisfeita. Deixei Hannah ali com ela e informei que iria até o bar atrás de Jared, talvez fosse bom nós dois ficarmos juntos e fazermos coisas normais como sempre costumávamos fazer, e ali era um de nossos pontos de encontro favoritos eu sabia que ele iria gostar de me ver chegando. O bar ficava algumas esquinas da minha casa, e mesmo de salto dava para ir até lá caminhando e foi o que eu fiz. O sol já estava se pondo, era uma típica sexta feira na Califórnia, uma brisa leve, o céu acima de nós alaranjado pelo sol que já estava indo embora, algumas pessoas nas ruas passeando, voltando do trabalho, tudo em seu conforme mas dentro de mim alguma coisa dizia que não seria uma sexta feira comum. Enquanto caminhava até o bar o meu celular vibrou em meu bolso e me surpreendi com a mensagem de Lila me chamando para uma de suas festas, me perguntei o que ela estaria comemorando mas não fazia sentindo algum perguntar, eu nem mesmo iria até lá.
Um pouco antes de chegar o bar e eu já podia ouvir a música alta, um tipo de rock clássico. Algumas pessoas do lado de fora bebendo cerveja e fumando admirando as Harley Davidson que estavam ali estacionadas.
O bar não estava cheio, mas também não estava vazio foi o que eu pude reparar assim que adentrei, o barman logo sorriu ao me ver.
-Mag, ah quanto tempo! – ele disse abrindo os braços e me recebendo em um abraço por cima do balcão. Charlie era um homem de trinta anos de pele bronzeada e olhos azuis lindos, além de simpático e extrovertido.
-Eu também não sabia que eu iria vir aqui hoje – respondi me soltando de seu abraço – e também tem sido um mês louco.
-É, eu sei mas todos nós aqui ficamos felizes em saber que tudo deu certo. – disse alegre tentando não tocar diretamente no assunto, apenas dei um sorriso – bom, eu imaginei que você viria quando eu vi Jared entrando, mas bem que eu achei que você estivesse com ele.
-Como assim? – perguntei confusa.
-Você tem uma irmã! E são quase gêmeas, isso é impressionante. – disse mas logo arrependeu-se de ter falado ao ver minha expressão. Eu sabia exatamente do que ele estava falando só não podia acreditar.
-Onde está Jared? – perguntei e ele engasgou em dúvida se diria a verdade ou se tentaria protege-lo. Mas não foi preciso ele dizer mais nada porque eu ouvi uma risada, era a risada de Shannon vindo do outro lado do bar atrás de uma instante rustica que continha narguilés de enfeite. Não pensei em nada, não imaginei nada, não planejei nada apenas me dirigi ao som da risada de Shannon que ecoavam pelo meu ouvido como se fosse o único barulho daquele ambiente e paralisei quando os vi, Shannon em pé usando uma regata branca encostado na mesa de sinuca bebendo cerveja e rindo com alguma garota, e meu coração parou quando eu vi o cabelo loiro e longo de costas para mim, a saia justa e curta combinando perfeitamente com a regata preta decotada em pé ao lado de Jared que estava sentado no banco alto usando uma regata branca que destacava perfeitamente os músculos em seus braços, o cabelo castanho jogado para trás com apenas uma mexa caída em sua face, ele não sorria, não como Shannon, muito pelo contrário algo em seu rosto estava diferente e preocupado e deveria mesmo estar. Deveria muito estar! Como um touro eu atravessei aquele espaço que nos separava e quando notei minha mão estava encravada no cabelo daquela vagabunda atrás de sua cabeça a puxando, quase a fazendo cair.
Pela primeira vez eu não senti tristeza, nem vontade de chorar, eu senti raiva e podia senti-la emanando pelos meus poros. Por ele estar ali com ela? também, mas porque arrebentar aquela vadia era tudo o que eu queria quando tudo veio a tona.
-Margot! – Jared disse se levantando assim que me viu agarrar aquela vaca, depois eu a soltei empurrando em cima do balcão, ela cambaleou mas logo se recompôs.
-Você é maluca? – gritou passando a mão no local que eu havia puxado – essa mulher é louca!
E todos olharam para nós.
-Margot, calma! – Jared disse baixo erguendo as mãos tentando ficar entre nós duas mas foi completamente inútil, e uma burrice ele me pedir calma pois com um passo que dei me aproximei dela e acertei seu rosto com um tapa tão forte que ecoou pelo salão, ela ia cair mas eu a segurei apenas para poder acertar seu rosto de novo, de novo e de novo, e quando a palma de minha mão começou a formigar eu a fechei simplesmente para continuar acertando-a várias vezes no rosto enquanto segurava sua cabeça pelo cabelo.
Só consegui parar de acerta-la quando minha mão se sujou com o sangue que escorreu de seu rosto após uma ferida ser aberta debaixo dos olhos de vagabunda que ela tinha. A soltei e ela caiu zonza, respirando fundo encostada no balcão. Me abaixei a sua frente segurando seu rosto e apertando suas bochechas com minhas unhas que a furavam.
-Eu falei para você ir embora, não falei? – disse entredentes – eu disse para você ficar longe de mim, irmãzinha antes que eu mate você assim como vocês fizeram com Bradley!
Duas lágrimas escorreram de seus olhos e ela gemeu.
-Margot deixa ela – Jared disse.
-Por favor eu não fiz nada! – ela implorou com uma voz chorosa e irritante, então bati sua cabeça contra a parede do balcão e ela gemeu mais alto.
-Cala a porra da sua boca, vagabunda! – rosnei e soltei seu rosto para apertar seu pescoço a puxando e a levantando de novo, não sabia se era a adrenalina, ou a raiva mas era tão fácil arrebentar ela. Dei outro soco no outro lado de seu rosto e a soltei me afastando tentando me manter calma antes que eu realmente a matasse.
-Você precisava se acalmar – Jared disse e então eu infelizmente me lembrei da sua existência, o que foi uma lastima pois me virei para ele e o acertei também com um tapa forte.
-Me acalmar? – rosnei – Porra! Essa vagabunda sequestrou a tua filha! Ela e a gangue de idiotas dela a levaram por dias, mataram o Bradley e você quer que eu me acalme ao ver você aqui com ela? – gritei o deixando estático. Shannon se aproximou de mim, eu tremia da cabeça aos pés como se fosse ter um ataque ou algo do gênero. Lila gemeu atrás de mim então tomei a garrafa de cerveja da mão de Shannon e acertei contra a cabeça dela com força e ela caiu novamente.
-É pra você ficar no chão! – falei e ela ergueu os olhos marejados para mim mas não senti nenhum pingo de dó.
-Margot... – Jared começou a falar e eu não acreditei que aquele desgraçado ainda iria defender aquela puta, então dei um chute na barriga dela a fazendo cuspir o sangue de sua boca causados pelas minhas mãos – Margot!
-O que é, porra?! – gritei
-Ela está gravida! – ele gritou também. – e você vai matar esse bebe.
O chão sumiu de baixo dos meus pés, tudo parou por alguns instantes e eu só conseguia encara-lo. Me senti zonza, achei que também iria cair pelo golpe que levei. Ela o que? Gravida? Quem? Dele? As palavras rodavam na minha cabeça de forma nauseante me deixando sem ar.
Me apoiei na cadeira ao meu lado e todos me olhavam como se eu realmente fosse desmaiar.
-Mag vem cá. – Shannon me segurou, levei minha mão até minha boca tentando sincronizar corretamente minha respiração mas não conseguia. Apertei o braço dele. – calma, por favor.
E em apenas um minuto tudo passou diante dos meus olhos como um filme assustador, Bradley e eu nos beijando, Jared me contando que transou com outra, eu transando com Bradley, minha filha sendo sequestrada, o tiro na cabeça de Gary, o tiro em Jared, minha mãe reapareceu, Angelina enfiando uma faca em meu ombro, Angelina atirando em Bradley, Bradley estava morrendo, Amber era minha irmã, minha irmã mais nova, e ela estava grávida do meu marido, estava grávida do homem que eu amava apesar de tudo, eu o amava.
-Seu desgraçado! – olhei para ele e finalmente tudo veio a tona. Todas as lágrimas que eu guardei, todo o medo que eu tive, o muro que eu construí havia sido destruído. A dor de tudo veio como um tsunami sobre mim me fazendo perder as forças, de repente eu não estava chorando só por ele ser um babaca, mas por tudo, especialmente porque eu não tinha mais Bradley comigo. E aquele buraco dentro de mim finalmente parecia ter me engolido de vez, como se finalmente eu tivesse dentro de um lugar escuro e vazio. Mas eu ainda não podia me render, ainda não!
Me soltei de Shannon e parei em frente a ele, que também tinha os olhos azuis avermelhados. Ele sabia que aquilo estava me matando.
-Como você pôde? Ah meu Deus!
-Vamos conversar – eles tocou em meu pulso mas o empurrei.
-Me solta! – gritei – você é como todos eles! Angelina, Margareth, Gary, Amber, como todos! O que você quer, Jared Leto? Me matar? Me quer morta?
Eu tremia, gritava, chorava.
-Não! – falou em desespero – eu... Não é o lugar certo para falarmos disso.
-Foda-se! – rosnei – Foda-se vocês todos!
O empurrei e saí correndo, arrependida de estar sem meu carro e perdida no turbilhão de pensamentos eu então apenas corri parando alguns quarteirões a frente me apoiando no muro de uma casa qualquer. Eu estava acabada, destroçada. Sinceramente, achei que não aguentaria e que sairia dali e me jogaria na frente do primeiro carro que visse ou iria até a ponte mais próxima mas eu não fiz, claro que não fiz. Então tentei ao máximo me recompor e me sentei ali na calçada daquela rua vazia e deserta, já estava escuro, o sol já tinha se posto e não havia mais tantas pessoas na rua. Eu tive que ver tudo desmoronar em frente aos meus olhos, as estruturas de uma vida construída com alegria sendo destroçados com ódio e tristeza, eu não queria acreditar que aquilo tudo era possível, não havia motivos mas mesmo assim existia um desejo intenso que devastava tudo. Não era um castelo de cartas, não era uma casinha de bonecas, não era blocos de brinquedos era a porra da nossa vida! Uma vida que lutei muito para conseguir. Eles me tiraram em alguns segundos algo que levei anos para construir. O vento gelado parecia não me afetar, sentia o meu corpo completamente mole como se estivesse entorpecida por isso me mantive sentada, mas alguns minutos se passaram quando eu finalmente consegui me levantar mas não estava com disposição para ir para casa, então acabei dobrando a esquina para outra direção.
-MARGOTTTT! – ouvi Lila berrar com uma cerveja na mão assim que cruzei a porta de entrada, meu nome levou alguns longos segundos para sair completamente. A música estava alta, a maioria das pessoas já estavam bêbadas, o cheiro forte de bebida e cigarro pairava sobre o ar. Todos estavam ali, inclusive Cara e Nina que ultimamente passavam mais tempo juntas do que eu podia contar, minha cunhada assim que me viu correu me envolvendo em um abraço, ela estava alterada.
-Ainda bem que você veio, essa festa está um nojo – disse balançando o copo vermelho de bebida. Ela falava contente dando risada então entendi que ela ainda não tinha ideia do que tinha acontecido, ou que seria tia novamente. Argh! Eu nem conseguia pensar nisso, meu estomago revirava só de imaginar.
-Bom, pretendo me divertir bastante hoje. – falei e Nina surgiu atrás de Cara.
-Então acho que você deveria começar. – ela estendeu a bebida para mim, que sem pensar duas vezes puxei para um gole generoso, a bebida desceu rasgando pela minha garganta e eu não pude evitar fazer uma careta. A noite se estendeu um pouco, eu achei que poderia mergulhar em álcool para esquecer o que havia acontecido mas foi uma infantilidade minha, o álcool só me fazia se sentir três vezes pior foi quando Lila apareceu subitamente.
-Eu não aceito ninguém em uma festa minha com essa cara – ela disse se sentando ao meu lado de forma tão brusca que me prensou contra parede – qual o problema?
Revirei os olhos.
-Sem problemas, apenas cansada. – respondi mas meu peito parecia que iria explodir.
-Ok! – ela falou retirando alguma coisa do bolso – então acho que não tem problema se usarmos um pouco, não é?
Ela abriu a palma da mão e no centro eu vi dois pequenos quadradinhos coloridos, encarei seus olhos alegres e sugestivos. Muitas coisas passaram naquele momento pela minha cabeça, mas que se dane! Eu queria me divertir, não era? Então rapidamente retirei de sua mão apenas um e coloquei na minha língua a mostrando em seguida, contente e orgulhosa ela bateu palminhas e fez o mesmo. Eu não sei bem quanto tempo levou para a droga fazer efeito, não sei exatamente quanto tempo levou para que logo eu sentisse que a casa estivesse derretendo, que eu estivesse derretendo. E as vozes! As vozes estavam mais altas, pareciam adentrar na minha cabeça de forma brusca como se eu pudesse ouvir cada voz naquele lugar. Eu estava deprimida, bom, não deprimida de verdade mas estava desanimada, com tudo, com o jogo todo, a vida toda. Me sentia um pouco sufocada, palavras não ditas, choros presos. Eu sentia que precisava falar com alguém, mas com quem? Não havia ninguém. Então eu comecei a desabar novamente, comecei a enlouquecer com meus altos e baixos, Uma vez me falaram que amar alguém é como se jogar de um precipício sem ter a certeza de que aquela pessoa estará lá embaixo para te sustentar. Mas e se essa mesma pessoa te empurrar? Quem vai estar lá? Ninguém.
Deixei de pensar nessas coisas e me joguei no meio da multidão que dançava ao som de algum rock antigo, o efeito da droga foi vindo aos poucos, a sensação de estar voando, depois as alucinações, mas senti uma mão na minha cintura antes de sentir que meus pés haviam deixado o chão. Mas eu soltei suas mãos de minha cintura com um solavanco, só percebi que havia caído quando uma mão se estendeu para mim, eu estava rindo.
Mas minha risada foi cortada quando olhei para o dono daquela mão que se estendia a mim. Bradley! A segurei firme e me levantei ainda olhando e seus olhos acinzentados, ele apenas sorriu como se quisesse que eu soubesse que ele estava bem.
-É você. – segurei seu rosto para ter certeza se realmente não era uma miragem, mas senti sua pele sobre minhas mãos e então o beijei com força, mas não antes de soltar um sorriso de orelha a orelha. Eu estava extasiada, ele estava ali, Bradley estava ali! E eu não me importava se ele tivesse mentido novamente sobre estar morto, ele estava ali!
Mas nosso beijo foi interrompido quando alguém se colocou entre nós dois. Jared.
-Não a toque! – ele gritou e me puxou, arrastando-me para longe Bradley.
-Me deixe! Eu quero estar com ele! – me debati em seus braços fortes clamando para que ele me deixasse estar com Brad. – eu sinto falta dele.
Então finalmente ele me prensou contra parede e segurou meu rosto.
-O que você está dizendo? – tentei focar em seus olhos azuis mas toda vez que eu olhava para ele, um mar violento me vinha como alucinação.
-Bradley! Era ele, eu queria estar com ele. – afirmei sentindo um nó na garganta. Jared olhou para trás e depois para mim rapidamente, com as sobrancelhas franzidas.
-Margot, não era Bradley. – disse com medo na voz.
-Era! – insisti mas ele balançou a cabeça e pelo seu ombro eu pude ver, um homem de jaqueta de couro e tatuagens, o cabelo longo porém escuro e os olhos claros. Não era tão bonito quanto Brad mas tinhas suas semelhanças. Meu mundo parecia ter desabado e o nó que estava em minha garganta finalmente se dissolveu em lágrimas que escorreram pelo meu rosto, e eu e abaixei ainda encostada na parede. Jared se abaixou na minha frente.
-Bradley morreu. – eu falei entre lágrimas como se finalmente a realidade daquele fato tivesse batido na minha porta, como se finalmente eu tivesse conseguido digerir aquilo. Ele tinha morrido, ele tinha partido. Eu estava sozinha de novo.
-Eu sei, querida – Jared disse afagando meu cabelo e o toque dele não poderia doer menos – você vai ficar bem.
Como ele podia me dizer aquilo? Como ele podia dizer que eu iria ficar bem depois do que do que havíamos descoberto mais cedo? Balancei minha cabeça e me afastei de sua mão.
-Vai embora. – eu falei tentando me levantar mas zonza, eu caí e ele me segurou rapidamente em seus braços, me alinhando em seu peito como uma criança. Subimos a escada em direção a um dos quartos e ele expulsou um casal adolescente para poder me deitar na cama.
-Vamos embora daqui? – perguntou – vamos para nossa casa.
Enquanto ele falava, chorei muito mais. Chorei porque na minha cabeça aparentemente não havia soluções para as coisas que estavam acontecendo. Chorei porque era a única pessoa que podia fazer alguma coisa, mas não fiz. Chorei porque nenhum porre desse mundo poderia me impedir de chorar. Chorei por todas as coisas que tive que abrir mão, e por todas as pessoas que abriram mão de mim. Chorei porque era a única coisa que poderia fazer, chorar como criança, uma criança desesperada. Chorei pelo cansaço, físico e emocional, pelas dores nas costas, chorei porque um dia eu cheguei a acreditar em tudo mas ali, naquela cama bêbada e drogada, eu já não conseguia acreditar em mais nada. Chorei porque eu já estive em diversos lugares mas nenhum deles pareciam ser o meu lar.
-Não chore, meu amor. – ele pediu com olhos tristes.
-Desculpe, desculpe. – pedi – é que você costumava deixar meu coração cada dia mais vivo e agora está deixando ele aos pedaços.
E ao dizer isso ele se inclinou mais e me beijou levemente nos lábios. Mas eu ainda estava magoada demais com ele, não conseguia fechar os olhos sem que a imagem dele com ela viesse até minha cabeça para me torturar. O empurrei.
-Vai embora, eu não quero você – falei secando as lagrimas e me levantando devagar. Ele tentou me tocar novamente – não me toca! – gritei como se minha força voltasse subitamente. Balancei a cabeça, não queria estar sã. – apenas vai.
Me levantei e saí do quarto sem olhar para trás, eu não o queria naquela noite. Eu sabia que voltaria a sentir falta dele, necessidade dele, mas não aquela noite. Minha cabeça rodava de forma assustadora, desci as escadas rapidamente e encontrei a multidão que se espremia dançando e nela pude reconhecer Marina e Shannon, claro que estariam ali com ele, eles me encaravam mas bufei saindo dali para que não viessem até mim para sermões que eu não estava afim então peguei uma garrafa de vodca e a virei. Voltei para a sala, fodam-se! Eu iria dançar, iria me divertir então me infiltrei no meio daquelas pessoas dançando sensualmente e quando finalmente minha vodca estava acabando encontrei os olhos azuis de Jared me encarando, ele sabia que eu não iria parar então apenas cruzou os braços e se encostou na parede á minha espera. Pisquei para ele e sorri o deixando confuso, então, estupidamente bêbada puxei a jaqueta do cara mais gato que estava próximo de mim e o beijei, fechei os olhos mas sabia que os de Jared estavam sobre nós. O homem me apertou mais contra seu corpo me beijando com desejo mas quando percebi que já estava muito animado o empurrei voltando para os olhos agora furiosos de Jared, mas ele não se moveu, apenas me fuzilou como se eu estivesse acabado de declarar guerra. O seu ódio era vibrante, eu podia senti-lo do outro lado da sala. Passei a língua no dente e sorri, piscando provocativa e então ele bufou finalmente saindo dali.

A acompanhante (CONCLUÍDA) Onde histórias criam vida. Descubra agora